Ah, quanta
saudade ao recordar coisas boas de um tempo já distante!
Estaria
eu, mais ou menos, com oito anos, numa fase em que a fantasia ainda era bem
mais forte que a realidade.
Lembro-me,
como se fosse hoje, quando, às vezes, ao dormir mais cedo, desejava que a noite
passasse mais rápida e fosse bondosa com minha expectativa.
Isto
sempre acontecia e eram momentos de muitas felicidades, pois afinal de contas,
logo pela manhã, me encontraria novamente com o Tizeca.
Estaria
ele para chegar de viajem e, com certeza, trazendo consigo muitos “Causos” na
bagagem.
Tizeca
era uma pessoa superinteressante, mas... de certa maneira, um tanto difícil de
ser definida.
Talvez, o
que eu mais admirava nele fosse à maneira um tanto eclética em viver a vida.
Meio
alienado do mundo, como um de meus manos, e extremamente relaxado, como um de
meus tios. Sei lá... Talvez o simples fato de ser irmão de meu pai fosse o
suficiente para que eu o achasse tão interessante.
Residia
um mês no Rio e três em São João.
Assim, de
minha cama, ficava a escutar, lá pelas onze da noite, o apito do trem noturno
que, vagarosamente, começava a passar perto de minha casa.
- Será
mesmo que tá chegando o Tizeca? - ficava a pensar com minha cabeça um tanto
infantil para, a seguir, adormecer novamente.
No outro
dia, bem cedinho, antes mesmo de tomar meu café, lá estava eu à sua procura.
Não era
nada difícil encontrá-lo, pois, com certeza, já estava sentado, discretamente, na varanda da tia Maria e, pra
variar, de pernas cruzadas, num balançar incansável que só iria terminar no
momento em que se levantasse dali.
Possivelmente,
estaria também com seu inseparável cigarrinho de palha, o pito, todo molhado,
apagado e esquecido na boca, servindo apenas de figuração. Se, por acaso, estivesse
ainda aceso, seria bem provável estar fumegando brasa em cima de seu pijama...
E ele, pra variar, não estaria nem um pouco se incomodando com isto.
Já que
falei em pijama, era ele mesmo que mais despertava minha atenção. Lembram daqueles pijamas de mangas e calças
compridas, pega frango, cheios de bolsos e quase sempre na cor azul listrado? Pois muito bem... Era vestido com um desses,
que ele passava todo o dia... E a noite também!!!
(CONTINUA)
Crônica:
Serjão Missiaggia
Foto: Kuba, disponível em http://kub4s.deviantart.com/art/old-man-42868409
Tive muita vontade de conhecer o Tizeca. Ele devia ser mesmo muito interessante e raro. Aliás, os raros são bem interessantes por serem raros.
ResponderExcluirInês.
Este era raríssimo... Mais raro que este, só um outro que eu conheço, mas...esta é outra história que talvez você ainda conte.
ResponderExcluirMas Serjão, eu sabia que você gostava do Tizeca,porém não tinha conhecimento que a afeição era tão grande. Emocionou-me saber e imaginar seus sentimentos e anseios de criança em relação a ele.
Que Deus o tenha!
Mika