Eram
umas sete pessoas mais ou menos, na casa.
No entanto, descontados os computadores, i-pods, celulares, tevês e
quetais cibernéticos, ela estava na mais absoluta solidão.
Todos
falavam ao mesmo tempo, consigo mesmos, nenhum entre si, numa espécie de
esquizofrenia em banda larga de mega alienação.
Mãe,
vó, bisa, cabelos ralos e brancos, levantou-se, com um pouco de dificuldade e
foi para a cozinha. Sentou-se na mesa
baixa onde tomavam o café, mas não acendeu a luz. Na cozinha, único lugar da casa no qual ela
tinha conhecimento e controle, podia viver a plenitude dos aromas e temperos e
saborear um pedaço de broa de fubá.
Sentia,
na verdade, muitas saudades. Do rádio,
do marido, das missas, dos circos e do trem de ferro. Pensou, por um momento, ter ouvido seu pai
entrando e batendo a porta com estrondo.
Provavelmente, algum filme na tevê.
Lá pela
meia-noite, a sinfonia foi se apagando: aparelhos desligados, desconectados,
cabeças off line, silêncio e penumbra.
Lá na
cozinha, esquecida, a vó de olhos fechados (com lágrimas), no escuro. Dorme?
Conto curto:
Jorge Marin
Foto:
Slavko Pavlovic, disponível em http://www.flickr.com/photos/slavkopavlovic/3524458029/
Muito bom este conto.Parabéns,amigo Jorge!
ResponderExcluirObrigado, amigo Nilson, bom saber que não estamos sozinhos.
ExcluirLindo, Jorge!... O melhor texto que já li de sua autoria. Continue. Sintético, preciso, verdadeiro... Você está se revelando um excelente contista. Escreva mais contos, que ajudo a você publicar um livro.
ResponderExcluirAbraços de seu irmão,
César Brandão
www.cesarbrandao.com
Sou eu que tenho que agradecer, meu irmão. Porque, vendo vc criar as suas maravilhas, percebi a grandeza da linha, da linha (incor)reta, como um espaço permanente ao desejo do outro. Você me deu mais lições sobre pontuar do que a minha professora de Psicanálise.
ExcluirDá vontade de chorar... chorar porque é verdade... chorar porque assim está.
ResponderExcluirMika