Terminada
a Copa, o negócio agora é começar a viver este ano de 2014. A volta à
normalidade é terrível: muito trânsito, filas e mais filas, e aquele mau humor
que vem se tornando uma característica dos brasileiros, já classificados,
muitas vezes, como fortes (o brasileiro é antes de tudo um forte), ou um povo “hospitaleiro”.
Não
duvido, nem da força nem da hospitalidade, visíveis na forma pela qual vivemos
com os salários que nos são pagos e também pelo modo com que recebemos e
tratamos os visitantes estrangeiros durante a Copa do Mundo.
No
entanto, mesmo após implantado o famoso “padrão FIFA” que, pelo jeito, já
acabou, uma coisa no Brasil permanece, para sempre, inalterada: é o JEITINHO.
Chegamos ao século XXI, levamos o nosso carro do último tipo na oficina
mecânica mais sofisticada para consertar um problema com a imagem holográfica
do painel e, face à afirmativa que a peça nova só será entregue dali a duas
semanas, suspiramos:
- Ô meu
Deus, mas eu tinha que voltar pra São João hoje! – e aí uma coisa engraçada
acontece.
- Ah, o
senhor é de São João? Ah, bom. Então vou falar com o Luizinho, que é lá do
estoque de software que tem um conterrâneo dele aqui precisando de um favor.
Resultado: você sai com o carro funcionando em meia hora.
Este é
só um exemplo, mas hoje NADA funciona como está no manual, aí incluídos:
hospitais, clínicas, escritórios, lojas, repartições públicas, cadeias,
tribunais e até cemitério:
- Fala
aí pro Fulano que o defunto era amigo do cunhado dele para colocarmos o corpo
na capela maior!
Os
estrangeiros que aqui estiveram devem ter experimentado duas reações: uma de
perplexidade e outra de encantamento. Perplexidade porque, acostumados a ler
uma placa PROIBIDO e não fazer aquilo que é proibido, descobrem, por exemplo,
que, embora seja proibido fumar no restaurante, se você ficar em pé na
beiradinha e dar a baforada pra fora, PODE. Não se pode estacionar em vaga de
deficiente, mas, se não tiver nenhum deficiente e nenhum guarda, PODE.
E o
encantamento é ver coisas impensáveis nos seus países de origem: no setor sul
da Arena Tal não se pode consumir bebidas alcoólicas, mas, se você é um
político, ou filho de político, ou amigo da prima da sogra do político, ou
cunhado da amante do político, PODE.
Cara,
tô pensando seriamente em me mudar para a Suíça. O problema é que minhas milhas
não são suficientes para comprar a passagem. Mas o Serjão, que é meu amigo, tem
um cunhado que trabalha num empresa de software onde tem uma moça cujo namorado
consegue liberar o protocolo da companhia aérea se eu pagar 10% do valor da
passagem para um primo dele. Vou pensar!
Crônica:
Jorge Marin
Foto: disponível em http://copadomundo.ig.com.br/2014-06-09/selecao-alema-recebe-a-visita-de-indios-em-seu-segundo-dia-de-treinos-no-brasil.html
É difícil mudar a cultura do lucro rápido e fácil...
ResponderExcluirNão há jeitinho para resolver o" jeitinho"! O negócio é investir em educação, coerência e persistência para que os atuais e futuros responsáveis pela criação das crianças mostrem bons exemplos ao invés de apenas bons discursos, cientes que os lucros coletivos são mais eficientes e duradouros do que os lucros individuais.
É difícil... é demorado... mas é possível!
É isso mesmo, Sylvio. Só que, como TUDO funciona dessa maneira informal e interesseira, fica até difícil iniciar um projeto novo fora do sistema.
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