quarta-feira, 30 de junho de 2010

TIO PITOMBO E AS COPAS



Capítulo 5

Chego cedo na casa do tio para assistir Inglaterra e Alemanha, já de olho, naturalmente, naquela macarronada famosa, que mais parece uma feijoada, pois, além do macarrão, tem mussarela, bacon e uma coisa que lá eles chamam de charmant, mas eu acho que é blanquet. Mas, como é tudo francês mesmo, deixa pra lá. Depois do jogo, Tio Pitombo não consegue esconder seu contentamento e acaba extrapolando a dose diária de um cálice de vinho borgonha, receitado, segundo ele, por seu cardiologista.

“Foram os deuses do futebol! Nelson Rodrigues estava certo: quando tem roubalheira, quem decide o jogo é o Imponderável Futebol Clube, não que o time alemão seja ruim não, na verdade ele é ótimo. Só que, na copa de 1966, o juiz deu gol do Hurst da Inglaterra e a bola tinha quicado em cima da linha, e agora, que a jabulani entrou quase meio metro dentro do gol, o juiz não dá o gol e a Alemanha goleia. Eu me lembro muito bem daquele dia, porque era 30 de julho, e estamos acostumados com a copa em junho, mas, na Inglaterra, foi em julho. Ah, e o jogo foi no sábado, porque a Igreja Anglicana proibia atividades mundanas nos domingos. E foi assim na Inglaterra até 1973!
O estádio de Wembley estava lotado, até o Cassius Clay (campeão mundial de boxe) estava lá. Com doze minutos, a Alemanha fez 1 a 0 (gol de Haller), mas o Hurst empatou para a Inglaterra aos 16. O ponta esquerda Martin Peters, que jogou contra o Brasil em 70, virou para a Inglaterra aos 33 do segundo tempo. Parecia que ia terminar assim, com a Inglaterra campeã, mas, aos 44 do segundo tempo, teve uma falta para os alemães e Weber empatou. Aos 8 minutos da prorrogação, aconteceu o tal gol do Geoff Hurst: a bola bateu no travessão, quicou em cima da linha e saiu. O juiz suíço deu gol. A Alemanha endoidou e partiu pra cima, mas não deu: no último minuto do segundo tempo da prorrogação, o danado do Hurst marcou de novo e a Rainha Elizabeth entregou a taça para os ingleses.
Aliás, tem um caso muito engraçado sobre a taça: a gente sempre escuta que aqui, no Brasil, é tudo uma esculhambação, porque a Taça Jules Rimet foi roubada e derretida e tal. Só que o que pouca gente sabe é que a taça já havia sido roubada em Londres, antes da copa, de uma exposição no Center Hall de Westminster. A Scotland Yard comandou uma caçada nacional, e um cachorro, chamado Pickles achou a taça, enrolada num jornal, escondida numa moita. Outra coisa muito engraçada é que dizem que a seleção da Coreia do Norte, aproveitava daqueles tempos de confiança total e, na hora do intervalo, trocava os 11 jogadores e vinha com outro time novinho para o segundo tempo. Como eles são todos parecidos, ninguém percebia e eles chegaram até a ganhar da Itália por 1 a 0.
Esta foi uma copa muito violenta, e o técnico da Inglaterra, Sir Alf Ramsey chegou a proibir que seus jogadores trocassem de camisa com os da Argentina, dizendo que ‘não trocamos camisas com animais’. Neste jogo, nas quartas de final, tinha um jogador inglês, chamado Styles, que dava tesouras voadoras nos jogadores argentinos. Aí, o capitão argentino Rattin foi reclamar com o juiz alemão, Rudolf Kreitlein, uma atitude mais enérgica. Como nem o Rattin falava alemão, e nem o alemão falava espanhol, o juiz acabou expulsando o Rattin, só que, como não tinha ainda cartão vermelho nem amarelo, o Rattin não entendeu que estava expulso e continuou em campo mais uns 10 minutos. Dizem que os cartões foram criados, já em 1970, por causa deste episódio. Mesmo com dez em campo, a Argentina segurou o empate de 1 a 1 até os 32 do segundo tempo, quando aí, pimba, ele de novo, o Hurst fez 2 a 1.
Na copa da Inglaterra, o Brasil foi humilhado: depois de ganhar da Bulgária por 2 a 0, jogo no qual o Pelé se machucou, perdemos para a Hungria e para Portugal, ambos por 3 a 1. A convocação da seleção foi tão bagunçada que, na hora de mandar a lista para a FIFA, um dirigente da CBD exigiu que fosse convocado algum jogador do Corinthians e resolveram que seria o beque Ditão. Mas, na hora de datilografar, a secretária bateu o nome do Ditão do Flamengo. Aí, para não passar mais um ridículo, resolveram mandar o do Flamengo mesmo. Mas eu não quero falar mais de 66, pois boa mesmo foi a copa de 70.”

Interrompo o tio porque já vai começar Argentina e México e o tio adora torcer contra a Argentina. Como se viu, não adiantou nada...

(Artigo - Jorge Marin)

sexta-feira, 25 de junho de 2010

E QUE VENHA MAIS UMA COPA...



Capítulo 3 – México 1986, Itália 1990, Estados Unidos 1994

Em 1986, novamente no México, Telê Santana, mais uma vez, comandou nosso excrete canarinho.
Mesmo não podendo ser comparada àquele fantástico time de 1982, ainda achei ser uma boa seleção. Trazia consigo alguns jogadores remanescentes da última copa, entre eles Zico.
Aí começaria a “urucubaca” dos jogos contra a França. Eliminou-nos nos pênaltis, depois que Platini empatou o jogo em 1x1. Neste jogo Zico perdeu um pênalti. Mas até que ficaria de bom tamanho, pois, se vencêssemos, inevitavelmente, teríamos, mais à frente, que passar pela Argentina de Maradona. Por sinal, time este que se sagrou campeão. Perder para os hermanos seria bem pior.
Assisti a estes jogos em minha futura casa, juntamente com Dorinha, Nozinha, Maria Áurea e Susu. Numa improvisada e pequena televisão em preto e branco, ficávamos assistindo os jogos, enquanto saboreávamos uma deliciosa cervejinha.

Já em 1990, na Itália, o técnico era Sebastião Lazzaroni. Ao contrário de muitos entendidos, confesso sinceramente que achava também uma boa seleção. Pena que tivemos que cruzar com nossos amigos argentinos. Jogamos bem melhor e pressionamos todo o tempo. Num lance rápido, de contra-ataque Maradona, num passe magistral, colocou Caniggia dentro do gol. Perdemos de 1x0 para nossas maiores rivais.
Nesta copa, Dorinha, Marcinha Gruppi e eu, fomos assistir aos jogos na casa da comadre e prima Jovania que, recentemente casada, morava bem aqui em frente de casa. E que ressaca após a derrota!

E 1994, nos Estados Unidos, Dunga, hoje técnico da seleção, era o capitão do time.
Carlos Alberto Parreira foi nosso técnico, tendo como seu auxiliar direto Zagallo. Montou-se um time compacto e forte na defesa, mas sem nenhuma criatividade. Felizmente contávamos com a genialidade de um ataque que tinha, nada mais nada menos, que Romário. Mesmo que, de freio de mão puxado, digo de pé puxado, fomos Tetra-Campeões.
Assisti aos jogos no terreiro de minha casa, na companhia de Wilsinho e Claudinho. Boas batucadas aconteceram usando nossos instrumentos de reveillon. Na final, meu cunhado Élcio se juntou a nós. Foi aquele foguetório!

(Crônica – Serjão Missiaggia)

Embora na copa de 1994, tenhamos sido tetra, acho que o mais emocionante, e significativo, foi o jogo do Brasil com a França em 1986 que, aliás, marcaria uma série de confrontos negativos com os franceses. No dia do jogo, era dia 21 de junho e, portanto, aniversário do nosso tricampeonato (16 anos), além de ser aniversário também do Michel Platini, que foi o maior jogador francês até o aparecimento do Zidane. O mais triste do pênalti perdido pelo Zico é que foi na prorrogação, mas, terminada esta, o Zico marcou e o Platini perdeu. Foi assim: Sócrates bateu o primeiro pênalti e o Bats defendeu, Stopyra fez França 1x0; Alemão empatou e Amoros fez 2x1; Zico e Bellone marcaram – 3x2; Branco marcou e Platini chutou para fora – 3x3; aí Júlio César chutou na trave e Fernández marcou, e a França se classificou.

(Comentário – Jorge Marin)

TIO PITOMBO E AS COPAS



Capítulo 4

Estamos esperando o jogo do Brasil com Portugal. Tio Pitombo descasca umas laranjas com seu canivete espanhol. Resmunga que o povo está aproveitando o jogo como pretexto para encher a cara e fazer bagunça. Falo com ele que são coisas de jovens e que, provavelmente, em 1958, ele deve ter feito a mesma coisa.

“Tenho certeza de que eu não fazia essas papeatas não. A gente torcia por amor ao Brasil, vibrava com as jogadas, com a transmissão do Braguinha, o locutor da Rádio Panamericana, que era a que pegava melhor. Mas a transmissão ainda assim era muito fraca, parecia uma sanfona, às vezes aumentava, outras, diminuía e a gente praticamente não ouvia nada. Na Copa de 58, não éramos considerados os favoritos, pois nossa equipe era muito jovem: o Feola, ao contrário do Dunga, relutou um pouco mas convocou o garoto Pelé que era um fenômeno no Santos. Mas tínhamos medo que o time não tivesse o equilíbrio emocional para vencer uma copa, pois muitos dos nossos jogadores eram bons, mas meio indisciplinados, como o Garrinha, por exemplo.
O grande time, capaz de parar a gente, era a Inglaterra. Mas, de novo, como na copa passada, um acidente aéreo acabou ajudando: foi em Munique e o time base da seleção inglesa, que era o Manchester United, perdeu grandes jogadores da época como o Roger Byrne, Edwards e Tommy Taylor. Quem escapou com vida foi um jovem, chamado Bobby Charlton que, em 70, ainda jogou contra nós.
A televisão tem falado muito dessa copa, mas eu acho que o mais importante de tudo foi a atitude do Didi: no jogo final, no estádio Rassunda, a Suécia marcou de cara, logo aos 4 minutos, com Liedholm. Aí deu aquela tremedeira na seleção brasileira, exceto no Didi, a gente chamava ele de Príncipe Etíope, que foi lá no fundo do gol, pegou a bola, levantou a cabeça, ele tinha ganhado da Suécia com o time do Botafogo, e gritou pra todo mundo, imagino que tenha pedido pra terem vergonha na cara. O fato, como você sabe, é que viramos e ganhamos de 5 a 2. Até hoje, lembro o gol de empate, foi assim: o Brasil está perdendo por 1 a 0 para a seleção da Suécia. Vai para o ataque o time brasileiro, a bola está com Zito. Zito conduz pela sua linha intermediária, avança um pouco mais pela direita, Garrincha está solto, é lançado. Domina Garrincha, chama Axbom, passa pela primeira vez, joga para a direita, joga o corpo para a esquerda, saiu-se muito bem, passa para a frente, vai para a linha de fundo, vai se aproximando da linha de fundo. Atenção, cruzou, entra Vavá, atira, e é gol. Gooooooooolllllll da seleção brasileira. Está empatada a partida na Suécia.”

Ver aquele velho gritando gol dá um arrepio e até um nó na garganta. Paramos para assistir ao jogo do Brasil. Saio para ver as comemorações, mas não tem comemoração, também não há muito para se comemorar: um Brasil apático e uma seleção portuguesa um pouco ressabiada, talvez pelos 6 a 2 da última partida. Depois, volto para assistir Espanha e Chile com o Tio e ele parece muito feliz por jogar contra os chilenos.

“Me lembro bem que o jogo entre Brasil e Chile, na copa de 1962, estava marcado para o Estádio Sausalito em Viña Del Mar, mas, para dar mais renda, foi transferido para o Estádio Nacional em Santiago. Tinha muito país europeu querendo sediar esta copa do mundo, mas a FIFA entendia que, após duas copas na Europa, era a vez de um país americano. Quem comandou a reforma e a construção dos estádios (este Sausalito era novinho, foi construído para a copa) foi um brasileiro naturalizado chileno chamado Carlos Dittborn. Ia indo tudo muito direitinho até que, em maio de 1960, um terremoto arrasou o Chile. Acho que foi 9,5 pontos na escala Richter. O fato é que morreram 5.000 pessoas e 25% da população ficou desabrigada. Pensaram em cancelar a copa, mas esse brasileiro falou uma frase que ficou famosa, ‘Porque nada tenemos, lo haremos todo’ (porque nada temos, faremos tudo). E não é que as obras ficaram prontas antes do combinado?
Mas, voltando ao jogo do Brasil com o Chile, foi numa quarta-feira, dia 13 de junho e o Estádio Nacional estava atopetado de gente, quase 73.000 pagantes. Esta mudança de local gerou um bafafá danado: o Paulo Machado de Carvalho, que era o chefe da delegação, vestiu o terno marrom que tinha usado na conquista da copa de 58, proibiu que os jogadores comessem qualquer coisa no hotel: de manhã cedo, foi um pessoal da comissão técnica para comprar salame, mortadela, queijo e pão. O jogo foi às duas e meia da tarde e nosso time só comeu sanduíche. Ah, e tivemos que viajar escondidos também: com medo de alguma hostilidade, não fomos de ônibus para Santiago, mas de trem; nosso ônibus ficou escondido num bairro de Santiago onde o trem parava, aí descemos do trem, pegamos o ônibus e fomos para o estádio.
O jogo, como você deve saber, porque está passando na televisão o dia inteiro, foi 4 a 2 para nós: Garrincha, que acabou expulso, marcou aos 9 e aos 31, o tal de Toro descontou e o primeiro tempo ficou 2 a 1. No comecinho do segundo tempo, o Vavá fez 3 a 1, Sanches diminuiu aos 16 e o Vavá fechou a goleada aos 32.
Na final, com a Tcheco-Eslováquia, que tinha machucado o Pelé nas oitavas, mandamos 3 a 1, com gols do Amarildo, Zito e Vavá. E acho que fomos injustos com os chilenos, porque eles torceram descaradamente para nós. No sábado, eles tinham disputado o terceiro lugar com a Iugoslávia, foi um jogo duríssimo, em que o Chile ganhou nos 45 minutos do segundo tempo com um gol de Rojas. A torcida cantavam um refrão assim: hoy Chile tercero, mañana Brasil en primero!
Você vem amanhã para assistir Uruguai e Coreia do Sul?”

Não, tio, amanhã eu não posso, mas, com certeza, venho no domingo para assistirmos Inglaterra e Alemanha.

(Artigo - Jorge Marin)

terça-feira, 22 de junho de 2010

TIO PITOMBO E AS COPAS



Capítulo 3

Não adianta, eu não quero falar dessa copa! Foi outra marmelada, desta vez dos alemães. Se você quiser, eu falo dele.”

Tio Pitombo é teimoso. Entende que houve trapaça na copa de 1954 e esta pessoa, ele, é o Ferenc Puskás, um dos maiores jogadores de todos os tempos. Fala dele, então, tio, mas, antes, dê uma passadinha pela copa. Foi na Suécia?

“Não, meu filho, foi na Suíça. É que, por causa da segunda guerra, o Jules Rimet tinha transferido a sede da FIFA para Zurique, onde está até hoje. Esta copa teve dezesseis países e, principalmente por causa da seleção da Hungria – e do Puskás – tivemos a maior média de gols de todas as copas – foi 5,38 por partida. Também, veja só: na primeira fase a Hungria ganhou da Coreia do Sul por 9 a 0; da Alemanha Ocidental por 8 a 3, da gente (Brasil) por 4 a 2 e do Uruguai, que tinha sido campeão em 50, por 4 a 2 também. Teve um jogo que foi recordista em gols em toda a história da copa: foi Áustria e Suíça, que ficou 7 a 5 para os visitantes.
Nesta copa é que nós começamos a usar a camisa amarela e o calção azul (foi um gaúcho que desenhou este uniforme) porque aquele uniforme branco deu azar em 1950, lembra? A gente estava no Grupo A e aconteceu um negócio engraçado, que foi o seguinte: ganhamos do México de 5 a 0 e a Iugoslávia ganhou de 1 a 0 da França; aí, o México foi jogar com a França mas, como os dois tinham uma derrota, bastava empatarmos com a Iugoslávia e ambos os times estariam classificados para a outra fase. O problema é que os brasileiros não entenderam o regulamento direito e acharam que tinham que ganhar da Iugoslávia, jogaram como leões, os eslavos gritavam: vamos empatar que a gente passa, mas ninguém entendia a língua deles também. Com muito custo, empatamos o jogo, com um gol do Didi, aos 25 minutos do segundo tempo, e aí, quando o jogo terminou, todo mundo abriu a boca a chorar, até que um delegado da FIFA, que falava português, corrigiu o mal entendido.
A final da copa, no Wankdorf Stadium, em Berna, foi parecida com a final de 1950, no Maracanã. Como nós, a Hungria era franca favorita. Tinha mais de 60.000 pessoas no estádio. Estava chovendo bastante e o dono da Adidas fez umas chuteiras especiais (com cravos intercambiados) para os alemães. Com 4 minutos, o Puskás fez 1 a 0, com 6, já estava 2 a 0 para a Hungria. Todo mundo pensou que a Hungria ia repetir os 8 a 3 do primeiro jogo. Mas o time alemão era outro: na primeira fase, tinham jogado com o time reserva, além de muita gente afirmar que, como não tinha exame anti-dopping, os alemães terem jogado com estimulantes. Eu não sei, o fato é que eles diminuíram aos 10 minutos e empataram aos 19. Aí ficaram ali, cozinhando galo, até que, aos 39 do segundo tempo, a defesa da Hungria rebateu uma bola e o tal Rahn pegou a sobra, driblou um beque, e fez 3 a 2 para a Alemanha. Pronto: tá aí o Milagre de Berna.
O Puskáz tinha, na época, 27 anos: era baixinho, meio gordo, tinha gente que chamava ele de anão de jardim. Ele era do exército húngaro e era conhecido como Major Galopante. Passava brilhantina no cabelo e penteava pra trás, igual o nosso Heleno de Freitas, só que o Puskás era bem mais feioso. Mas, no campo, não tinha igual. Depois que a copa acabou, o time dele – o Honvéd – estava na Espanha, onde ia jogar com o Atlético de Bilbao pela Copa dos Campeões da UEFA, quando aconteceu a Revolução Húngara de 1956, que foi sufocada pelos soviéticos, o tal do Pacto de Varsóvia. O Puskáz conveceu o time dele a ficar direto na Espanha mas, como não tinham como se sustentar, ficaram fazendo exibições pelo mundo inteiro. Até aqui, no Brasil, eles vieram jogar contra o Flamengo e o Botafogo. Mas a FIFA proibiu que eles continuassem jogando até regularizar a situação com a Federação Húngara, e o Puskáz ficou assim sem eira nem beira, envelheceu, engordou até que, em 1958, teve a situação regularizada e foi jogar no Real Madrid. Dizem que, quando o baixinho chegou lá, dezoito quilos mais gordo, perguntou pro presidente do Real: o senhor me viu? Eu estou gordo. E o presidente do Real, que era o Santiago Bernabéu, este que dá nome ao estádio hoje, respondeu: isto não é problema meu, é problema seu. Naquela temporada, o Barcelona foi campeão, mas o danado do húngaro marcou 21 gols. Na outra temporada (1959/1960), ele marcou 25 gols, inclusive três na final com o Barcelona e o Real Madrid foi campeão da Copa dos Campeões. Na temporada 60/61, ele marcou 27 gols; em 62/63, 26 gols; na seguinte, 20 e, finalmente, em 65/66, e já com 39 anos, ele parou de jogar futebol. Mas, eu tenho um livro dele aqui, que eu comprei em 1998. Dá uma olhada.”

Como sempre, o tio já entrega o livro com a página marcada. O livro – Puskáz, uma lenda do futebol – até que não está muito velho. Leio a página marcada:
"Quando olho para trás, vejo que ao longo de minha vida uma única linha se desenvolveu - apenas o futebol. Foi uma linha simples, direta, sem ambições conflitantes. Desde aquele momento na minha infância quando ouvi o misterioso clamor da multidão no estádio Kispest, a apenas alguns metros de distância da janela da nossa cozinha, acho que já estava predestinado."
Puskáz morreu em 2006, de pneumonia e o seu enterro foi pago pelo Estado.
Peço para o tio, para lembrarmos de coisas mais alegres, como o Brasil em 1958. Ele arregala os olhos e fala:

“Você sabe que, naquele ano, a CBD (antigo nome da CBF) esqueceu de botar o número dos jogadores nas camisas e a FIFA é que teve de escolher aleatoriamente? Pois é, e por uma dessas coisas do destino, escolheram a camisa 10 para um reserva, um negrinho franzino, o tal do Pelé. Mas eu não vou contar esta história agora não, porque vou assistir o jogo da Argentinha: vou torcer para a Grécia.”

(Artigo - Jorge Marin)

sexta-feira, 18 de junho de 2010

E QUE VENHA MAIS UMA COPA...



Capítulo 2 - Alemanha 1974, Argentina 1978 e Espanha 1982

Já em 1974, ainda sob o comando de Zagallo, nosso time era super-favorito. Chegamos à Alemanha com aquela pinta de campeões. Puro engano! O carrossel holandês, também conhecido como laranja mecânica, comandado pelo genial Cruyff, passou sobre nós como um gigantesco espremedor de frutas. Não teve outro jeito, e Jairzinho, Rivelino e outros tiveram mesmo que voltar mais cedo.
Nos primeiros jogos eliminatórios, procurávamos sair correndo do ginásio, até o largo da Matriz. O negócio era ir assistir ao jogo na casa de um amigo, pois poucas residências na cidade tinham o privilégio de possuir uma televisão em cores. Na casa de nosso amigo já existia uma. Época também em que a Tipografia colocava uma dessas televisões para que todos pudessem acompanhar os jogos na calçada. E ficava lotado. Era gente procurando subir em carroceria de caminhão e tudo mais que encontrava pela frente. O objetivo era achar o melhor ângulo que pudesse visualizar melhor a TV.
Mas, o fatídico jogo contra a Holanda eu estava assistindo ao lado de meu primo Dante em sua casa. Fazer o que! Holanda 2x0

A de 1978, na Argentina, pouco aconteceu. Pra ser sincero, acho até que aconteceu muito, pois foi um campeonato vergonhoso.
Teve um jogo em que a Argentina, dona da casa, precisava vencer o Peru por uma diferença de cinco gols, pois havia empatado em 0x0 com o Brasil. A vaga seria então decidida entre os dois países, no saldo de gols. Para se classificar, numa vaga que poderia ser nossa, teria que vencer o Peru por 5x0. E não deu outra. Ganharam por 6x 0. O Peru não estava nem aí! Amoleceu feio! Por sinal, esta grande farsa viria anos depois ser oficialmente confirmada por um jogador peruano.
Assisti aos primeiros jogos desta copa na casa da Cristina Itaborahy e aos demais na casa da tia Irineia. Assim, sem perder uma única partida, o Brasil, que estava sendo comandado por Cláudio Coutinho, voltaria invicto.

Se não fosse a memorável Copa de 1970 no México, diria que esta de 1982 na Espanha, teria me marcado mais. A começar pelo mágico time do Brasil.
Quem não se lembra daquela seleção do Zico, Falcão, Cerezzo, Éder, Sócrates e companhia? Pura arte que, sob a batuta do mestre Telê Santana, encantaria o mundo.
Pena que a desacreditada Itália, com seu atacante Paolo Rossi, desfaria, numa única partida, o tão sonhado titulo. Com três gols fulminantes, sacramentou aquilo que até então parecia impossível. Itália 3x2.
Assisti aos jogos na casa do Márcio. Lá nos reuníamos em torno de umas vinte pessoas.
Até hoje, não sei como aquele terraço não desabou com nossos pulos de alegria, acompanhados de um “tremendo” foguetório. Era muito legal assistir lá de cima, principalmente quando o Brasil fazia um gol e os fogos ficavam a explodir pela cidade.
Após a derrota, descemos todos embasbacados, e ficaríamos ainda sentados na pracinha do Coronel por um longo tempo. E eis que passa por nós o saudoso amigo Dolfo. Num ato de consolo, após ver nossas caras, disse que estava indo pra casa pra ficar aguardando o resultado do exame anti-dopping da partida. Somente se daria por vencido, depois que certificasse que tudo realmente teria sido valido. Pura ilusão.

(Crônica - Serjão Missiaggia)

quinta-feira, 17 de junho de 2010

TIO PITOMBO E AS COPAS



Capítulo 2

Depois da vitória do México sobre a França, vou lá na casa do Tio Pitombo pra ver a versão dele, mas ele não esqueceu nosso papo sobre as copas e já me espera com a pergunta engatilhada:

“Você queria falar sobre o Maracanaço outro dia, lembra?. Olha aqui.” E vem trazendo um livro antigo. A capa, meio amarelada pelo tempo, informa: A história maravilhosa da Copa do Mundo e o autor, nada mais nada menos, do que o próprio Jules Rimet. O tio já traz as páginas marcadas e eu leio:
"Ao término do jogo, eu deveria entregar a Copa ao capitão do time vencedor. Uma vistosa guarda de honra se formaria desde a entrada do campo até o centro do gramado, onde estaria me esperando, alinhada, a equipe vencedora (naturalmente, a do Brasil). Depois que o público houvesse cantado o hino nacional, eu teria procedido a solene entrega do troféu. Faltando poucos minutos para terminar a partida (estava 1 a 1 e ao Brasil bastava apenas o empate), deixei meu lugar na tribuna de honra e, já preparando os microfones, me dirigi aos vestiários, ensurdecido com a gritaria da multidão. Eu seguia pelo túnel, em direção ao campo. A saída do túnel, um silêncio desolador havia tomado o lugar de todo aquele júbilo. Não havia guarda de honra, nem hino nacional, nem entrega solene. Achei-me sozinho, no meio da multidão, empurrado para todos os lados, com a Copa debaixo do braço."

O tio interrompe minha leitura e fala: “Acho que ele resolveu voltar pro vestiário, com medo de roubarem a taça, mas aí apareceu o Obdulio Varela e pegou a amarelinha mais que depressa. Vê aí no livro o que é que o Jules falou pra ele.” Leio: “ "Estou feliz pela vitória que vocês acabam de conquistar. Cheia de mérito, sobretudo por ter sido inesperada. Com minhas felicitações".

Tio Pitombo resmunga: “A taça era nossa, mas foram fazer papeata: só na missa de manhã, que o Flávio Costa obrigou todo mundo a assistir, foram duas horas, de pé. Fora os cumprimentos antecipados e as politicagens. Além disso, a seleção ficava concentrada no Joá e decidiu ir pra São Januário, campo do Vasco. Se, pelo menos, fosse pra General Severiano, a história poderia ter sido outra!
Da mesma forma que eu falei que a copa de 34 foi armada pra Itália ganhar, esta de 50 era toda pra nós. Veja só: por causa da guerra, não teve copa, nem em 42 e nem em 46. Como a Europa estava toda arrasada, aceitaram a proposta do Brasil. E, para melhorar o negócio pra nós, várias seleções desistiram de vir, depois de classificadas: França, Turquia, Portugal, Índia e Birmânia. A Escócia, quando soube que a Inglaterra viria, desistiu também. O Japão estava ocupado. A Alemanha também, além do processo de divisão em Alemanha Ocidental e Oriental. A Itália veio, dizem que a FIFA custeou a viagem, mas, para facilitar ainda mais a nossa vida, o time tinha sofrido uma baixa terrível, pois o time inteiro do Torino, que era a base da Azurra, sofreu um acidente aéreo em 1949, em que todos morreram. Esta data ainda hoje é lembrada na Itália, no dia 4 de maio, como a Tragédia de Superga, que era o nome da basílica na qual o avião bateu.
Bom, mas tirando a tristeza da Itália de lado, aqui era tudo alegria: nosso time tinha Zizinho, Barbosa, Bauer e Ademir, o Queixada, que acabou como artilheiro da Copa, e jogávamos no Maracanã novinho em folha. O Brasil arrebentou: 4 a 0 no México, 2 a 2 com a Suíça (mas aqui a gente tem que lembrar que, como o jogo foi no Pacaembu, só jogaram paulistas na Seleção, até hoje eu não entendi porquê), depois foi 2 a 0 na Iugoslávia. Como a copa só tinha 13 participantes, a final foi decidida num quadrangular entre Brasil, Suécia, Espanha e Uruguai.

O Brasil mandou 7 a 1 na Suécia, o Uruguai empatou em 2 a 2 com a Espanha, o Brasil arrasou a Espanha por 6 a 1 e o Uruguai foi jogar com a Suécia. Se empatasse, o Brasil seria campeão antecipado: a Suécia fez 1 a 0 logo aos cinco minutos, o Uruguai empatou com o Ghiggia aos 39 do primeiro tempo, mas a Suécia fez 2 a 1 um minuto depois. No intervalo, éramos campeões antecipados. Foi assim até os 32 do segundo tempo, quando o Uruguai empatou de novo. Continuávamos campeões. Mas aí, aos 40 do segundo tempo, este jogo foi no Pacaembu, um tal Miguez virou: 3 a 2 pro Uruguai.
Aí, no dia 16 de julho, com o Maracanã lotado, dizem que estava tão cheio que as 200.000 pessoas tinham que ficar de pé e de lado pra caber, aconteceu aquela desgraceira: 0 a 0 no primeiro tempo; Friaça fez 1 a 0 pra nós logo aos 2 minutos do segundo tempo, Schiaffino empatou aos 21 e o danado do Ghiggia virou aos 34. Resultado: Uruguai bicampeão e nós chupando o dedo.”

O velho levanta e sai em direção à cozinha. Semana que vem, eu vou provocar mais. Sei que ele é fã do húngaro Puskas, além de vibrar com o nosso bicampeonato em 1962. Aguardem.

(Artigo - Jorge Marin)

TIO PITOMBO E AS COPAS



Capítulo 1

Tio Pitombo é aquele tipo de parente que, algumas vezes irrita, outras vezes encanta. Como todo idoso – ele já está caminhando para os 90 – gosta de elogiar os velhos tempos, bons tempos, segundo ele. Quando tenho pressa, procuro evitá-lo, mas, quando posso, escuto seus causos que, além de engraçados, falam de uma moral e de uma ética que não existem mais, mas deveriam ter continuado a existir.
Nestes dias de Copa do Mundo, seu assunto não poderia ser outro:

“Eu era menino pequeno, mas o futebol não era essa ganância que é hoje: em 1928, 29, eram todos amadores. Meu pai me dizia sempre que o Uruguai era um azougue: tinha sido campeão olímpico por duas vezes e, por este motivo, recebeu de presente daquele rapaz francês... Como era mesmo o nome daquele presidente da FIFA? Ah, sim, era Jules Rimet, pois é, o Uruguai ganhou de presente, para comemorar o centenário da independência deles, a primeira Copa do Mundo de Futebol, em 1930.
Como era de se esperar, a maioria das seleções europeias não veio pra cá por causa da demora da viagem (de navio) e também porque era muito caro. Só vieram: a França, a Bélgica, a Iugoslávia e a Romênia. Quem marcou o primeiro gol das copas do mundo foi um francês, chamado Lucien Laurent, no jogo contra o México. A França tinha um capitão chamado Villaplane que, na época da ocupação alemã, ajudou os nazistas, e acabou fuzilado por traição em 1945.
A seleção brasileira, como costuma acontecer hoje em dia, era uma grande esculhambação: por causa de briga entre as federações do Rio e de São Paulo, acabou indo um time só de cariocas, com um único paulista, um tal de Araken. Não deu outra: fomos eliminados, de cara, pela Iugoslávia por 4 a 1. Quem fez o nosso gol foi o Preguinho, que era filho do escritor Coelho Neto. O nosso goleiro, Veloso, foi o primeiro a pegar um pênalti nas copas: foi contra a Bolívia (ganhamos de 4 a 0).
A final da copa, entre Uruguai e Argentina, foi quase uma guerra de verdade: pra proteger os argentinos, que foram torcer na final, os uruguaios tiveram que colocar 10.000 policiais, uma verdadeira revolução. O mais engraçado é que o centerfor (centro-avante) da Argentina teve que faltar ao jogo com o México porque tinha prova na faculdade na mesma hora. Aí entrou o reserva dele, Guillermo Stábile, que fez três gols no jogo e acabou artilheiro da copa, com oito.
Outra coisa muito engraçada que aconteceu foi no jogo da Argentina com os Estados Unidos: o médico americano invadiu o campo pra reclamar de uma falta que o juiz tinha marcado, mas o homem estava tão nervoso, que deixou cair a sacola e a garrafa de clorofórmio, que tinha lá dentro, quebrou. Resultado: o médico desmaiou e teve que sair carregado.
Na noite anterior ao jogo final, outra polêmica: o cantor Carlos Gardel visitou a concentração da Argentina pra dar uma força, mas, depois, foi na concentração do Uruguai também. Foi um Deus nos acuda, pois os argentinos consideraram aquilo uma traição, já que o cantor era uma espécie de patrimônio nacional, embora os uruguaios jurem de pés juntos que ele nasceu no Uruguai, numa cidade chamada Tacuarembó. Eu sei é que o Uruguai acabou tacando o tacuarembó na Argentina: foi 4 a 2 num Estádio Centenário com mais de 93.000 pessoas.”

Interrompo a “viagem” do tio mas, como estou gostando do papo, pergunto pela Copa de 1934. Os olhos dele brilham. Mas, é de raiva:

“Dessa copa eu não falo porque foi pura marmelada, foi tudo armado pelo maledetto (Mussolini, a quem o tio atribui tudo o que há de pior na Itália) que, antes da copa, reuniu os juízes, principalmente um sueco chamado Ivan Eklind que apitou a final, para uma conversinha. Eu não sei do que conversaram, mas o fato é que muitos pênaltis contra a Itália deixaram de ser marcados, e muitas faltas inexistentes a favor deles foram, além dos gols contra a Itália que foram anulados. Desta vez, foi o Uruguai que não veio pra Itália, em represália ao boicote feito na sua copa. O Brasil, como de costume, continuou naquela brigalhada entre cariocas e paulistas, e já fomos eliminados de cara, pela Espanha, que ganhou de 3 a 1.
O time da Itália foi todo reforçado: o jogador Montique, que tinha sido campeão pela Argentina em 1930, foi chamado para defender a Itália com o nome de Monti e até aqui do Brasil eles levaram reforço: tinha um jogador do Corítians, chamado Filó, que também era descendente de italianos e foi defender a Azurra, com o nome de Guarisi. Ainda tinha mais dois Argentinos naturalizados: Guaita e Orsi. Na final, não deu outra: Itália 2 a 1 na Tchecoslováquia, na prorrogação, no Estádio Olímpico em Roma.
A única coisa boa que ficou desta copa foi o seguinte: naquele jogo contra a Esapanha que eu falei, teve um pênalti pra nós, e quem cobrou foi o Waldemar de Brito. Ele errou e, logo depois, largou o futebol e foi ser olheiro: acabou descobrindo, no Bauru Atlético Clube, um negrinho franzino, que ele levou para o Santos, em 1956: o nosso Pelé.”

Pergunto: mas a Itália ganhou em 38 também. Então ela não era tão ruim assim. Mas o tio não concorda:

“Mas como é que, em plena época de início do nazismo, alguém podia ter alguma tranquilidade para disputar copa, exceto a Itália? Pra começo de conversa, foi nessa copa que inventaram a regra que desobrigava o campeão do mundo e o país sede de disputar as eliminatórias: com isso, tanto a Itália quanto a França se classificaram automaticamente, deixando as outras 14 vagas para os outros países.
Por exemplo, a Espanha não pôde ir porque estava em Guerra Civil. No jogo contra a Suécia, a Áustria não apareceu em campo. Sabe por quê? É porque o Hitler tinha invadido o país e levou a seleção austríaca inteira pra jogar pela Alemanha. A Suécia ganhou por W.O.
Nesta copa, aconteceu uma coisa inédita no Brasil: cariocas e paulistas não brigaram e mandamos uma seleção muito boa pra França. Tínhamos um grande jogador, o Leônidas da Silva, chamado o Diamante Negro, que fez uma coisa que eu nunca vi, e sei que nunca ninguém mais vai ver: um gol descalço. Estava chovendo no jogo contra a Polônia e a chuteira dele soltou a sola no barro. Enquanto eles estavam consertando, teve uma falta pro Brasil. No rebote, o Leônidas não pestanejou: sentou o pezão na bola e marcou o gol. Foi 6 a 5 pra nós. A camisa azul deu sorte. Até então, jogávamos só de branco, mas como a camisa da Polônia também era branca, jogamos com a azul, que só era usada nos treinos. Demos azar de, na semifinal, cair com a Itália. Aí não teve jeito: o Leônidas, não sei porquê até hoje, não jogou, e perdemos de 2 a 1. Mas ficamos com o terceiro lugar (ganhamos da Suécia por 4 a 2). Pra você ter uma ideia de como era a Itália na época, o jornal La Gazzeta noticiou a vitória sobre o Brasil dizendo que era o triunfo da inteligência branca italiana sobre a força bruta dos negros. Enquanto todos os países viajavam de trem ou de ônibus entre as cidades, a Itália viajava de avião pra lá e pra cá, a não ser neste jogo contra o Brasil, quando o avião pifou e eles tiveram que viajar de Toulouse até Marselha de trem.
Na final, Itália 4, Hungria, que era uma seleção bem forte também, 2.”

Pergunto: e 50, tio? E observo os olhos dele brilharem de novo. Mas agora é uma mistura de tristeza e desolação. É assunto pra outro dia, pra outro artigo.

(Artigo: Jorge Marin)

sexta-feira, 11 de junho de 2010

E QUE VENHA MAIS UMA COPA...



Capítulo 1 - Inglaterra 1966 e México 1970

É interessante como podem certos acontecimentos, ou mesmo algumas notícias, se fixarem em nossa memória. Raramente nos esquecemos de onde nos encontrávamos ou quem seriam aquelas pessoas que estavam conosco em alguns fatos marcantes de nossa vida.
Apenas para terem uma ideia, acredito que poucos serão aqueles que não se lembrarão do momento em que receberam a triste noticia da morte de Ayrton Senna ou onde estariam numa daquelas Copas do Mundo em que o Brasil foi campeão.
E é justamente sobre isso que vamos falar.
Aproveitando então o início de mais um campeonato mundial de futebol, será que alguém se lembraria de detalhes ou mesmo de onde ou com quem teria assistido jogos de Copas anteriores? Tentem se lembrar!

Comigo tudo teria começado assim:
Estava brincando na laje da varanda, quando gritos eufóricos, vindos da direção da Fábrica de Macarrão que, na época, funcionava ao lado de minha casa, teriam me assustado bastante. Era dia 19 de julho de 1966 e eu, com apenas 10 anos, somente iria entender tempos depois que, naquele momento, estariam jogando Brasil e Portugal.
Meu pai havia dado uma pausa nas máquinas para que assim, junto aos demais funcionários, pudessem acompanhar, pelo rádio, o referido jogo. Só sei que perdemos de 3x1 para o time do atacante Eusébio. Neste jogo, demos adeus ao tri-campeonato. Frustração total, pois, nem nas quartas-de-final, conseguiríamos chegar. Voltamos mais cedo da Inglaterra, trazendo na bagagem, nada mais e nada menos, que Pelé, Garrincha, Jairzinho e companhia. Mesmo não me recordando, o técnico, nesta copa foi Vicente Feola.

Em 1970, no México, foi inesquecível. Nunca haverá outra copa igual. Tudo conspirava contra nós e, mesmo assim, acabaríamos, sob o comando do técnico Zagallo, tri-campeões do mundo. Como não poderia sagrar-se campeã uma seleção, que compunha seu ataque com Tostão, Rivelino, Jairzinho e um tal de Pelé?
Pra variar, fui assistir a alguns jogos ao lado de Silveleno, sendo que, em um deles, aqui em casa, também na companhia de meu pai, quebramos um sofá ao pularmos na hora de um gol. O velho apenas nos disse:
- Se o Brasil vencer tudo bem, mas, se perder, vocês terão que me pagar o sofá. Brincadeira ou não, por sorte, o Brasil venceu.
Na memorável final contra a Itália, estávamos, Silveleno e eu, assistindo ao jogo na casa de minha irmã Edna que, na época, residia na Rua do Sarmento. Depois, foi apenas ir para a marquise e ficar vendo, lá de cima, a multidão eufórica começar, aos poucos, invadir a rua. Nunca vi outra festa igual.

(Crônica – Serjão Missiaggia)

É curiosa a lembrança da Copa de 1966, porque achávamos o fato de receber a transmissão “ao vivo” pelo rádio, vinda da Europa, uma maravilha tecnológica sem precedentes. Eu havia ganho, do meu pai, um radinho japonês Mitsubishi, e me sentia o máximo. O jogo contra a seleção de Portugal já era temido, pois embora tivéssemos estreado bem contra a Bulgária (ganhamos de 2x0, com gols de Pelé e Garrincha), fomos mal contra a Hungria, de quem perdemos por 3x1 (nosso gol foi marcado pelo jovem Tostão). A súmula do jogo pode ser consultada na Internet, no endereço http://www.fifa.com/worldcup/archive/edition=26/results/matches/match=1598/report.html . O técnico da seleção de Portugal era o brasileiro Oto Glória e, como disse o Serjão, o artilheiro Eusébio “deitou e rolou”: marcou o segundo gol de Portugal, aos 27 minutos do segundo tempo, e o terceiro aos 40 do segundo.
A Copa de 70 também marcaria um avanço tecnológico surpreendente: a transmissão de TV via satélite. Dizem que a Televisa mandou seus funcionários estagiarem na BBC de Londres, a partir da copa de 1966, que foi transmitida ao vivo por toda a Europa.
Alguns dias antes da Copa, outro fenômeno televisivo teve início, a novela Irmãos Coragem, transmitida pela TV Globo, lançada para que os homens também se interessassem por novelas, já que misturava bangue-bangue com romance. Durante a Copa, muitos marmanjos, após se deliciarem com a transmissão vibrante de Geraldo José de Almeida (“que que é isso, minha gente?”, “linda, linda, linda”, “rivelinoooo”), ficavam de bobeira na sala, para ver o que iria acontecer com o João Coragem (Tarcísio Meira), e seus irmãos, Jerônimo (Cláudio Cavalcanti) e o Duda (Cláudio Marzo) que acabou jogando no Flamengo.
No mundo real, nossos atletas saíram desacreditados do Brasil, pois havia uma grande confusão nos bastidores da Seleção, onde nosso técnico, João Saldanha, comunista de carteirinha, foi “persuadido” pelos militares a se afastar do comando da equipe. Apesar das injunções políticas, que culminaram com a convocação do trambolho Dario, o Peito de Aço, nossos jogadores fizeram o que sabiam, e deram um show de bola inesquecível, conseguindo aliar técnica, tática e beleza. Nunca uma seleção jogou tão bem, de forma tão bonita, e ser tão eficaz. Para nós, que vivenciamos aquele momento, acredito ter sido a grande alegria coletiva de nossas vidas!

(Comentário – Jorge Marin)

NA PRÓXIMA SEMANA - O carrossel holandês de 74, o vigor meio suspeito da Argentina em 78, e uma das melhores seleções brasileiras, derrotada em 1982.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

FALO BRASIL



Falo Brasil
Como quem soletra perplexidade
Chamam de chão o que pisamos
Mas trata-se de uma trama de sonhos
De um marulhar de sussurros encantados
E de um passaredo interminável em arrebol

Falo Brasil
Como quem saboreia uma amora
São cios multiplicados que inspiram
A palavra soa como um atabaque e
O coração responde que bate
E arremessa mais fundo

Falo Brasil
E um eco retorna liberdade
A soleira da porta é um teatro de crianças
Que brancas negras e um bando de insetos
Escancara a paisagem onde o mandacaru
E os preás decretam uma terra seca e só.

Falo Brasil
Mas poderia falar Tegucigalpa
Ou de esmeraldas verdes em cornucópias
Que dariam para encher bateias gigantes
Falo das chances de viver em palafitas
Falo de dentro do caule do solo e do chip.

Acordo com uma luz que é ao mesmo tempo paz
E falo Brasil
E chove e soletro estas sílabas
Enquanto as mães levam os filhos
E lavam as roupas.

De repente, não falo mais nada
E é Carnaval em alguma capitania
Enquanto nas colinas de Ouro Preto
Estátuas brincam e igrejas com câmeras
De vigilância amplificam hinos e choro
Porque já não há mais nada
Que lembre
Pátria.

(Poesia - Jorge Marin)

sábado, 5 de junho de 2010

LAMENTO DAS ÁGUAS



Amigo que passa em águas escuras,
tão frágil, procura o caminho do mar,
vidas inocentes, tantas mortes prematuras,
De mentes: insanas, dementes e impuras.

Nas entranhas das pedras um cheiro feroz,
matando você, matará todos nós,
cobiça semeando sede,
onde havia rede, só existe dor.

Algoz é o que seremos do futuro,
banidos e nulos, se o suor nossa mão não molhar,
filhos da indiferença, cativos do destino,
do pouco ou quase nada que ainda restar.

É preciso renascer...
Respirar alienado da gana irracional.
É preciso sobreviver...
Libertar a nascente pequenina,
Que, lá do alto, bem do alto da colina,
irá descer e desaguar águas límpidas, cristalinas,
que nos farão viver.

Ainda há chance, ainda há chance...
É o momento de mudar,
ainda há tempo, ainda há tempo...
É o momento de acordar,
não deixar que o rio passe e vá embora,
enquanto a vida ficar.

(Poesia - Sérgio R. Missiaggia/abril-2003)


Hoje, 5 de junho, dia do Meio Ambiente, vemos que, passados sete anos, a mensagem desta poesia do Serjão continua mais do que nunca atualíssima. Pode parecer bobeira, ou excesso de zelo, mas a preocupação com o meio ambiente é necessária e tem que ser passada aos nossos filhos e netos. Ainda no começo desta semana, vendo meu vizinho lavando seu carro, a garagem e a rua, pedi a ele que moderasse o uso da água, e ele me respondeu:
- Eu posso usar à vontade: estou pagando! – e deu boa gargalhada.
Anteontem à noite, a adutora aqui de Juiz de Fora se rompeu, e ainda hoje estamos todos nós, pagantes ou não, totalmente sem água.
Às vezes é preciso uma poesia, ou um acidente, para nos lembrar da difícil situação mundial em relação ao uso dos 2,5% de água doce disponíveis no planeta. Segundo relatório da Unesco, mais de um sexto da população mundial, ou o equivalente a 1,1 bilhão de pessoas, não tem acesso ao fornecimento de água doce.
Destes 2,5% de água doce existentes no mundo, somente 0,4% estão disponíveis em rios, lagos e aqüíferos subterrâneos, apesar da Terra possuir cerca de 1,39 bilhões de km3 de água. E o pior é que, com o desmatamento, a poluição ambiental e as alterações climáticas dela decorrente, estima-se que será reduzido em um terço o total de água doce disponível no mundo. Enquanto isso, ações que poderiam reduzir o desperdício desse líquido cada vez mais raro e, portanto, precioso, demoram a ser tomadas pelas diferentes instâncias governamentais.
O governo sabe que o maior consumo de água doce é na agricultura, responsável por 69% do uso, e também que as grandes metrópoles têm edificações com sistemas hidrossanitários (bacias e válvulas sanitárias, torneiras, chuveiros, entre outros) gastadores.
Ações globais e estruturais, como a irrigação por gotejamento, em vez da usual por aspersão, e o incentivo à implantação de programas de uso racional da água economizariam milhões de metros cúbicos, evitando assim a necessidade de novos reservatórios de água que, além de caros, prejudicam o meio ambiente, pois inundam matas ciliares com o alagamento.
Para se ter uma ideia, o lendário prefeito de Nova York, Rudolph Giuliani, mandou que fossem instaladas, entre 1994 e 1996, mais de um milhão de bacias sanitárias economizadoras, com incentivo aos moradores e empresários para as trocas, e passou a poupar, vejam, 216 milhões de litros de água por dia!
Mas, enquanto isto não acontece aqui em nosso país, há medidas que cada um de nós pode tomar, dentro de sua casa, no seu ambiente de trabalho e em sua comunidade. E, por que não, interessar-se mais por política, ainda que ambiental. Afinal de contas, como dizia o célebre economista inglês Arnold Toynbee: “o maior castigo para aqueles que não se interessam por política, é que serão governados pelos que se interessam.”

(Artigo - Jorge Marin)

quarta-feira, 2 de junho de 2010

COMENTANDO COMENTÁRIOS



Navegando pela rede, vemos as falas, falas articuladas, bem embasadas e multivariadas. São milhares de mestres em suas respectivas áreas, ditando regras, aconselhando, ou simplesmente fazendo devaneios e esperando serem ouvidos, lidos, levados em conta. Lemos, se gostamos, ou ficamos curiosos, tomamos conhecimento, relemos, às vezes até nos indignamos. Mas é só... A fala, na grande rede, é fugaz. O olho é rápido, o tempo para absorver informações parece sempre escasso.
No entanto, de uns tempos para cá, surgiu, não sei de onde, a mania de se fazer comentários sobre os comentários feitos pelos “famosos”. Assim é que têm surgido análises, verdadeiras avaliações sociológicas, sobre assuntos, no mínimo, idiotas. Na semana passada, vários sites dedicaram seus espaços, e o tempo de seus leitores, analisando uma frase do técnico Dunga (“nem todo mundo gosta de sexo, sorvete e vinho”): foram análises e mais análises, entrevistas com outros técnicos, opinião de psicólogos, isto sem contar que, também nas outras mídias, o assunto foi amplamente discutido.
Dois dias depois, numa entrevista de jogadores da seleção brasileira de futebol, o volante Felipe Melo fez uma declaração, na qual compara a bola a ser usada na Copa do Mundo, a Jabulani, a uma “patricinha”, uma mulher que não gosta de ser chutada, enquanto que as bolas convencionais foram comparadas a “mulher de malandro”, aquela que gosta de ser chutada. Novamente, dezenas de análises sociológicas, e mais avaliações de feministas, associações de defesas das mulheres, outros jogadores, e tome comentário!
Já afirmei aqui no blog que está em curso um fenômeno de psicotização epidêmica: como se sabe, os psicóticos, entre outras características, apresentam uma dificuldade de abstrair ou relativizar os fatos. Há quem diga que somente os próprios loucos têm absoluta certeza de que não são loucos. O filósofo Umberto Eco afirma que o louco é aquele que “procura as explicações para provar a sua tese. Descarta informações que o contradigam e subverte pensamentos para encaixá-los em suas idealizações.”
Isto nos leva a uma outra mania nacional, ainda dentro desta (i)lógica delirante, que é procurar obter explicações para tudo. Além de todo aquele debate sobre as frases “importantes” de Dunga e Felipe Melo, muitos analistas procuraram igualmente definir o porquê de tais comentários. Isto ocorreu também quando o ministro da saúde Temporão recomendou sexo numa campanha para combater a hipertensão. Como assim? Será que este senhor, um ministro da república, gosta de sexo? O que, afinal, ele quis dizer com tal declaração?
Algumas revistas, e também alguns sites, prometem explicar o motivo pelo qual seus leitores, principalmente leitoras, vêm se sentindo tão mal. Ou seja, alguém, em algum lugar do outro lado da tela, tem a capacidade de me explicar porque eu não acordei tão bem hoje. E, o que é mais incrível, alguém que não me conhece vai me dizer exatamente o que fazer. Basta mandar a palavra DÙVIDA via SMS para algum número que, imediatamente, todas as suas dúvidas serão esclarecidas.
Definitivamente, não é um mundo sério (antigamente, diziam que o Brasil não era um país sério). Mas, hoje em dia, tudo tem que ter explicação, ninguém pode ficar triste, dinheiro é a coisa mais importante na vida, você tem que ter uma carreira, o sucesso é obrigatório e, acima de tudo, tenho que divulgar tudo da minha vida no Orkut. Isso é o que se espera de todo mundo, pelo menos dos normais.
Aí chegou minha vez de assumir a loucura, pois, como dizia o gênio Raul Seixas: “a arte de ser louco é jamais cometer a loucura de ser um sujeito normal”. Por que será???

(Artigo - Jorge Marin)

BRIGADU, GENTE!

BRIGADU, GENTE!
VOLTEM SEMPRE, ESTAMOS ESPERANDO... NO MURINHO DO ADIL