quarta-feira, 30 de junho de 2010

TIO PITOMBO E AS COPAS



Capítulo 5

Chego cedo na casa do tio para assistir Inglaterra e Alemanha, já de olho, naturalmente, naquela macarronada famosa, que mais parece uma feijoada, pois, além do macarrão, tem mussarela, bacon e uma coisa que lá eles chamam de charmant, mas eu acho que é blanquet. Mas, como é tudo francês mesmo, deixa pra lá. Depois do jogo, Tio Pitombo não consegue esconder seu contentamento e acaba extrapolando a dose diária de um cálice de vinho borgonha, receitado, segundo ele, por seu cardiologista.

“Foram os deuses do futebol! Nelson Rodrigues estava certo: quando tem roubalheira, quem decide o jogo é o Imponderável Futebol Clube, não que o time alemão seja ruim não, na verdade ele é ótimo. Só que, na copa de 1966, o juiz deu gol do Hurst da Inglaterra e a bola tinha quicado em cima da linha, e agora, que a jabulani entrou quase meio metro dentro do gol, o juiz não dá o gol e a Alemanha goleia. Eu me lembro muito bem daquele dia, porque era 30 de julho, e estamos acostumados com a copa em junho, mas, na Inglaterra, foi em julho. Ah, e o jogo foi no sábado, porque a Igreja Anglicana proibia atividades mundanas nos domingos. E foi assim na Inglaterra até 1973!
O estádio de Wembley estava lotado, até o Cassius Clay (campeão mundial de boxe) estava lá. Com doze minutos, a Alemanha fez 1 a 0 (gol de Haller), mas o Hurst empatou para a Inglaterra aos 16. O ponta esquerda Martin Peters, que jogou contra o Brasil em 70, virou para a Inglaterra aos 33 do segundo tempo. Parecia que ia terminar assim, com a Inglaterra campeã, mas, aos 44 do segundo tempo, teve uma falta para os alemães e Weber empatou. Aos 8 minutos da prorrogação, aconteceu o tal gol do Geoff Hurst: a bola bateu no travessão, quicou em cima da linha e saiu. O juiz suíço deu gol. A Alemanha endoidou e partiu pra cima, mas não deu: no último minuto do segundo tempo da prorrogação, o danado do Hurst marcou de novo e a Rainha Elizabeth entregou a taça para os ingleses.
Aliás, tem um caso muito engraçado sobre a taça: a gente sempre escuta que aqui, no Brasil, é tudo uma esculhambação, porque a Taça Jules Rimet foi roubada e derretida e tal. Só que o que pouca gente sabe é que a taça já havia sido roubada em Londres, antes da copa, de uma exposição no Center Hall de Westminster. A Scotland Yard comandou uma caçada nacional, e um cachorro, chamado Pickles achou a taça, enrolada num jornal, escondida numa moita. Outra coisa muito engraçada é que dizem que a seleção da Coreia do Norte, aproveitava daqueles tempos de confiança total e, na hora do intervalo, trocava os 11 jogadores e vinha com outro time novinho para o segundo tempo. Como eles são todos parecidos, ninguém percebia e eles chegaram até a ganhar da Itália por 1 a 0.
Esta foi uma copa muito violenta, e o técnico da Inglaterra, Sir Alf Ramsey chegou a proibir que seus jogadores trocassem de camisa com os da Argentina, dizendo que ‘não trocamos camisas com animais’. Neste jogo, nas quartas de final, tinha um jogador inglês, chamado Styles, que dava tesouras voadoras nos jogadores argentinos. Aí, o capitão argentino Rattin foi reclamar com o juiz alemão, Rudolf Kreitlein, uma atitude mais enérgica. Como nem o Rattin falava alemão, e nem o alemão falava espanhol, o juiz acabou expulsando o Rattin, só que, como não tinha ainda cartão vermelho nem amarelo, o Rattin não entendeu que estava expulso e continuou em campo mais uns 10 minutos. Dizem que os cartões foram criados, já em 1970, por causa deste episódio. Mesmo com dez em campo, a Argentina segurou o empate de 1 a 1 até os 32 do segundo tempo, quando aí, pimba, ele de novo, o Hurst fez 2 a 1.
Na copa da Inglaterra, o Brasil foi humilhado: depois de ganhar da Bulgária por 2 a 0, jogo no qual o Pelé se machucou, perdemos para a Hungria e para Portugal, ambos por 3 a 1. A convocação da seleção foi tão bagunçada que, na hora de mandar a lista para a FIFA, um dirigente da CBD exigiu que fosse convocado algum jogador do Corinthians e resolveram que seria o beque Ditão. Mas, na hora de datilografar, a secretária bateu o nome do Ditão do Flamengo. Aí, para não passar mais um ridículo, resolveram mandar o do Flamengo mesmo. Mas eu não quero falar mais de 66, pois boa mesmo foi a copa de 70.”

Interrompo o tio porque já vai começar Argentina e México e o tio adora torcer contra a Argentina. Como se viu, não adiantou nada...

(Artigo - Jorge Marin)

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