sexta-feira, 25 de novembro de 2011

RELEITURAS: O PRIMEIRO BAILE

Encarte do disco Close to the Edge, do YeS

LADO A: 1972... O ANO EM QUE FIZEMOS BARULHO!

1972 foi um ano muito louco para todos nós. Nós quem, cara pálida? Ora, pra quem gosta de festa e música e tal.
Pra começo de conversa, quem aí já ouviu falar no Sesquicentenário da Independência? Pois é: dia e noite, ficavam martelando na cabeça da gente aquela musiquinha ridícula: “fato extraordinário / sesquicentenário / da Independêeeeencia...
Mas aconteceram coisas legais, e tristes também (foi o ano em que morreu Leila Diniz e também do incêndio do Edifício Andraus em São Paulo). Mas, enquanto isso, no mundo da música:
- o tal do João Ricardo começa a ensaiar com uma nova formação para sua antiga banda – os Secos & Molhados – agora com um cantor novato chamado Ney Matogrosso;
- o Deep Purple gravou Machine Head, com a música Smoke on the Water;
- o Yes grava Fragile e, o meu preferido, Close do the Edge;
- Jethro Tull grava Thick as a Brick;
-Black Sabbath grava Vol. 4 com a música Changes;
- ah, mas tem uma nota triste também, porque, nesse ano, acabou o Creedence.

Bom, mas nada disso tinha importância pra nós, porque, todo sábado, a gente se encontrava e assistia Sábado Som, e depois ficava tentando “tirar” as músicas, os solos e até os trejeitos dos caras.
À noite, estávamos todos no Operário, num baile do conjunto N-5, os antigos Cobrinhas, e a Nely Gonçalves tinha dito pra gente que, qualquer hora dessa, vou chamar vocês prum pega. Dar um pega é o mesmo que dar uma canja, isto é, durante a apresentação de um conjunto (o que chamamos de banda hoje), outro conjunto/banda é chamado ao palco pra tocar algumas músicas.
- Será que ela tem coragem de fazer isso? – alguém perguntou.
Todos riram:
- Ah, é sacanagem da Nely. Só se ela fosse louca ou estivesse bêbada.
Só que a gente se esqueceu é que aquela mulher era louca (acho que é até hoje) e, principalmente, tinha tomado todas. Aí pegou o microfone e falou:
- GENTE! Quero anunciar, com muita alegria, a chegada de um novo grupo musical na cidade. Apresento a vocês... o GRUPO PYTOMBAAAAAA!!!

Como a garotada diz hoje: E AÍ VÉI????

(Crônica: Serjão Missiaggia / Adaptação: Jorge Marin

terça-feira, 22 de novembro de 2011

RELEITURAS - AS MANGAS ROLAM EM SÃO JOÃO 2 - HABEMUS PYTOMBA!

É NÓIS!

São João Nepomuceno, 22 de novembro de 1971. Segunda-feira.
Parou a chuva. Vai acontecer: O PRIMEIRO ENSAIO.
Fechados, dentro do Barracão, começamos a tocar os instrumentos. É lógico que é um momento só nosso. É o início de um sonho. Nós, a música, a magia... MAS...

Passando por ali, de carro, aquela figuraça (até hoje) Guilherme Bellini, ouvindo a barulhada e vendo o piscar das luzes, saiu pela rua convidando a todos que via para um “baile na casa do Sílvio Heleno”. A mãe deste, dona Mariana não conseguia entender a multidão de jovens passando pela sua cozinha e preferiu fechar a porta e esperar aquilo tudo acabar. Enquanto isto, o som rolava solto até a noite, e a galera dançou até que não restou manga sobre manga. Depois, tranquilos e calmos, todos saíram como se nada houvesse acontecido, enquanto dona Mariana ainda avaliava se poderia abrir sua porta com segurança.
O repertório oficial incluía músicas como My Pledge of Love, Isn’t It a Pity, What’s Life, It Don’t Come Easy. Como se vê, a influência dos Beatles era clara.
Mas quem eram os componentes fundadores do Pytomba?
- guitarra solo, SÍLVIO HELENO;
- guitarra base e voz, DALMINHO;
- bateria, SERJÃO;
- baixo MÁRCIO VELASCO;
- iluminação: RENATINHO ESPÍNDOLA.
Os primeiros aparelhos e instrumentos eram exclusivos e feitos especialmente para a banda: enquanto os outros utilizavam a bateria Pinguim, a do Pytomba – de origem desconhecida - era a Urso Polar, na verdade um surdo com esteirinha, um bumbo com pedal e um prato com arrebites. Os conjuntos comuns usavam um amplificador de voz Plantronics A100, mas o do Pytomba era o A(sem)nada e seus alto falantes pulavam alegremente pelo chão. Os violões possuíam cristais, o chifre era de boa qualidade, mas os dois microfones eram aqueles de gravador, apoiados num sofisticado pedestal Zebra, nada a ver com os genéricos da marca Girafa. As luzes, ou ambas as luzes, eram lâmpadas de Natal, giradas vigorosamente pelo iluminador. Os leigos, que não entendiam aquela revolução musical, indagavam por que não uma bateria Super Pinguim, aparelhos de guitarra e baixo Plus ou Super Tremendão, aparelhos de voz A100 ou A200, microfones Surian ou AKG, pedestais Girafa, baixo e guitarras Fender, câmara de eco, gelo seco e um órgão Caribbean?
A resposta era simples:
- Porque não!

Hoje, 40 anos depois, pensamos: o que é que nós fizemos? Pegamos alegria, juventude, amizade, sensibilidade e amor à vida. E cantamos e tocamos e demos muita risada.
Agora, neste exato momento, dentro dos nossos corações, tudo continua do mesmo jeito. Só o tempo que passou.

(Crônica: Serjão Missiaggia / Adaptação: Jorge Marin)

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

RELEITURAS - AS MANGAS ROLAM EM SÃO JOÃO 1

Foto de Sílvio Heleno Picorone (A pítombeira)

São João Nepomuceno, 20 de novembro de 1971. Domingão!
Hoje, depois da missa, ficamos sabendo de uma notícia terrível: um desabamento, no Rio de Janeiro, do elevado sobre a Avenida Paulo de Frontim, matou 22 pessoas e feriu mais de 100! . O governador Negrão de Lima decretou luto oficial.

Criar um conjunto de rock não é tarefa assim tão fácil. A começar pelo nome: uns queriam Derruba Clube, mas, para a época, o nome parecia subversivo demais. Até que se criou um consenso de que o nome ideal seria Pitomba na Oreia. Como não se sabia, no dia em que o nome foi escolhido, a pitomba é a fruta da pitombeira, mas o significado que se queria era mesmo o de um “tapa na orelha”. Alguém foi buscar um dicionário (geralmente um chato), descobriu que os dois significados estavam corretos, mas sugeriu:
-Por que não colocamos Talisia Esculenta? Levou imediatamente diversas pitombas.
Os primeiros ensaios foram realizados no barracão do Sr. Anginho Picorone, que resolveu transformar este “cavern club” do Pytomba em um depósito de mangas. Esta situação inusitada, de dividir os ensaios com aqueles frutos em fase de amadurecimento, em nada perturbava os ensaios da garotada. Afinal, o conjunto também ainda estava verde.
É importante ressaltar aqui que o citado barracão ainda existe, está aberto á visitação pública de segunda a domingo e, a exemplo da ex-casa de Elvis Presley, chamada de Graceland, este importante local também deverá ser tombado como patrimônio cultural da municipalidade, sob o nome de Mangoland, ou Pytombaland.
Num dos ensaios, um grande temporal assolou a cidade, destelhando quase completamente o galpão. A luz acabou, e ali, no escuro, molhados junto com as mangas empapadas de barro, só uma certeza manteve o grupo unido. Não, não era aquela fé de que um dia seremos famosos, mas sim: “Salvem a pareiage!” (que, como era de se esperar, era toda emprestada).
Foi uma grande decepção, não pela aparelhagem – afinal eram apenas bens materiais – mas sim com a interrupção de um ensaio tão fantástico, apesar do temporal, apesar da falta de luz, apesar do teto sem telhas e apesar de estarem todos atolados no barro até as canelas. Num mar de mangas!

Ah, e naquela tarde de domingo, o Atlético Mineiro derrotou o Vasco por 2x1 (gols de Ronaldo, Humberto Ramos e Ferreti), o Botafogo empatou com o Grêmio por 1x1 (gols de Zequinha e Joãozinho) e América e Cruzeiro ficaram no 0x0 no Rio.

(Crônica: Serjão Missiaggia / Adaptação: Jorge Marin)

domingo, 20 de novembro de 2011

CONCURSO INTERNACIONAL PYTOMBA 40 ANOS!!!


BLOG DO PYTOMBA VAI PREMIAR O VISITANTE NÚMERO 30.000.

Este você não pode perder: numa parceria exclusiva com o TÚNEL DO TEMPO, vamos premiar o visitante número 30.000 do blog, com o seguinte prêmio:
>>> TOUR PELO BARRACÃO DO SR. ANGINHO PICORONE, com direito a desfrutar a energia irmanada pelo local, visita ao ponto da explosão da histórica Bomba XB3/4 e foto, com celular, exatamente no marco zero do Grupo Pytomba.
Ah, e estamos negociando um cafezinho com o Sílvio Heleno (sem pão!), mas tá difícil.
PARTICIPE: é só fotografar a tela de seu PC, provando que você é o visitante 30.000 e entregar ao Serjão, ou ao Sílvio Heleno, ou para o e-mail pitomba.grupo@gmail.com e pronto: você vai direto para as páginas musicais da História, junto com o Pytomba.

RELEITURAS: O PRINCÍPIO DO INÍCIO 5

Fotos publicadas no site www.util.com.br

São João Nepomuceno, 20 de novembro de 1971, sábado.
Hoje, nas bancas, uma notícia triste: devido às chuvas em Belo Horizonte, 22 pessoas morrem soterradas pelo lixo que era colocado numa colina pela prefeitura.
Hoje, começam também as semifinais do Campeonato Nacional: tem Palmeiras x Coritiba no Pacaembu e Inter x Santos no Beira-Rio.
Hoje, fiquem tranquilos: não vamos falar sobre o Brito. Em compensação, Jairzinho e Djalma Dias obtiveram efeito suspensivo no STJD e jogam contra o Grêmio amanhã.
Engraçado, a gente fala de futebol porque, naqueles tempos, de censura brava, tudo o que podíamos ver, nos jornais, era futebol e notícias internacionais.

O prefeito – Bolote – inaugurou as novas lâmpadas de vapor de mercúrio, que deixariam a cidade iluminada como nunca.
O padre Vicente abriu a Igreja para os jovens, e os violões animavam as missas, os encontros, as gincanas e as campanhas de Natal e inverno.

Ah, e pra quem diz que só damos notícia de futebol, vamos falar de cinema: hoje, o diretor sueco Ingmar Bergman anunciou seu casamento, pela sexta vez! Deus me livre e guarde, diz minha madrinha, e se benze.

O grande barato era a luz negra e as bebidas da moda eram Gin Tônica, Cuba Libre, Campari, sem esquecer a Batida de limão e o Rabo de Galo.
Pois bem: foi neste cenário, ao mesmo tempo ingênuo e vibrante, conservador e psicodélico, mais precisamente depois de amanhã, que um grupo de rapazes vai se unir, imaginando estar um dia num grande palco, com suas músicas reconhecidas e cantadas por todos.
Ali vai começar a nascer, mais do que o simples sucesso – que é efêmero – um sonho que jamais irá morrer, pois este é o lema do grupo, O QUE SEMPRE FOI SEM NUNCA TER SIDO. Será?

(Crônica: Serjão Missiaggia / Adaptação: Jorge Marin)

RELEITURAS: O PRINCÍPIO DO INÍCIO 4

Os Cobrinhas arrasando!

São João Nepomuceno, 19 de novembro de 1971, sexta-feira (oba!)

Sexta-feira, normalmente, a gente ficava até mais tarde na rua.
Hoje é Dia da Bandeira e nas televisões e nos jornais só se fala em ordens do general Geisel ou homenagem do Presidente Médici, além de propagandas de forte cunho nacionalista nos jornais: Coopersucar, Banco do Brasil e outras falam do pavilhão nacional. Hoje, poucos se lembram até que a bandeira tem dia.
A cena urbana sanjoanense mesclava lojas (como: A Brasileira, Tipografia, O Guri, Americana, Casa Leite) e os bares Dia e Noite e Floriano, onde todos se cumprimentavam e tomavam um café, ou uma cerveja.
O futebol vivia de saudades: as torcidas de Mangueira, Botafogo e Operário, lembravam os clássicos inesquecíveis, e torciam pelos times do Rio: o Botafogo era a base da Seleção Brasileira, mas perdeu o título carioca, com um gol roubado no último minuto.
Impossível falar do Botafogo sem voltar ao assunto, que já está ficando chato, do Brito. Ontem, o Supremo Tribunal Federal deu um parecer sobre esses casos de empregado impedido de trabalhar. O Botafogo pretende entrar com um recurso, e fala-se até em um possível indulto de Natal que o Presidente Médici poderia conceder, devido ao fato do Brito ter sido tricampeão mundial. E domingo tem Botafogo x Grêmio.
A Rádio Mundial AM era a onda do momento, e o grande sucesso eram as músicas internacionais. O LP (alguém se lembra do vinil?) Explosão Mundial era um grande hit: o lado A começava com There’s no more corn on the Brasos, depois vinha Mammy Blue, Imagine, You’ve got a friend, A poor mans e Joy. O lado B começava com Summer’s holliday, e depois Pop Concerto Show, World champion fool, Rain e Soley soley.
Os grupos musicais, presentes em todos os bailes de formatura e debutantes, eram os Solfas, TNT e CBV, enquanto a prata da casa, os grupos locais, eram Os Cobrinhas e Som Livre, comandados, respectivamente, pela Neli Gonçalves e pelo Sebastião Cri-Cri.
Epa, vou pra casa mais cedo, porque na TV Globo tem Sexta-feira Nobre e hoje o show é com a Elis Regina. Será que ela vai cantar Estrada do Sol?

(Crônica: Serjão Missiaggia / Adaptação: Jorge Marin)

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

RELEITURAS: O PRINCÍPIO DO INÍCIO 3

Foto publicada em http://caminhosverdesdeminas.com.br

São João Nepomuceno, 18 de novembro de 1971, quinta-feira.
A cidade, meio agitada, já preparava a organização de sua primeira Exposição Agropecuária e Industrial!
No murinho do Adil, muitas fofocas rolavam enquanto, entre uma paquera e outra, o tempo passava lentamente, como se não existisse.
No Bar do Bode, encontros e desencontros aconteciam enquanto, no auge do sucesso, Rubro Bar, Zoom Frutas e Botachopp faziam à cabeça e os passos da moçada.
Na “pedra da tipografia”, mural da Voz de São João, a notícia “bomba” era a suspensão do zagueiro Brito, do Botafogo, por um ano, por agressão ao juiz no jogo contra o Vasco.
E agora, perguntavam-se os botafoguenses: como é que o técnico Paraguaio vai escalar o time? O Djalma Dias e o Jairzinho também estão suspensos, e nem amadores o Botafogo tem, pois eles estão com a Seleção Brasileira na Colômbia.
Passado o clamor do futebol, a vida voltava ao normal nas ruas de São João.
As fábricas Sarmento, Dragão e Sylder, mais as de ferraduras, tampinhas, vassouras e outras, ditavam o progresso do município a todo vapor.
O Ginásio do Sr. Ubi era referência para todos, pois lá pulsavam os corações de uma juventude que sonhava, acordada, com um mundo mais justo e melhor. Ideias e energias eram canalizadas em competições esportivas e culturais, além da inesquecível fanfarra, sob a batuta do Beto Vampiro.
O novíssimo Clube Campestre era a nova opção de lazer oferecida pelo Clube Democráticos, enquanto, na sede, e junto com Trombeteiros e Operários, realizavam-se os inesquecíveis bailes de Carnaval, ocasião em que a Rua do Sarmento se enchia de foliões e curiosos, ávidos pelos desfiles das escolas de samba Esplendor do Morro, Avenida e Caxangá.

(Crônica: Serjão Missiaggia / Adaptação: Jorge Marin)

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

RELEITURAS: O PRINCÍPIO DO INÍCIO 2

Cartaz do Cine Brasil em 17.11.1971

São João Nepomuceno, 17 de novembro de 1971, quarta-feira.
Serjão escuta a Rádio Globo: no sorteio dos jogos para as seminifinais do Campeonato Brasileiro, o Botafogo joga com o Grêmio, domingo que vem, no Estádio Olímpico.
Ontem, passeamos pela Rua do Sarmento mas, havia outra atração na cidade: o cinema, o Cine Brasil que, às vezes, arrastava multidões, principalmente nas quartas-feiras, hoje, quando ocorre a sessão do troco e todo mundo paga meia. Hoje a noite vai passar A Quadrilha da Fronteira, com o Lee Van Cleef. Lembram dele? Ele era o Feio, daquele filme do Clint Eastwood O Bom, O Mau e O Feio, que aqui no Brasil se chamava Três Homens em Conflito. Pois é, mas no filme de hoje, o Lee é o mocinho, Roy King, que, para vingar a perda da mulher Alicia (a doce, e bota doce nisso Gina Lollobrigida) para o revolucionário Francisco Paco Montero (James Mason), ajuda a roubar um milhão de dólares do governo mexicano.
Cinéfilo de carteirinha, o Jorge Marin estava sempre no cinema, geralmente com o Reynaldo Soares, da fábrica de vassouras, e o sr. José Henriques. Aguardavam, ansiosamente, os filmes que estavam sendo lançados nos cinemas do Rio, e só chegariam em São João, se chegassem, uns seis meses depois: 24 Horas de Le Mans, Love Story e Moscou Contra 007.
A sinuca do Cida era parada obrigatória para todos os rapazes que fingiam estar se concentrando no jogo mas ficavam de olho nas meninas (chamavam-se cocotinhas) que passavam. Enquanto as cocotinhas pareciam interessadas nos rapazes, mas se encantavam mesmo com o ritual daquele jogo, na época só para homens.
Ao longe, o barulho do semáforo da linha férrea anunciava a passagem do trem em frente ao Bar Central.
O negócio é ir pra casa. Dúvida cruel: Discoteca do Chacrinha na TV Globo ou Cidinha Livre na Tupi?

(Crônica: Serjão Missiaggia / Adaptação: Jorge Marin)

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

RELEITURAS: O PRINCÍPIO DO INÍCIO

Foto de Marcus Martins, publicada em www.galeriamm.com.br

Para relembrar os 40 ANOS DO GRUPO PYTOMBA, vamos reler os primeiros posts do Blog, que são também os primeiros relatos, os primeiros fatos, até mesmo os primeiros mitos. Como era o nosso mundão? - como diz o Serjão. Nestas releituras, que vão até o momento zero do Pytomba, no próximo dia 22, curiosamente e inexplicavelmente também o Dia do Músico, algumas observações poderão ser acrescentadas, novos detalhes e, quem se lembrar, pode comentar. A casa é de todos...
Há quarenta anos, exatamente no dia de hoje, era uma terça-feira em São João Nepomuceno. O feriado caíra na segunda e aproveitamos para emendar. Emendar feriado, naquele tempo, era ir, no máximo para a Cachoeira da Fumaça. Viagem para o Rio era uma aventura; para Cabo Frio então, demorava mais do que ir hoje para Nova Iorque.
Era uma vez, numa pacata cidade do interior de Minas Gerais.
16 de novembro de 1971 – Os jornais, na Banca dos Manzo, trazia as notícias do dia: 23 pessoas haviam feito 13 pontos na Loteria Esportiva e dividiriam o gordo prêmio de 11 milhões e 120 mil cruzeiros. Nada mal.
O dono da banca, botafoguense doente, discutia com o sr. Carlos Rocha sobre o assunto do dia: a possível punição ao zagueiro Brito, do Botafogo, que, no jogo com o Vasco, agredira o juiz José Aldo Pereira.
Curiosos passavam ali pela Praça Carlos Alves e acompanhavam a discussão. Só dava futebol: os times da Guanabara (lembram desse nome?) haviam se classificado para as semifinais do Campeonato Nacional e aguardavam a formação dos grupos.
Os habitantes de São João Nepomuceno, nos anos 70, não ficavam apenas em casa assistindo O Cafona (da líder de audiência TV Tupi) ou O Homem que Deve Morrer (da jovem TV Globo).
Essa novela, de Janete Clair, começava, pontualmente, às oito e cinco da noite, e tinha Tarcísio Meira, o médico Ciro Valdez, também mestre das religiões orientais que, para cumprir a missão de sua vida passada, voltava para Porto Azul, no interior de Santa Catarina, e reencontrava sua amada Esther (Glória Menezes), agora casada com o “do mau” Otto von Muller (Jardel Filho). A verdade é que, no dia em que o dr. Ciro fez um transplante de coração no malvado Otto, a cidade parou, pois transplante de coração era uma novidade na época (Christian Barnard havia feito a operação pioneira em 1968) e a esperta Janete Clair já lascou o assunto, na época restrito à revista Realidade, no horário nobre.
Mas, tirando esse dia, e o dia em que os dois protagonistas se beijaram pela primeira vez, as pessoas preferiam mesmo era passear na Rua do Sarmento.
Aquela terça-feira, com uma tremenda cara de segunda, terminou com as pessoas indo para casa mais cedo. Naquele tempo, era primavera nesta época do ano, fazia calor e ainda dávamos uma passadinha na TV Tupi para assistir o programa do Flávio Cavalcanti.
(Crônica: Serjão Missiaggia / Adaptação: Jorge Marin)

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

ASSOMBROSA PAIXÃO - FINAL

Papel de parede disponível em http://www.wallpaperhd.info/2011/04/_la-muerte-1448/

Enquanto isso, no cemitério, numa noite de tempestade:
- Se oceis precisa de fósfo, eu tem!
Só escutei essa voz, assim meio rouco e congelei. Olhei pro lado, e um vulto, que parecia estar carregando uma foice, descia o morro e já estava ali, pertinho da gente.

Minha amiga, após um grito de horror, me largou pra trás e, pelo mesmo caminho por onde veio, desceu apavorada. Busquei uma tangente e, correndo e pulando entre os túmulos, desci em disparada, procurando, a todo custo, chegar à saída.
Ainda no meio do caminho, outro susto! Fui surpreendido ao dar de cara com uma mulher que, parecendo que ia fazer o mesmo que nós, mesmo sem saber o que estava acontecendo, ao me ver assim, despinguelado, jogou um monte de velas pro alto e saiu correndo atrás de mim, gritando:
- Corre, moço! Corre, moço!
Chegamos, quase simultaneamente, os três, ao portão.
Saímos mais do que depressa para a rua e mal conseguíamos falar. Ficávamos olhando pra dentro do cemitério, como se não acreditando no que acabara de acontecer.
Só pode ser fruto de nossa imaginação, assim falávamos um pro outro.
Meu queixo tremia. Minhas pernas também.

No fundo, no fundo, tínhamos consciência de que tudo aquilo teria acontecido em função de uma simples histeria coletiva decorrente de muita adrenalina acumulada. Ou não!
Quando já nos preparávamos para virmos embora, eis que surge, em carne e osso, no portão principal, nossa suposta alma penada. Acredite quem quiser, mas era, nada mais nada menos, que um humilde senhor, por sinal muito simpático, funcionário do cemitério, que, naquele momento, estava terminando o serviço.
Saindo ele com uma enxada nas costas, ainda suja de cal, veio ao nosso encontro, rindo sem parar. Ironicamente, perguntou se havíamos encontrado fósforo e por quê teríamos corrido tanto.
Também rimos muito, e já bem mais calmos e relaxados, não acreditando no que nossa mente foi capaz de criar, após pegarmos um fósforo emprestado com um vizinho, resolvemos tentar mais uma vez.
Mal acabamos de entrar e, de repente, um gato preto pula repentinamente de cima de uma casinha em nossa direção. Numa barulhada danada, por pouco não cai em cima da gente. Nosso susto foi tão grande, que, dali mesmo, resolvemos desistir de vez.
Assim, boquiabertos e admirados, e sentindo na pele como a mente foi e é capaz de reagir em situações como esta, que fizemos as orações ali mesmo no portão, depois viemos embora com a sensação do dever cumprido.
E a chuva parou de vez. O céu se abriu em estrelas e uma enorme lua cheia nos fez companhia na volta.

(Crônica: Serjão Missiaggia)

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

O QUE HÁ DE NOVO NO DIVÃ? - III

Cena da novela "Morde e Assopra" da TV Globo

A vantagem de atender muitas mulheres no consultório e, principalmente, de ser casado com uma mulher, é que a gente vai aprendendo a olhar. E perceber as coisas que estão em volta.
A paciente coloca a bolsa Louis Vuitton em cima do divã, e se senta do lado. Está um pouco ansiosa, arruma o cabelo, relógio Michael Kors, acho que, se fumar fosse chique, ela iria pegar uma daquelas piteiras da Audrey Hepburn, e acender um Dunhill. Tenho que parar meus devaneios consumistas, porque a demanda está ali, pronta para explodir.
- Acho que a minha fibromialgia não tem mesmo jeito. Já tentei tudo: pilates, acupuntura, shiatsu, até mesmo um remédio importado que um amigo traz de Nova Iorque, mas nada. Eu não consigo nem dormir. O Carlos Maurício deita, depois do jogo do Fluminense dele, e dorme igual a uma pedra. E eu fico enrolando, com o tablet na mão, leio alguma coisa, e só vou dormir de madrugada.
Ela é gerente de uma multinacional e o marido trabalha em algum desses órgãos do Poder Judiciário. Levam uma vida financeiramente tranquila, moram num condomínio com vigilância 24 horas, viajam regularmente para o exterior, e têm carreiras aparentemente bem sucedidas. Lá, a miséria é de outra ordem:
- Chegou o resultado dos exames, meus e dele, e dizem que não temos nada. Tenho seguido todas as orientações médicas, leio tudo sobre fertilização humana, sou quase uma doutoranda no assunto, e não consigo engravidar...
Os olhos se enchem de lágrimas, disponibilizo a caixa de lenços de papel. Ela para de falar um pouco. Desde que seus pais se separaram, tem planejado sua vida nos mínimos detalhes, estudou Administração, namorou um colega de faculdade, colocou um DIU antes de ter a primeira relação sexual, temendo que um filho pudesse atrasar sua carreira, foi sempre a melhor aluna, casou-se tão logo concluído seu mestrado e começou a trabalhar nessa empresa. Nomeada gerente de divisão, resolveu então engravidar, mas não consegue, e preocupa-se:
- Já estou com 35 anos, daqui a pouco não vai mais ser possível. Por que é que isso acontece? Temos feito tudo direitinho, estamos bem... Por que, meu Deus, por que?
É impressionante como a pessoa constrói um castelo para si, vai morar lá dentro, onde se protege de tudo e de todos. Às vezes se apequena para caber na sua fortaleza e, uma vez emparedada, não recebe ninguém (nem um bebê?) e também não consegue sair.
- Os meus exames deram todos dentro dos parâmetros esperados, leucócitos, triglicérides, plaquetas, tudinho equilibrado. Fiz até esse novo exame, o antimulleriano, e os números estão todos em conformidade. (Disso eu não tinha dúvidas, penso.) E os do Carlos acho que também estão legais.
- Você não viu os exames dele? – pergunto.
- Não, mas ai dele se tiver alguma coisa e ele estiver me escondendo. Eu como ele vivo!
- Você come ele? – pergunto, me fazendo de desentendido.
- Como assim? – responde ela, devolvendo a pergunta e o “como”.

(Conto: Jorge Marin)

domingo, 6 de novembro de 2011

BELA PESSOA

Foto "catada" do orkut do Márcio Sabones

E a neve se foi, sol voltou.
Qual pytombense não se lembra desse refrão?
Mas o que talvez muitos não saibam é que essa letra não foi composta, não foi premeditada: ela simplesmente aconteceu, pintou, rolou na fala, floresceu. Foi numa sessão de gravação de um dos trabalhos do Pytomba, tipo jam session que esse cara, o aniversariante de hoje, o Bellini, pegou o microfone e, numa sequência que, a princípio, seria puramente instrumental, lascou o refrão.
Coisas de Bellini, meio panteísta, meio Peter Pan. Onde tem música da boa, lá está ele. Onde tem luz, também. Dança então, nem se fala! Carnaval, tá na banda. Cultura, tá no sangue.
Conheci o Bellini cantando no Bar Central (era um restaurante na época), voltei a encontrá-lo depois na Joia; no Xodó, dedilhando um teclado virtual numa música do Emmerson, Lake & Palmer; no teatro, fazendo o som da Bruxinha que Era Boa; no Cebolinha; na Boate Kako; no Trombeteiros; no Hibisco e no carnaval. Ah, e, lógico, no Pytomba. Dá pra notar que a pessoa é muito do bem: estar com o Bellini é encenar uma peça sem final, mas com um roteiro sempre divertido. Um dia, num dos ensaios da “Bruxinha” em que nenhuma das bruxinhas apareceram, subimos ao palco, eu e o Bellini. Representamos uma peça com diálogos inventados na hora e situações que iam se complicando, como num jogo de xadrez em que, a cada peça conquistada, os jogadores tomam uma garrafa de uísque. O resultado, caótico, foi aplaudido por um bando de gente que, passando ali em frente ao Democráticos, pensou se tratar de uma peça real. Perguntavam: de quem é a peça? Apontávamos um para o outro, e dizíamos ao mesmo tempo: dele! Pensando bem, será que existe alguma peça real?

Desejar hoje, ao Bellini, longevidade, é pleonasmo, porque ele é esse menino da Terra do Nunca, sempre. Desejar felicidade também é bobagem, porque o Bellini não veio ao mundo para viver: veio para fazer performance.
Desejo, como faziam os índios, muitas luas, traçando compassos (mil tons?), com passos, passeios e passaradas.
Bela pessoa, canto livre...

(Texto: Jorge Marin)

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

ASSOMBROSA PAIXÃO - CAPÍTULO 3

Arte digital por Keri LeMaster

De noite, no cemitério de São João, trovões, a chuva quase caindo e aquela gatinha, que eu já nem sei mais se queria tanto assim, irredutível:
- Temos que ir lá em cima... no Cruzeiro.
- Lá aonde? Cê tá brincando! Não sei se você sabe, mas o Cruzeiro fica quase no meio do cemitério! Tem certeza que não podemos rezar daqui mesmo?
- Serjão! Temos que acender a vela no Cruzeiro! Rapidinho a gente chega lá! Vamos logo antes que a chuva caia de vez - concluiu.
- Leve a mal não, mas daqui não passo nem a porrete!
- Se você não for, eu vou ter que ir sozinha! Já que viemos até aqui vamos fazer a coisa direito!
Aí, já pensando na minha reputação, e vendo a possibilidade dela subir sozinha, fui de imediato respondendo:
- Claro que vou! Mas precisa ser mesmo hoje? Não pode ser outro dia?
Então, após respirar fundo, lá fomos nós.
Enquanto subíamos, fui surpreendido quando, de repente, ela me deu a mão para caminharmos juntos. Fiquei todo assanhado e, por minutos, me esqueci até daquele cangaço que estava passando. Confesso que comecei até a gostar da ideia.
Subindo em passos largos e carregando uma vela na mão, começamos a nos aproximar.
Alguns pingos começaram novamente a cair. Relâmpagos cortando o céu e uma forte ventania chegou de vez.
Se existia algum poste no trajeto, deveriam estar todos eles com as lâmpadas queimadas, pois um breu total seguia nos acompanhando. Tínhamos, como única referência, os relâmpagos, que, vez ou outra, clareavam nosso caminho.
Enfim, conseguimos chegar até o Cruzeiro. Eu já estava suando, de medo e de emoção.
Silêncio total. A não ser o barulho do vento e dos trovões, não se escutava absolutamente mais nada.
- Vamo logo, vamo logo! Pedi que fosse o mais breve possível.
Enquanto ela rezava, eu ficava de olho no clarão dos relâmpagos, tentando monitorar cada centímetro ao nosso redor. De antemão, já havia dito que qualquer coisa diferente que se mexesse, eu despencaria de lá num pé só.
Nossa adrenalina estava tão aguçada, que um simples vaga-lume, que piscasse ao nosso redor, iria deflagrar uma correria sem precedentes.
Mas tudo foi transcorrendo dentro do possível, até que, ao pegar a vela pra acendê-la, fomos descobrir que havíamos nos esquecido dos fósforos.
- Vai ficar é apagada mesmo! - Pensei.
Ledo engano. Pois foi aí que a coisa danou de vez.
Neste exato momento, sob um forte clarão de relâmpago, uma voz pausada e grossa sussurrou próximo da gente:
- Se ôceis pricisá de fósfo, eu tem!
Aaaaaaaaai...
SEMANA QUE VEM: foice, fuga e gato preto, o último capítulo.

(Crônica: Serjão Missiaggia)

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

PARABÉNS AO MAGNO!

Foto publicada no blog opinioesdomagno.blogspot.com

Hoje são chamados de Anos de Chumbo, mas até que levávamos numa boa. Sabíamos da violência, torturas, sacanagens e injustiças. Jovens, queríamos fazer alguma coisa, ouvíamos sobre a fundação de um partido, um tal de Movimento Democrático Brasileiro e que iriam até indicar um pedreiro para prefeito; o Pedro Caxambu. Loucura. Mas, fazer o quê, éramos loucos e, dentre nós, um especialmente louco e corajoso. Magro, com uma deficiência física, e uma aparência pacífica, mas, quando tentavam usurpar algum direito nosso, nem que fosse proibir que cantássemos “Pra não dizer que não falei de flores” no Bar do Augustinho, ali em frente ao Cine Brasil, esse magrelo arrumava um vozeirão, saindo não sei de onde, e urrava:
- MEGANHADA F.D.P.!!!
Carnavalesco de primeira hora, “engatava”, desde a Batalha de Confete, na quinta-feira, até as sete da manhã da Quarta-Feira de Cinzas, quando a voz nem saía, mas, de dedo em riste, ele fazia o compasso para uma turma de retardatários que teimávamos em não deixar o Carnaval ir embora.
- O Luiz Campos é o melhor compositor que eu conheço, dizia, e cantava “Viveiro de portas abertas” até o sol já queimar em nossas cabeças.
Depois chegava em casa. O “sêo” Batista (da farmácia) e a dona Carminha nem se espantavam em ver o filho chegar, todo pimpão, como se nada tivesse acontecido, tomar um café preto e, se bobear, ainda pegar um livro pra ler.
Eram tempos de sonho, e a gente sonhava muito. Mas esse cara, o magrinho, sonhava e brigava pelos sonhos. Uma hora estava numa república em Juiz de Fora, como estudante de Direito, em outra, num palanque, concorrendo à Câmara Municipal em São João.
Atrevido, visionário, boêmio, político, fundador do Jornal Novidade, primeira testemunha da fundação do Pytomba: esse é o Nilson Magno Baptista, sempre pronto a dar uma opinião, um incentivo, um elogio. Quem tem o privilégio de desfrutar a intimidade dessa figuraça humana sabe que não sai da conversa sem sorrir, sem se surpreender ou sem se impressionar com a versatilidade e a sede de confabular.

É por isso que, em meu nome e de todos os amigos do Pytomba, eu desejo ao Nilson: no mínimo, a longevidade do avô Alcebíades; na média, a respeitabilidade do pai, o “sêo” Batista; e, no máximo, toda a felicidade do mundo.
Parabéns, Nilsão!

(Texto: Jorge Marin)

BRIGADU, GENTE!

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VOLTEM SEMPRE, ESTAMOS ESPERANDO... NO MURINHO DO ADIL