quarta-feira, 30 de julho de 2014

MINHA PRIMEIRA VEZ - capítulo I


Confesso publicamente que não fui tão mal assim!

Valeu a pena esperar, pois, após um longo tempo de expectativa e ansiedade, enfim tive coragem de me aproximar dela. De minha parte, nosso namoro até que já vinha rolando há algum tempo, mas só mesmo em troca de olhares. Mesmo sendo ela recém-chegada à cidade, de imediato começou a despertar o interesse de todos. Comigo, não poderia ser diferente, e, a cada dia que passava, mais ansioso eu ficava para conhecê-la.

Aproximar-me dela havia se tornado quase uma obsessão, e eu não via a hora em que eu pudesse enfim apertá-la, apertá-la e apertá-la!

De certa forma, eu até sentia uma espécie de inveja de alguns que eu sabia terem ficado bem íntimos dela. Pelo fato de ter se tornado tão popular, e misteriosa, sempre acontecia, e era natural que, em determinados horários de seu trabalho, uma imensa fila se formasse, apenas para poder cortejá-la.

De minha parte, mesmo começando a sentir um pequeno ciúme, o máximo que conseguia era trocar alguns lampejos de olhares distantes, pois, sem coragem de me aproximar, eu apenas olhava, olhava, e simplesmente, ia embora. Na verdade, meu medo maior era o de que não nos entendêssemos na primeira vez.

Logo ao chegar a São João, todos queriam ser os primeiros a se aproximar dela, mas nem todos tinham coragem.  E o medo de não serem bem aceitos?! Afinal de contas, naquele seu local de trabalho e, principalmente, em seu cantinho de atendimento, circulavam muitas pessoas (coisas de interior). Ali do seu espaço de atendimento, ela ficava a despertar uma tremenda atenção.

O que eu posso dizer, pois ouvi falar, é que as primeiras pessoas que se aventuraram a tocá-la eram sempre observadas por uma multidão, pois, no intimo, todos queriam fazer o mesmo.

O pior é que, enquanto eu ficava olhando pra ela, louco para chegar, nem mesmo isto ela podia fazer. Foi mesmo amor à primeira vista, e eu sabia que, mais tarde ou menos tarde, acharia coragem de chegar até ela. Até mesmo algumas dicas me foram passadas por alguns amigos, mas, quando chegava a hora H, eu simplesmente ficava gelado e passava reto.

E foi assim por várias semanas, ou seja, olhando, olhando, olhando e vendo mais um dia ir embora sem nada fazer. O fato de ser ela bem mais jovem que eu fazia-me, de certa forma, recuar um pouco. Sabem como é: linguagem moderna, rapidez de raciocínio, frieza nos pensamentos. E, logo eu, de uma geração de costumes opostos...  Parecia mesmo, que não tinha nada haver comigo.

Mas... Eu nunca desistia, pois minha hora, com certeza, iria chegar. Seu jeito discreto, cada vez mais me fascinava. Também não me importava saber que, para com alguns incapazes, ela tinha fama de ser fria. Isso se dava em razão dela ser extremamente eficiente e capaz em seu desempenho, e, principalmente, pelo fato de resolver sozinha todos os nossos desejos.
  
E foi assim que... num belo dia, acordei inspiradíssimo, e pude sentir que era chegado o tão esperado momento: preparei-me como nunca, e até um pequeno rascunho levei escondido no bolso. Tudo seria válido para que não me enrolasse um só momento diante dela. Desta forma, após tomar um banho relaxante, lá fui eu tenso, mas inteiramente decidido.

Teria mesmo que ser agora, pois confesso que há muito eu precisava mesmo me “desafogar”. Aquela sensação de “atraso” estava até me fazendo mal. Sabem como é: é hoje ou nunca! É hoje ou nunca! - falava pra mim mesmo, enquanto caminhava, em passos rápidos, pela calçada.

Era nosso primeiro encontro, e nada poderia sair errado...

Crônica: Serjão Missiaggia (março/2001)
Foto: disponível em http://aminhaprimeiravez.com.br/

segunda-feira, 28 de julho de 2014

CASOS CASA(RÕES) & detalhes misteriosos


QUEM SABE ALGUMA COISA SOBRE ESSE CASARÃO ???

CASARÃO DA SEMANA PASSADA - Nilson Magno Baptista, Reneé Cruz e Luiz Carlos Moura nos ajudaram a falar sobre o casarão da semana passada. Segundo eles, aquela construção, ao lado da Casa Paroquial, pertencia ao sr. Humberto Sachetto que ali residiu por muitos anos.

São muitos os estímulos da vida atual. Temos de dar conta de inúmera chamadas, alertas, avisos, mensagens e bips. A lembrança desses casarões de São João Nepomuceno é uma tentativa de silêncio: vê-los ali, imponentes, quarenta, cinquenta, cem anos depois é como se o passado nos fizesse um "psiu" e dissesse: "para, minino! para, minina!".

Conhecer essas histórias e esses causos nos remete a algum tempo lá no início da nossa infância quando perguntávamos: de quem é essa casa, mamãe? Atiçar, de novo, essa curiosidade é saudável e emocionante. Obrigado a todos que continuam nos auxiliando!

Foto  : Serjão Missiaggia
Texto: Jorge Marin

CASOS CASAS & mistério ???


QUE LUGAR É ESSE AÍ EM SÃO JOÃO NEPOMUCENO ???

ACERTADORES DA SEMANA PASSADA: A Bíblia da Praça Daniel Sarmento foi reconhecida pelas leitoras Ilka Matta Gruppi, Patrícia Paula e Eliane Fajardo. Quando pensamos que o Maninho Sanábio, finalmente, não tinha acertado, ele foi lá, no local, pesquisou e... também acertou.

Foto: Serjão Missiaggia

sexta-feira, 25 de julho de 2014

COMO EU COSTUMAVA DEFINIR O AMOR EM 1972


O amor é um grilo uma bateia um desconforto
Que dói porque na carne que não amansa que não tem sossego
Que não pertence ao céu porque é quente nem ao inferno porque disseram que não
O amor é uma ilusão real, uma paz conflituosa, uma música em descompasso

Milhares de galáxias tentam, há milhões e milhões de anos,
Repetir o rito amoroso a luz de tantas estrelas e supernovas e querubins
Não têm sido suficiente

A raça humana brinca de insuflar vidas
No leito de algum rio no sopro do vento nos corredores sinistros dos apartamentos
Na rua na lida na tormenta confusa e ininterrupta dos formigueiros

O amor não tem solução prendem sensações em tubos de ensaio
Cai a chuva e o verde desprende das folhas como sangue de mariposas
A lógica dos divãs as tábuas da lei ou quinto anel de Tutancâmon
Nada disso dá conta de catalogar o amor

O amor surge impregna contamina espalha-se
Luz que não vem de estrela
Batida que não vem do coração
Ilusão captura
Absoluta desnecessidade ponto
final.


Poesia: Jorge Marin
Foto: Priscila Bonatto, disponível em https://www.flickr.com/photos/priscilabonatto/

quarta-feira, 23 de julho de 2014

ALEGORIAS E ENDEREÇOS - Final


Na SEMANA PASSADA, pra quem não se lembra, o meu colega do júri (no qual julgávamos as mudanças mais originais de São João) foi jurado ele mesmo, não para morrer, mas para mudar...

E lá estava ele! Totalmente indefeso, fisionomia transtornada e pálida, com cara de quem iria, de uma hora para outra, desmaiar. Seus olhos arregalados, não acreditavam no que estava acontecendo... E o coitado ainda nem havia me visto!
Se tal acontecesse, certamente iria se sentir num carro abre-alas parado em frente aos jurados e o que é pior... De pneu furado. Daí a ideia desta croniqueta se chamar ALEGORIAS E ADEREÇOS, digo E ENDEREÇOS.

Mas, voltando ao caminhão empacado, procurei imediatamente, um tanto sensibilizado e como amigo fiel que sempre fui, deixar a emoção de lado pra cumprir minha nobre obrigação. Escondendo-me parcialmente num canto da janela, comecei, de forma isenta, a fazer meu julgamento, enquanto o pneu era trocado.
     
Infelizmente, tive que tirar um ponto no quesito Alegoria, pois não havia sequer uma única gaiola a bordo e isso, segundo ele mesmo, seria fundamental. Quanto aos outros quesitos, por sinal até que ele se saiu muito bem, pois havia antenas de televisão bem posicionadas, com uma parabólica sufocando tudo, dois botijões de gás servindo de banco, colchão de casal já bem maltratado, plantas e vasos em profusão com lindas samambaias, aquele espelhão duplicando ainda mais as coisas, crianças sentadas alegremente no sofá brincando de automóvel, além de um belo cachorro pastor alemão perdido no meio da confusão.

Nota máxima ficou para o quesito Semblante do Responsável, pois meu amigo transmitia naquele momento uma felicidade de dar inveja. Irradiava do seu rosto, uma paz interior de tal grandeza que, qualquer semelhança que lembrasse suicídio seria mera coincidência. Imagino os tantos e bons pensamentos que, provavelmente, estariam na sua cabeça naquele momento, ou seja, o que eu vim fazer aqui? Só mudo agora se for para o cemitério, e olhe lá! Antes ter ficado onde estava! Já pensou colocar tudo no lugar novamente? Merda de caminhão, o barato sai caro! Bem feito, língua fala língua paga!

Finalmente, de pneu trocado, lá se foi o meu velho amigo aliviado, virando a esquina, com seu pesadelo prestes a terminar.

Afinal de contas, fica aqui o registro de mais uma família que se muda, ou ainda, mais um casal que se une ou se separa. São as idas e vindas da vida, nas quais, sinceramente, respeito e admiro e, pessoalmente, "Acho o maior barato"...

Meu velho amigo que me perdoe!

Crônica: Serjão Missiaggia (junho/98)
Foto: disponível em http://imoveis.culturamix.com/dicas/conheca-melhor-os-tipos-de-transporte-para-mudancas .

segunda-feira, 21 de julho de 2014

CASOS CASARÕES & detalhes misteriosos


ALGUÉM CONHECE ALGUMA HISTÓRIA SOBRE ESSE CASARÃO???
Foto: Serjão Missiaggia

CASARÃO DA SEMANA PASSADA: Luiz Carlos Moura e Cida Abreu deram a localização exata: Rua Guarda-Mor Furtado, esquina com a rua que desce para a Rua Nova (André Gotti). A Fernanda Leite disse que a casa é em frente à casa de seus pais e que pertence à Dona Olga. Nilson Magno Baptista, o nosso consultor para arquitetura histórica de São João completa: "esse casarão pertence aos herdeiros da Dona Olga Fávero."

Finalmente, uma herdeira, a nossa leitora Aline Costa conta a história completa do casarão: "Falou tudo, Nilson. Meu avô Antero Costa comprou esse casarão pouco depois de casar com a minha avó Olga Fávero há uns 70 anos ou mais... Era uma fazenda antigamente, possui um quintal bem grande, que vai lá na Rua Nova. Pouco foi mudado em sua configuração original. Ela pertencia antes a outra família que eu não sei quem era. Hoje pertence aos meus três tios e ao meu pai. Era mais conhecida por ser a residência da minha avó Dona Olga. Todos ainda moram com meus dois irmãos."

Agradecemos a todos os leitores que nos ajudaram a escrever a história dessa maravilhosa construção.

CASOS CASAS & mistérios ???


QUE LUGAR É ESSE EM SÃO JOÃO ???

ACERTADORES DA SEMANA PASSADA - Maninho Sanábio, Aline Costa, Alcilene Pacheco, Wagner Guedes e Reneé Cruz reconheceram o casarão na esquina da Rua Guarda-Mor Furtado de Mendonça com a Rua André Gotti.

sexta-feira, 18 de julho de 2014

MÚSICAS QUE O PITOMBA ESCUTAVA


Lembram-se de quando curtíamos os alemães?

COM JEITIM, PODE!


Terminada a Copa, o negócio agora é começar a viver este ano de 2014. A volta à normalidade é terrível: muito trânsito, filas e mais filas, e aquele mau humor que vem se tornando uma característica dos brasileiros, já classificados, muitas vezes, como fortes (o brasileiro é antes de tudo um forte), ou um povo “hospitaleiro”.

Não duvido, nem da força nem da hospitalidade, visíveis na forma pela qual vivemos com os salários que nos são pagos e também pelo modo com que recebemos e tratamos os visitantes estrangeiros durante a Copa do Mundo.

No entanto, mesmo após implantado o famoso “padrão FIFA” que, pelo jeito, já acabou, uma coisa no Brasil permanece, para sempre, inalterada: é o JEITINHO. Chegamos ao século XXI, levamos o nosso carro do último tipo na oficina mecânica mais sofisticada para consertar um problema com a imagem holográfica do painel e, face à afirmativa que a peça nova só será entregue dali a duas semanas, suspiramos:
- Ô meu Deus, mas eu tinha que voltar pra São João hoje! – e aí uma coisa engraçada acontece.
- Ah, o senhor é de São João? Ah, bom. Então vou falar com o Luizinho, que é lá do estoque de software que tem um conterrâneo dele aqui precisando de um favor. Resultado: você sai com o carro funcionando em meia hora.

Este é só um exemplo, mas hoje NADA funciona como está no manual, aí incluídos: hospitais, clínicas, escritórios, lojas, repartições públicas, cadeias, tribunais e até cemitério:
- Fala aí pro Fulano que o defunto era amigo do cunhado dele para colocarmos o corpo na capela maior!

Os estrangeiros que aqui estiveram devem ter experimentado duas reações: uma de perplexidade e outra de encantamento. Perplexidade porque, acostumados a ler uma placa PROIBIDO e não fazer aquilo que é proibido, descobrem, por exemplo, que, embora seja proibido fumar no restaurante, se você ficar em pé na beiradinha e dar a baforada pra fora, PODE. Não se pode estacionar em vaga de deficiente, mas, se não tiver nenhum deficiente e nenhum guarda, PODE.

E o encantamento é ver coisas impensáveis nos seus países de origem: no setor sul da Arena Tal não se pode consumir bebidas alcoólicas, mas, se você é um político, ou filho de político, ou amigo da prima da sogra do político, ou cunhado da amante do político, PODE.

Cara, tô pensando seriamente em me mudar para a Suíça. O problema é que minhas milhas não são suficientes para comprar a passagem. Mas o Serjão, que é meu amigo, tem um cunhado que trabalha num empresa de software onde tem uma moça cujo namorado consegue liberar o protocolo da companhia aérea se eu pagar 10% do valor da passagem para um primo dele. Vou pensar!

Crônica: Jorge Marin
Foto: disponível em http://copadomundo.ig.com.br/2014-06-09/selecao-alema-recebe-a-visita-de-indios-em-seu-segundo-dia-de-treinos-no-brasil.html

quarta-feira, 16 de julho de 2014

ALEGORIAS E ENDEREÇOS - Capítulo 1


Abram alas, pois lá vem mais um daqueles caminhões de mudanças desfilando discretamente pela cidade! Sem chamar a mínima atenção, pra não dizer o contrário, segue passando com tudo aquilo e tudo mais a que tem direito.
     
Nesse momento tão solene e único, procuro na oportunidade achar um adjetivo que venha caracterizar tão nobre momento, pois, na realidade, não sei definitivamente defini-lo.

Pessoalmente misturo uma forte curtição ao inusitado com uma grande conotação de solidariedade na qual podemos sorrir ou mesmo chorar, e, se o caminhão for de carroceria aberta, o bom mesmo é ficar num canto da calçada vendo o bonde passar.
    
Mas, antes de continuar com esta inocente croniqueta, gostaria de explicar o motivo de tê-la escrito.

Na verdade, tudo começou na adolescência, quando num daqueles descompromissados bate-papos das esquinas, um velho amigo meu veio a confessar que seria a maior desgraça de sua vida se um dia tivesse que fazer uma mudança e ter que sair a rua na CARROCERIA ABERTA de um caminhão. Fico apavorado só de imaginar!  Prefiro a morte, que a isto sujeitar! – disse ele.
  
Este meu amigo era uma daquelas pessoas que ficava em pânico quando tivesse que se expor de alguma forma, principalmente em situações que, para alguns, se tornaria cômica. Aí vocês já imaginam! Por sinal, essas pessoas possuem em comum a interessante característica de serem superdivertidas, ainda mais no que diz respeito ao próximo. E este meu amigo, por ser um expert no assunto, não poderia mesmo fugir à regra!
 
E desta forma acontecia, ou seja, a cada caminhão de mudança que passasse, lá estava ele, com todo seu sádico humor. Analisava-os minuciosamente e, após estudar com bastante critérios todos os seus detalhes, eram distribuídas notas, que variavam de um a dez. Algo assim como GRAU DE DIFICULDADE, SIMPATIA E ESPORTIVA DOS ENVOLVIDOS, SITUAÇÃO DO TRANSPORTE (neste caso, quanto pior, maior a nota), DISTRIBUIÇÃO VISUAL DA MUDANÇA NA CARROCERIA, GRAU DE ATENÇÃO QUE DESPERTASSE AOS PEDESTRES, FISIONOMIA DO RESPONSAVEL (algo então parecido com um penico, era um DEIZÃO na hora!).

Foi uma época realmente muito divertida e, mesmo depois que o tempo nos distanciou, ainda levaríamos conosco, lembranças de um passado feliz.

Até que um belo dia, o impossível e inacreditável aconteceu. Era uma tarde chuvosa em que eu estava na janela, e, no inicio da rua, um velho caminhão de mudanças começou a passar. Quanta emoção! Principalmente quando, quase em frente à minha varanda, estoura um de seus pneus. Sei que muitos não acreditarão, mas... Quem estava na carroceria, sufocado no meio de uma parafernália de coisas, sentado num botijão de gás, entre a geladeira e o fogão? Ele mesmo! Simplesmente, meu velho amigo das esquinas.

(continua)

Crônica: Serjão Missiaggia (junho/1998).
Foto: disponível em http://imoveis.culturamix.com/dicas/conheca-melhor-os-tipos-de-transporte-para-mudancas .

segunda-feira, 14 de julho de 2014

CASOS CASA(RÕES) & detalhes misteriosos


QUEM SABE ALGUMA COISA SOBRE ESSE CASARÃO ???

CASARÃO DA SEMANA PASSADA: Welington Itaborahy disse que já morou lá e um leitor, que se identificou no Blogger como "fone", afirmou que o casarão foi a residência do Dr. Homero Martins, dentista nas décadas de 50 e 60. A postagem continua aberta para mais comentários.

CASOS CASAS & mistério ???


QUEM SABE ONDE FICA ESSA CASA ???

ACERTADORES DA SEMANA: Roberto Ferreira, Aline, Ubirajara Gentil Lima e Maninho Sanábio reconheceram as pedras históricas da antiga estação ferroviária, hoje rodoviária, que, graças a Deus, continuam quietinhas lá.

sexta-feira, 11 de julho de 2014

O CASARÃO DOS CASARÕES
























Foi graças a essa nova seção no Blog sobre os CASARÕES que pude lembrar este 
pequeno texto abaixo, que escrevi no apagar das luzes do século passado, logo após bater
a foto que vocês estão vendo aí em cima.  


Quem de nós, ao passar pelo largo da matriz, ainda que por uma única vez, não deixou 
que seu olhar fosse ao encontro do velho CASARÃO que lá existe?

De minha parte, dou sempre um tempo a mais aos meus passos e, procurando  o 
melhor ângulo, fico a contemplá-lo. Algo assim como se fosse fotografá-lo pela última vez, 
mesmo que ainda tão maltratado ou parecendo a nos pedir socorro.  
     
Mas,  voltando, a cem anos ou mais, e viajando com a imaginação pelo tempo, procuro 
sentir toda sua plenitude. Imagino sua fachada ainda cheirando a nova e os ruídos de 
passos constantes em seu piso de madeira nobre. Das luzes ofegantes dos antigos 
lampiões que, espalhados em sua magnitude, nem tanto clareavam.  

Imagino tantas vidas que ali passaram, nasceram e se foram. Tantos que ali sorriram, 
choraram. Tantas vozes que diferentes épocas marcaram.

Um passado vivo a nossa frente, ainda real, palpável às nossas mãos e ao alcance de 
nossos olhos. Triste é vê-lo escapar pedacinho a pedacinho, em infinitos grãos 
de areia que vão se desprendendo de suas paredes nos açoites da mãe natureza, 
com suas inesperadas ventanias e tempestades.

Possivelmente, surgirá ali, uma nova e majestosa construção, “valorizando e realçando” 
ainda mais o momento presente.  A nós restará apenas, simplesmente, um apagar da 
memória, pois, ficaremos órfãos de mais um elo com a nossa história. História esta, muitas
vezes, assim como o Velho Casarão... depredada, esquecida e distante.

- Papai, papai!!! Como era o VELHO CASARÃO? – ainda ouviremos muito esta pergunta 
vinda dos nossos filhos e netos.

Foto e crônica: Serjão Missiaggia (JANEIRO/1997).

Somente hoje, em pleno século XXI,  fui perceber de fato que, naquele momento, eu estava,
realmente, fotografando o CASARÃO pela última vez!                                    

quarta-feira, 9 de julho de 2014

E AGORA, BRASIL?


E agora, Brasil?
A Copa acabou,
o time apagou,
o povo sumiu,
o clima esfriou,
e agora, Brasil?
e agora, país?
você que é gigante,
que esnoba o seu povo,
você que é perverso,
que manda e decreta?
e agora, Brasil?

Provou do perder,
perdeu o discurso,
perdeu o caminho,
não adianta beber,
não adianta rezar,
mentir já não pode,
o clima esfriou,
nosso gol não veio,
o hexa não veio,
o riso não veio,
não veio a alegria
e tudo acabou
e tudo sumiu
o time apagou,
e agora, Brasil?

E agora, Brasil?
Eram apenas palavras,
seu instante de febre,
sua garra e força,
seu nacionalismo,
seleção de ouro,
chuteira de vidro,
sua incompetência,
seu tédio – e agora?

Com a taça na mão
quer subir ao pódio,
não existe pódio;
quer vencer no Rio,
mas o rio secou;
quer brilhar em Minas,
em Minas, jamais.
Brasil, e agora?

Se você pensasse,
se você crescesse,
se você votasse
o voto consciente,
se você exigisse,
se você batalhasse,
se você quisesse…
Mas você só erra,
você é burro, Brasil!

Sem fé no futuro
sem luz, insensato,
só com fantasia,
sem hino babaca
para se apoiar,
sem fato concreto
que lhe dê ibope,
você ainda se acha, Brasil!
Brasil, o quê?

Poesia: Jorge Marin (adaptação de "José" de Carlos Drummond de Andrade).
Foto: Folha de São Paulo 08/07/2014.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

CASAS CASA(RÔES) & detalhes misteriosos


QUEM SABE ALGUMA COISA SOBRE ESSE CASARÃO ???

CASARÃO DA SEMANA PASSADA - Os leitores Reneé Cruz, Antônio José Capanga, Camilo Pontes, Márcio Velasco, Luiz Carlos Cestaro e Marcelo Oliveira nos ajudaram a conhecer aquele casarão: fica atrás da Igreja Matriz, mais para o lado direito de quem sobe, e é a casa do sr. José Braz e da dona Maura.

CASOS CASAS & mistério ???


ONDE FICAM ESSAS PEDRAS CENTENÁRIAS ???

ACERTADOR DA SEMANA PASSADA - Ele não erra uma, está igual ao Arjen Robben da Seleção da Holanda: Maninho Sanábio reconheceu a torre da Igreja da Igreja Matriz, mesmo escondidinha pela árvore.

sexta-feira, 4 de julho de 2014

ENVELHECEMOS ???


Conversando com uma amiga de São João, recebo uma declaração óbvia, tão óbvia que eu nem havia notado:
- É, Jorge, envelhecemos.

Ela ainda afirma que o fato de ter ficado velha é um dos motivos pelos quais não vai mais a São João. No entanto, vejo diante de mim uma mulher que, é verdade, pode ter vivido até alguns anos a mais do que eu, mas não é absolutamente velha: energética, bem vestida, ágil e inteligente. Velhice, pelo que eu me lembro, implicava em uma certa decrepitude, até mesmo um pouco de decadência ou senilidade.

Não se trata de querer bancar o gatinho ou a gatinha, mas os sexagenários de hoje trabalham, estudam, fazem ginástica, passeiam e namoram. Estas atividades são bem diferentes, até antagônicas daquele conceito de “velho” que vejo aqui no dicionário: “que é desusado ou gasto pelo uso”.

Meu pai, quando o chamavam de velho, dizia: “velho não, vivido!”. E acho que ele estava totalmente certo porque não há como negar a passagem do tempo: hoje quem vai a São João se assusta com o trânsito, com o número de pessoas nas ruas, já não há meninos “batendo pelada”, automóveis são às vezes recebidos a tiros conforme lemos no Face.

Mas, gente, é a nossa São João! Nem melhor nem pior do que no “nosso” tempo de meninos. Da  mesma maneira que nós, meninos hoje mais vividos, continuamos os mesmos, nem piores, nem melhores.

Quando criamos o Pitomba BLOG, eu e o Serjão, embora não tivéssemos na época esta clareza, queríamos o seguinte: mostrar as coisas maravilhosas que a cidade teve e TEM, e registrar, em forma de um diário, as vivências fantásticas que vivemos (principalmente na época do Grupo Pitomba), mas que CONTINUAMOS vivendo neste veloz século XXI.

Por isso, quando ouço alguém da minha idade se reconhecer “velho”, fico meio bolado, pois, na minha cabeça, velho parece uma coisa empoeirada, enquanto nós, vívidos e vividos, estamos impregnados de VIDA.

Crônica: Jorge Marin
Foto: Piero de Marchis, disponível em https://www.flickr.com/photos/pierodemarchis/

quarta-feira, 2 de julho de 2014

POSTE MORTAL - Capítulo 3 - FINAL!



Dedo enfiado no poste. O sol a pino...

A esta altura do campeonato, o suor já pingava no chão. Então, entre licenças e “abre caminho”, chega Dona Zélia, também moradora da rua, trazendo-me gentilmente, água com açúcar, bolachas e algumas palavras de consolo. Vendo-me comprimido por tantas pessoas, anunciou-me que estava quase na hora de começar um dos últimos capítulos da novela das oito e que a coisa ali ia serenar um pouco, pelo menos, durante a novela. Nessa hora, já sem esportiva, perguntei:
- Dona Zélia, a senhora tá achando que vou ficar aqui até que horas?!

Entre risos, um senhor que não conheço começou a pedir que as pessoas se afastassem um pouco por causa do calor, mas ninguém queria de forma alguma arredar o pé, e olhem que a novela já havia até começado!
O engraçadinho da cavadeira, que estava há algum tempo quieto até demais para o meu gosto, manifesta-se novamente do meio da multidão e, com uma pequena torcida organizada, erguia as mãos para o alto e, em coro, gritava freneticamente:
- Cavadeira!...Cavadeira!...Cavadeira!

Em meio ao alvoroço, os ânimos começaram a se exaltar e, “num ranca, num ranca, ranca, num rança”, comecei a me desesperar.
Para piorar ainda mais a situação, o Mota Soares, meu amigo das peladas de fim de semana e fanático botafoguense, passa pelo local e, mesmo vendo-me naquela situação, ainda teve a petulância de perguntar se por acaso eu não havia ficado sabendo o resultado de Botafogo e União de Araras. O pior de tudo é que o Mota é meio gago. Aí vocês imaginam o-o-o-o-o de-e-e-e-sespero...

Eu já estava prestes a entrar em pânico. Um calafrio percorreu todo meu corpo. Falaram em serrar o poste, cortar meu dedo e, quando o caso parecia mesmo sem solução, eis que surge, inesperadamente, um enviado das alturas, carregando em suas mãos, a poção mágica e grandiosa, conhecida por nós, simples mortais, pelo nome de “sabão”. O velho e eficiente sabão que, misturado com um pouco de água, foi aos poucos e lentamente retirando o quase desfalecido e inchado dedão.

Então, sob uma calorosa salva de palmas, fui rapidinho procurando meu rumo, não sem antes ver, ou melhor, cruzar com um carrinho de pipocas e um menino vendedor de picolés que, apressadamente, dirigiam-se ao local, na expectativa de faturarem às minhas custas. Haviam sido informados que ali o movimento prometia muito. Desta pelo menos eu escapei!!!

Mais noticias de meu drama, convido você, leitor, a procurar nos noticiários da época. Este é um dos muitos causos do século passado e que hoje, infelizmente, nem mesmo o traiçoeiro poste ficou pra contar. Até pouco tempo ainda estava ele no mesmo lugar, frio e impassível, como a que a esperar por um novo e distraído DEDÃO.

Por isso, quando passarem próximo a um desses e a tentação aguçar, feche as mãos, ou as coloque no bolso, pois o buraco, também, PODERÁ TE PEGAR.

Crônica e foto: Serjão Missiaggia

BRIGADU, GENTE!

BRIGADU, GENTE!
VOLTEM SEMPRE, ESTAMOS ESPERANDO... NO MURINHO DO ADIL