sexta-feira, 2 de julho de 2010

TIO PITOMBO E AS COPAS



Capítulo 6

Acho fantástica esta habilidade que têm as pessoas idosas, como o Tio Pitombo, de lembrar de fatos antigos como se tivessem ocorrido ontem, ao passo que ele próprio não é capaz de se lembrar o placar do jogo Brasil e Chile, ocorrido na segunda-feira passada. Os neurologistas afirmam que a memória recente e a memória antiga ocupam porções diferentes do cérebro e coisas do gênero mas, ainda assim, acho fascinante uma pessoa de mais de noventa anos se lembrar, por exemplo, o nome do juiz do jogo entre Brasil e Uruguai em 1950. Tio Pitombo já me corta.

“O juiz de 1950 era um inglês e chamava Reader, George Reader. Mas eu quero falar das mudanças ocorridas, depois daquelas copas violentas: quebraram o Pelé em 62, e de novo em 66. Esta copa, que a Inglaterra venceu no grito, teve um monte de jogadores lesionados. Quando foi em 70, a FIFA tinha como meta diminuir a violência dentro de campo, criaram os cartões amarelo e vermelho e passaram a permitir duas substituições, pois antes, quem levasse botinada, ou ficava em campo mancando, ou o time ficava com dez.
Esta copa também foi a primeira a ser televisionada em cores mas, para se adequar ao horário nobre na Europa, os jogos tinham que começar ao meio-dia, o que gerou uma reclamação geral entre os jogadores que tinham que jogar com aquele sol forte do México no lombo.
Teve um fato curioso que aconteceu antes da copa: nós, latinos, somos sempre acusados pelos europeus de incivilizados e coisa e tal. Pois bem, a seleção da Inglaterra veio aqui na Colômbia fazer um amistoso e o capitão inglês, Bobby Moore, simplesmente roubou uma joalheria e foi preso. A FIFA acabou dando um jeitinho, instituição que, como se viu, não é só nossa, e ele acabou jogando na copa, inclusive dando uma pancada no Pelé.
Aliás, o Pelé ficou famoso na copa, não pelos gols que fez, mas pelos que ele não fez: contra a Tchecoslováquia, tentou encobrir o goleiro Viktor, do meio de campo, mas a bola raspou a trave e saiu. Depois, contra a Inglaterra, Pelé deu uma cabeçada para o chão, mas o goleiro Banks mergulhou e tirou a bola de dentro do gol. Contra o Uruguai, ele deu o drible da vaca no Mazurkiewicz e a bola saiu. Depois, no mesmo jogo, esse goleiro do Uruguai cobrou mal um tiro de meta e o Pelé rebateu de primeira, mas o goleiro pegou. Mesmo na final, contra a Itália, no final do primeiro tempo, ele pegou uma bola de uma cobrança de falta e mandou para o gol, a bola entrou mas o juiz já havia apitado e o gol não valeu. Isto aconteceu com o Zico também, na copa da Argentina.
Agora, cá pra nós, este time de 70 era maravilhoso: Félix; Carlos Alberto, Brito, Piazza e Everaldo; Clodoaldo, Gerson e Rivellino; Jairzinho, Tostão e Pelé.”

Para e fica olhando para o nada, como se estivesse assistindo um daqueles gols. E emenda.

“Não foi como as duas copa seguintes, que foram feitas de encomenda, tanto para a Alemanha, como para a Argentina. Você sabe: às vezes, os países, por motivos políticos, ou mesmo sociais, resolvem sediar a copa para ganhar: isto aconteceu em 1930, no Uruguai, em 34 na Itália, por que não, em 1950, aqui no Brasil (mas perdemos), em 66 na Inglaterra, nestas duas que eu falei, e depois em 98, na França.
Em 74, a sensação da copa era a Holanda, que tinha um timaço, com Cruyff e Neeskens, treinado pelo Rinus Michels, que não tinha posição fixa, por isso que era chamado de carrossel holandês. Mas não adiantou nada disto, pois, como eu falei, estava tudo sob medido para dar o títulos aos donos da casa. Tanto é que os alemães fizeram uma maracutaia só pra não cair no grupo do Brasil e da Holanda. Sabe o que eles fizeram? Perderam da Alemanha Oriental por 1 a 0! Aí esta Alemanha caiu no nosso grupo e ganhamos deles por 1 a 0 e da Argentina por 2 a 1. Como a Holanda ganhou da Alemanha Oriental por 2 a 0 e goleou a Argentina por 4 a 0, jogou conosco pelo empate, mas nos tascou 2 a 0. Espero que hoje não faça o mesmo. (Esta conversa foi antes da nossa derrota por 2 a 1)
Na final, a Holanda conseguiu marcar o primeiro gol, de pênalti, logo no iniciozinho da partida, e os alemães não tinham nem pegado na bola ainda. O Breitner empatou para a Alemanha, também de pênalti, aos 25 minutos e o famoso Gerd Muller, que foi o artilheiro da copa, virou aos 43 minutos. No segundo tempo, e até o final, só deu Holanda, mas o goleiro da Alemanha, o Sepp Maier, que eles chamavam de Gato, fechou o gol. E deu o que tinha que dar: Alemanha.”

Paramos para ver o jogo do Brasil com a Holanda, e o tio não ficou muito surpreso com a derrota do Brasil, mas disse que não queria mais falar de copa. Eu já ia saindo e ele me chamou para assistir o outro jogo, “só para torcer pelo Loco Abreu”, segundo ele.

(Artigo - Jorge Marin)

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