sexta-feira, 28 de maio de 2010

ENFIM, NA EXPÒ 72, O ENGOMA-CUECA!



O engoma-cueca não é uma atividade que possa ser introduzida assim, a seco, sem nenhuma preparação. Afinal, trata-se de uma instituição, um costume presente na vida das pessoas, mesmo as que não gostam de dançar, há milhões de anos.
Como não podia deixar de ser, o starch underwear, como o chamavam os ingleses, remonta à invenção da cueca, ocorrida presumivelmente na pré-história, e de forma específica durante a Era Mesozóica, no período chamado Coxásseo, que vai de 144 a 65 milhões de anos atrás. O fenômeno engomista é atribuído à utilização de um longo pedaço de linho, moldado como um triângulo com tiras nas pontas, para proteger a virilha contra os atritos desagradáveis (lembrem-se que estamos na era da pedra lascada!). No entanto, com o surgimento da dança, e a passagem à era da pedra polida, o atrito já passou a ser agradável, acabando por gerar uma evolução na própria espécie humana: o Pithecanthropus Erectus, hominídeo surgido na ilha de Java, personagem principal do ritual, que foi posteriormente definido por Charles Darwin, como bate-coxa.
Esta dança-luta, precursora do moderno engoma-cueca, veio da África e foi introduzida no Brasil pelos negros, acontecendo pela primeira vez na cidade alagoana de Piaçabuçu, região do baixo São Francisco. Reza a história que, nesta peleja, a dança era praticada por homens (como também é comum nos dias atuais): ambos, sem camisas, só de calção, amarravam os testículos para trás, aproximavam-se. Colocavam peito com peito, apoiando-se mais nos ombros, direito com direito, e depois esquerdo com esquerdo. Uma vez apoiados os ombros, iniciava-se a música, quando ambos afastavam a coxa o mais que pudessem e chocavam-se num golpe rápido.
Desnecessário dizer que os portugueses, ao adotar o costume milenar, acabaram sendo vítimas de sérios acidentes desagradáveis. Foi quando um brasileiro, cujo nome infelizmente não ficou registrado na História, adaptou a peleja para ser praticada por casais, eliminando, com a exímia decisão, os riscos, as amarrações, além da suavização das pancadas, aproveitando-se ecologicamente da anatomia e dos encaixes, sabiamente proporcionados pela mãe Natureza. A este inventor, nosso reconhecimento!
Feita esta digressão, pelo bem da ciência, e para restabelecer o rigor histórico, voltamos à saudosa Expô 72 de São João Nepomuceno.
Naquele ano, existiam dois recintos para baile na Exposição.
Um desses recintos era o galpão maior onde, aos cuidados de nosso saudoso Deck Henriques, funcionava um grande restaurante. O conjunto Som Livre ali se apresentava sendo que, neste ano, estaria estreando sua nova aparelhagem. Na época, alguns componentes do Pytomba (Márcio, Dalminho) integravam o conjunto Cobrinhas, que juntamente, com nossa madrinha Nely, Antônio, e os saudosos Zé (com quem, mais tarde, eu revezaria na bateria) e Oberon, tocavam, então, no outro recinto, com a direção técnica do Sílvio Heleno, que viria a ser tecladista depois. Era um local bem mais simples e popular, porém incrivelmente divertido, e onde o povão levantava poeira de tanto dançar.
O referido cafofo, devido ao seu tamanho, era meio apertado e, com a presença maciça do grande público, aí é que a coisa complicava. Entrar ou sair era praticamente impossível. Isso para não falar que somente uma luz negra servia-nos de referência para quem precisasse se deslocar, ou melhor, tentar se mexer. Era um breu total. Coisa de doido! Eu mesmo, quando retornava após uma breve saidinha, somente alcançava o palco após passar por um atalho secreto, que havíamos improvisado pelos fundos.
Era um rala-rala de fazer gosto! Passar no meio do pessoal que estava dançando era complicadíssimo, um quase suicídio ou, no mínimo, muito perigoso. Várias pessoas chegaram a ficar agarradas no meio da pista de dança. Para passar ali era que nem carro na lama: o negócio era engatar uma primeira e torcer pra que não se atolasse. E, se tal acontecesse, meu amigo... bye bye!...
Creio que já deverão ter deduzido o porquê de Engoma-Cueca.

Apenas como registro, gostaria de dizer que, já no ano seguinte, “subiríamos de posto”, e nossos shows passariam a ser feitos no recinto maior. Modéstia à parte, ali aconteceram memoráveis bailes.
Numa dessas noites, após um violento curto circuito que veio a apagar todo o recinto da expô, continuamos, apenas com o auxílio de um lampião, a fazer durante uns quarenta minutos, um incrível som, usando somente os nossos instrumentos de percussão. Quando a energia retornou, o pessoal nos aplaudiu de pé.

Enfim, acho que já me alonguei demais.
Como havia dito, mesmo que quisesse, não haveria papel suficiente para registrar tantos fatos que aconteceram nesta primeira EXPÔ, principalmente ao longo de seus 37 anos, razão pela qual escolhi focar em apenas alguns poucos detalhes daquele ano de 1972, a primeirona.
Na verdade, meu objetivo principal foi de tentar passar um pouco daquela energia tão positiva que nos envolveu. Foi realmente um momento mágico e único para todos nós, sanjoanenses, quando centenas de pessoas, muitas delas anônimas, derramaram seu suor pra que tanta coisa boa viesse posteriormente acontecer.

(Crônica - Serjão Missiaggia
Pesquisa histórico-arqueoilógica - Jorge Marin)

quarta-feira, 26 de maio de 2010

EXALTAÇÃO A SÃO JOÃO NEPOMUCENO



Entre montanhas, num pedacinho de Minas Gerais,
pulsa o coração de um lindo povo, num lugar de natureza sem igual,
vibrante, acolhedor, de infinitos ideais na construção de um mundo novo,
cidade tão feliz, calma, serena... Jamais adormecida,
na busca do amanhã, seu calor aquece nossa alma,
sua paz conquista a nossa vida.

Tão belas suas manhãs, ainda mais belo o seu luar,
seus rios cachoeiras, suas águas é nosso mar,
Garbosa tão querida, por Deus foi abençoada,
é mãe, é berço, é morada... É amada.

Belas praças, arvoredos, jardins em flores... Construções,
igrejas, capelas, sinos na colina, a fé que nos ensina a união que nos conduz.
Palco dos sorrisos, atores eternos... Carnavais,
de gente alegre verdadeira que luta,
na busca incessante pelo pão de cada dia, que sua terra produz.

É o horizonte dos poetas,
o solo fértil em que se faz brotar,
canções de tantos cantores,
emoções de tantos amores,
saudade de quem ao longe está.

São João Nepomuceno...
Tu és passado, presente, futuro,
és o mais puro sentimento de orgulho,
de teus filhos que em teus braços nasceram,
e os que a ti escolheram,
fazendo de ti um abrigo.

(Serjão Missiaggia - Festival para escolha do hino em 1998)

São João é isso e ainda é muito mais
mais que cidade é um doce vício
misto de encanto, quase um feitiço
de exposições, bailes e carnavais.

Quem aqui nasce, não esquece jamais
as noites quentes cheias de preguiça
os beijos loucos a provar o viço
do que é mais doce em Minas Gerais.

Ver suas montanhas ao chegar no trevo
é emoção que o coração dispara
sentimento que a nada se compara.

É um momento de total enlevo
rever a torre da Igreja Matriz
aqui chegar, voltar a ser feliz.

(Jorge Marin, Soneto e Foto)

sexta-feira, 21 de maio de 2010

ENFIM, A EXPOSIÇÃO 1972



Capítulo 3

Crônica - Serjão Missiaggia

Quanta novidade boa envolvida em diversão e alegria. E ainda havia muitos outros expositores: Fábrica de Saltos de Calçados (Glória), Confecção Tapuia, Confecção Dalcymar, Serralheria São José, Fábrica de Ladrilhos Knop, Confecções Ubatã Ltda, Metalúrgica Mont Serrat, Fábrica de Artefatos de Metal, Confecções Silmara, Confecções Singular, Madalena Bastos Ladeira (Flores), Confecções Paraíso do Bebê, Cia. Fábio Bastos.
Quem não se lembra das Maçãs do Amor, Selma - a Mulher Mostro, O touro Piloto do sr. Ubi e muito mais?
Tudo era muito simples e rústico, mas de incrível bom-gosto e criatividade. A matéria-prima empregada, principalmente nos acabamentos, quase sempre era em bambu.
E, por falar em Sr Ubi, nossa famosa fanfarra, após uma belíssima apresentação pelas ruas da cidade, onde veio estrear seu lindo macacão azul e branco, subiu desfilando, morro da Matriz acima, fazendo caracol em fila indiana até a Exposição. E por lá ficávamos. Raro alguém perder um minuto que fosse da festa. Ainda vestidos com o macacão, quase sempre ficávamos até o outro dia.
Já no ano seguinte, o ginásio organizou seu próprio estande. Montamos uma verdadeira sala de aula (carteiras, quadro-negro e tudo mais). Até nosso inesquecível esqueleto Juquinha fez parte da festa. Fizemos tudo com tanto carinho, que até algumas disputas chegaram acontecer, para que pudéssemos decidir quem iria pernoitar e ter o prazer de ficar de madrugada tomando conta do lugar.

Assim, de uma forma muito feliz e com muita sensibilidade, se expressou ZACH em sua coluna DECORAÇÃO INTERIOR. Numa nítida demonstração de tristeza, pelo sonho que havia terminado. Parecia estar, naquele momento, representando todo o sentimento de um povo:

“A EXPO/72 DA GARBOSA TERMINOU
Dia 22, pela manhã, lá estivemos. Os estábulos vazios, o campo sem poeira, sem máquinas. Os stands semi destruídos. Tábuas arrancadas sem nenhum cuidado, jogadas a esmo ameaçando nossos pés com pontas de prego.
A aparência era de vandalismo. Aproxima-se de nós um rapaz da rádio local e comenta sobre a festa de ontem - último dia da Expo. Pede nossa opinião. E, de repente, nos diz:
-‘Não gosto de ver isso. Desagrada-me ver destruir, seja o que for... Não me faz bem um espetáculo assim...’
Concordamos com ele. Realmente, o espetáculo da destruição é triste, mas é tão fácil, tão rápido...
Para construir leva-se tempo, perdem-se noites de sono, perde-se até a calma pelo cansaço.
Aqueles stands ali... Só os estandes para não ir tão longe, não remontar a muito. Aqueles estandes foram palco de trabalho, de esforço de muitos. Cada responsável ocupou uma grande equipe para montá-los. Pensou-se tanto, experimentou-se. Ideias foram jogadas fora, depois de ocupar as mentes, de cansá-las. Outras nasceram, foram destruídas, foram torcidas, sacrificadas.
Foram dias de trabalho, de discussões. Trabalho em equipe é difícil. Nem todos têm condição ou estão preparados para liderar ou ser um liderado... É a despreparação para a própria vida, a falta de entusiasmo. Daí vem o sofrimento, a não aceitação do outro.
E aquela manhã do dia 22, só o dia 22, só ele bastou... Tudo estava destruído. A gente olhava e via uns poucos empregados da prefeitura, comandados pelo Tonico Fontana, o incansável. Alguns poucos responsáveis pelas firmas expositoras e um ou dois auxiliares. Só isso de gente. Tão pouco.
Por quê? A obra era fácil. Não se precisam de muitos para destruir... E sentimos no ar a presença do “Grande Stand”, o editorial de um dos mini-especial de Voz de São João. Até ele, o invisível, poderia ser destruído se uns poucos o quisessem... Mas, pelo bem da Garbosa, da comunidade, ele precisa ser preservado. O “Grande Stand”, O ESPÍRITO DE UNIÃO E DE COOPERAÇÃO. Mesmo que, para sua manutenção, vaidades fossem feridas, lucros maiores fossem contidos, orgulhos fossem dominados. Um povo desunido é um povo fraco!
Não vamos todos nos unir no Cristo? A união nele exige sacrifícios, exige disponibilidade real, não meias medidas.
Destruir é fácil. ‘Construir, esse é o trabalho que requer mestres.’
Para seu cantinho de recordação, caro São-Joanense, leve uma pequenina peça que o faça lembrar a EXPO/72 da Garbosa. Isso enfeita sua estante com um sabor diferente, de um bairrismo doce e terno. E fará despertar em si um entusiasmo maior para com as coisas de sua terra.”

Assim também descreveu Bambino, em sua coluna na Voz de São João:
“O que impressiona e exalta o nosso contentamento é de como o São-Joanense participa e demonstra sua valiosa boa vontade, quando convocado para as árduas tarefas de interesse coletivo, como foi na 1ª Exposição; tudo se processou com a infalível prata da casa e o habitual desprendimento, colocando a cidade à disposição do hóspede, que se torna sensível aos interesses da Garbosa, numa manifestação simpática pela causa.”

Algumas notas interessantes extraídas do Mini-especial Voz de São João:
“- Lamentamos o ocorrido hoje à tarde na Cooperativa dos produtores de leite desta cidade. Principio de incêndio em uma das caldeiras. Felizmente foi debelado a tempo e tudo voltou ao normal.
- Muito tem nos ajudado na redação o telefone instalado no stand da casa Leite & Cia.Ltda. Graças a ele temos nos comunicado rapidamente para colher dados sobre pormenores da Expo.
- Hoje uma mulher, Selma, está virando monstro aqui na Expo. Cuidado minha gente!
- Achalay Q. Ingrata Acuatica. Nome de gente? Não, de vaca, e da que mais tem chamado a atenção de todos, pois rende por dia, na fazenda, 45 litros. Uma verdadeira cooperativa. Holandesa, origem pura, preta e branca, veio da Argentina. Sua idade é 86 meses. E puseram o sobrenome na pobre coitada de Ingrata... Vai ser ingrata pra lá...

NA PRÓXIMA SEXTA – o que, tenho certeza, permanece na mente de todos que estiveram naquela Expô – o ENGOMA-CUECA.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

ENFIM, A EXPOSIÇÃO... 1972



Capítulo 2

Crônica - Serjão Missiaggia

Ainda na Voz de São João (Especial - Mini) obtive o seguinte comentário:
“São João, você está linda! É empolgante ver o entusiasmo de sua gente! Hoje é seu dia. 16 de maio. E aqui estamos, vibrando com você, comemorando os seus 92 aniversários. A banda musical “Santa Cecília” e os alunos do colégio Augusto Glória iniciaram a intensa programação, despertando a cidade com sua bela alvorada. Após o hasteamento da Bandeira Nacional, houve missa celebrada pelo querido vigário PE Vicente Reis, em frente à Prefeitura Municipal. O desfile estava uma “parada”. Grupos Escolares, Ginásio Dr. Augusto Glória e Colégio São João Nepomuceno, como sempre, brilharam pelo garbo e a disciplina. E hoje, parece que maior foi o carinho com que se apresentaram. Um detalhe que emocionou a todos durante o desfile: a apresentação, pela primeira vez, dos alunos do Mobral.
Escolas de Samba Esplendor do Morro e Avenida, esta com participação de todos os clubes, desfilaram ontem à noite pela cidade em direção à Exposição. Grande Sucesso!”

Mas, foi ao longo desses trinta e sete anos que muitos e muitos fatos marcantes (e põe fatos nisso) vieram acontecer. Com certeza, não haveria papel suficiente onde pudesse descrever tanta coisa.
Dizem que a primeira vez, ou melhor, as primeiras vezes ninguém esquece: por isso, vou somente tentando relembrar um pouco daquilo que tive a felicidade e o privilégio de viver principalmente em 1972, nossa primeira exposição.
Como já vinha dizendo, tudo teria sido muito envolvente. A participação das pessoas foi algo fantástico.
O calor da população irradiava de tal maneira, que a cidade parecia estar se preparando para sediar os jogos olímpicos.
Não havia um lugar: esquinas, colégios, clubes, fábricas, em que o assunto não fosse o mesmo: a chegada do grande momento.
Nas semanas que antecediam as primeiras exposições, o local já havia se tornado um imenso canteiro de obras e um verdadeiro ponto de encontros. Pessoas curiosas e felizes acompanhavam cada martelada. Era como se tudo estivesse sendo montado no terreiro da casa de cada um de nós.
Saímos muitas vezes do colégio e corríamos para lá. Durante o dia, ou mesmo durante a noite, velhos, jovens, crianças, alunos, professores, moradores vizinhos, faziam do local uma praça de confraternização.
Nada poderia sair errado. Parecia que, inconscientemente, estávamos ali assegurando que tudo aconteceria da melhor forma.
Enquanto isso, aquelas inesquecíveis barracas de sapé começavam decorar o ambiente. Apesar de insegurança, ainda acho serem super-chiques e aconchegantes. Ali, uma imensa galeria estava sendo construída e diversos estandes seriam usados pelos expositores.
Lindas jovens, com seus trajes típicos, foram escolhidas para trabalhar na recepção aos visitantes. Foi um tremendo sucesso. Entre elas recordo-me da Rita Nogueira, Rita da Cássia Gouveia, Sonia Pinton, Ângela Maria, Ana Maria e Ilza Gruppi.
Também desta edição da Voz de São João, transcrevo trechos do seguinte artigo:
“Os stands ‘boxes’ da Exposição, em estilo tosco, estão instalados no antigo campo do Mangueira com cerca de quinze pavilhões, entre eles um especialmente adaptado para o serviço de bar e baile.
A indústria e comércio ocuparão 48 stands, sendo que muitos interessados, por falta de maior numero de vagas, deixaram de se inscrever. Pássaros de várias procedências estarão com seus cantos e gorjeios dando um ambiente alegre ao recinto da Exposição”.
Muitas firmas se fizeram presentes na primeira Exposição, sendo que ainda me recordo bem de algumas: Fábrica de Vassouras Soares, Tipografia e Papelaria Moderna de Rocha & Cia, Cerâmica São Joanense, Confecções Cláudia, Calçados Sylder, Fábrica de Ferraduras Manzo, Marcenaria Brasil, Confecções Marlu, Fábrica de Calçados Dragão, Casa Leite, Supergasbrás (Paulo Gomes da Fonseca), Entalhes em Madeira (Paulo Manzo), Máquinas Guarnieri, CCPL e outros. Esta última nos brindava sempre com seus deliciosos leitinhos. Uma fila imensa se formava ao longo do parque para que se conseguisse saborear um desses.
Os estandes eram muito bem organizados, e decorados com bom gosto e entusiasmo. É de fazer inveja a alma deste povo! Todos se uniram para a beleza e o sucesso da primeira Exposição.
Também alguns estandes nos marcariam mais, como foi o caso de Rocha & Cia. Neste, eram mostradas as cores da vida, no belíssimo televisor Philco instalado no local, enquanto um delicioso café (Santa Cecília) era distribuído a todos aqueles que marcavam presença. Além disso, a Voz de São João se fez presente com sua impressora, onde tivemos o mini-Voz de São João, jornalzinho este que, aos comandos de Luciana Pulier, era distribuído gratuitamente.
A barraquinha do Lions Clube também fez muito sucesso.
Como o clima estava bom, e as almas não eram, como não são, pequenas, a Exposição continuou.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

ENFIM, A EXPOSIÇÃO... 1972



Capítulo 1

Crônica - Serjão Missiaggia
Dias atrás, coincidentemente ao se aproximar a semana do município, tive a grata felicidade de ler em um jornal local uma noticia que nos dava conta de uma verba, disponibilizada para que se iniciasse a tão necessária obra de recapeamento asfáltico de nosso Parque de Exposições.
Aí não teve outro jeito: lá fui eu, deixar que aquelas boas lembranças começassem a pedir licença e se aflorassem em minha mente.
De imediato, deparei-me com a lembrança da figura de meu saudoso pai. Era uma tarde qualquer entre 1971 e 1972. Recordo-me bem quando ele, ao chegar para o almoço, fez o seguinte comentário:
- Acabei de descer, com o Gaby, lá do antigo campo do Mangueira! Estão preparando o local para se fazer uma espécie de Exposição em São João - concluiu.
E assim, todo entusiasmado, ficava a nos contar, em detalhes, tudo o que havia visto. Dentre muitas coisas que nos narrou, lembro-me apenas de que estariam construindo vários galpões. Como todo bom adolescente, de momento, pouco me liguei para aqueles fatos. Talvez apenas certa curiosidade. Nada mais.
Jamais poderia imaginar o quanto aquele lugar iria significar para a cidade. Quanta coisa boa em minha existência ali iria acontecer. Não só para mim, mas para um “monte” de outras pessoas.

Assim, a cada dia que passava, e se aproximava o tão esperado acontecimento, um entusiasmo contagiante e sem igual já se fazia presente. Não havia distinção, pois todos os setores da sociedade, num espírito fraterno e de cooperação, começavam encarar o grande desafio. Interessante que, mesmo ainda jovem este fenômeno, me chamou muito à atenção.
O povo, cada vez mais curioso e empolgado, ficava a observar aqueles frenéticos sobes e desces de pessoas e carros no morro da Matriz. Eram empresários da indústria, comércio, escolas, clubes, agropecuaristas e artesãos que, mesmo ainda faltando vários dias para o início da festa, já se faziam presentes. Era um momento muito especial e um motivo de extremo orgulho para todos os sanjoanenses.
Para terem uma ideia, transcrevo um trecho do jornal Voz de São João, datado de 14 de maio de 1972, onde, na oportunidade, a direção do ginásio se dirigia aos alunos da seguinte maneira através da coluna “Colégio São João em... forma”: “Meus caros alunos, inicia-se terça-feira a Exposição Agropecuária e Industrial de São João Nepomuceno. Bela iniciativa do governo municipal sob a ‘batuta’ do nosso Bolote, prefeito municipal, cuja intenção é elevar sempre mais o nome de São João Nepomuceno, a nossa querida Cidade Garbosa. Prestigiem com sua presença, pois vocês são indispensáveis.”
Ainda na mesma edição da Voz de São João, tive a felicidade de deparar-me com estes versos. Seu autor, Sidnei Batista (o China) foi uma pessoa maravilhosa da qual, mesmo que por um curto período de tempo, tive a honra de me relacionar e trocar ideias. A ele, meu eterno respeito e admiração.

VERSOS PRA FRENTE

Cara São João, hoje você está na sua,
Veja quanta gente bordejando pela rua,
Você quanto mais velha mais se remoça,
E minha gamação é tão excessiva,
Que se eu entrasse no tutu da esportiva,
Eu iria tentar tirar você da fossa.

Mas sua gente, São João, é muita vida,
Assim mesmo que eu perca a esportiva,
Sua fossa já era. É grande nosso apego.
E manja pros maus presságios não dê bola,
Tudo é como diz a antiga parola:
“Tão logo após o toró vem o sossego”
Será sua festa a mais bela da paróquia,

E sua exposição talvez coloque-a,
De bandeja, num invejável lugar.
E aqueles que vibram com sua murruca,
Haverão de ver, muito bem lelés da cuca,
Que você está botando pra quebrar.

E é bem legal essa nossa curtição,
Por sua festa, por sua exposição,
Nesta semana você vai acontecer.
E no fim de papo, após o serviço,
Você ainda há de dizer:- Ora isso
E um galho fácil de quebrar, podes crer.

(CHICOTE)

A juventude, num entusiasmo ainda maior, se preparava da mesma forma, para a grande festa.
As costureiras já começavam trabalhar a todo vapor, para que assim pudessem dar conta das centenas de encomendas, dentre as quais: blusas, cachecóis, meias e luvas de lã.
Interessante ressaltar que este costume veio a se tornar uma constante, principalmente, nas primeiras exposições.
O inverno era marca registrada que, já no início de abril, começava a dar seus primeiros sinais. Era um frio onde, raramente, havia mal tempo. Frente fria chegava para nos trazer frio e não chuva. Um céu totalmente aberto no qual uma linda cor avermelhada vinha compor, juntamente com muita serração, um cenário perfeito e acolhedor para o tão esperado evento. Algumas noites eram tão frias que, não raramente, subíamos envolvidos em cobertores. Tudo era muito romântico e motivo de alegria.
Como vocês sabem, a Expô continua na próxima semana.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

DUNGA E OS GIGANTES



Crônica: Jorge Marin

Enfim, podemos dormir em paz, e retomarmos a nossa vida normal: Dunga convocou a Seleção Brasileira que vai disputar a Copa do Mundo de Futebol na África do Sul! Pode parecer exagero, mas juro que, ontem, vi várias pessoas amontoadas, a uma da tarde, em frente às telas de plasma das inúmeras lojas de departamento da cidade, unicamente para testemunhar o pronunciamento solene daquele que foi, durante muito tempo, o antônimo do futebol-arte no Brasil.
Atônitos, os expectadores que, muitos deles, estavam abrindo mão do almoço para assistir à convocação, se questionavam baixinho: o Imperador vai? E o Gaúcho? Além dos ornitófilos de plantão, torcendo ora para o Pato, ora para o Ganso.
Quando o nosso esperto técnico chega, a multidão beira o colapso nervoso, é uma comoção. Eu uso aqui o adjetivo “esperto” na sua acepção original mesmo, não pensem que é ironia, pois, embora Dunga, o anão, seja o Dopey (estúpido em inglês), o nosso tem as características daquele personagem: é perceptivo, habilidoso, sabe interagir com seus colegas, embora talvez lhe falte um pouco de senso de humor.
O anúncio dos eleitos é exatamente o que o técnico já prenunciara em outras entrevistas e, no entanto, causa muita decepção, como tem acontecido nas últimas dezoito convocações para a Copa do Mundo. Como sempre, os torcedores não se conformam porque o que eles consideram como o maior craque de todos os tempos e que, por acaso, joga em seus times, não foi chamado.
Mas uma coisa boa fica deste episódio: é a questão do comprometimento, levantada pelo técnico. Nos dias atuais, o narcisismo e o individualismo andam tão em moda e são tão super-valorizados, que esta história de assumir compromissos ou responsabilidades parece uma coisa ultrapassada, sem valor. Haja vista, por exemplo, a quantidade de crianças sem pai vagando por aí, ou adolescentes sem perspectiva de vida, ou jovens adultos que têm como objetivo máximo jamais constituir família, “aproveitando”, como se diz, o conforto da vida de solteiro com o desfrute cada vez mais longo da casa dos pais.
Não se trata aqui de um julgamento moral: as situações de cunho egoísta só acontecem porque contam com o apoio das pessoas que são prejudicadas. O indivíduo egoísta age por um impulso de autoproteção e medo, e vai se prevalecendo na medida em que os que o cercam compactuam com seu autoritarismo, confundido atualmente nas organizações, com “capacidade de liderança”.
Outro erro no qual Dunga felizmente também não embarcou, e que, da mesma forma, é muito comum nos departamentos de recursos humanos das empresas atuais: o da super-qualificação, isto é, pessoas que, mais do que estarem aptas, são obrigadas a demonstrar qualidades sobre-humanas. Muitas organizações estão descobrindo, para seu pavor, que estão inchando os seus quadros com profissionais altamente qualificados, com títulos e perfis psicológicos invejáveis, mas que, na hora do “vamos ver”, simplesmente nada resolvem. A não convocação dos “malabaristas” do Santos vai contra os interesses das grandes emissoras de TV e seus patrocinadores, mas é perfeitamente coerente com o pensamento utilitarista do técnico. O time brasileiro de 1982 foi o mais vistoso e, no entanto, deu no que deu frente à Itália.
Finalmente, outra questão muito importante foi tratada. Diz respeito a uma demanda comum entre os jovens, que é a chamada “segunda chance”. Dunga afirmou que várias chances foram dadas ao atacante Adriano, mas este não soube aproveitá-las. E esta é uma triste realidade: a maioria das pessoas, ou não reconhece, ou não aproveita as oportunidades de rever sua postura. É uma pena pois, afinal de contas, ninguém muda ninguém, mas, como dizia meu velho pai, “cada um tem que saber as besteiras que faz e ficar velhaco para não cometê-las o tempo todo.”

sexta-feira, 7 de maio de 2010

MÃE E MULHER



Poesia: Serjão Missiaggia e Jorge Marin

Eterna fonte da vida,
onde toda semente se faz nascer,
em ti, estará sempre a moradia,
do amor de Deus, ao germinar cada ser.

Tu que, mulher, és doce construção
real sutil da feminilidade
imagem do objeto da paixão
retrato colorido da vontade.
Espelhas, na imagem, a calmaria
de cílios precipícios tecituras.
Te tornas, num instante de magia,
selvagem, e a um só tempo, toda pura.

E ocorre aí então, na plenitude
da trama dos prazeres divididos,
aquela mais divina atitude:
no amor, poder gerar uma nova vida!
Milagre magnífico da espécie,
momento em que a terra encontra o céu,
no qual o próprio homem se esquece
de sua finitude, e imita Deus.

E tu, mulher, que, doce, participas
de ato tão antigo e tão moderno,
renasces e floresces no infinito:
te tornas, num momento, então eterna.
Já não és mais aquele ser humano,
pois tens, dentro de ti, um corpo imerso.
Deixaste de habitar só este plano.
Agora és o portal do universo.

Abraços para as mães que já existiram,
e para aquelas que existem agora,
pois estas nunca deixam o coração,
e as outras jamais saem da memória.
Mães modernas, mães jovens, mães sofridas,
mães roqueiras, mães fashion, mães amor,
mães solteiras, mães santas, mães amigas,
mães da gente e mãe do Nosso Senhor.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

O PEITO



Crônica - Jorge Marin

De repente, a cena artística nacional para e um fato marcante abala todas as estruturas do chamado mundo da arte. O motivo: a polícia está investigando uma peça teatral, já fora de cartaz, um musical na verdade, no qual uma garota de dezesseis anos exibe o seio nu, um só, o direito.
Ou seja, não importa mais os novos lançamentos de filmes, ou livros, ou mesmo os novos CDs gravados; o assunto agora é o peito. Todas as emissoras de TV, todos os sites dos grandes jornais, o Orkut, o Twitter, não se fala em outra coisa. Alguns argumentam: o Lula está voltando com a censura, é um absurdo! Outros condenam: é nisto que dá a falta de religião, estão exibindo pornografia infantil impunemente.
Sabem o que eu acho disto tudo? Na verdade, eu não acho nada! No entanto, começo a sentir mal com a oferta de tanta informação inútil nos meios de comunicação. A menina, que se diz virgem, estuda num colégio de freiras e informa que a exibição do seio estava no contexto da peça. O pai defende, afirmando o tal contexto poético. A promotora afirma que foi infringido o Estatuto da Criança e do Adolescente.
Eu fico pensando que parece que há um surto de psicose endêmica, talvez uma pandemia, pois este fenômeno não está restrito ao Brasil: todo mundo tem certeza de tudo, o pensamento concreto está no ar, se é que o concreto pode ficar no ar, mas está aí o Oscar Niemeyer, às vésperas dos 103 anos, que não me deixa mentir. O fato é que as pessoas não conseguem abstrair e todos brigam, literalmente, para fazer valer seu ponto de vista.
E o pior é que não há como se esconder: tento ler uma análise de algum iluminado da Folha e lá está ele: o peito. Procuro notícias do meu Botafogo, mas há um peito na beira do gramado e, até nas páginas sobre comportamento, é analisado o assunto: você deixaria sua filha adolescente mostrar o seio no teatro?
Para piorar as coisas, são mostradas cenas de matérias relacionadas, e somos castigados com as imagens da garota que foi vaiada na faculdade porque estava com um vestido curto.
Toda discussão inútil termina por gerar um efeito adverso. Tem um vizinho meu, grosso como uma porta de cofre, que agora quer porque quer assistir a peça. A mulher fica irritada:
- Você só quer ir porque quer ver o peito da moça!
Ele, lendo o jornal, retruca:
- Não, eu quero poder avaliar o contexto polêmico da vivência homossexual num ambiente provinciano.
Ela não perdoa:
- Temática homossexual? Logo você que não suporta gay.
Mas meu vizinho permanece impassível:
- Eu sei como é difícil para um público como o brasileiro suportar estas coisas que são comuns nos países desenvolvidos.
A mulher é cruel:
- E o que é que você sabe sobre outros países? O máximo que você viajou até hoje foi no Paraguai, comprar aquele nosso vídeo-cassete...
- A gente passa uma vida inteira ralando – responde o marido – e agora, que descobre os encantos da arte, recebe este tipo de reação grosseira. De qualquer maneira, vou ver com o Zezinho, da van, se eles vão ao Rio.
- Só por cima do meu cadáver – decreta a mulher.
- Mas é um peito só – ele reclama.
- Não vem com essa não, que eu sei que eles sempre vem aos pares. É por experiência própria.
Será falta de cultura, ciúme, ou puro despeito?

BRIGADU, GENTE!

BRIGADU, GENTE!
VOLTEM SEMPRE, ESTAMOS ESPERANDO... NO MURINHO DO ADIL