sexta-feira, 30 de novembro de 2012

O PIJAMA DO TIZECA - III



NA SEMANA PASSADA, não sei se vocês se lembram, o Tizeca se preparava para fazer um ritual dos mais inesquecíveis: O SEU CIGARRIN DE PAIA!
Esse era um momento mágico. Uma autêntica obra-prima que sempre aguardávamos. Somente o Tizeca sabia fazê-lo e era sem igual.
Assim, toda vez que levava a mão, vagarosamente, ao bolso esquerdo, eu já sabia que era chegada a hora que tanto esperava.
Dele, retirava, primeiramente, o rolo ou o saquinho de fumo já preparado. 
A seguir, após pegar os papelotes, começava então, carinhosamente, a fazer a montagem.
Com um canivete mais cego que tudo, num balançar incansável e hipnótico de pernas, levava, no mínimo, meia hora, até que raspasse o suficiente de que precisava.
Como sempre, uma metade do fumo se espalhava pelo chão, outra metade caía no seu colo e somente o que sobrava realmente iria para o papel.
E para separar um papelote do outro? Não havia saliva que bastasse!!!
Ficava a molhar o dedo na boca, pelo menos umas vinte vezes, até que, por fim, um deles se soltava.
E que tamanha calma para enrolar o cigarrinho!  Esse era um momento quase litúrgico, durante o qual dava tempo até pra se contar alguns CAUSOS. Mas... Tempo, isso é o que não faltava ao Tizeca!!!
No acabamento, uma sutil lambida fazia unir as partes para, assim, prenunciar o tão esperado e perigoso momento.
Levando a mão, vagarosamente, do bolso direito puxava um pequeno isqueiro, que mais parecia um lampião.
E prá fazer aquele artefato do século dezenove funcionar? Só com muita coragem e paciência!!!
Mas, enfim, com os devidos cuidados, após tombar a cabeça de lado, atiçava aquele labaredão de fogo no papel.
O cigarro, mais parecendo um jornal em chamas, começava a se incendiar, deixando a varanda toda enfumaçada.
Enquanto isto: conversa ia... conversa voltava e... o cigarro na boca, já todo molhado, logo se apagaria e era esquecido.
NA PRÓXIMA SEMANA, no último capítulo, preparem-se para o JOGO DE ESCOPA!  Eu já estou com o Sete Belo na mão.  Aguardem...

Crônica: Serjão Missiaggia
Foto: Razvan & Alexandra, disponível em http://browse.deviantart.com/photography/?q=old+man+cigarette&offset=168#/d2jt6j6

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

BLACK FRIDAY: DO MAL ATENDIMENTO E DO MAU ATENDENTE



A Black Friday chegou para mim ontem: eu não tinha entendido bem o que era mas, de uma hora pra outra, minha TV queimou, fui até a cozinha e descobri que a geladeira e o freezer não estavam gelando.  Subi para postar no blog e... as lâmpadas da minha estação de trabalho estavam queimadas, as duas!  Tocou o interfone e uma vizinha, irada, me disse que a fechadura do portão não estava abrindo.
Pensamentos se sucedem: então foi por isso que venderam tantos eletrodomésticos? Será que tem que ser assim?  Será que só acontece comigo?  Enquanto questiono, a vizinha toca, de novo, o interfone.  Mas, e o medo de cair da escada?  Para honrar aquele polpudo salário de síndico de quase cento e cinquenta reais, resolvo me arriscar.  Encosto na parede e, dez minutos depois, desço os três andares.
Não me assusta o fato de ter que comprar coisas novas, nem de ficar sem geladeira e freezer na véspera do Natal.  O QUE ME ASSUSTA DE VERDADE é só uma coisa: TER DE SER ATENDIDO PELO ATENDIMENTO AO CONSUMIDOR!  Meu Deus, melhor seria ter nascido na Idade Média, acho que suportaria o tal do Torquemada, mas aquela história de “disque 1 para isso, disque 2 para aquilo outro”, ou “um momento, senhor; obrigado por aguardar, senhor”, isso me mata.
Quem lê o Blog, sabe que não sou saudosista, mas, sou obrigado a dizer, antigamente havia uma coisa que, para mim, é o bem mais PRECIOSO que um consumidor, ou usuário do serviço pode ter, que é a PROXIMIDADE.  Hoje, para contestar um débito da minha operadora de telefone que, espertamente, permitiu que o meu smartphone se conectasse à vontade só para me cobrar uma tarifa maior, sou obrigado a ligar para algum lugar da Bahia, onde uma atendente sonolenta repete um script que beira à psicose.
Há não muito tempo, quando eu era menino em São João Nepomuceno, quem queria prestar algum serviço ou vender produtos, desde médicos até mercados, primeiramente, compravam um imóvel PRÓPRIO.  Por exemplo, todo mundo sabe onde ficava o consultório do Dr. Írio, do Dr. Veroaldo, do Dr. Nagib e por aí vai.  Alguém tinha dúvidas de onde era A Brasileira, a Tipografia, ou a Casa Leite?
Hoje, o empresário, ou o prestador de serviço, aluga um imóvel, monta a loja, ou consultório, através de arrendamento mercantil e terceiriza tudo, desde a moça que serve o cafezinho até o vigilante e ascensorista.  Então, quando você chega, a loja não pertence ao dono, o dono raramente vai à loja, a pessoa que abre a porta para você não é empregado da loja e você paga com um cartão e faz um crediário que também não tem nada a ver com a loja.
Sei que, face á modernidade, não há como ser diferente.  Mas o que eu questiono é: como fazer para que a pessoa que EFETIVAMENTE te atende, sinta alguma proximidade com você, já que tudo ali é estrangeiro?
(continua)

Crônica: Jorge Marin
Foto: disponível em: http://www.saiadolugar.com.br/marketing/balao-da-informatica-um-exemplo-de-falta-de-bom-atendimento/

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

CASOS CASAS & detalhes


















Todos nós que tivemos a alegria de estudar no Instituto Barroso talvez nunca tenhamos parado para pensar que todas as nossas vitórias e todos os nossos voos profissionais tenham se originado de um caminho tão curto.
O senhor Ubi, nosso mestre, saía de sua casa, na Rua Getúlio Vargas e virava ali na esquina da Prefeitura.  Quando chegava em frente à Padaria do Popó, ia devagarinho, com seu terno branco, pois sabia que logo em frente, na subidinha, certamente iria surpreender casais de namorados, fumantes ninjas, e outros matadores de aulas.  Depois daquele "puxão de orelhas" que, tanto podia ser bem humorado, como bem esquentado, a turma subia correndo e ia direto para a aula.
Talvez quem more em São João, de tão acostumado com esses locais, não dê muita importância.  Mas para nós, que tivemos que ir para outras cidades, esse simples trajeto, que o nosso mestre fazia, representa nossos primeiros passos como cidadãos.  Foi uma honra e uma alegria seguir esse caminho que o Sôbi nos ensinou!

Fotos: Serjão Missiaggia
Texto: Jorge Marin

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

O PIJAMA DO TIZECA - II



Vocês não imaginam a alegria de poder falar do meu Tizeca!  Aquela emoção da qual falei na semana passada, quando dormia ansioso porque sabia que ele chegaria no trem noturno, eu a sinto hoje tão vívida e real, que chego a escutar aquele apito da máquina. 

E eu estava, justamente, falando dessa peça de roupa fantástica, que dá título à crônica, que é o enigmático PIJAMA DO TIZECA.  Além da peculiaridade de ser usado dia e noite, outro detalhe chamava a atenção: era a quantidade de parafernália que nele se ocultava.  Que eu me lembre, brotavam do seu bolso, como num passe de mágica, pacotes e mais pacotes de fumo de rolo, papelote para cigarro, isqueiro, mais fumo de rolo, canivete, pente, lenço, dois ou mais baralhos etc.etc.etc.
Fazia daquele pijama a sua veste inseparável, e até mesmo para ir passear na esquina não o tirava jamais!
Adorava contar causos, e não era muito raro quando, ao repeti-los, nos contava em versões totalmente diferentes.  Este detalhe era muito engraçado, pois nos levava quase sempre a finais nada parecidos.
E assim, entre uma mentirinha e outra, enquanto eu ia me fazendo de bobo, os causos iam rolando soltos até o entardecer.  

Também muito me fascinava aquele radinho de pilhas, que nunca saía de seu colo. Juntamente comigo, era talvez o seu amigo inseparável, no qual ficava sempre a buscar noticias do Botafogo (E como era apaixonado pela Estrela Solitária!).
Rastreava cada locução ou comentário. Buscava noticias, desde a concentração, chegada e saída do time no hotel, estádio e vestiário, até as resenhas noturnas, que terminariam lá pelas tantas da noite.
De olhar fixo, sereno e disperso ao horizonte, parecia estar sempre meio alienado do mundo. Acho mesmo, que aquela enorme catarata que o acometia, contribuía muito pra isto.
Somente me reconhecia, quando, já bem perto, escutava minha voz.
- À benção Tizeca!!!  - dizia, após beijar suas mãos.
-        Até que enfim, Baiano, já havia perguntado por você!!!  Era assim que, carinhosamente, se dirigia a mim, após um forte abraço.
Eu, de imediato, sem perder um mínimo de tempo, procurava subir e sentar no murinho da varanda para assim começar a escutar os inúmeros CAUSOS. Alguns falsos, outros nem tanto verdadeiros, mas, com certeza, eram muitos e todos ótimos de se ouvir. Hoje, quase quarenta e cinco anos depois, é que fui começar a entender donde teria vindo esta minha fascinação por causos.
Mas, antes, um outro ritual: o pito, a preparação do cigarrin de paia.
(CONTINUA)

Crônica: Serjão Missiaggia
Foto: Cody Lash-Upon-Lash, disponível em http://browse.deviantart.com/?q=old+man&offset=24#/d5j71hq .

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

O VALOR DO SILÊNCIO 3 (FINAL)



NA SEMANA PASSADA, estávamos refletindo sobre o silêncio e, quando falei que o silêncio é a música, muita gente quebrou o silêncio para argumentar que o silêncio não é a música, mas só uma pausa entre os sons.
No entanto, se fui muito abrangente, é preciso reconhecer que o silêncio é um elemento orgânico, real, na música.  E isso é fácil de ser entendido porque, em primeiro lugar, só há som se existe alguém para ouvi-lo.  E, se existe alguém, uma plateia, é IMPOSSÍVEL que não haja algum tipo de ruído, nem que seja a soma das respirações e de corações batendo.
Em segundo lugar, é preciso ficar claro que, na música, o silêncio NÃO interrompe a música, mas cria possibilidades: se, no Barroco, evocava tensão, na música romântica contemporânea pode ser enlevo.  Imaginem quando o compositor John Cage, um estudioso do silêncio no som, apresentou sua peça “4 minutos e 33 segundos”, na qual ele permanece esse tempo em frente a uma partitura em branco e, naturalmente, não produz NENHUM som ao piano?  A plateia mergulhou numa confusão de emoções e angústias que beirava o pânico.
Se na música já causa desconforto, na fala o silêncio é fundamental.  Pois aí, segundo o psicanalista Jacques Lacan, “o silêncio toma todo o seu valor de silêncio, não é simplesmente negativo, mas vale como além da palavra”.
O grande achado de Freud, na Psicanálise, foi justamente o não dito, o interdito, que ele chamou de Inconsciente.  O curioso é que este grande pensador e teórico NÃO fundou a Psicanálise a partir do silêncio de um paciente, mas sim através do SEU PRÓPRIO SILÊNCIO!  Ao tratar de uma manifestação histérica, a paciente Elisabeth Von R. virou-se para o famoso neurologista e disparou:
- Cala a boca, Dr. Freud, que eu quero falar!
De uma forma ou de outra, o silêncio vem sendo representado como sinônimo de sabedoria e até mesmo proximidade com Deus.  Não por acaso, grandes avatares das religiões permaneceram por longos períodos em silêncio absoluto, após o qual geralmente eram agraciados com algum tipo de recompensa pelos anjos em pessoa: assim foi com Moisés, Oseias, Elias, o profeta Muhammad, Buda e Jesus Cristo.
Assim, se na psicanálise o silêncio provoca a escuta analítica e pode revelar aquilo que se esconde por trás da falácia do ego, na religião pode também representar a fusão com a divindade, ou como diz a monja Maria-Amada de Jesus: “eu sou semelhante a um pequeno grão de área, que espera na praia a onda que o fará mergulhar no oceano.”
De minha parte, não tenho a pretensão de grandes voos transcendentes nem de abissais mergulhos psicanalíticos.  O que eu quero é propor um pacto, com todos que não têm nenhum tipo de laço ou gozo com a doença humana: vamos, PELO MENOS, parar de falar besteira e, principalmente, interromper qualquer tipo de ruído desnecessário!
(...) um parágrafo de silêncio

Crônica: Jorge Marin
Foto: Tunc Suerdas, disponível em http://browse.deviantart.com/photography/?q=silence+god#/drqw1h

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

CASOS CASAS & detalhes



Na pracinha do Botafogo
Serjão olha o passado
O Dr. Glória olha a estação
Passa um trem (fantasma?)
E uma algazarra de vozes
Jovens, se ouve.

Será o tempo um trem
Danado de complicado
Ou é o desejo de voltar
Numa locomotiva que não há
Que complica as coisas?

São três da tarde
Mas, por trás das pálpebras,
Serjão vê um Botachopp iluminado
Sabe que os ecos da felicidade
Não se apagam
Nem se extinguem.

No escuro do pensamento
Adivinha sussurros entres os vagões
Escuta risos percebe pessoas correndo
De repente, um barulho chama sua atenção:
É só um toque de celular!
Pensei que era o Dalminho
Com seu violão,

Mas foi só saudade...

Fotos: Serjão Missiaggia
Poesia: Jorge Marin

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

O PIJAMA DO TIZECA - I



Ah, quanta saudade ao recordar coisas boas de um tempo já distante!
Estaria eu, mais ou menos, com oito anos, numa fase em que a fantasia ainda era bem mais forte que a realidade.
Lembro-me, como se fosse hoje, quando, às vezes, ao dormir mais cedo, desejava que a noite passasse mais rápida e fosse bondosa com minha expectativa.               
Isto sempre acontecia e eram momentos de muitas felicidades, pois afinal de contas, logo pela manhã, me encontraria novamente com o Tizeca. 
Estaria ele para chegar de viajem e, com certeza, trazendo consigo muitos “Causos” na bagagem.
Tizeca era uma pessoa superinteressante, mas... de certa maneira, um tanto difícil de ser definida.
Talvez, o que eu mais admirava nele fosse à maneira um tanto eclética em viver a vida.
Meio alienado do mundo, como um de meus manos, e extremamente relaxado, como um de meus tios. Sei lá... Talvez o simples fato de ser irmão de meu pai fosse o suficiente para que eu o achasse tão interessante.
Residia um mês no Rio e três em São João.                                                
Assim, de minha cama, ficava a escutar, lá pelas onze da noite, o apito do trem noturno que, vagarosamente, começava a passar perto de minha casa.
- Será mesmo que tá chegando o Tizeca? - ficava a pensar com minha cabeça um tanto infantil para, a seguir, adormecer novamente.
No outro dia, bem cedinho, antes mesmo de tomar meu café, lá estava eu à sua procura. 
Não era nada difícil encontrá-lo, pois, com certeza, já estava sentado,  discretamente, na varanda da tia Maria e, pra variar, de pernas cruzadas, num balançar incansável que só iria terminar no momento em que se levantasse dali.
Possivelmente, estaria também com seu inseparável cigarrinho de palha, o pito, todo molhado, apagado e esquecido na boca, servindo apenas de figuração. Se, por acaso, estivesse ainda aceso, seria bem provável estar fumegando brasa em cima de seu pijama... E ele, pra variar, não estaria nem um pouco se incomodando com isto.
Já que falei em pijama, era ele mesmo que mais despertava minha atenção.  Lembram daqueles pijamas de mangas e calças compridas, pega frango, cheios de bolsos e quase sempre na cor azul listrado?  Pois muito bem... Era vestido com um desses, que ele passava todo o dia... E a noite também!!!
(CONTINUA)

Crônica: Serjão Missiaggia
Foto: Kuba, disponível em http://kub4s.deviantart.com/art/old-man-42868409

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

O VALOR DO SILÊNCIO - 2



Na semana passada, vejam o paradoxo, FALÁVAMOS do valor do silêncio, e continuamos falando, e que ninguém nos ouça, mas, às vezes, o que nunca foi escutado, precisa ser escutado.
“Deus é silencioso”, diz Woody Allen, e completa: “se, pelo menos, o homem calasse a boca...”
Contudo, não há paz.  Deixo para escrever o post às duas da manhã e aquilo que se assemelhava ao silêncio é interrompido por um carro que, na explosão de seus decibéis, inunda a madrugada com um desagradável soco em nossos ouvidos.
Pela manhã, um milagre cada vez mais presente na vida das cidades – os pássaros – simplesmente não podem ser ouvidos, pois, desde as primeiras horas do dia, canários do reino, pintassilgos e sabiás, hoje tão comuns nas nossas sacadas e coberturas (pelo menos aqui em Juiz de Fora) têm seus cantos abafados por sirenes, marteladas, freadas e alarmes disparados a todo instante.
E, por falar neles, na obra “Pássaros Errantes”, o sábio Rabindranath Tagore afirma: “a pequena verdade tem palavras que são claras; a grande verdade tem grande silêncio.”  O silêncio não é apenas um bem ao qual todos temos direito; é uma forma de linguagem, uma terapia para curar, quem sabe, a doença do mundo que, sem sombra de dúvida, é o EXCESSO DE BARULHO, que a todos enlouquece e atordoa.
Quando esteve em Juiz de Fora, a Monja Cohen recomendou um documentário chamado O Grande Silêncio, que reproduz o dia a dia dos monges cartuxos na cidade de Isère na França.  O realizador do filme, Phillipe Gröning esperou, por DEZESSETE ANOS, para filmar a meditação silenciosa dos monges.  O filme não tem nenhum diálogo, nem entrevistas, nem comentários e nem música, exceto os cânticos gregorianos que fazem parte do cotidiano do mosteiro.
Essa obra (disponível para download no Blog http://www.downloadcatolico.org/) testemunha a passagem do tempo, a mudança das estações, a rotina rígida dos monges e as orações, mais vivenciadas do que proferidas.
O cineasta afirma que a experiência de filmar o silêncio, que durou seis meses, mudou definitivamente a sua vida, tanto é que, desde a época do trabalho, em 2005, ele não tem produzido nada, um silêncio que já dura sete anos.  Somente agora, em 2012, ele está planejando um novo documentário.
Mas, o que será que muda na vida das pessoas submetidas ao silêncio?  O que acontece quando, voluntariamente, paramos de emitir sons?
Diz o dicionário que o silêncio é mais do que a ausência de ruído; não é tampouco o calar-se.  Silêncio pode ser traduzido também como “singularidade” já que guarda, em si, uma aura de mistério e segredo.
Para a maioria de nós, que amamos a música, o silêncio É a música, pois representa a escala atonal onde um barulho contínuo e sem sentido torna-se música.
(CONTINUA)

Crônica: Jorge Marin
Foto: Frame do filme O Grande Silêncio

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

CASOS CASAS & detalhes



Hoje voltamos a homenagear um leitor, e o homenageado de hoje é o colega blogueiro Sylvio Bazote, que já escreveu alguns causos aqui no blog, e hoje comanda o seu historiasylvio.blogspot.com.br .  Pois bem, o Sylvio é um apaixonado por ferrovias e acha, como nós também achamos, que o trem é um meio de transporte seguro, pouco poluente e... charmoso.
No blog do colega acima, lemos que a primeira ferrovia do mundo para transporte de carga e passageiros foi inaugurada na Inglaterra em 27 de setembro de 1825 entre as cidades de Stokton e Darlington.  E também que a primeira ferrovia do Brasil foi inaugurada em 30 de abril de 1854, ligando Porto de Estrela a Raiz da Serra.
Mas o que temos que contar para o Sylvio é que, APENAS DEZESSETE ANOS DEPOIS dessa histórica ferrovia do Barão de Mauá, o Decreto Imperial de 15 de dezembro de 1871, determinava a construção de uma estrada de ferro da Estação de Chiador (onde já operava a Estrada de Ferro Dom Pedro II) para... SÃO JOÃO NEPOMUCENO!
Isso mesmo, São João estava mais uma vez na vanguarda da história, como pode ser visto pela nossa inesquecível Estação Ferroviária, hoje transformada em Rodoviária.
Para nós, pitombenses, a Estação traz memórias inesquecíveis, pois ali naquele local e até na Pracinha do Botafogo, bons momentos foram vividos!

Fotos: Serjão Missiaggia
Texto: Jorge Marin

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

O GNORIMOPSAR CHOP IV - FINAL



NA SEMANA PASSADA, chovia e era a terceira fuga do Gnorimopsar Chop.  Como três dias haviam se passado, meu colega Marcinho me avisou sobre o aparecimento de um bicho “suspeito” na Rua Nova e, antes mesmo que ele acabasse de me comunicar, uma mobilização familiar já começava a ser organizada. Um verdadeiro mutirão de salvamento.
Se não estou enganado, foram comigo umas cinco ou seis pessoas entre elas minha irmã e a Sílvia que, na época, ainda morava conosco.
Saímos em diligência pela rua, decididos a trazê-lo de qualquer jeito.
Lembro-me bem que, nesse dia, caía uma chuva fina na cidade e fazia muito frio. Agasalhamo-nos bem e, debaixo de apenas um guarda-chuva, seguimos para aquela quase impossível missão.  
Ao virarmos a esquina, fomos de imediato nos aproximando e logo identificando onde poderia ser o possível cativeiro do meu amigo.
O local indicado era muito suspeito e havia mesmo um portão.
Olhamos no tal buraco e explodimos de alegria. Não havia dúvidas de ser mesmo o Tico.
E lá estava ele tristonho e jururu bem no finalzinho do corredor.
Mas ainda teríamos que resgatá-lo.
Anunciamo-nos batendo palmas. De imediato, fomos atendidos por uma senhora que, já desconfiada, nos recebeu com cara de poucos amigos. Queríamos a todo custo entrar, mas ela não permitia. Insistia em dizer que já o possuía há muito tempo e que estava vendido para alguém no Rio de Janeiro. Ameaçou-nos dizendo que, se não fossemos embora, chamaria a policia.
Nisso, a referida senhora, na tentativa de nos convencer, procurou simular uma falsa intimidade com meu amigo. Ao colocar o dedo próximo a ele tomou um contra-ataque e quase perdeu a ponta da unha. E o mesmo ia acontecendo com todos daquela casa.
Um tanto sem graça e de saco cheio de nossa insistência disse:
 - Me prove então se é mesmo de vocês!  E era a oportunidade que tanto queria.
Fui me aproximando dele e dizendo seu nome (Tiiiico-Tiiiico) ele, de imediato, retorceu o pescoço e começou a pedir carinho. Neste momento escutei somente quando a senhora disse: Podem levar!
E de lá saímos dando pulos de alegria carregando nosso precioso troféu.

Chegou a ser uma das vedetes numa exposição no centenário do Município. Naquela madrugada, choveu tanto na cidade, que destelhou metade do galpão em que eles estavam. Foi um Deus nos acuda, mas todos se salvaram. Ainda guardo com muito carinho seu diploma de participação

Vinte e um anos se passaram, eu me casei. Dividindo o terreiro com minha antiga casa, continuei, juntamente com meu pai, a cuidar dele.
No ano seguinte combinamos ir à praia com a família. Era um mês de janeiro e fazia um calor terrível naquele ano de 1987.
Deixamos o Tico aos cuidados de meu sogro, pois tínhamos certeza de que não haveria pessoa melhor para tratar dele. Infelizmente, ao voltarmos, não mais o encontramos. Mais tarde, ficamos sabendo que, além da idade e do calor intenso daquele ano, estes bichinhos sentem muita falta quando se afastam de seus donos. Restaram-nos somente as boas lembranças e a gratidão pelos momentos felizes que passamos juntos. Uma criaturinha de Deus a nos fazer companhia por vinte e um anos.
Acho até que foi melhor assim!

Enfim, hoje não saberia dizer se teria coragem de manter preso na gaiola um passarinho. Mesmo que fosse outro Gnorimopsar Chop popularmente conhecido como MELRO ou PÁSSARO PRETO.

Pra terminar, diria apenas, que somente aqueles que possuem ou possuíram um passarinho desses, é que poderão saber e entender a essência desta minha croniqueta.

Crônica: Serjão Missiaggia
Foto: Disponível em robsondibrito.blogspot.com

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

O VALOR DO SILÊNCIO



Cena doméstica: a mulher chega no escritório onde o marido tenta, inutilmente, instalar a nova versão do sistema operacional que, como todos sabem, jamais funciona de primeira.  A mulher esbraveja:
- A porcaria do carro que você comprou, desde que voltou do lavador, não funciona mais; não dá nem partida!  Aquilo é uma porcaria.  Mas você sempre pensa apenas em economizar.  Isto é, economia pra mim que preciso do carro, pois com os seus softwares você não economiza nada.  O meu pai te avisou pra não comprar esse carro importado, pois ele, por exemplo, sempre comprou carro nacional e nunca teve problema, porque a mecânica é mais barata...
E a conversa foi longe.  Só quem convive ou conviveu com uma mulher irritada sabe até onde isso pode levar.  O fato é que, quase meia hora depois ela ainda estava falando, e o marido, com aquela tela esquisita na frente, já começava a ter saudades da tela azul.  Sem escutar uma única daquelas trocentas milhões de palavras, o marido para, de súbito.  Pega um pano de chão e sai pela porta.  A mulher ainda grita: espera aí, eu não acabei, onde você vai com esse trapo?  Mas o marido já está longe.  Vai até a garagem, abre o capô, enxuga a tampa do distribuidor, senta, dá a partida e o carro... liga tranquilamente. 
Com aquela pose de herói, entra em casa, vai até a sala de TV e, triunfante, fala para a mulher:
- Mulher, consertei o carro!
Ela, meio hipnotizada pela novela, nem escuta.  Ele repete:
- Ô mulher, consertei o carro!
E ela, sem olhar para ele: que carro??
Outra cena: a pessoa no velório de um ente querido, mas muito querido mesmo, sentindo-se como se o mundo houvesse desabado, só quer saber de chorar e não ouvir nada.  E chegam os participantes do velório:
- Agora você vai ter que ser forte!
- Ele está num lugar muito melhor!
- Ele está dormindo e daqui há pouco vamos todos encontrá-lo (esta foi um padre que falou).
- Quer tomar um remedinho pra dormir?

Gente, por que é que o mundo anda tão barulhento?  Não sabem a resposta?  É porque tem gente enchendo o silêncio de besteiras, de bobagens, de imbecilidades e de sons inúteis.  Hoje NINGUÉM RESPEITA O SILÊNCIO.  E esse presente (sim, pois, para uma pessoa que tem zumbido de ouvido, o silêncio seria o maior presente do mundo), repetindo, esse presente, esse direito de não ouvir nada, principalmente abobrinhas, não está sendo respeitado.  E sabem por quê?  Porque todo mundo quer reforçar o seu ego falando alguma coisa, ainda que burra.  O “cala a boca, Magda” do personagem do Fallabela na TV nunca esteve tão atual.
Vou exemplificar: naquele velório ao qual me referi como exemplo, chegou um amigo do falecido, um caipira, uma pessoa que jamais vem à cidade, um homem do campo que lida o dia inteiro apenas com vacas, porcos, galinhas, patos, e aves que ele alimenta livres em frente à sua cabana; pois bem, esse capiau, como desdenhosamente chamamos, postou-se respeitosamente em frente ao corpo do amigo e, sem dizer UMA ÚNICA PALAVRA, tirou o chapéu, colocou as duas mãos sobre o peito, olhou em direção ao céu, e chorou, ou melhor, deixou duas lágrimas rolarem pelo seu rosto queimado de sol.  Foi a homenagem póstuma mais bela que vi em toda a minha vida. (CONTINUA)

Crônica: Jorge Marin
Foto: Adam Wisinski, disponível em http://browse.deviantart.com/photography/?q=silence#/d1cutv0

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

CASOS CASAS & detalhes


São João Nepomuceno foi elevada à condição de comarca em 13 de novembro de 1891, instalada em 10 de março de 1892, portanto, há 120 anos.
A cerimônia foi realizada no Fórum, construído em 1888, no governo do Dr. Carlos Alves e, o que é impressionante, sem NENHUM ônus para o Estado, já que a obra foi paga com o produto de duas exposições e uma subscrição pública, ou seja, o nosso primeiro Fórum foi pago PELA POPULAÇÃO do município!
Em 1962, HÁ CINQUENTA ANOS, esse prédio foi doado pelo Prefeito em exercício, o Dr. Nagib Camilo Ayupe, para o funcionamento do Ginásio Dr. Augusto Glória, escola prioritariamente destinada a estudantes carentes e que, durante QUARENTA ANOS (de 1965 a 2005) formou muitas gerações de sanjoanenses, na maior parte do tempo dirigida pela competente professora Maria Alice Bastos de Araújo, um ícone da educação municipal, além de muitos professores inesquecíveis, como Luiz Carlos, Tia Mel e o sempre implicante Sargento Matilde que não dava sossego enquanto o Hino Nacional não fosse corretamente cantado.  
O fechamento do Augusto Glória, em 2005, foi uma perda irreparável para os sanjoanenses.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

O GNORIMOPSAR CHOP III


NA SEMANA PASSADA, eu estava comentando sobre o meu gnorimopsar Tico, e nas exibições que costumávamos fazer para a família.  Só que, na verdade, ele fazia qualquer coisa por um afago.
E, por falar nisso, o cafuné era o carro-chefe de nossas apresentações.  E como gostava de um chamego! Era somente se aproximar dele que imediatamente abaixava a cabeça e, retorcendo a cabecinha, parecia que iria dar um nó no pescoço. Preguiçoso nato, chegava a cochilar.  Muitas vezes saíamos sorrateiramente e ele nem percebia.  E, dessa forma, ficava por um bom tempo, até que algum barulho o despertasse.  Geralmente esse carinho era permitido por ele somente aos mais conhecidos.
O danadinho era tão malandro, que, com as outras pessoas, ao posicionar pra receber carinho, fingia dormir.  Fechava apenas um dos olhinhos e ficava de butuca.  Ao menor descuido ele, IIIINHECA... Por sinal, segundo relato das vitimas, doía pra caramba!
Gostava muito de comer boldo, principalmente quando, já bem velhinho, costumava dar uns pirepaques.  E não é que dava bons resultados?
Muito inteligente, aprendeu sozinho a abrir as tramelas das janelas e da portinha de sua morada.  Depois, era somente empurrar com a cabeça e se mandar pra dar umas fugidinhas.
Falando em fugidinhas, imaginei em três oportunidades, que o teria perdido pra sempre.
Na primeira vez, ficou um dia inteiro sumido.  Ao entardecer, resolvi subir no telhado e ficar chamando por ele.  E que tamanha foi minha alegria quando, repentinamente, ao aparecer, subiu em minha cabeça e começou a catar caspas.  E eu, mão nele!
Numa segunda vez também, já imaginando que não mais voltaria, observei uma movimentação estranha vinda em frente de uma casa próxima ao Renatinho Spindola.
Uma multidão, olhando para o terraço da referida casa, ficava torcendo pra que alguém conseguisse agarrar alguma coisa.  Só pode ser o Tico, pensei!
E não deu outra...  Mas, não conseguiam pegá-lo, pois ele sempre contra-atacava e fugia.  Aí, sem mesmo pedir licença ao proprietário, subi correndo as escadas e fui em sua direção.  Ele, simplesmente, ao perceber minha presença, abaixou de imediato a cabecinha e eu, mais que depressa, e pela segunda vez, mão nele!
A terceira fugida foi mais complicada e angustiante, pois, diferente das outras vezes, ficou três dias sumido.  Nesta altura do campeonato, metade da cidade estava me ajudando encontrá-lo.  Minhas esperanças já iam se esgotando e a tristeza só aumentando.  Nisso, eis que o Marcinho Bolão, ao passar em frente de casa e me vendo na varanda gritou bem alto:
- Serginho! Se eu fosse você dava uma chegadinha à casa de Sr. Fulano, ali na inicio da Rua Nova e procure dar uma olhada no buraco do portão!  Lá tem um bichinho parecido com Tico!  Eu acho que é ele! Se eu fosse você, ia agora, pois amanhã cedinho ele estará indo embora pro Rio de Janeiro!  Eu estava brincando lá quando escutei o pessoal comentar, concluiu ele.
Meu coração disparou: meu Deus, com toda essa chuva, como é que eu vou fazer?  Vai dar tempo?  Leiam na próxima semana...

Crônica: Serjão Missiaggia
Foto: Amber Kirby8food, disponível em http://kirby8food.deviantart.com/gallery/#/d2kbl1u

BRIGADU, GENTE!

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VOLTEM SEMPRE, ESTAMOS ESPERANDO... NO MURINHO DO ADIL