sexta-feira, 18 de julho de 2014

COM JEITIM, PODE!


Terminada a Copa, o negócio agora é começar a viver este ano de 2014. A volta à normalidade é terrível: muito trânsito, filas e mais filas, e aquele mau humor que vem se tornando uma característica dos brasileiros, já classificados, muitas vezes, como fortes (o brasileiro é antes de tudo um forte), ou um povo “hospitaleiro”.

Não duvido, nem da força nem da hospitalidade, visíveis na forma pela qual vivemos com os salários que nos são pagos e também pelo modo com que recebemos e tratamos os visitantes estrangeiros durante a Copa do Mundo.

No entanto, mesmo após implantado o famoso “padrão FIFA” que, pelo jeito, já acabou, uma coisa no Brasil permanece, para sempre, inalterada: é o JEITINHO. Chegamos ao século XXI, levamos o nosso carro do último tipo na oficina mecânica mais sofisticada para consertar um problema com a imagem holográfica do painel e, face à afirmativa que a peça nova só será entregue dali a duas semanas, suspiramos:
- Ô meu Deus, mas eu tinha que voltar pra São João hoje! – e aí uma coisa engraçada acontece.
- Ah, o senhor é de São João? Ah, bom. Então vou falar com o Luizinho, que é lá do estoque de software que tem um conterrâneo dele aqui precisando de um favor. Resultado: você sai com o carro funcionando em meia hora.

Este é só um exemplo, mas hoje NADA funciona como está no manual, aí incluídos: hospitais, clínicas, escritórios, lojas, repartições públicas, cadeias, tribunais e até cemitério:
- Fala aí pro Fulano que o defunto era amigo do cunhado dele para colocarmos o corpo na capela maior!

Os estrangeiros que aqui estiveram devem ter experimentado duas reações: uma de perplexidade e outra de encantamento. Perplexidade porque, acostumados a ler uma placa PROIBIDO e não fazer aquilo que é proibido, descobrem, por exemplo, que, embora seja proibido fumar no restaurante, se você ficar em pé na beiradinha e dar a baforada pra fora, PODE. Não se pode estacionar em vaga de deficiente, mas, se não tiver nenhum deficiente e nenhum guarda, PODE.

E o encantamento é ver coisas impensáveis nos seus países de origem: no setor sul da Arena Tal não se pode consumir bebidas alcoólicas, mas, se você é um político, ou filho de político, ou amigo da prima da sogra do político, ou cunhado da amante do político, PODE.

Cara, tô pensando seriamente em me mudar para a Suíça. O problema é que minhas milhas não são suficientes para comprar a passagem. Mas o Serjão, que é meu amigo, tem um cunhado que trabalha num empresa de software onde tem uma moça cujo namorado consegue liberar o protocolo da companhia aérea se eu pagar 10% do valor da passagem para um primo dele. Vou pensar!

Crônica: Jorge Marin
Foto: disponível em http://copadomundo.ig.com.br/2014-06-09/selecao-alema-recebe-a-visita-de-indios-em-seu-segundo-dia-de-treinos-no-brasil.html

2 comentários:

  1. É difícil mudar a cultura do lucro rápido e fácil...
    Não há jeitinho para resolver o" jeitinho"! O negócio é investir em educação, coerência e persistência para que os atuais e futuros responsáveis pela criação das crianças mostrem bons exemplos ao invés de apenas bons discursos, cientes que os lucros coletivos são mais eficientes e duradouros do que os lucros individuais.
    É difícil... é demorado... mas é possível!

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    1. É isso mesmo, Sylvio. Só que, como TUDO funciona dessa maneira informal e interesseira, fica até difícil iniciar um projeto novo fora do sistema.

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BRIGADU, GENTE!

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