sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

CAUSOS INACREDITÁVEIS



NUMA SEXTA QUALQUER DO PASSADO - SEGUNDO CAPÍTULO
(Roteiro original - Serjão Missiaggia / Adaptação - Jorge Marin)

Na última sexta, perguntávamos: como se planeja uma serenata. De repente, um bando de jovens sai pela rua, com seus violões, para cantar músicas românticas. Segundo o renomado historiador José Ramos Tinhorão, no seu livro Os Sons que Vêm da Rua: “O hábito de cantar à noite pelas ruas, geralmente com o propósito de fazer-se ouvir por amadas inacessíveis (...), constitui, desde o fim da Idade Média um recurso sentimental cultivado em altas vozes noturnas por todo o Ocidente.” Relata ainda que tais cantorias foram chamadas de “serenada” pelos espanhóis e “serenata” pelos portugueses. A primeira serenata no Brasil, segundo Tinhorão, data de 1717.
O fato é que não se planeja uma serenata, era a música que nos levava. Quando descíamos da casa do tio Dante, já tínhamos um destino certo: Celeste, que, na época, morava no final da Rua do Descoberto, era nosso ponto de partida.
Quase sempre, Dorinha ia também dormir com ela, pois nesta época, morava no bairro São José. (Era ruim pra gente subir aquela escadaria!!!)
Então, sentados na calçada, procurávamos, de imediato, fazer algum tipo de ruído e aguardar por um sinal que logo viria.
Nem seria necessário pois, segundo pesquisas recentes, aquele meu velho cacoete, em eu ficava a raspar garganta, era suficiente para acordar quase meio quarteirão. Ainda mais naquela hora da noite!!!!
Mas, voltando à casa da Celeste: lembro-me que, na garagem, um delicioso lanche ficava, religiosamente, a nossa espera, enquanto, da janela, alguns acenos de aprovação, sempre nos deixavam muito felizes.
Uma passada na casa da Rosana Pimenta sempre acontecia, quando não dávamos, primeiro, uma esticadinha até a casa do Guto no bairro Santo Antônio. Nosso intuito, além de fazer uma serenata para sua família, era também saborear aquele queijinho caseiro, que sua mãe sempre preparava. Descendo, depois, a Rua do Buraco, passávamos pela casa da Maria Célia e, tomando um fôlego, íamos à Renise LaCava no morro do Ginásio.  Descíamos pelo outro lado, passávamos pela casa da Dione Paes, seguindo, após as cantorias, para a Rua do Sapo, onde Rosa Furiatti era nosso próximo destino.
Passávamos pela pracinha do Coronel, e alguns “gatos pingados”, saídos do colégio, ainda resistiam ao frio e permaneciam conversando...
Quando chegávamos à casa da Rosa, entrávamos por um portão lateral. Éramos sempre recebidos, amistosamente, pelo cachorro de um vizinho: por sinal... mal-educado e nada romântico. E o danado não parava um minuto de latir. Enfim, depois que o bicho sossegava, era só nos acomodar entre uma infinidade de varais e roupas penduradas sobre nossas cabeças.
Se não me falha a memória, era lá que ficava, a nos esperar, o melhor lanche.
(E como comíamos!).
Casa da Rita Rocha era nosso próximo alvo.
Nesta hora, uma paz absoluta já tomava conta de toda cidade. Neste momento, sempre que passávamos próximo aos correios, um fato interessante chamava minha atenção. O silêncio era tanto que, mesmo ao longe, dava até para escutar o clicar das bolas de bilhar. A sinuca do Cida era o único ponto da cidade que permanecia aberto até aquelas horas.
Na Rita Rocha, ficávamos sempre debaixo do porão. Era até interessante, pois este local nos proporcionava uma acústica fantástica. O lanche também era muito bom e, naquela hora da noite, até que dava um grande alento ao estômago.
Outro fato interessante era quando íamos até a casa da Dione Paes. Lá era o único local em que ficávamos totalmente expostos, pois tínhamos que ficar cantando na calçada. Era muito comum terminar de cantar e ver algumas pessoas, desconhecidas, sentadas ao nosso lado.
Até aquele pequeno intervalo, para descansar e esquentar as mãos, saborear os salgadinhos e fumar aquele cigarrinho, era curtido por nós.
Pior mesmo, era quando cantávamos um punhado de músicas e a danada da luz não dava sequer uma piscadinha. Era raro, mas... Acontecia!!!!
Ou este pessoal morreu ou não estão gostando da nossa serenata! Imaginávamos!!!! Já premeditando que ali ,com certeza, não haveria lanche.
Uma certa vez, lá pelas tantas, enquanto fazíamos uma serenata, na varanda de nossa saudosa prima Marialva, éramos observados por algumas pessoas. Essas pessoas, que também estavam perdidas na noite, ao passarem, por acaso, pelo local, ficaram maravilhados com a beleza da serenata. Entre elas estavam: Moacir Ângelo Ferreira, mais conhecido como Godelo e uma outra pessoa, que me foge agora da memória.
Conclusão: levaram-nos para casa do Biel (nosso primo). O Biel, se é que alguém não sabe, é um grande seresteiro, amante da boa música e de um fogão a lenha. Além de bom violonista, canta com desenvoltura e até arranha bem um acordeom.
Resultado: ficamos lá cantando e bebendo, até quase o dia amanhecer.

NA PRÓXIMA SEMANA: Como acaba uma serenata? Ela realmente acaba? Das ruas para o rádio, uma nova conexão. Não percam, o final da serenata. Numa padaria mais próxima, naturalmente.

5 comentários:

  1. O silencio da madrugada na naquela São João de outrora era realmente inspirador.
    Era somente o luar, silencio e nada mais.

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  2. Só sei dizer que ficar esperando pela serenata era uma sensação muito gostosa ,pois até eles chegarem deliciávamos aquele leitinho quente...muita conversa e um cigarrinho escondido não podia faltar...
    Guardo tudo em minha memória com muito carinho

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  3. Certa vez já estávamos mais ou menos pela sétima musica e fomos descobrir que estávamos cantando num lugar que não tinha nada haver. Se não me engano acho até que a casa estava em construção. Neste dia por incrível que pareça conseguimos errar até a rua.
    Bons tempos!!!
    Heleno

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  4. No inicio da década de setenta fui juntamente com alguns amigos fazer uma serenata lá pelas bandas da avenida. Era pra uma pessoa que morava próximo ao Tiro de Guerra.
    Como ainda não sabíamos tocar violão levamos, como única alternativa, um velho “Toca Discos” (pilhas) e um “LP” que tinha como carro chefe a musica Dio Come Ti Amo.
    Assim, após tomarmos umas boas “gorobas” ligamos o referido aparelho e o deixamos tocando sozinho no passeio, bem debaixo da janela de nossa “Julieta”.
    Desta forma sem nada então para fazer, decidimos sentar na linha do trem, para ficarmos a distancia, escutando aquele disco todo arranhado, ir dando o recado pra gente.
    E não é que dormimos todos! Até que, lá pelas tantas da madrugada, acordaríamos assustados com o apito do trem e com o barulho da agulha que, deveria estar passeando no final do disco há horas. Foi um pulo só. Acordamos tão assustados e abobados que já nem mais nos lembrávamos do que estávamos fazendo ali.
    Esta época foi realmente super divertida e inesquecível.

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  5. Lindas serenatas aconteciam mesmo para angariar agasalhos pra as famílias carentes que em mutirão saiamos pela madrugada. Enquanto uma turma cantava a outra ficava recolhendo as doações.
    Era muito legal pois enquanto fazíamos o que gostávamos estávamos também ajudando o próximo.

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