domingo, 27 de dezembro de 2009

OBRIGADO POR SONHAR!



Sonho que se sonha só é só um sonho que se sonha só, mas sonho que se sonha junto é realidade. Assim dizia o Raul.
Em abril deste ano, o Serjão me enviou um e-mail, contando que havia sonhado com o Pytomba. O engraçado é que eu não conversava com o Serjão há exatos trinta anos e, no e-mail, ele reclamava de um bola cinco que eu havia matado na mesa de sinuca do Pintinho, quando a luz acabou.
Quer dizer, a amizade é assim. De repente, trinta anos depois, vem um sonho, assim do nada. Do nada não, vem daquele depósito de materiais inconscientes, dos velhos baús da infância, das mochilas perdidas, dos cadernos de poesia encardidos e dos intrincados desejos não realizados.
Pois é, de uma hora para outra, este estranho mundo entra em erupção e aí vem o resultado: sonho! O sonho do Serjão falava de um suposto show na praça da Matriz e já foi publicado aqui no blog (sob o título E nós, que culpa tivemos?). E ele falava da necessidade de divulgarmos a história do Pytomba na Rede. E lembrava de um amigo nosso, o Cabral, falando orgulhoso:
- Sou um daqueles que viu o Pytomba!
Comecei a perceber que a arte, mesmo a mais despretenciosa, traz consigo um compromisso, que é feito uma promessa, que o tempo não apaga. O que o Pytomba fazia, naqueles anos que hoje consideramos ingênuos, era uma forma de arte. Menos do que a arte musical, o que se fazia era a arte da convivência, a arte da amizade, a amorosa arte do compartilhamento de ideias e ideais.
Trazidos para a telinha do computador, via blog, vimos que não estávamos sozinhos: a arte de viver bem tinha muitos adeptos. É verdade que muitos se referem aos “velhos bons tempos”, mas a maioria sabe que é possível fazer, dos tempos atuais, momentos marcantes e inesquecíveis. É difícil, claro. Mas é uma arte e, como toda arte, transformadora. De conceitos e comportamentos.
O blog começou, relembrando as experiências do Pytomba e, de repente, percebemos que as experiências vividas, eram comuns à maioria dos nossos leitores. E não eram apenas sanjoanenses, mas também outros “jovens” de outras cidades, que viajaram voos parecidos com o que relatávamos no blog.
Novo e-mail do Serjão: “quando uma criatura humana desperta para um grande sonho e sobre ele lança toda a força de sua alma, todo o universo conspira a seu favor.” A frase é de Goethe, mas, de novo, estava ele lá: o sonho.
E assim tem sido: de sonho em sonho, a cada lembrança, nos risos e nos lapsos, a certeza de que a vida pode estar sendo uma experiência bem mais fantástica do que temos nos dado conta.
Hoje, 10.000 acessos depois, o blog está calmo: muitos leitores em férias, outros acabando de passar o Natal com suas famílias. Somos agora uma rua onde as pessoas passam para relembrar os bons tempos, as serenatas, os tragos escondidos, os beijos roubados e as canções que sempre voltam. Só que tudo isto está acontecendo AGORA, que estamos sonhando juntos.
Obrigado por nos significarem,
Jorge Marin

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

CAUSOS INACREDITÁVEIS



UM POSTE EM MEU CAMINHO - CAPÍTULO FINAL
(Roteiro original - Serjão Missiaggia / Adaptação - Jorge Marin)

Na semana passada, como diria Drummond:
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha um poste
tinha um poste no meio do caminho
no meio do caminho tinha um poste... e o dedo doía...
E o suor começou a escorrer!
Imaginem só: uma pessoa sentada num banquinho amarelo ouro, no meio da calçada, com uma mão na cintura, a outra mão a meia altura, fazendo sei lá o quê, num poste qualquer, em plena Rua Nova!.. Ou é maluco ou é promessa!
O suor aumentava... Vontade de fazer xixi... Aí também não!...
Chega o Zé da Carroça! Olha daqui, olha dali e meio desconfiado, tira o cigarro de palha da boca e vai logo dizendo besteira:
- Procupa não, moço!!! Se ocê não saí por bem, nóis ranca com o poste e tudo!!!
Naquele momento, as gotas de suor já escorriam pelo rosto e as mãos começavam a ficar frias. Ouço então, do meio da multidão, a palavra “cavadeira”. Aí também não!... Ficar aqui agarrado, ainda passa! Mas, sair daqui levando comigo um poste, nem pensar!...Está fora de qualquer cogitação!!! E depois... levar para onde? Hospital?.. Prefeitura?..Ferreiro de plantão?.. Jamais.!!!! E a minha reputação?
Imaginem vocês o que significa uma notícia dessas no rádio ou jornal de uma pequena cidade do interior como a nossa. -"Genro do Barroso dá entrada no Hospital S. João acompanhado de um poste". Seria cômico se não fosse triste.
A esta altura, o suor já pingava no chão. Então, entre licenças e “abre caminho”, chega Dona Zélia, também moradora da rua, trazendo-me gentilmente, água com açúcar, bolachas e algumas palavras de consolo. Vendo-me comprimido por tantas pessoas, anunciou-me que estava quase na hora de começar um dos últimos capítulos da novela das oito e que a coisa ali ia serenar um pouco, pelo menos, durante a novela. Nessa hora, já sem esportiva, perguntei:
- Dona Zélia, a senhora tá achando que vou ficar aqui até que horas?!
Entre risos, um senhor que não conheço, começou a pedir que as pessoas se afastassem um pouco por causa do calor, mas ninguém queria de forma alguma arredar o pé, e olhem que a novela já havia até começado.
O engraçadinho da cavadeira, que estava há algum tempo quieto até demais para o meu gosto, manifesta-se novamente do meio da multidão e, com uma pequena torcida organizada, erguia as mãos para o alto e, em coro gritava freneticamente:
- Cavadeira!...Cavadeira!...Cavadeira!
Em meio ao alvoroço, os ânimos começaram a se exaltar e, “num ranca, num ranca, ranca, num rança”, comecei a me desesperar.
Para piorar ainda mais a situação, o Mota Soares, meu amigo das peladas de fim de semana e fanático botafoguense, passa pelo local e, mesmo vendo-me naquela situação, ainda teve a petulância de perguntar se por acaso eu não havia ficado sabendo o resultado de Botafogo e União de Araras. O pior de tudo é que o Mota é meio gago. Aí vocês imaginam o-o-o-o-o de-e-e-e-sespero...
Eu já estava prestes a entrar em pânico. Um calafrio percorreu todo meu corpo. Falaram em serrar o poste, cortar meu dedo e, quando o caso parecia mesmo sem solução, eis que surge, inesperadamente, um enviado das alturas, carregando em suas mãos, a poção mágica e grandiosa, conhecida por nós, simples mortais, pelo nome de sabão. O velho e eficiente sabão que, misturado com um pouco de água, foi aos poucos e lentamente retirando o quase desfalecido e inchado dedão.
Então, sob uma calorosa salva de palmas, fui rapidinho procurando meu rumo, não sem antes ver, ou melhor, cruzar com um carrinho de pipocas e um menino vendedor de picolés que, apressadamente, dirigiam-se ao local, na expectativa de faturarem às minhas custas. Haviam sido informados que ali o movimento prometia muito. Desta pelo menos eu escapei!!!
Mais noticias de meu drama, convido você, leitor, a procurar na voz de São João da época.
Este é um dos muitos causos do século passado e que hoje, de verdade mesmo, só restou o traiçoeiro e imponente poste. Lá está ele no mesmo lugar, frio e impassível, como a esperar por um novo e distraído DEDÃO.
Por isso, quando passarem por aquele local, cuidado: eu sempre fecho as duas mãos, ou as coloco no bolso, pois ainda ouço aquela voz sibilante:
- Dessa vez eu te pego, dessa vez eu pego...

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

A MAGIA DO NATAL


Vem chegando o natal,
Onde está Papai Noel?
O presépio, meus brinquedos, minha estrela de papel.
Onde está o sapatinho?
Que guiava do cantinho, meus desejos... Puros sonhos ao céu!

Recordações... Emoções e alegria!
Das canções e poesias... Natal nasceu Jesus!
E o tempo eternizou a mais linda sinfonia,
Infinita melodia, que nos encanta, nos aquece e nos conduz.

Quem me dera ser menino,
Ao natal poder voltar,
Adormecer... Assim sonhar!
Reencontrar a fantasia, desvendar a luz do dia,
Os presentes de natal.

Mas o bom velhinho sempre existirá,
Semeando o faz de conta e a esperança,
É só acreditar, deixar pulsar seu lado de criança,
Que a magia do natal e a estrela de Belém,
Brilhará eternamente,
Enchendo de luz cada momento,
E os sentimentos de cada coração.


Sergio R. Missiaggia (festival natalino 1998)
Foto: Jessica Onawa82, disponível em: http://browse.deviantart.com/photography/?order=9&q=magic+christmas&offset=72#/dqpouj

A todos os nossos leitores, seguidores e comentaristas, um Natal de muita paz, muito aconchego e muita luz interior!

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

CAUSOS INACREDITÁVEIS



UM POSTE EM MEU CAMINHO
(Roteiro original - Serjão Missiaggia / Adaptação - Jorge Marin)

Semana passada, ali pelas 3 horas da tarde, estava eu passando pela Rua Nova quando, na esquina com a Rua Joaquim Murtinho, mais exatamente em frente à casa da saudosa D. Arlinda, e a pouco mais de cinquenta metros da residência de nossa querida amiga Soninha, a lembrança de um fato fez, naquele momento, com que eu viajasse alguns anos no tempo.
O exato lugar, se não me falha a memória, ocorreu em julho de 1975, e tornou-se palco de uma cena não comum a moradores e transeuntes daquela redondeza.
Naquele inesquecível dia, tornei-me personagem principal de um cômico e dramático episódio, que teve como coadjuvantes dezenas de pessoas que por ali passavam: moradores, curiosos, fofoqueiros, palpiteiros etc.etc.etc.
Além de incomum, ninguém poderia imaginar que aquela cena ficaria gravada, anos e anos, na história da já famosa Rua Nova.
Vamos ao fato: havia naquele local... Ou melhor, ainda há... um poste de ferro, que servia á sinalização de trânsito cuja característica era possuir pequenos orifícios espalhados em sua base.
Passar por ali era rotina obrigatória das idas e vindas do namoro, tornando-se local predileto das brincadeiras que eu, religiosamente, fazia toda vez que ali passava.
Uma das brincadeiras exigia de mim uma precisão invejável que, por sinal, era muitíssimo bem ensaiada. Consistia em enfiar o dedo rapidamente num desses buracos e, ante o perigo de ficar preso, deixar assustadas as pessoas que me acompanhavam.
Um belo dia... Não sei se por azar, erro de cálculo ou mesmo se engordei de um dia para o outro, ao enfiar, mais uma vez, o dedo num desses buracos, um calafrio no corpo me fez compreender que havia entrado verdadeiramente pelo cano, ou melhor, pelo poste. Senti uma sensação diferente, era como se escutasse ao pé do meu ouvido...
-DESSA VEZ EU TE PEGUEI!!!
Provavelmente teria sido um erro de cálculo, pois, após estudar minuciosamente o ocorrido, descobri que, ao introduzir o dedo com um pouco mais de pressão no buraco, deixei que as juntas penetrassem além do costume.
E ali estava eu. Por um erro de cálculo, tornei-me um indefeso prisioneiro de um poste e, o que é pior: exatamente na Rua Nova, que era das mais movimentadas da cidade.
Em vão, fiz as primeiras tentativas de escapulir dali. Procurei disfarçar, mas era impossível. Já alguns curiosos começaram a circular ao meu redor e aglomerar ao meu lado, enchendo-me de palpites, piadinhas e gozações. E eu ali indefeso, preso e já começando a ficar preocupado.
Um infeliz, já meio alcoolizado, passou pelo local e, com aquele bafo de pinga e aquele olhar pesado de todo pinguço, olhou para mim, olhou para placa, novamente olhou para mim e, colocando a mão em meu ombro, sussurrou baixinho em meu ouvido:
- Gente boa, fica frio, a placa é contramão, só o dedinho pode! (Depois dizem que bebum não pensa!...)
Fui levando tudo na brincadeira, pois, até então, acreditava que sair dali era questão de momentos, ou uma certa perícia, e isto eu acreditava que tinha.
O número de curiosos aumentava a cada instante e, entre uma piadinha e outra, chega o Sr. Saul que, com sua já conhecida educação, vai pedindo licença a todos, fazendo chegar até a mim uma cadeira, ou melhor, um banquinho amarelo ouro, sem encosto, duro e bem desconfortável. Mas valeu, pois já um suor frio principiava a dar sinal em meu corpo. Foi nesta hora, que comecei a pressentir que a coisa era bem mais séria que pensava.
Mas, o que fazer?
Será que teríamos que chamar o Corpo de Bombeiros em Juiz de Fora? E os meus pais, como reagiriam à notícia? Daria manchete na Voz de São João?
A resposta para estas inquietantes questões serão um presente de Natal: no próximo dia 25, quando faremos este esperado post... do poste. Aguardem!

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

CAUSOS INACREDITÁVEIS



NUMA SEXTA QUALQUER DO PASSADO - CAPÍTULO FINAL
(Roteiro original - Serjão Missiaggia / Adaptação - Jorge Marin)

Na semana passada, estávamos cantando na casa do Biel, nosso primo e, lá, encontramos o Tio Gabi. Sempre digo que o tio foi um marco na história da cultura sanjoanense, que se dividiu em antes do Gabi e depois do Gabi. Era contagiante seu entusiasmo nas causas que abraçava. Fazia tudo com desenvoltura e com amor sem igual. Divertido, inteligente e de uma oratória como poucos.
Pois foi o tio que nos levou, até a fazenda Santa Fé, na semana seguinte, para cantarmos pra um tal General do Exercito que lá estava pernoitando. Eles ficaram maravilhados, sendo que, dias depois, fomos convidados pelo tio Gabi, para cantar e fazer uma entrevista em seu programa, que acontecia todos os sábados na Rádio Difusora. Este dia foi, de certa forma, hilariante, pois, se não fosse a desenvoltura e desinibição de Pedrinho, aquela entrevista seria catastrófica. Ninguém dizia nada e a única coisa que lembro ter dito foi a de mandar um abraço para mãe e para meu pai, que estava meio doente.
Ficamos conhecidos por QUARTETO NEPOPÓ. Se não me engano, este nome foi carinhosamente dado pelo Tio Dante.
Nosso repertório era vasto e eclético, pois cantávamos, desde músicas de nossa própria autoria, até canções evangélicas, nacionais, internacionais e muitas outras.
Entre tantas, algumas nos marcaram mais: Asa Branca, A Casa do Sol Nascente, Barracão de Zinco, Segura na Mão de Deus, A Noite do Meu Bem, Teus Olhos e um solinho, feito por mim, que servia como introdução para acordar as pessoas.
Casas como as de Maria Célia, Neide Araújo, Bete e Cristina Itaborahy eram algumas que, vez ou outra, estávamos também cantando. Assim como para Guida, Josemi, Mica e outros parentes mais...
Muitos e muitos foram os lares que tiveram o privilégio de nos ouvir cantar e muitos foram os pedidos que, infelizmente, não puderam ser atendidos, devido ao tempo ou ao cansaço.
No final da serenata, e antes que fôssemos para casa, uma breve visita era feita ao forno de alguma padaria. Naquela hora da noite, a fome já começava a bater mais forte.
E como era gostoso aquele pãozinho quentinho, que mal havia saído do forno!!!! Os padeiros até nos conheciam e, vez ou outra, nos forneciam também uma manteiguinha.
A noite, literalmente, virava uma criança e nós, mais crianças ainda, nem víamos o tempo passar.
O único registro que ficou foi uma fita cassete gravada na igreja Matriz. Nosso amigo Jorge Marin, com seu excelente gravador Philips, foi o técnico de gravação, e esta fita se encontra perdida, vagando em algum lugar do planeta...
Com carinho e simplicidade, deixo registrada aqui, uma pequena passagem de nossas vidas.
Com certeza, algum fato poderá ter sido omitido. Ficará em aberto, se necessário, para futuros complementos.
Segue então, a última estrofe de uma de minhas letras, numa singela homenagem a todos que conosco, direta ou indiretamente, viveram estes momentos tão felizes.
“Ao Tio Dante... minha especial dedicatória e eterna saudade”.

Foi-se a noite enluarada,
Vi no tempo quase nada,
Foi amiga namorada,
Que calada me ouviu “cantar.”.
Sergio R. Missiaggia --- janeiro de 2005.

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ALGUNS DETALHES PERDIDOS

Ainda hoje, passando pela cozinha de minha casa, tive a grata felicidade em perceber minha atenção despertada por um minúsculo fato, que simplesmente era o de um aroma de leite fervido, que exalava do velho fogão.
Momento raro de observação que me levou, naquele instante, a questionar sobre tantas coisas puras que nos passam despercebidas e que nossa já calejada sensibilidade não notam mais.
É interessante que algumas observações, para determinadas pessoas, possam ser fúteis e até cômicas, mas quão maravilhoso e significante é saber contemplar e cativar pequeninas coisas!
O velho abraço apertado, o ato rotineiro de um simples aperto de mão, fascínio ao respirar o ar puro de uma manhã de céu azul envolvida em cerração, bate-papo na varanda, um olhar nos olhos ou mesmo ser um pouco daquela criança das pipas e dos inocentes casos de assombração.
Enfim, uma infinidade de sentimentos e pormenores do cotidiano, que o futuro sufocou, mas que, ainda enraizados, resistem fielmente.
Submergem, às vezes, por necessidade ou sobrevivência. Mas é certo que, tanto a pressa que o tempo nos impõe, como competição às vezes desenfreada, jamais serão capazes de inibi-los.
Indiferentes para alguns, sublimes e indispensáveis para outros, mas, com certeza, nos ajudam, e muito, a aproximarmo-nos da verdadeira felicidade.

A vida, além de bela, tem, como essência maior, a extrema facilidade de ocultar toda sua beleza e mistérios em infinitos detalhes e atos excepcionalmente singelos.
Sergio R. Missiaggia
São João Nepomuceno - maio 96

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

CAUSOS INACREDITÁVEIS



NUMA SEXTA QUALQUER DO PASSADO - SEGUNDO CAPÍTULO
(Roteiro original - Serjão Missiaggia / Adaptação - Jorge Marin)

Na última sexta, perguntávamos: como se planeja uma serenata. De repente, um bando de jovens sai pela rua, com seus violões, para cantar músicas românticas. Segundo o renomado historiador José Ramos Tinhorão, no seu livro Os Sons que Vêm da Rua: “O hábito de cantar à noite pelas ruas, geralmente com o propósito de fazer-se ouvir por amadas inacessíveis (...), constitui, desde o fim da Idade Média um recurso sentimental cultivado em altas vozes noturnas por todo o Ocidente.” Relata ainda que tais cantorias foram chamadas de “serenada” pelos espanhóis e “serenata” pelos portugueses. A primeira serenata no Brasil, segundo Tinhorão, data de 1717.
O fato é que não se planeja uma serenata, era a música que nos levava. Quando descíamos da casa do tio Dante, já tínhamos um destino certo: Celeste, que, na época, morava no final da Rua do Descoberto, era nosso ponto de partida.
Quase sempre, Dorinha ia também dormir com ela, pois nesta época, morava no bairro São José. (Era ruim pra gente subir aquela escadaria!!!)
Então, sentados na calçada, procurávamos, de imediato, fazer algum tipo de ruído e aguardar por um sinal que logo viria.
Nem seria necessário pois, segundo pesquisas recentes, aquele meu velho cacoete, em eu ficava a raspar garganta, era suficiente para acordar quase meio quarteirão. Ainda mais naquela hora da noite!!!!
Mas, voltando à casa da Celeste: lembro-me que, na garagem, um delicioso lanche ficava, religiosamente, a nossa espera, enquanto, da janela, alguns acenos de aprovação, sempre nos deixavam muito felizes.
Uma passada na casa da Rosana Pimenta sempre acontecia, quando não dávamos, primeiro, uma esticadinha até a casa do Guto no bairro Santo Antônio. Nosso intuito, além de fazer uma serenata para sua família, era também saborear aquele queijinho caseiro, que sua mãe sempre preparava. Descendo, depois, a Rua do Buraco, passávamos pela casa da Maria Célia e, tomando um fôlego, íamos à Renise LaCava no morro do Ginásio.  Descíamos pelo outro lado, passávamos pela casa da Dione Paes, seguindo, após as cantorias, para a Rua do Sapo, onde Rosa Furiatti era nosso próximo destino.
Passávamos pela pracinha do Coronel, e alguns “gatos pingados”, saídos do colégio, ainda resistiam ao frio e permaneciam conversando...
Quando chegávamos à casa da Rosa, entrávamos por um portão lateral. Éramos sempre recebidos, amistosamente, pelo cachorro de um vizinho: por sinal... mal-educado e nada romântico. E o danado não parava um minuto de latir. Enfim, depois que o bicho sossegava, era só nos acomodar entre uma infinidade de varais e roupas penduradas sobre nossas cabeças.
Se não me falha a memória, era lá que ficava, a nos esperar, o melhor lanche.
(E como comíamos!).
Casa da Rita Rocha era nosso próximo alvo.
Nesta hora, uma paz absoluta já tomava conta de toda cidade. Neste momento, sempre que passávamos próximo aos correios, um fato interessante chamava minha atenção. O silêncio era tanto que, mesmo ao longe, dava até para escutar o clicar das bolas de bilhar. A sinuca do Cida era o único ponto da cidade que permanecia aberto até aquelas horas.
Na Rita Rocha, ficávamos sempre debaixo do porão. Era até interessante, pois este local nos proporcionava uma acústica fantástica. O lanche também era muito bom e, naquela hora da noite, até que dava um grande alento ao estômago.
Outro fato interessante era quando íamos até a casa da Dione Paes. Lá era o único local em que ficávamos totalmente expostos, pois tínhamos que ficar cantando na calçada. Era muito comum terminar de cantar e ver algumas pessoas, desconhecidas, sentadas ao nosso lado.
Até aquele pequeno intervalo, para descansar e esquentar as mãos, saborear os salgadinhos e fumar aquele cigarrinho, era curtido por nós.
Pior mesmo, era quando cantávamos um punhado de músicas e a danada da luz não dava sequer uma piscadinha. Era raro, mas... Acontecia!!!!
Ou este pessoal morreu ou não estão gostando da nossa serenata! Imaginávamos!!!! Já premeditando que ali ,com certeza, não haveria lanche.
Uma certa vez, lá pelas tantas, enquanto fazíamos uma serenata, na varanda de nossa saudosa prima Marialva, éramos observados por algumas pessoas. Essas pessoas, que também estavam perdidas na noite, ao passarem, por acaso, pelo local, ficaram maravilhados com a beleza da serenata. Entre elas estavam: Moacir Ângelo Ferreira, mais conhecido como Godelo e uma outra pessoa, que me foge agora da memória.
Conclusão: levaram-nos para casa do Biel (nosso primo). O Biel, se é que alguém não sabe, é um grande seresteiro, amante da boa música e de um fogão a lenha. Além de bom violonista, canta com desenvoltura e até arranha bem um acordeom.
Resultado: ficamos lá cantando e bebendo, até quase o dia amanhecer.

NA PRÓXIMA SEMANA: Como acaba uma serenata? Ela realmente acaba? Das ruas para o rádio, uma nova conexão. Não percam, o final da serenata. Numa padaria mais próxima, naturalmente.

domingo, 29 de novembro de 2009

NOVIDADE!!!

Um pedido dos nossos seguidores pôde, finalmente, ser atendido agora: estamos disponibilizando toda a nossa galeria de fotos via álbum no Picasa. Com isto, TODAS as fotos poderão ser abertas e visualizadas em seus tamanhos originais, bastando, para isto, clicar nas miniaturas (thumbnails). Além disso, é possível fazer comentários em cada uma delas. Uma dica é, ao visualizar as fotos, utilizar a tecla F11, que aumenta o campo de visão.
Agradeço ao meu filho Tássio, que me ajudou implantar a novidade.
(a) Jorge Marin

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

CAUSOS INACREDITÁVEIS



NUMA SEXTA QUALQUER DO PASSADO - PRIMEIRO CAPÍTULO
(Roteiro original - Serjão Missiaggia / Adaptação - Jorge Marin)

Ao folhear meus escritos, intriguei-me ao observar que, em três poesias, coincidentemente minhas preferidas, tinham como tema principal “À Noite”.
Uma excelente oportunidade para relembrar e reviver momentos tão felizes de uma época que não voltará jamais.
Com certeza, a magia daquelas noites, sorrateiramente, teriam fixado em meu inconsciente inúmeras e belas recordações.
Aproveitando assim o momento, lá fui eu a viajar com a lembrança, numa das inúmeras sextas-feiras de um dia qualquer entre 1971 a 1977.
De imediato, visualizei-me caminhando solitariamente pela rua, após uma noite de namoro. Seguindo em passos rápidos, procurava dar uma chegada até em casa. Minha intenção era fazer um lanche, pegar agasalhos, violão e avisar pai e mãe que iria fazer serenata.
Deveriam ser, mais ou menos, pouco mais de dez horas. E que noite gelada!!!!!
Um frio diferente: sem vento, sem chuva, extremamente agradável e de um céu incrivelmente estrelado e inspirador.
Uma espessa serração começava a dar-me seus primeiros ensaios de boas vindas, enquanto, seguindo pela rua com o violão sobre os ombros, buscava chegar, o quanto antes, à casa de meus queridos tios Dante e Adail.
Lá, era nosso ponto de encontro, onde rolavam agradáveis bate-papos, dávamos os últimos ensaios e “molhávamos” a garganta para enfrentar aquelas noites tão frias.
Sentávamos na sala: Dantinho, Pedrinho, Guto e eu. Respectivamente: violão solo, violão baixo, violão base e voz solo. Posteriormente, conseguiríamos um pequeno teclado que, ficando aos cuidados do Guto, veio embelezar ainda mais a serenata. Este pequeno teclado, da marca Hering, nos fazia rir bastante pois, quando era ligado, no silêncio da noite, soprava mais que aspirador.
O contrabaixo do Dantinho foi resultado de uma adaptação que fizemos, ao pegarmos um violão antigo e o deixarmos somente com quatro cordas. (Por sinal deu muito bom resultado.)
Enfim....quatro vozes, em tons diferenciados, numa sonoridade e afinação de beleza rara.
Ficávamos, muitas vezes, a esperar pelo Pedrinho pois, nesta época, estudava à noite e sempre era o último a chegar.
Era muito comum também, em época de calor, fazermos nossos ensaios na varanda ou mesmo sentados no passeio.
Enquanto isso, uma garrafa de café, previamente coada por Tia Adail, já nos aguardava na cozinha, exalando, ao longe, aquele cheirinho gostoso.
Tio Dante, como sempre e de imediato, logo pulava da cama e, com seu famoso cachimbo, vinha a nos fazer companhia.
Era ele mesmo o nosso maior incentivador. Acompanhava-nos até lá pelas tantas da noite, sempre sentado de pernas para cima, numa das poltronas. Não era raro vê-lo também, completando nosso vocal, com aquele grosso vozeirão. Ficava sempre a nos dar algumas dicas, pois participava, na época, do coral da igreja.
Época de muito frio e a casa, toda fechada, nos envolvia assim, naquele cheirinho de cachimbo do tio Dante.
Nunca me esqueço das vezes em que falava que gostaria muito de ver-me dedilhando um bandolim. (Coisas de padrinho!).
Assim, após um pequeno ensaio, entre onze horas e meia-noite, começávamos a fazer os preparativos para sair e abraçar aquela fria madrugada.
As coisas antes eram bem diferentes, sendo que este horário equivaleria, nos dias de hoje, a duas horas da manhã mais ou menos.
Luvas, cachecóis e cobertores eram alguns de nossos aparatos que quase sempre carregávamos para amenizar o frio.
Por sinal, não se faz frio como antigamente e nossas mãos só faltavam congelar.
Fugindo das poucas pessoas que ainda se encontravam na rua, procurávamos, primeiramente, dirigirmo-nos às casas mais distantes. Nosso intuito era a de chamar o mínimo de atenção.
Noite alta, céu risonho. A quietude é quase um sonho. O luar cai sobre a mata, qual uma chuva de prata, de raríssimo esplendor. Era a noite plagiando Cândido das Neves. E lá fomos nós.
Como se planeja uma serenata? Quem estará nos esperando? Com este frio, haverá alguém acordado?
Não percam, no próximo capítulo, a resposta para este doce (e frio) suspense.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

CAUSOS INACREDITÁVEIS



CORAÇÃO DE ÉS TU, DANTE? - CAPÍTULO FINAL
(Roteiro original - Serjão Missiaggia / Adaptação - Jorge Marin)

Na semana passada, o tom da voz foi tão ameaçador, e tão claro, que, tenho certeza, muita gene deve ter ficado alguns dias sem dormir:
- Entra pra cá, Sérgio. Tá pensando que vai aonde? Aproveita e chama o Clarê e o Custódio.
Não teve outro jeito. Tive mesmo que entrar, sem os dois fujões, é claro! Como eu os invejava.
Nesta hora, comecei observar que o Ti Bibi, estava com ares de que começara a acreditar na versão do Dantinho. Por sinal, nem chegou a reparar que eu havia entrado sozinho em sua sala.
Dantinho, sempre muito apavorado e branco, começou a entrar num estado de extremo nervosismo e choro. Por fim, o Sô Bi não sabia mais o que fazer. Até piadas começou a nos contar. Ofereceu-nos cafezinho e até algumas bolachas. Começamos, lógico, a rir de puro nervosismo.
Na verdade, comecei observar que a situação estava prestes a ficar meio sem controle. Sendo assim, ti Bibi pediu para que nós o esperássemos, pois iria acabar de fechar o ginásio e sair conosco.
E assim foi.
Com um de cada lado, e com os braços sobre nossos ombros, descemos o morro dando boas risadas. Já era quase uma da madrugada e ele ainda nos levaria até a esquina da pracinha do Coronel onde, por um bom tempo, continuamos proseando e jogando conversa fora.
Pra ser sincero, eu estava mesmo é me divertindo bastante. Na realidade, pelo menos desta vez, eu nada tinha a ver com aquela revistinha. Fui apenas um pobre, inocente e fiel leitor. É só perguntar ao Dantinho!
Magela, por sua vez, após ter sido descoberto, foi expulso. Retornou um mês depois, com a promessa de nunca mais levar ao ginásio estas revistas ou similares. No primeiro dia de seu retorno, ao chegar, foi logo jogando um papel dobrado sobre nossas carteiras. Ao abri-lo, deparamo-nos, simplesmente, com o desenho de um frade em trajes sumários, brincando com uma linda cabritinha. Era um caso perdido...
Quanto a mim, devido ao costume de, quase todas as sextas-feiras, ir direto para casa da tia no intuito de fazer serenata, passei despercebido pela dona Venina.
Enfim... Estudar mesmo, que era bom!


Sergio R. Missiaggia julho 2005


Na oportunidade, não poderia jamais deixar de prestar minha singela homenagem a este lugar que tanto aprendi amar. Quanta saudade boa e quantos frutos colhidos em razão de uma esmerada educação e disciplina.
Muitas saudades do Velho Mestre, diretor e conselheiro “Sôbi”.
Minha gratidão aos inesquecíveis professores, funcionários além de um forte abraço aos amigos: Zé Carlos, Paulinho e Betto Vampiro.
Fui apenas mais um, dentre tantos, que tiveram a honra de ter dado uma passadinha por lá. E, por que não também, mais uma história pra contar.


Semana passada (04 a 10 de outubro de 2009), coincidentemente dias antes de começar postar este causo, tive uma experiência no mínimo estranha.
Fui, pela primeira vez desde o seu fechamento, ao prédio de nosso saudoso ginásio “Do Sobi”, para fazer a devolução de uma calça que minha filha havia comprado. Como todos sabem, no local hoje, funciona uma grande e importante confecção de nossa cidade.
Assim, subindo vagarosamente as escadas, cheguei onde antes era a antiga secretaria. Por sinal, em nada me fez lembrar o antigo lugar.
Pedindo então à simpática funcionaria, para que pudesse dar uma rápida olhadinha na parte interna do prédio, fui prontamente atendido! Por sorte, sabia de antemão, que seu interior teria sido todo modificado.
E lá fomos nós, até chegarmos mais ou menos onde seria o final do antigo corredor de entrada. Pra ser mais exato: próximo ao local em que ficava aquela porta do tipo faroeste.
Então, após uma breve olhada, mentiria se dissesse não ter ficado feliz ao observar a fisionomia de dezenas de funcionários, que alegremente trabalhando, estavam ali ganhando o seu pão de cada dia.
Da mesma forma, mentiria também se dissesse não ter sido capaz de visualizar outra coisa, a não ser aquele inesquecível jardim central, ladeado pelas varandas internas, com seus imensos portais que davam acesso as salas de aula.
Para minha felicidade, meu inconsciente, talvez num ato de extrema rejeição, me foi capaz naquele momento, de compor um belo quadro, fazendo com que aquelas pessoas que ali estavam passassem a fazer parte de uma cena imaginária, junto com minha lembrança do passado.
E assim, feliz da vida, comecei a descer a famosa colina, carregando comigo a gostosa sensação de ter acabado de assistir a ultima aula.

Então é isso, pessoal! Se as lembranças sobreviveram, os Causos estão aí pra isso.

NA PRÓXIMA SEMANA: Violas e serestas em: NUMA SEXTA QUALQUER DO PASSADO...

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

CAUSOS INACREDITÁVEIS



CORAÇÃO DE ÉS TU, DANTE? - TERCEIRO CAPÍTULO

(Roteiro original - Serjão Missiaggia / Adaptação - Jorge Marin / Arte - José Carlos Barroso)

Na semana anterior, havíamos chegado às semifinais do campeonato macabro do medo.
No entanto, é bom que se diga, embora até o momento só tenha sido passada a face irada do professor Ubi, este possuía um entusiasmo e um senso de humor refinadíssimos. Ele adorava contar a história de como, certo dia, em frente à delegacia, um burro resolveu empacar e o carroceiro, desesperado, puxava o animal e gritava ofegante “Vamos, vamos!”, até que o sr. Ubi chegou na porta da delegacia e falou:
- Vira a carroça ao contrário. Assim fez o carroceiro, e, segundo ele, funcionou.
De outra feita, após esperar num salão de barbeiro, para cortar seu cabelo a la príncipe Danilo, como era de costume, este profissional falava, falava, adiando indefinidamente o atendimento ao perspicaz mestre. Quando, cerca de uma hora e meia depois, chegou sua vez, e o barbeiro perguntou “como o senhor que eu faça seu corte?”, ele sapecou: “Calado!”
Só que a única maneira de desfazer esse bom humor, era fazer exatamente o que fizemos: aprontar. O sr. Ubi era famoso por fazer os estudantes matões de aula pular o muro de volta, e até dar umas “incertas” na porta do cinema.
Enquanto isso, na sala da injustiça, um a um, ainda teríamos que passar por uma outra eliminatória... Digo interrogatório. Desta vez, lá na secretaria. (Neste meio tempo, já era quase meia-noite).
Dantinho foi o primeiro a ser chamado.
Enquanto aguardávamos seu depoimento, Custódio, não resistindo à pressão psicológica, pulou o muro dos fundos do colégio e sumiu. Foi visto, por volta de meia- noite e meia, lá pelas bandas de uma das ruas de acesso ao bairro Santo Antônio. Detalhe: com a calça toda rasgada! Possivelmente, um imprevisto ao tentar ultrapassar a cerca de arame farpado.
Clarê, até então calmo e sereno, resolveu, de repente, encarar um dos muros laterais do colégio. Coitado! O seu destino, até hoje, é incerto e não sabido. Segundo as lendas, foi cair exatamente no terreiro da Rosicleide. E justamente em cima da casinha do Amigo, um sistemático cãozinho pastor alemão. Nada simpático e de quase um metro de altura. Segundo me disseram o referido cão, detestava alunos. (Coitado do Clarê!)
Enquanto Dantinho chorava de um lado, Clarê gritava e pedia socorro do outro. Fiquei no meio sem saber se ria ou chorava.
Como se não bastasse, além de ficar sozinho na sala, teria ainda que ficar escutando, ao longe, os devidos corretivos que o Ti Bibi dava lá na secretaria.
Quase quarenta minutos haviam se passado. Um silêncio funesto, já há algum tempo, se fazia perceber nos corredores vazios do colégio.
Quer saber de uma coisa? - pensei eu. Eu vou é me mandar daqui. Sei lá o que pode estar acontecendo com o pobre do Dantinho.
Pior que, naquela hora da noite, com o ginásio todo trancado, teria como única opção, passar pelo corredor da secretaria.
Era tudo ou nada. A única certeza que tinha era a de não tentar fazer uma arriscada travessia na cerca de arame farpado e, muito menos, cair na casinha do Amigo.
Desta forma, sabendo de antemão, que eles estariam na sala do Ti Bibi e que o referido local oferecia uma visão estratégica da saída, procurei sorrateiramente, tentar ir passando bem de mansinho.
Antes mesmo de entrar pelo corredor, tive a infelicidade de querer dar uma última olhadinha e ver o que estava acontecendo com meu primo Dantinho. Queria saber, a qualquer custo, qual seria o grau de interrogatório que estava sendo aplicado.
A cena, lá dentro, ia de mal a pior e o Dantinho não parava de chorar.
Enquanto, em prantos, jurava inocência, comecei empurrar suavemente aquela portinhola de faroeste que separava o pátio do corredor de saída. Queria a todo custo me mandar dali.
Foi neste exato momento, que pude escutar, quando Dantinho, soluçando, disse ao professor Ubi:
- Eu juro, Sr Ubí! Pode perguntar ao Sérgio, que ele sabe que sou inocente!
Já adentrando pelo corredor, eu estava, nesta hora, acabando de colocar um de meus pés naquelas velhas tábuas do assoalho. Por infelicidade minha, fui surpreendido com um grande estalo da madeira.
Antes que conseguisse alcançar a porta, escutei, lá de dentro:
- Entra prá cá, Sérgio. Tá achando que vai aonde? Aproveita e chama o Clarê e o Custódio!
Gelei... O que é que eu vou dizer agora? E como digo que será impossível chamar o Clarê e o Custódio? Nesta hora, juro que tive vontade de encarar o Amigo, mas, como não havia mais tempo de voltar atrás, resolvi andar para a frente, e encarar o meu destino. Mas, como???
A resposta final e definitiva, como tudo é definitivo na vida de um adolescente, será conhecida na próxima semana. E, se alguém souber o paradeiro correto do Clarê naquela noite, informem com urgência, para resgatarmos a História.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

CAUSOS INACREDITÁVEIS



CORAÇÃO DE ÉS TU, DANTE? - SEGUNDO CAPÍTULO
(Roteiro original - Serjão Missiaggia / Adaptação - Jorge Marin)

No último episódio, tenho certeza de que se recordam, pois tudo que se passou naquele querido Instituto Barroso trazemos bem guardado no lado esquerdo do peito, encontramos um grupo de colegas, “anjinhos” como o Sôbi costumava chamar, entregando-se a uma perigosa curiosidade. Naqueles tempos bicudos de censura brava, o fato de estar de posse de uma revistinha de sacanagem podia tornar a pessoa membro de algum grupo subversivo.
E por falar em membro, por azar e para piorar ainda mais aquela situação, exatamente, naquela página, estava o desenho de um enorme... Bem, deixa pra lá! Passemos a diante!
E o professor Bibi, não acreditando no que estava acontecendo, trincava os dentes de tanta raiva! Com o rosto avermelhado e aquele terno branco, parecia até uma bandeira do Mangueira! Mas a coisa era séria...
Ordenou, imediatamente, que todos os alunos das outras salas descessem e que ficasse apenas a nossa. Evacuou todo o ginásio e pediu que fôssemos, de três em três, para um interrogatório, a ser feito no salão do Juquinha. Lembram-se dele? Um simpático esqueleto, que por sinal, teria sido à única testemunha do fato.
Nosso querido mestre estava tão nervoso que achei que iria desmaiar.
Ao chegar minha vez, tive a companhia de Custódio e do Clarê. Este último satirizava sempre, fazendo o papel de uma bichona. Pessoa superdivertida que incorporava o personagem como ninguém.
Começou então, pelo Clarê:
- Como é, Clarê. Viu aquela revista? - perguntou, chegando a tremer de raiva.
Clarê, prudentemente, preferiu recolher o seu potencial bichônico, e firmemente, embora com uma cara-de-pau de fazer gosto, exclamou mansamente:
- Sr. Ubí! Eu vou ser muito sincero com o senhor: eu não vi! Não vi porque não sabia! Mas, se soubesse, não perderia por nada neste mundo!
Ti Bibi, um tanto surpreso com a resposta, mas, respaldado na sua experiência de escrivão, e vendo que, com o Clarê, não conseguiria nada, passou então para mim. Apesar de todo ódio implícito, seu tom era até suave:
- E você, Sergio. Viu a revista ou não viu?
- Sr Ubí! Eu vi de longe!
Aí ele se exaltou:
- Eu não quero saber se você viu de longe ou de perto. Eu quero saber: VOCÊ VIU OU NÃO VIU? Aí o tom de voz já era bem mais assustador.
- Eu vi de longe! - tornei a responder bem baixinho.
Depois de haver reafirmado, por umas cinco vezes, que só havia visto de longe, ele, enfim, desistiu de mim. Transtornado e furioso passou então para o Custódio.
Custódio, neste meio tempo, num canto da sala, de olhar fixo para uma das janelas, não mexia um só fio de cabelo. Confesso que, naquele momento, cheguei a ponto de temer pela sua integridade psicológica.
- COMO É, CUSTÓDIO? VOCÊ VIU OU NÃO VIU AQUELA REVISTA NOJENTA?
Custódio, de semblante apavorado, tremendo igual vara verde, após dar uma ultima olhada para o teto respondeu:
- Ahhhh... Seu Ubí! EU VI DE LONGE! O danado copiou a minha resposta.
Nesta hora, o professor Bibi só não esfregou a cabeça do Custódio na parede porque seu caráter íntegro jamais o permitiria fazê-lo. Mas que teve vontade, isto o seu olhar demonstrava claramente.
O tempo passava, o suor escorria pelos rostos, e uma palidez foi tomando conta de todos. O Juquinha parecia o mais corado ali naquele lugar.
O interrogatório continuou. Pouco a pouco, um a um foram sendo eliminados e liberados todos os possíveis inocentes. Na escola, já silenciosa e vazia, restaram apenas quatro vítimas: Custódio, Dante, Clarê e eu. Até então, éramos para o Bibi, os possíveis suspeitos. E eu ficava me perguntando: como é que isto pôde acontecer comigo? E o pior é que eu nem vi a danada da revista!!!
Neste macabro campeonato de medo, chegamos às semifinais. E agora? Quem dará o pontapé inicial? Tenho certeza que o Sôbi está doidinho pra fazer isto.
Não percam, na próxima semana, mais um aterrorizante capítulo, recheado de fugas espetaculares, duelos naquela portinhola de saloon da secretaria, e muito, muito aperto...

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

CAUSOS INACREDITÁVEIS




CORAÇÃO DE ÉS TU, DANTE? - PRIMEIRO CAPÍTULO
(Roteiro - Serjão Missiaggia / Adaptação - Jorge Marin)

Em 1971, após um fatídico segundo ano ginasial, minha querida e saudosa mãe me transferiu para o turno da noite, no Ginásio do Sôbi. Minha tia, pela mesma razão e mais que depressa, também transferiu meu primo Dante. Como já dizia o velho ditado: “Um gambá já cheirava o outro”
Fomos fazer o curso básico, na justificativa, ou na esperança, de que estaríamos com pessoas mais maduras e responsáveis.
E assim foi feito e justamente aí que começou toda história:

Numa bela noite, ao entrar na sala, após o término do recreio, vi que algo estranho acontecia.
De antemão, já haviam me informado que um livrinho de sacanagem estava rodando misteriosamente pela sala. Lembram-se daqueles livrinhos em preto e branco do Carlos Zéfiro?
Pois foi exatamente um desses que o maluco do Magela, teve a coragem de levar na escola.
Até aquele momento só havia visto de longe. Esperava ansioso, pelo término das aulas, para que, assim, pudesse ver com mais calma.
Naquele ano, estudávamos numa daquelas salas onde havia duas portas de acesso e, para minha felicidade, após retornar do intervalo, entrei justamente pela de trás.
Ao ver aquela muvuca, formada lá na frente, tive o pressentimento de que alguma coisa iria acontecer. (Não deu outra!)
Fui para os fundos da sala. Mal havia me sentado quando, de repente, pude sentir um estranho vulto branco, silenciosamente se posicionando em uma das portas. Já imaginando quem poderia ser, tive a vontade, naquele momento, de poder avisá-los, mas já era tarde demais. Ele já estava bem mais próximo do que eu.
Este vulto, que todos também já devem estar imaginando quem seja, começou então, sorrateiramente, a fazer uma incrível aproximação. Dava inveja em muito gato. Pressentia, com certeza, que aqueles alunos seriam presas fáceis.
Era uma rodinha de aproximadamente dez colegas. Todos sentados em círculos, nas primeiras carteiras da sala.
Quanto mais ele se aproximava, mais suado eu ficava. Pisava tão de mansinho que os meninos nem observavam. Chegou ao cúmulo de conseguir esticar o pescoço sobre eles e ficar olhando tudo por cima.
Dante foi o primeiro a vê-lo. Ficou estático e mal se mexia.
Magela, na ânsia de tentar esconder a revista, deixou cair uma página aos pés dele. Era ELE mesmo: nada mais nada menos do que o professor Ubi em pessoa. E, pior, de terno impecavelmente branco!!!
Custódio, que também estava na rodinha, e vendo aquela página aterrissar suavemente próximo ao pé do amado, e temido, mestre, procurou rapidamente pisar sobre ela, numa desesperada tentativa de ocultá-la.
Magela, nesta hora, se mandou. Segundo disseram, desceu aquela escadaria do ginásio, sem mesmo por o pé em um único degrau.
Enquanto isso, o velho mestre queria saber (como se já não soubesse) o que é que o Custódio estava escondendo sob o sapato. Este, coitado, estava tão apavorado, que foi preciso que o próprio Sr. Ubi levantasse seu pé para que pudesse enfim visualizar e ter uma noção do que se tratava.
E assim, após conseguir pegá-la, é que pôde, realmente, ter uma idéia, da gravidade do fato.
Mas, afinal, quão grave teria sido a situação? E qual a reação do implacável diretor? Vocês, rapazes, que já foram surpreendidos fumando no pátio, e vocês, meninas, que já se ajoelharam para medir o comprimento das saias, podem bem imaginar o discurso e a explosão de cólera que estava por vir?
E eu? O que é que eu faço? Lembrei da música “Na janela lateral...” Será que dá pra pular???
A resposta aterrorizante para estas e outras questões, inclusive umas da prova de Geografia, estarão no próximo capítulo. Haja coração... de estudante!!!

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

QUE CULPA TIVEMOS NÓS?



Hoje sonhei com o Pytomba. Fato raro. Confesso que, na realidade, ainda nunca havia sonhado. Sabe de uma coisa? Até que estava o maior barato.
Neste sonho montávamos um palco em plena praça da matriz. Tínhamos reunido toda “pareage” da região e umas cinquenta mil pessoas eram esperadas para o show. O palco estava sendo montado bem em frente à escadaria da igreja, ficando aquela grande área de jardim até o colégio Augusto Glória, somente para o grande publico.
Êta titica!!! Pra variar, teria que acordar justamente na hora em que íamos ligar aquela mega aparelhagem. Deveriam ser, mais ou menos, umas duas horas da madruga e eu, preocupado com algumas contas atrasadas para pagar, perderia de vez o sono. Se eu contasse que, o Pytomba veio perturbar minha noite, quase quarenta anos depois, alguém acreditaria?
Após aquela frustrada possibilidade, de sentir novamente em minhas mãos, o tato de uma baqueta, e com a insônia já instalada, só me restou, como única alternativa, entregar-me ao acaso e esperar pacientemente que o sono voltasse.
Desta forma, após dar uma chegada na cozinha e tomar um pequeno copo de leite, voltei para cama. Numa breve relaxada, fechei os olhos e aproveitei para dar uma esticadinha ao século passado. Mais precisamente em 1971.
Primeiro questionamento: Que culpa ou aonde teríamos errado?
Éramos super carismáticos (tipo Mamonas Assassinas). Super fanáticos. (Pulávamos até a janela do colégio só para poder dar uma ensaiadinha) Animadérrimos? (até demais), Tínhamos até boas aparências, é claro que com algumas exceções. Éramos, acima de tudo, simpáticos, extremamente unidos, malucos e sonhadores. Para tirarmos leite de pedra seria moleza. Difícil mesmo era nossa capacidade, principalmente, no início da banda, em tirar som num monte de alto falantes que ficavam passeando pelo chão. Isto pra não falar que o vocal era feito em microfone de gravador (mono), e que o prato da bateria chegou a ser uma calota de caminhão. Se não me falha a memória a de um velho Mercedes Benz do Senhor Anginho. Ah! Já ia me esquecendo que nosso instrumento de percussão era simplesmente um chifre. Por sinal, de ótima qualidade!
Mas de uma coisa sempre tive plena convicção. Nossas cabeças estavam muito além da nossa época. (Uns quarenta anos, talvez) Infelizmente, os membros de alguns é que não ajudavam!!!
Tantas e tantas qualidades e apenas este único e fatídico defeito. Único e crucial: ALGUNS, NA ÉPOCA, NÃO TINHAM O DOM MUSICAL. Teria sido ira dos deuses ou conjunções astrológicas inadequadas?
A mãe natureza nos foi fiel em quase tudo, esquecendo apenas deste minúsculo e simples detalhe.
Por qual razão teria ela negado, a algum de nós, o abençoado direito deste imprescindível dom? Esta mesma natureza, de bondosa mesmo, foi só pra sacanear, principalmente quando, no início de tudo, veio nos presentear com um guitarrista solo que, além de não saber afinar uma única corda de guitarra, também, simplesmente, não sabia entrar no tom. Aí também não... Pura apelação!!!! Por sinal, pessoa muito querida, mas, como músico, se tornou um invejável técnico em eletrônica. Abro aqui um parêntese, pois não poderíamos esquecer jamais que tal componente, devido a sua privilegiada e rara inteligência, veio posteriormente e de uma maneira muito além de nossas expectativas, aprender teclado.
Por outro lado, se pensarmos bem, que futuro poderia ter um conjunto que, na época, tinha esta formação: PATETÃO, SERJÃO, GORDA, MAGRELO, BELASQUES E RENES? Uma escalação que daria inveja a muito time de futebol, principalmente se fosse de algum presídio de segurança máxima.
E, por falar em futebol, até isto nós tínhamos. Se bem que, na verdade, só ganhávamos quando jogávamos contra o time dos Vicentinos.
Em outras palavras: algum de nós, na realidade, quando tudo começou, não tinha jeito nenhum pra musica.
De minha parte, tenho a consciência tranqüila de que, enquanto, na bateria, pelo menos do compasso eu não saía. E já tava bom demais!!!!!
Hoje, nossa terra é merecidamente reconhecida nacionalmente como a cidade dos conjuntos Eldorado e Itaborahy. De músicos do quilate de um Emerson Nogueira, Kico Furtado, “Serjão Missiaggia” e outros.
Agora eu pergunto:
Alguém conheceu ou já ouviu falar que, em São João, teria existido algum conjunto musical que fosse tão irreverente, sonhador e sobrenatural como o Pytomba??? Fica aí o desafio. NUNCA HOUVE, NÃO HÁ E JAMAIS EXISTIRÁ! Assino embaixo.
Não podemos também esquecer que fizemos contatos “quase” imediatoS com um disco voador, digo... Uma Kombi voadora. Fomos peritos em bombas e até uma fantástica aventura postergaiste tivemos oportunidade de viver: a fábrica.
Dia desses, uma figura querida e hoje um tanto folclórica, o Cabralzão, ao encontrar-me em pleno calçadão, sem nenhuma cerimônia e num tom bastante eufórico, veio logo me dizendo:
- Serjão! Sou um daqueles que viu o Pytomba!!!!!
Por esta e por outras infinitas razões, somos, ou não somos, também merecedores de um pequeno espaço na história cultural da cidade???

Se nascemos mortos, morremos vivos. Tudo se foi e nem mesmo partimos!!!

Serjão, abril 2007


Esta croniqueta do Serjão, que marcou o nascimento do blog, marca hoje também uma transição, a abertura para expressão de causos individuais. Já na próxima sexta, daremos início ao “Coração de és tu, Dante?” e, mais do que nunca, a participação da comunidade pytombense será importante: podem remeter fotos do tempo do “Ginásio”, ou da época de ouro do Pytomba, para enriquecer a nossa memorabilia ali do lado. Lembramos mais uma vez que o blog é um espaço aberto a todos, a todos que se lembram, que gostam do que lembram e que andam para frente sorrindo porque sabem que nada, mas nada mesmo, vai apagar a felicidade desses momentos tão especiais.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

OS FILMES QUE EU VI NO CINE BRASIL


A CASA DA NOITE ETERNA

O Dalminho me lembrou de um filme que eu tenho certeza de que assustou muita gente nos anos 70. É a história de uma casa dita mal-assombrada, que recebe um grupo de estudiosos de paranormalidade aptos a investigar os supostos fantasmas.
A chave do sucesso do filme é o roteiro, escrito por Richard Matheson, que, além de escrever para a TV, é considerado um dos melhores escritores de literatura fantástica da segunda metade do século 20. Em seu currículo, existem muitos contos e romances que acabaram fazendo sucesso nas telas, como o famoso “Encurralado”, “O incrível homem que encolheu”, “Em algum lugar do passado” (com Cristopher Reeve, num de seus raros papéis sem ser o Super-Homem), e dezenas de episódios da série “Além da imaginação”. Matheson foi também um dos principais roteiristas do cultuado Roger Corman, o Zé do Caixão dos Estados Unidos.
Esta história de casa mal-assombrada, “A casa da noite eterna”, foi escrita pelo próprio Richard Matheson, que depois a roteirizou para o cinema. Mas, antes de falar sobre o filme, deem uma olhadinha no trailer aí em cima e leiam algumas frases marcantes do filme.

Chris Barrett: “Esta é a pior de todas as casas mal-assombradas. Houve duas tentativas de investigá-la. Foi um desastre, oito pessoas morreram. Fischer foi o único que sobreviveu. E quando se arrastou para fora era um caos mental.”

Ann Barrett: "O que fez ele para deixar essa casa tão malévola, Sr. Fischer?"
Ben Fischer: “Vício de drogas, alcoolismo, sadismo, bestialidade, mutilação, assassinato, vampirismo, necrofilia, canibalismo, para não mencionar uma porção de perversões sexuais. Mas eu... devo prosseguir?”
Ann Barrett: “E como isso terminou?”
Ben Fischer: “Se isso tivesse terminado nós não estaríamos aqui.”

(É importante ressaltar aqui que todas aquelas coisas das quais o Ben falou, hoje comuns, nas festas rave, por exemplo, eram meio escabrosas na época)

A história é a seguinte: um milionário à beira da morte, Rudolph Deutsch (Roland Culver), oferece ao físico Chris Barret (Clive Revill) cem mil libras para investigar a mansão do falecido Emeric Belasco (Michael Gough), um perverso. Na velha casa, vários investigadores de fenômenos paranormais e de ocultismo tinham sido assassinatos ou enlouqueceram. Deutsch acredita que a Mansão Belasco – também chamada de “a casa do inferno”, do título original em inglês, é o único local no mundo no qual a sobrevivência após a morte pode ser provada, isto graças ao conjunto de perversões executadas pelo antigo dono.
Barret chega à mansão junto com sua esposa Ann (Gayle Hunnicut), da jovem médium Florence Tanner (Pamela Franklin) e do único sobrevivente de uma experiência anterior na casa ocorrida vinte anos antes, Ben Fischer (Roddy McDowall), que afirma categoricamente:
- “Eu fui o único que conseguiu sair vivo e são em 1953. E eu vou ser o único a conseguir sair vivo e são também desta vez.”
A partir daí tem início, uma série de estranhos e assustadores fenômenos sobrenaturais. Para quem gosta do horror que beira o trash, “A Casa” é um show, com uma trilha sonora eletrônica cheia de ruídos estranhos, além de uma cenografia bem característica do que entendíamos por um bom filme de terror naquela época. A fotografia apresenta tomadas estranhíssimas, abusando de closes bizarros e de tons sombrios na medida exata. As interpretações não são histéricas, mas bastante comedidas e até, por que não dizer, convincentes.
Todo este conjunto faz com que seja um filme não recomendável para se assistir à noite e a sós. Parece que é a gente que está entrando na casa e ouvindo o velho Emeric gritar no gramofone:
- “Bem-vindos a minha casa. Estou contente porque vieram. Estou certo que vão achar sua estada aqui muito esclarecedora. Pensem em mim como seu anfitrião invisível. E acreditem, durante sua estada aqui estarei com vocês em espírito. Possam vocês achar a resposta que procuram. Ela está aqui, eu lhes juro. E agora... auf Wiedersehen, adeus!...”
Pois não é que, lá em cima, na parte superior do Cine Brasil, ao ouvir o grito do físico, desafiando o morto, o Dalminho, o Renê e o Serjão repetiram, como se tivessem ensaiado:
- “Belásquez!!!”
Conta a lenda que o Márcio Velasco estava lá embaixo, com uma gatinha e, ouvindo o que seria doravante o seu grito de guerra, levantou-se e foi embora.
Mas até hoje, mesmo nos momentos de grande alegria e júbilo, o grito ainda soa meio macabro, e dá um certo arrepio na espinha, principalmente quando é o Sílvio Heleno que grita:
- BELÁSQUEZ!

(Texto de Jorge Marin)
Foto: Frame do filme, disponível em: http://blogs.estadao.com.br/carlos-orsi/2010/10/15/duas-vezes-richard-matheson/

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

PYTOMBA NA OREIA


HELLO, CRAZY PEOPLE!!!

Como prometido na semana passada, o assunto é Big Boy. Era com o grito de guerra aí de cima que ele entrava no ar todas as tardes pela Rádio Mundial do Rio de Janeiro. Pode parecer incrível, mas o Rio (e não só o Rio) parava para curtir o programa. O papo do Big Boy era um papo diferente: ele criou sua própria linguagem e o público adorava aquele tipo de energia.
Nascido Newton Alvarenga Duarte, era conhecido pelos colegas de trabalho, pelo público e pelos ex-alunos (ele foi professor). Levou para o rádio o seu jeito irreverente e inovador, mas também a empatia com o público jovem. Quem viveu sua adolescência e juventude nos anos 70, lembra dos programas da Rádio Mundial 860 AM. Quem teve oportunidade de participar de seus famosos “Bailes da Pesada”, deve se lembrar até hoje.
Nascido em São Paulo, em 1º de junho de 1943, foi apaixonado por música desde a infância, quando começou colecionar discos. A coleção chegou a 20 mil discos. Frequentador assíduo da Rádio Tamoio, do Rio de Janeiro, para garimpar novidades do mundo rock, acabou realizando seu sonho de apresentar um programa, quando foi convidado para substituir um programador que entrara em férias. Deixou, na mesma hora, as aulas de Geografia e tornou-se imediatamente radialista.
Mais tarde, foi convidado a participar de uma reformulação da Rádio Mundial AM, que acabou se tornando a emissora de maior audiência entre o público jovem do Rio de Janeiro. O professor Newton tornou-se, então, o Big Boy, o DJ, e criou o estilo que, até os dias de hoje, influenciou os locutores de rádios FM. Apresentava as músicas, falava dos músicos, das novidades e extravasava a sua condição de fã, o que o aproximava dos seus ouvintes.
Big Boy é o que se chama hoje “profissional multimídia” porque, além de programador e radialista, era também apresentador de TV e mantinha-se antenado com todos os segmentos e movimentos da música contemporânea da época. Além de manter dois programas diários na Rádio Mundial (Big Boy Show e Ritmos de Boate), um na Rádio Excelsior de São Paulo e um semanal especializado em Beatles (o Cavern Club), também atuava como colunista em diversos jornais e revistas, produtor musical e DJ dos Bailes da Pesada, onde iniciou o que viria a ser, no futuro, os bailes funk. Na televisão, antes de existir a MTV, apresentou os primeiros vídeo clips de que se tem notícia, durante sua participação diária no jornal Hoje, da TV Globo. Em outro programa de TV – Papo Pop, na TV Record de São Paulo, lançou grupos brasileiros de vanguarda. Com o projeto Eldo Pop, foi o precursor das transmissões em FM no Brasil, com um programa recheado de rock progressivo. Chegou a ser ator de TV numa novela cômica da Globo em 1970 – Linguinha – onde, ao lado de Chico Anysio, fazia o papel dele mesmo ... Big Boy!
Aquela coleção de discos da adolescência nunca parou. Viajava constantemente a outros países, onde enriqueceu seu acervo, buscando raridades como discos piratas, os “bootlegs” de tiragem limitadíssima. Hoje, a discoteca de Big Boy constitui-se num acervo cultural inestimável, pois trata-se de um registro vivo da evolução da música nos anos 70, além da síntese do trabalho de um dos mais importantes profissionais da crítica musical e, certamente, o mais criativo.
Infelizmente, este maluco beleza nos deixou aos 33 anos de idade, em 7 de março de 1977, vítima de um ataque de asma, num quarto de hotel em São Paulo.
Quem quiser ter uma ideia do trabalho da fera, pode procurar alguns de seus LPs na Internet: Baile da Pesada (1970), Big Baile (1971), Baile da Cueca (1972) e The Big Boy Show (1974). Há também um documentário curto sobre a vida do Big Boy: The Big Boy Show, em duas partes de 10 minutos e pouco cada uma, disponíveis em:
http://www.youtube.com/watch?v=0t6FhgHDMas
http://www.youtube.com/watch?v=5qq_z4ClEzI&feature=related .

(Texto de Renê e Jorge Marin, sobre biografia existente na Wikipedia)

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

OS FILMES QUE EU VI NO CINE BRASIL


BEN HUR

Este espaço, que também pretendemos manter fixo no blog, é destinado a registrar impressões sobre filmes, que assistimos no passado (e também no presente), e que nos causaram algum tipo de emoção. O que buscamos é a participação de todos da comunidade pytombense, sejam membros, seguidores ou comentaristas.
Começo esta primeira resenha numa fila: o ano era 1961 e eu, do alto dos meus quatro anos de idade, já podia ir ao cinema. Minha babá, Maria, como todas as moças de São João faziam, foi primeiro ver o cartaz do Cine Brasil e, como estava passando um bang bang, resolveu descer a rua e ir até o Cine Rádio. Lá, para encanto dela, e minha surpresa com toda aquela movimentação, estava passando o grande filme da época, Ben Hur. A impressão que o cinema, em si, me causou, foi indescritível, a começar com aquelas moças vendendo balas e pirulitos numa espécie de bandeja e, depois, lá dentro, aquela cortina vermelha enorme chegou a me assustar. Depois de alguns minutos, a cortina se abriu e as luzes foram se apagando. Segurei na mão da Maria. A telona branca se iluminou e tomei mais um susto com o som que preencheu o local: era um jornal, acho que Atualidades Atlântida.
Depois, passou o trailer de um filme, que não me lembro qual era, mas sei que tinha diligências, índios e muitos tiros (novo susto!). Finalmente, a imagem ficou mais larga e, enquanto aparecia uma figura dourada, uma música começou a tocar, com a imagem ainda parada. Perguntei à Maria o que era, e ela me disse que estava escrito “Overture”, mas que ela não sabia o que era. Curioso é que eu veria este tipo de coisa apenas neste filme, e eu ficava achando que a orquestra estava lá mesmo, atrás da tela. Outra coisa que só Ben Hur tem é um intervalo (Entre Acte) que, segundo a Maria, era pra gente ir fazer xixi.
Hoje, passados quase cinquenta anos, Ben Hur mantém aquele mesmo encantamento, a mesma grandiosidade e o mesmo glamour.
Dirigido por William Wyler em 1959, é um dos filmes mais grandiosos da história do cinema. Recebeu 12 indicações ao Oscar, perdendo apenas o de roteiro, recorde igualado apenas recentemente por Titanic.
O filme, que recebeu o subtítulo de Um Conto do Cristo, é baseada numa versão anterior, de 1926, e de um romance de Lew Wallace. De fato, o Cristo aparece em algumas passagens do filme, e exerce influência no personagem principal, Judah Ben-Hur, vivido por Charlton Heston. Este é um aristocrata judeu, vivendo sob domínio do Império Romano. Ele reencontra seu melhor amigo de infância, Messala (vivido por Stephen Boyd), agora um legionário romano e governador nomeado por César para dirigir os judeus.
Neste reencontro entre os dois, há uma curiosidade, que logicamente eu não tinha condições de ver na época, mas é a seguinte: entre as mais de quarenta versões do roteiro, uma, escrita por Gore Vidal, indicava uma motivação homossexual entre a relação vivida pelos dois personagens. Gore, que não era bobo, sabia que, se simplesmente insinuasse esta situação para Charlton Heston, este seria capaz de detoná-lo com o cajado de Moisés. No entanto, Stephen Boyd recebeu a orientação de viver um amante apaixonado que volta para seu namorado, e a cena é muito interessante, pois Ben Hur parece não notar a paixão de Messala que só falta se atirar nos braços dele, e chegam até a arremessar suas lanças num mesmo alvo.
Mas a relação não decola, de forma alguma, pois Bem-Hur se nega a delatar os membros de uma resistência judaica, e Messala forja uma acusação de tentativa de assassinato para usar o amigo como exemplo, enviando-o para as galés. Obrigado a remar como escravo, Bem-Hur se desenvolve fisicamente e acaba por salvar a vida de um general romano, Quintus Arrius que, em retorno, transforma o judeu em seu protegido, chegando a adotá-lo como filho, após este vencer várias corridas de biga, na arena romana.
Livre, Ben-Hur retorna ao lar, onde busca sua mãe e sua irmã, e também uma vingança contra Messala, o que leva à famosa sequência da corrida de bigas, que custou cerca de um milhão de dólares, envolvendo cerca de 50.000 figurantes, já que não havia efeitos de computação gráfica hoje comuns neste tipo de cena. Aliás, nem computador havia na época.
No final do filme, Ben-Hur encontra sua família, e a luta com Messala acaba se misturando com o drama da crucificação, que traz para a tela um pouco da ira divina.
O filme assemelha-se às vezes a uma novela, tal o número de atores que contracenam, um total de 350! É um misto de drama, aventura e religião. No entanto, tudo funciona muito bem. Principalmente a performance de Charlton Heston que consegue encarnar um herói implacável, mas também um homem sofrido.
Pode-se questionar que o filme é muito longo – com mais de 3 horas de duração – o que deixa um garotinho de 4 anos, que vai ao cinema pela primeira vez, totalmente tonto, mas talvez este seja também mais um charme, da mesma forma que os grandes clássicos da literatura mundial são livros enormes e pesados.

(Texto de Jorge Marin)

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

PYTOMBA ESPORTE CLUBE (mais uma convocação)


Edital de intimação,

Mais uma vez queremos participar aos atletas e associados, que o nosso time vai combater mais uma vez na sangrenta batalha do futebol.
A dita-cuja terá lugar na famosa "COLINA DA MORTE", mais conhecida como "OPERÁRIO".
A coisa vai começar entre 9:00 e 14:00 horas, mais ou menos, do dia 25/3/78, sábado de Aleluia.
Estão assim intimados os seguintes gladiadores:
1- RÔMULO
2- GERALDO
3- NEM
4- SERJÃO
5- CANTÕE
6- SÍLVIO HELENO (reserva por motivos de viagem)
7 - JORGE
8- ZÉ NELI (comemorando seu natalício)
9- EDUARDO
10- ZEZÉ
11- NORBERTO
12- SÔ PAULINHO

ESTREPES:

RENATINHO
MÁRCIO
ADEMIR
PEDRINHO VENTANIA
MÁRCIO VELASCO

REGRA 3:
Toninho Cerezo
Rivelino
Leão
Zico

OBS: Os atletas poderão levar apenas o seguinte material:
Cigarros, aguardente, cerveja, tira-gosto, limão, documentos, retrato 3x4 com firma reconhecida no cartório do Quintino, material de 1º e últimos socorros, pão com manteiga, café, leite, lanterna, fisga, anzóis e similares.

São João Nepomuceno, 20/3/78.

Assinam: DIRETOR ESPIRITUAL
MÉDICO DE PLANTÃO
SERVIÇOS FÚNEBRES (Zé da Cova)
DIRETOR DE ESPORTES
SECRETÁRIO
1º AVALISTA (Otávio dos Prazeres)
2º AVALISTA (Bastião Kretino)
TESTEMUNHA AUSENTE
TORCIDA DESORGANIZADA (sem assinatura devido ao grande nº de componentes)

sábado, 12 de setembro de 2009

B R I G A D Ú ! ! !

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Gente, o que começou como uma brincadeira chega neste momento aos 5.000 acessos!
É uma marca de respeito... respeito aos nossos seguidores, aos nossos leitores e a todos aqueles que continuam acreditando no sonho.
E este sonho, podem ter certeza, está apenas começando!
Como diz o Serjão: "confesso, mais uma vez, que seria um sonho, se pudéssemos através destes ingênuos causos, continuar a levar aos nossos amigos leitores um pouco de riso e alegria. ...Para alguns (os causos) viraram até necessidade, para outros, um suave elixir, sendo que, pra maioria, um raro momento de descontração. Parece que as pessoas estão carentes, esquecendo que ainda podemos rir e até sonhar com pequeninas coisas. Mesmo aparentemente banais. É muito gratificante sentir tudo isso. E se for mesmo à vontade de Deus, teremos sim, muitos causos pra contar."
Hoje, pensamos em brincar com o final da novela das oito, dizendo que adiamos a postagem do blog para não prejudicar a audiência. E não é que, no meio da novela (podem conferir na reprise), o personagem vivido pelo Chico Anysio vira-se para a tela e diz: "vamos ver o disco voador, pessoal!"
Então fica aí, de presente para vocês, o último capítulo do Disco Voador. Curtam!

HISTÓRIAS INACREDITÁVEIS NAS QUAIS NÓS MESMOS CUSTAMOS A ACREDITAR


O D I S C O V O A D O R - CAPÍTULO FINAL
(Roteiro original - Serjão Missiaggia / Adaptação - Jorge Marin)

No último episódio, a emoção era incontrolável. Os corações batiam acelerados e a Vemaguette, também acelerada, partia resfolegante em direção à coisa. Provavelmente muitos de nós devemos ter passado por este tipo de situação-limite. Um momento no qual parece que a nossa vida vai se dividir em duas partes: antes daquele momento e depois daquele momento.
Assim era na cabeça daqueles jovens. E mesmo o velho professor e seu filho ficavam se indagando como uma emoção daquele tipo poderia ocorrer tão longe dos laboratórios e das lunetas e telescópios que lhes eram familiares. No fundo, estavam mesmo gostando de toda aquela movimentação. Embora, acostumados às silenciosas observações dos astros, tudo lhes parecesse estranhamente louco e caótico.
Até que aquela voz quebrou o silêncio, fazendo a mais inesperada das observações:
- HIII, NÃO É POSSÍVEL, MEU DEUS, AQUILO, NA VERDADE...
- O que? O que – todos perguntaram.
- Tem placa.
- TEM O QUÊ??? – gritou o velho Marcos.
- É... Placa... E acaba com nove!
Alguém desconversou:
- Desculpe, doutor, mas acho que foi ilusão de ótica, sabe?
- Com placa ou sem placa, não sou eu quem vai voltar pra ver – gritou nosso Capitão Kirk, Sílvio Heleno, e bateu em retirada, e poderíamos dizer: a uns cento e vinte por hora, não fosse a Vemaguette.
O resto da aventura não é difícil de imaginar.
Diante de uma decepcionante, mas aliviada, surpresa, o que aconteceu realmente, é que o encontro imediato de terceiro grau se deu, frente a frente, com uma Kombi. Isto mesmo: UMA KOMBI!!!
Pois não é que estava a danada, há mais de duas horas, estacionada naquele lugar. E com as luzes acesas!!! Provavelmente, um casal de namorados que, alheios e indiferentes a tudo e a todos, amavam-se tranquilamente, da forma pacífica e calma como era comum num tempo em que não havia motel, nem violência urbana.
Mas era, na verdade, do lado de fora, ao relento, que a coisa estava pegando fogo, onde um bando de lunáticos, tendo praticamente tomado como reféns dois cidadãos de bem, corriam desenfreadamente atrás de nada, para chegar no final a lugar nenhum.
Ao passar pela Kombi, e vendo do que realmente se tratava, a decepção foi tanta que um profundo e longo silêncio se abateu sobre todos.
Ninguém falava absolutamente nada, e nem olhava para os outros.
Enquanto a Vemaguette ia aos poucos perdendo a velocidade, alguns ensaiavam umas tímidas risadas.
Mas o imperturbável Professor Marcos, todo salpicado de poeira, tossindo sem parar, conseguia não mexer um fio de cabelo que fosse. Mantendo uma fleuma digna do Sr. Spock, olhava estático para a frente, com a cabeleira branca meio amarelada, enquanto resmungava baixinho, como numa súplica:
- Me deixem em casa, por favor!
É de se imaginar que seus pensamentos, naquele momento, eram de absoluta e profunda preocupação. Se acaso este fato desconcertante fosse noticiado, seria, para ele, um verdadeiro escândalo, principalmente perante à comunidade científica, seus colegas e seus antigos alunos.
Sabia que sua atitude tinha sido exatamente aquela que é a principal característica de um cientista, ou seja, ter a curiosidade de tentar descobrir os segredos do mundo em sua volta, não só através da teorização, mas, principalmente, através da observação e da experimentação. No entanto, não saía de sua mente uma possível manchete de jornal dizendo: FAMOSO PROFESSOR E CIENTISTA MARCOS MARCEL FAZ CONTATOS IMEDIATOS COM UMA KOMBI. Continuava até lendo o resto da matéria: Na retaguarda, seguiu com ele um bando de rapazes malucos, que não tinham o que fazer!
Quando chegou em casa, o sentimento, ao ver o mestre assim todo empoeirado, foi um misto de pena e vergonha. Quando tirou os óculos para limpar, havia até um círculo branco em volta de seus olhos.
Sem dar uma única palavra, e nem mesmo olhar para trás, foi rapidamente entrando pelo portão, amparado pelo filho Jesse.
Mais tarde, todos descobriram, aliviados, que o professor, de fato, tinha achado tudo o maior barato e considerado aquela como uma das noites mais divertidas de sua vida. Segundo ele, “meu objetivo foi alcançado, pois fui encontrar alienígenas, e encontrei um bando de rapazes que NÃO FAZ PARTE DESTE MUNDO!”.
Para finalizar, ainda ocorreria mais uma surpresa, pois o Jesse Marcel, após revelar os negativos, observou que não saiu absolutamente nada, nenhuma foto sequer. Todos conheciam o Jesse como um fotógrafo de primeira linha. Hábil e experiente, possuía um acervo de fotos de altíssimo nível e de resolução compatível com os melhores profissionais da região.
O que teria ocorrido?
Entre os mais místicos, a explicação é que o Mega Efeito Magnético da nave, não só levou todas as fotos a se queimarem, como também a transmutação do objeto voador não identificado em uma Kombi, no exato momento em que a Vemaguette passava pelo local.
Com a palavra, cada um de vocês...

PALAVRA DO AUTOR:
E foi assim que tudo aconteceu!
Infelizmente, hoje, nem todos desta aventura se encontram entre nós.
Foram realmente momentos muito engraçados e felizes, que ficarão, juntamente com os causos da Fábrica e da Bomba, eternamente marcados em minha memória. Somente quem os viveu pessoalmente poderá entender e confirmar aquilo que digo.
A todos os colegas, que comigo tiveram o privilégio de participar destas hilariantes e misteriosas jornadas, deixo meu mais fraterno abraço e muitas saudades.
Aos queridos leitores e comentaristas que, de certa forma, também não menos corajosa, embarcaram e interagiram conosco nestas aventuras malucas, brigadão!
Vocês em muito enriqueceram os causos!
E, antes de encerrar esta série de postagens, gostaria apenas de dizer:
Jorgemarin! Valeu muito! E como! O blog é seu!
Quem sabe causos novos virão?
Serjão Missiaggia

PALAVRA DO ADAPTADOR:
Adaptar o texto do Serjão é uma viagem, daquele tipo de viagem de charrete, numa manhã de sol, depois de uma chuva de verão. Então tudo dá certo. E é leve!
Só não concordo quando diz que o blog é meu: o blog é de todo a comunidade Pytomba, aí incluídos seguidores e comentaristas. Sei que há textos nas gavetas, esperando, na forma de Drummond, serem podados, aparados e replantados. Os textos alusivos ao Pytomba, e escritos pelo Serjão, realmente chegaram ao fim. Mas virá, já em seguida, um texto do Renê, que é muito legal. E estaremos inaugurando, em breve, outros causos, não só do Serjão, mas também do Renê, outros meus, do Sílvio Heleno, do Dalminho, do Renatinho, do Márcio, e de quem tenha uma boa estória para contar, tratando de experiências e percepções contemporâneas, vivenciados pelos bravos pytombenses e amigos, agora “crescidos” e com barba – branca – na cara.
Aguardem!
Jorge Marin

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

PYTOMBA NA OREIA


ACHANDO BELCHIOR

Pytomba na Oreia é uma seção que pretendemos manter fixa aqui no blog com o objetivo de divulgar as impressões de uma determinada pessoa - um componente do Pytomba, ou um seguidor, ou um leitor do blog – a respeito de uma obra musical. O que se busca, mais que informações do artista ou da banda em foco, são as emoções suscitadas no ouvinte, é o reviver de uma época via impressões sonoras, verdadeiras notas de viagem que poderão ser partilhadas com uma geração que vivenciou aqueles momentos ou, por outro lado, com aqueles que sequer ouviram falar daquele LP. LP? Isto já dá tema para discussão!
Vou iniciar, falando sobre uma composição do Belchior, que reflete, de forma fascinante, o fenômeno que ocorre em nosso blog. A música é “Velha Roupa Colorida” e está no álbum “Apenas um rapaz latino-americano”.
Como muitos que viveram a juventude na década de 70, Belchior surgiu como uma novidade entre os compositores da época, e também com uma particularidade: não era tropicalista, nem regionalista, nem o famigerado artista “de protesto”. Apesar disto, trazia, em suas canções, as guitarras características do tropicalismo, convivendo harmonicamente com pífanos e flautas nordestinas, em mensagens relatando toda a angústia dos chamados “anos de chumbo”, como na música “A palo seco”:
“se você vier me perguntar por onde andei (muitas emissoras estão perguntando isto nestes dias!) / no tempo em que você sonhava / de olhos abertos lhe direi, / amigo eu me desesperava / sei que assim falando pensas / que esse desespero é moda em 73 / mas ando mesmo descontente / e desesperadamente eu canto em português...”.
Mas, e a relação entre a música “Velha roupa colorida” e o blog?
Desde “O princípio do início”, lá no comecinho do blog, quando falamos sobre uma noite dos anos 70, em São João Nepomuceno, muitos leitores se manifestaram, lembrando “como era bom aquele tempo” e sobre a saudade que sentiam. É como se, revivendo os momentos da adolescência, fosse possível – e é – se sentir estranhamente mais jovem.
Belchior canta: “você não sente nem vê, mas eu não posso deixar de dizer, meu amigo, que uma nova mudança, em breve, vai acontecer. E o que há algum tempo era jovem, novo, hoje é antigo, e precisamos todos rejuvenescer”.
Assistimos, no Ocidente, uma apologia da “eterna juventude”, como se o grande objetivo das nossas vidas fosse apenas este: manter-se jovem a todo custo, seja através da cosmética, das plásticas, ou das pílulas. Enquanto, no Oriente, a novela mostra que o grande valor está na eterna sabedoria dos idosos. Mas, afinal, qual das duas atitudes é mais ridícula, vetustas senhoras posando de top model, ou políticos jovens pintando a barba de branco para parecer um autêntico brâmane?
Belchior, que é de 1946, confessa: “nunca mais eu convidei minha menina para correr no meu carro (loucura, chiclete e som)”, mas parece conhecer a geração pytombense, quando zomba de nós: “nunca mais você saiu a rua em grupo reunido, o dedo em V, cabelo ao vento, amor e flor, quero cartaz.”
A resposta ao dilema sobre ser eternamente jovem ou assumir a velhice, parece estar em... simplesmente viver a vida! Sabemos o que fizemos: fizemos coisas maravilhosamente loucas e lindas e um outro tanto de besteiras das quais nos lembramos igualmente. As consequências destas escolhas resumem o que somos hoje. Belchior diz: “no presente, a mente, o corpo é diferente, e o passado é uma roupa que não serve mais”, mas, com certeza, quem nos viu, alegres, em grupo, cantando, brincando, detonando bombas ou perseguindo discos voadores no campo de aviação, jamais se esqueceu daquelas caras, daqueles cabelos, e daquelas velhas roupas coloridas.

(Texto de Jorge Marin)

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

HISTÓRIAS INACREDITÁVEIS NAS QUAIS NÓS MESMOS CUSTAMOS A ACREDITAR


O D I S C O V O A D O R - Capítulo IV
Roteiro original - Serjão Missiaggia / Adaptação - Jorge Marin

No episódio anterior, não dá para esquecer, encontramos, não mais um bando de rapazes desocupados, mas uma verdadeira expedição científica. Em meio a um aparato de equipamentos aptos a registrar o menor movimento e o mais tênue espectro de luz, todos miravam... a coisa. Imóvel, refletindo o brilho fraco dos faróis da resistente Vemaguette, mas, ao mesmo tempo, catalisando a energia dos ocupantes, absorvendo toda a força vital dos aprendizes de ufologia e, na verdade, como se não estivesse nem aí com toda aquela agitação.
Pode parecer estranho nos dias de hoje como a possibilidade de contato com seres extraterrestres era um evento tão real e tão plausível. Naquela época, os jornais, as revistas, os telejornais estavam recheados com notícias de aliens, com abduções e com quedas de objetos voadores não identificados.
Nos dias de hoje, as notícias sobre alienígenas e visitantes de outros mundos continuam a todo vapor, mas são como que obliteradas pelos grandes escândalos, pelas fusões de megaempresas e pelas perversões contemporâneas. Apesar disso, foi possível ler, nas manchetes de ontem, uma notícia que prova a onipresença dos discos voadores entres nós: “Primeira dama do Japão encontrou alienígenas”. Na matéria, a sra. Miyuki Hatoyama, esposa do futuro premier japonês Yukio Hatoyama, afirma categoricamente, sem nenhum tipo de constrangimento: “Eu acho que minha alma subiu em uma nave espacial de forma triangular e foi para Vênus.” E conclui: “Era um lugar muito bonito e era realmente verde.”
Enquanto isso, de volta ao século XX, não tinha nada de verdade na paisagem desoladora do campo de aviação de São João Nepomuceno. Era tudo o mais absoluto breu. Naquela total escuridão, dentro de um sepulcral silêncio, e entre medos e arrepios, tudo o que se ouvia era o clicar contínuo da máquina fotográfica de Jesse Marcel que, a cada segundo, era disparada freneticamente.
A brisa suave da noite trazia aos rostos inquietos um breve alívio da tensão, mas, a cada metro que avançavam, era como caminhar em direção à cratera de um vulcão, e o medo, consequentemente, aumentava, sempre mais e mais...
Chegou a um ponto em que a taxa de adrenalina estava tão alta que qualquer movimento ou barulho, por mais simples que fosse, seria o suficiente para detonar uma reação em cadeia, que nem mesmo os irmãos alienígenas saberiam contornar. Seria uma reação tão desastrosa e imprevisível que, possivelmente, em questão de segundos, despencaria gente para tudo quanto é lado. O Professor Marcos... coitado!!! Teria que se virar sozinho pois, certamente, ficaria abandonado dentro do carro, a mercê dos possíveis ETS... Ou mesmo do que fosse.
Foi nesta hora que o Silvio Heleno, articulando, intimamente, a possibilidade de uma outra retirada de emergência, pediu que todos entrassem novamente dentro da Vemaguette.
O Velho Marcos definitivamente não gostou nada da idéia. Ficava resmungando, insatisfeito, dizendo que estava muito abafado, e que não caberia tanta gente dentro do carro. Enquanto resmungava, era sumariamente espremido e sufocado, num canto do banco traseiro da Vemaguette.
Após a entrada de todos, Sílvio Heleno, como era de se esperar, afundou o pé no acelerador. Mas, desta vez, para surpresa e desespero geral da tripulação, lançou a nave, digo, o veículo, a toda velocidade, EM DIREÇÃO AO TAL OVNI!
Insanidade! – todos pensaram, mas o Sílvio parecia querer, de uma vez por todas, acabar com aquela angustiante e interminável tortura e ansiedade.
A gritaria foi geral e os olhos de todos, cada vez mais fixos e arregalados, viam, logo à frente, aquele estranho objeto se aproximar cada vez mais.
A Vemaguette começou a cheirar queimado. De tanto peso e velocidade, chegou até a tremer. Um verdadeiro ônibus espacial reentrando na atmosfera terrestre!
Mas... A coisa, aos poucos, ia se revelando...
Faltando uns 20 metros para o final do campo, Sílvio Heleno acelerou ainda mais.
Agora era tudo ou nada!
Uns gritavam... Outros tapavam os olhos... Alguns até cantavam...
Teve gente até se abraçando, só para não chorar.
Faltando ainda uns 10 metros, fizeram uma curva super-perigosa à direita e, passando feito um foguete pelo local, tiveram apenas alguns breves segundos de observação.
Como um Airbus taxiando, a velocidade era tanta que, enquanto iam, já estavam voltando.
O tempo de observação foi o mínimo possível, mas suficiente para começar a revelar o tão esperado mistério.
Alguém cujo nome se perdeu no tempo, mas que vinha sentado no banco traseiro, conseguiu se manifestar em meio àquela confusão, fazendo a mais inesperada das observações:
- HIII, NÃO É POSSÍVEL, MEU DEUS, AQUILO, NA VERDADE...
É o quê? Incrível? Fantástico? Extraordinário? Não percam, na próxima semana, a revelação final. O segredo mais incrível, que jamais algum autor de ficção, por mais visionário que fosse, teria sequer imaginado. Um caso que, por seu ineditismo, não consta nem nos arquivos mais classificados do Exército americano, ou nos anais secretos da NASA. Depois da revelação, a blogosfera não será jamais a mesma! Aguardem...

BRIGADU, GENTE!

BRIGADU, GENTE!
VOLTEM SEMPRE, ESTAMOS ESPERANDO... NO MURINHO DO ADIL