sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

UM INTRUSO EM MINHA CAMA

Desenho de Rubyrock

CAPÍTULO FINAL - A libertação

NA SEMANA PASSADA, falávamos da nossa libertação. Procuramos um profissional, relatamos nosso drama pessoal, chegamos à conclusão que, quase tudo o que acontece na vida de um casal, é de responsabilidade de ambos. Seguimos alguns conselhos do nosso médico. E foi tiro e queda!
Assim, é com muito prazer que repasso a vocês, agora, as dicas milagrosas que vieram a salvar minha permanência ao lado da minha amada esposa.
Anotem então:
Se beber, faça-o moderadamente. Evite o fumo e a ingestão de alimentos pesados à noite e, se possível, pelo menos três horas antes de dormir. Deite-se preferencialmente de lado, evitando sempre a posição barriga para cima. Respire calmamente e procure fugir do estresse, principalmente momentos antes de dormir.
Algumas gotas de soro fisiológico em cada narina sempre ajudam, principalmente se vierem acompanhadas de uma boa umidificada no quarto. Pra quem pensou em rinite alérgica, acompanhada de tosses e espirros, atirou bem, mas ainda não acertou.
Continuando com a referida, e milagrosa, receita, quem quiser também poderá tentar inclinar um pouco a cama e dormir sem travesseiro.
Exercícios específicos para os músculos do maxilar poderão ajudar muito. Só não gostei deste negócio de colar uma bola de tênis nas costas.
Enfim, foi com estas e outras pequenas medidas que, se não espantamos de vez o nosso visitante, pelo menos demos uma boa melhorada na qualidade de nosso sono.
Bem! Como todos já deverão ter matado a charada, vou terminando aqui, fazendo minhas considerações finais.

Dedico esta inocente brincadeira a um grande amigo, que não encontrava há um bom tempo. Por sinal, foi ele o verdadeiro responsável pela idéia de escrever esta croniqueta.
Ri muito quando, num descontraído bate papo, veio me confidenciar, de uma maneira hilariante, o que estaria acontecendo com ele e sua esposa. Brincou, dizendo que iria devolvê-la pra sogrinha a qualquer momento, embasado na justificativa de que, quando a assumiu, ela não teria apresentado este acessório. De fato, mais do que o Código Civil, o Código de Defesa do Consumidor estabelece que estamos face a face com uma publicidade enganosa, e por omissão, por “deixar de informar sobre dado essencial do produto ou serviço.”
Meu amigo ficou tão entendido no assunto, que cheguei a ficar impressionadíssimo com seu conhecimento. Imaginem vocês que, após acender um cigarro, começou a dar-me uma verdadeira aula dizendo:
- Serjão! Tudo na realidade não passava de um choque entre o Palato (céu da boca) e a Úvula (campainha da garganta)
Aí não agüentei e, sem pensar duas vezes, fui, discretamente, captando e anotando todas as informações. Fiquei tão fascinado com aquela aula, que não mais conseguia pensar noutra coisa que não fosse tentar desenvolver uma crônica.
Com certeza, este meu amigo, seguidor de carteirinha do Blog, deverá estar, neste momento, lendo esta singela “homenagem”. Ficarei te devendo esta, colega!
Forte abraço em todos desta linda família e boa sorte pra você.
Que boas noites de sono venham ser uma constante neste novo ano e que este suplício que consiste em ficar assistindo a parceira RONCAR a noite toda, e sem nada poder fazer, seja coisa do passado.
Não é mole não meu irmão!!! O próprio poeta, o grande Drummond dizia: “cardíaco e melancólico, o amor ronca na horta, entre pés de laranjeira, entre uvas meio verdes, e desejos já maduros.” Será que ele quis dizer úvulas?

(Crônica: Serjão Missiaggia)

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

A POESIA, PRA QUE SERVE?

Ilustração de Paulo Uequed

O ano era 1974, ou 75, e saíamos, eu e meu amigo Gilberto, pela noite sanjoanense. Naqueles tempos, depois da meia-noite, as ruas pareciam cenário de algum filme de terror. Devia ser junho e, no meio daquela friagem, o assunto continuava e não acabava: era a poesia. Pensávamos que éramos poetas, talvez até fôssemos. Mas mergulhávamos com tanto entusiasmo naquele ofício que parecia que a vida ficava em segundo plano.
Alguns dias depois, o Serjão estava na minha casa, com um violão. Tinha uma melodia, mas faltava a letra. Era para um desses festivais e, novamente, lá estava ela, a poesia.
Apaixonados, às vezes pegávamos alguns guardanapos e, vendo a eleita (que termo antigo!) passar, rabiscávamos alguns versos. E, nas mídias da época, pipocavam os poetas: Neruda, Vinícius, Ferreira Goulart, João Cabral, além do Drummond, que era obrigatório.
Aí o século acabou e começou esse aí, que vocês estão vivendo, e eu me pergunto: cadê aquela poesia toda e, afinal de contas, pra que é que ela servia mesmo?
Sei que os românticos vão objetar: ah, mas a poesia é uma coisa muito boa, serve pra gente dizer que ama o outro, e coisa e tal, e um mundo sem poesia seria um mundo bárbaro. Vem um saudosista e diz: hoje, os carinhas só querem saber de transar com as meninas. O fato é que nós também só queríamos transar com as meninas; só que, hoje, os caras mandam torpedos (vão mais fundo) e nós, coitados, mandávamos versos.
Veio aqui em Juiz de Fora, há alguns anos, esta mulher maravilhosa chamada Adélia Prado. Prado, como vocês sabem, é um campo florido e, no caso da Adélia, não tem como fugir da poesia. Pois bem, esta poetisa (hoje dizem poeta também, mas eu aprendi assim no Grupo Escolar Dona Judith Mendonça)... esta poetisa disse que a poesia é uma forma de representar um determinado objeto ou pessoa para os leitores. E deu o exemplo de um cara que escreveu de uma forma tão fantástica sobre a lua, que o Carlos Drummond de Andrade acabou de ler a poesia, e saiu correndo para ver a lua real lá no céu. Será que aquela pedra estéril lá em cima é tudo isto que o cara falou? Se era ou se não era não vem ao caso, mas a verdade é que o Drummond percebeu que a poesia fez com que ele olhasse para o céu, o que ele não vinha fazendo com frequência.
Então podemos anotar aqui uma finalidade da poesia: fazer o maior poeta do país olhar para o céu. Já é alguma coisa, mas, voltando à poesia apaixonada, podemos dizer também que ela serve para representar a pessoa amada, no caso do amor romântico. Traduzindo para os mais jovens, vamos esclarecer que o amor romântico é um tipo antigo de amor, onde as pessoas não ficavam. Dessa forma, podemos arriscar a dizer que poesia é movida por um desejo não realizado. Sim, porque se rola realizar o desejo, quem é que vai parar para escrever uma poesia?
Eu provoco, faço pouco dela, mas sei que ela continua por aí, nos blogs, twitteres e outros cenários da rede. Parametrização da histeria, ou simplesmente metáfora do desejo? Como dizia o velho Carlos, “se procurar bem, você acaba encontrando. Não a explicação (duvidosa) da vida, mas a poesia (inexplicável) da vida.”

(Crônica: Jorge Marin)

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

UM INTRUSO EM MINHA CAMA

Foto da peça Dona Flor e Seus Dois Maridos, publicada no Jornal de Londrina, em 30.09.2010

Capítulo 3: Cutucando

NA SEMANA PASSADA, falávamos sobre invasão de privacidade. Muitos leitores têm mandado e-mails, alguns de solidariedade, outros dizendo “cruz credo, isto não vai acontecer comigo, jamais”. E este é um grande erro, que a maioria de nós comete. Fomos criados numa cultura onde o bem sempre vence o mal, onde o amor prevalece e onde os casais são felizes para sempre.
Esta coisa do bem vencer o mal, creio que muitos já deixaram para trás, depois de tantas eleições vividas. Esta outra do amor prevalecer virou uma coisa meio riponga, igual ao bicho-grilo e aquele pessoal que enchia a cara e ficava falando de Karl Marx. Finalmente, esta outra estória dos casais serem felizes para sempre... Bem, quem ainda acreditava nesta balela, pode ter certeza que, até o final deste causo, vai mudar de idéia. E muito!
Esta invasão de leito, por exemplo, que venho dolorosamente contando, é um exemplo muito esclarecedor. De repente, o casal entra em colapso. E, para ser sincero, não sei o que seria pior: aquele que está praticando o ato, ou quem está ao lado, sofrendo (nem sempre, pois às vezes se acostuma), mas, de qualquer forma, tendo que acompanhar, heróica e passivamente, o desenrolar do momento.
Para alguns, a velha receita da vovó costuma dar bons resultados, ou seja, colocar em prática o famoso chega pra lá. Conhecido também por cutucão. Pelo menos, o parceiro (ou a parceira) vai saber que você está ali. Como se dissesse: ei, vai ficar nessa por muito tempo? Ou: alôôôô, eu não morri não, viu? E não é que costuma mesmo dar uma boa aliviada? Pelo menos, interrompemos, por algumas momentos, a folgada presença daquele do qual não falamos o nome.
Mas, confesso que a nossa situação já começava a ficar fora de controle, e atingir patamares inaceitáveis. Tudo conspirava para um final trágico. Foi quando resolvemos pedir ajuda, e acreditar que alguma solução poderia existir para o nosso caso. Quando digo ajuda, quero dizer ajuda profissional. Afinal, numa situação dessas, tentar se aconselhar com parentes, ou amigos, só vai fazer o casamento chegar ao fim, pois cada um vai ter um palpite, uma opinião, e, mais grave, vai tentar apontar um vilão, ou vilã.
E vocês vão perguntar: mas, existe um especialista para solucionar problemas do terceiro na cama de casal? Se eu disser sim, sei que não daremos conta de ter que divulgar o telefone desse suposto profissional. No nosso caso, o profissional foi um médico, um psiquiatra. Não pensamos absolutamente que seria algum problema mental. Sabíamos que a coisa era bem real, mas este profissional era amigo de ambos os envolvidos, e lá fomos nós, embora a consulta tenha se desenrolado como se fosse um diagnóstico psiquiátrico:
- Vocês querem falar a respeito?
- Lógico, não agüentamos mais conviver com isto. E blá-blá-blá. Até que surgiu a pergunta que não quer calar:
- Mas, de quem é a culpa?
Ficamos lívidos. É claro que, se um faz, e o outro suporta, é porque é um ato consentido. E, de repente, nós, que costumeiramente jogávamos a culpa um no outro, concordamos, envergonhados, que a culpa era de ambos.
E, para nossa inesperada surpresa, fomos capazes de falar abertamente e descobrir que poderíamos, com algumas simples atitudes, ficar livres dele. Em primeiro lugar, teríamos que desejar isso, verdadeiramente. O passo seguinte era ser bastante disciplinados, pois, do contrário, o maldito nunca nos deixaria, podendo até mesmo aumentar a frequência de suas visitas. Voltamos, então, para outras sessões, e conseguimos alguns insights, que, bem aplicados, resolveram o problema. Para sempre.
Na próxima semana, falaremos da nossa libertação. Aguardem...

(Crônica: Serjão Missiaggia / Adaptação: Jorge Marin)

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

ALÉM DA VIDA


Still do filme Além da Vida

O tema da comunicação com os mortos vem encantando gerações de curiosos, atiçando as mentes questionadoras e levantando perguntas difíceis de serem respondidas, sem se tomar partido: afinal, os mortos se comunicam com os vivos? Como explicar fenômenos como Chico Xavier e, mais recentemente, Waldo Vieira, criador da chamada ciência da Projeciologia, que tem levado milhares de pesquisadores a Foz do Iguaçu, em busca de resposta a estas perguntas?
O filme “Além da Vida”, do diretor Clint Eastwood, vem trazer uma nova visão sobre o assunto, e o faz de uma forma tão digna e surpreendente, que conseguimos sair da abordagem dogmática, mostrada pelos filmes espíritas, tão em voga aqui no Brasil no ano passado. Se as produções locais se esmeraram em apresentar e referendar a visão espírita de uma forma didática e emocionante, o americano centra suas ações nas chamadas experiências de quase-morte e numa explicação, bem plausível, de que as supostas mensagens, recebidas pelo médium George Lonegan (Matt Damon) poderiam ser simplesmente impressões telepáticas, a ele transmitidas pelos sobreviventes em busca de contato com seus entes “desencarnados”. Ou seja, as mensagens viriam, não de além-túmulo, mas das impressões e mentes dos próprios clientes.
O filme foi escrito (por Peter Morgan, que também roteirizou o excelente “A Rainha”) de uma forma cética, sem ratificar nenhuma teoria espiritualista, mas também sem cometer a imprudência de negar fatos comprovados. Pode ser que os partidários das noções do tipo New Age fiquem meio decepcionados, mas o filme é dirigido a mentes inquiridoras, que tenham a curiosidade de saber o que ocorre no momento da morte, mas que não estejam dispostas a seguir nenhuma seita ou teoria.
A história se passa em três ambientes distintos, bem distintos mesmo, desde uma tsunami (aquela famosa), envolvendo a personagem Marie Lelay (Cécile de France), passando por Londres, onde os gêmeos Jason e Marcus (Frankie e George McLaren) são separados pela morte de um deles e, finalmente, na americana São Francisco, onde o médium trabalha como operário de uma empresa, pois desistiu da profissão que ele considera, não um dom, mas uma maldição. Com o que podemos concordar, ao observar a maioria da vida dos videntes conhecidos.
No entanto, George Lonegan acaba sendo obrigado a usar seus poderes, seja para prestar um favor ao irmão, ou a uma colega da aula de culinária que inicia um possível romance com ele.
Finalmente, o impossível acontece, e os protagonistas das três histórias acabam se encontrando num ambiente comum. E a forma como o médium aposentado trata o pedido do menino que perdeu o irmão, é de uma delicadeza e de uma bondade tais, que pouco importa se a mensagem recebida do gêmeo morto é real ou não. Afinal, o que fica claro é que, ciência ou impostura, todos, ou a maioria de nós, temos uma grande necessidade de vida após a morte.
O diretor, por sua vez, deixa claro, e o título é sugestivo, Hereafter, que poderíamos traduzir livremente como “daqui para frente”, que, para ele, o que importa é a vida antes da morte. E isto fica claro quando, no encontro de George e Marie, percebe-se o quanto temos de morrer em nossos papéis vividos no dia a dia, para chegar à paz. Aqui mesmo. Em 3D.

(Crítica: Jorge Marin)

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

PARÂMETROS

Arte digital por Elizabeth Wall

Em tempos onde parece que vale tudo, as pessoas andam tão confusas sobre suas possibilidades e responsabilidades, alguém já parou para pensar como é importante o fato dos ciclos de dia e noite serem constantes? Podemos nos guiar por eles, e isso permite com que organizemos nossa vida de forma mais tranquila e produtiva. Imaginem como seria se o sol deixasse de aparecer por 3 dias, e depois resolvesse ficar no céu por 48 horas seguidas para compensar um pouco sua falha; se uma noite durasse 12 horas e a seguinte, por algum motivo, durasse apenas 3 horas e a outra, 16 horas... Perderíamos importantes referências, e cada um, provavelmente, inventaria seu próprio tempo e regras, o que dificultaria bastante o convívio em sociedade, fora a insegurança individual do que estaria a nos esperar nos próximos momentos. Além disso, tentem imaginar as consequências prejudiciais e inesperadas para as plantas, o mar e quem depende dele, e por aí vai.

Quando atravessamos uma noite em frente a um computador, um livro ou outra atividade, é o nascer do sol (com o opcional de um charmoso cantar de galo) que nos chama à realidade de que um novo dia está começando e, se tivermos compromissos, é melhor nos organizarmos, pois um novo ciclo da vida se inicia naquele momento.

No meu velho dicionário a palavra “parâmetro” é descrita, entre outros conceitos, como “linha constante e invariável que entra na equação ou na construção de uma curva, e que serve de medida fixa para comparar as ordenadas e as abscissas na geometria”. Como sempre fui ruim em matemática, parâmetro, para mim, se relaciona com as pessoas que nos transmitem tranquilidade e segurança, em suas existências com atitudes positivas e (suprema dificuldade) constância. Pessoas que não querem deixar filosofias ou ter admiradores, apenas vivem da melhor maneira que conseguem, e acabam por nos influenciar por toda nossa vida. Pode ser um pai, mãe, irmão, tio, amigo... tornam-se, sem querer, o porto seguro para onde vamos quando nos perdemos entre ondas, chuva e vento, o mar está agitado demais e ameaça nos danificar ou destruir com sua força. Nessas horas, aportamos em uma sala, mesa ou cama e aproveitamos o tempo em que estamos ali, para fazer reparos, adquirir suprimentos e mudar o rumo. Quando nos sentimos novamente prontos, com o ambiente menos hostil, sabemos (ou pelo menos imaginamos saber) para onde vamos, e partimos com ânimo e confiança renovados.

Acredito que poucas pessoas reparam ou agradecem a estes modelos de referência que são o dia e a noite. Como coisas que parecem simples ou óbvias são importantes, evitando confusões e desgastes desnecessários, tornando a vida mais fácil. Do mesmo modo, algumas pessoas passam despercebidas por nossos dias e rotina, mas se faltam, como nos sentimos sem parâmetros...

(Crônica: Sylvio Bazote)

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

UM INTRUSO EM MINHA CAMA

Foto do site encoatza.com

Capítulo 2: Possessão

NA SEMANA PASSADA, falávamos sobre a desagradável experiência de, após muitos anos de casamento, o casal ser confrontado com uma invasão de privacidade. E justamente ali, no que costumava ser chamado de sacrossanto leito nupcial.
Um colega meu, professor de História, disse que, na mitologia grega, é famoso o caso de Anfitrião que, ao regressar da guerra, encontra sua esposa Alcmena, deitada com o deus supremo Zeus, que havia tomado a sua forma. Ele disse que o referido guerreiro ficou muito honrado com o intruso, e o convidou a jantar, de onde surgiu o termo anfitrião, ou seja, aquele que divide seus bens com os visitantes, ainda que se tratasse de um intruso. Este colega, que posso considerar a esta altura como ex-amigo, disse que devemos procurar sempre ser bons anfitriões. E eu, no meu excelente português, respondi: “sartei!”.
Também uma leitora do blog, que é terapeuta, ligou para dizer que é ótimo uma terceira entidade na relação, para dar equilíbrio. De repente, comecei a achar que esse negócio de homem e mulher só, é que está errado. É tanta gente dando opinião que acabei ficando confuso. Mas continuo achando que, na cama de casal, três sempre é demais.
Dizem os mais experientes que isto é muito comum numa certa idade, e que o negócio é relaxar e deixar que a coisa aconteça naturalmente. Difícil aceitar esta teoria maluca (mais uma), a não ser que haja um entrosamento perfeito entre o casal.
Ficar passivo nesta hora não é pra qualquer um, não. Tem mesmo que ter sangue de barata. Impiedosamente, num verdadeiro ataque a nossa intimidade, ele nos domina, principalmente quando nos encontramos de posição de supina. Para os mais jovens, explico: supina é o mesmo que decúbito dorsal. Piorou? Bom, é de barriga pra cima.
Provavelmente, algumas mentes poluídas, já deverão estar pensando no Ricardão, como sutilmente sugeriu aquele professorzinho de História. Sinto mais uma vez em ter que decepcioná-los. Não vamos pegar tão pesado! Ah, e não é o Zeus também não.
Mas, voltando ao nosso indecente visitante noturno, não raramente, ele chega relaxado e até assoviando. Algumas vezes mais brando, outras vezes mais forte. E, quando isto acontece, confesso que fico bem mais irritado. Será que tem algum leitor engraçadinho imaginando que tem algo a ver com flatos. (Traduzindo para os mais jovens: peidos.) Nadinha disso! E muito menos com eructações. Eu até preferia que fosse.
Um autêntico oportunista de plantão, a nos fazer prisioneiros de nós mesmos. Terrorista um tanto ingênuo, que age muitas vezes sem o mínimo de intenção. Pra quem pensou em pesadelos, parabéns pela fértil imaginação, mas sinto dizer que também errou.
Pior quando as visitas se tornam mais constantes! Isso vai aos poucos nos levando a um estado de esgotamento mental sem igual. Principalmente, quando resolve aparecer noites seguidas. Desta forma, acordamos cada vez mais exaustos, como se nem tivéssemos dormido naquela noite.
E quando nosso “amigo” chega e estamos sob o domínio da exaustão? Aí é que a coisa pega fogo e fica incontrolável. Detona-nos de uma maneira tão violenta e impiedosa, que não nos resta fazer outra coisa, a não ser agarrar o travesseiro e fugir para o quarto ao lado. E o pior é que, quando um foge, o outro acaba sendo a vítima do ataque.
Surgindo, muitas vezes também, sorrateiro e manso, invade quase sempre nossos sonhos, nos fazendo perceber que algo estranho começa a acontecer bem ao nosso lado. Aí você acorda meio abobado e, querendo ou não, tem mesmo que se conformar com aquela triste situação.
NA PRÓXIMA SEMANA, continua o dilema com algumas possíveis soluções. Uma delas, a separação do casal, é muito triste, principalmente para quem vem vivendo uma história de amor há tantos anos. Mas há outras soluções, como veremos...

(Crônica: Serjão Missiaggia / Adaptação: Jorge Marin)

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

BBB E A CENSURA


Recebi um e-mail de uma leitora, me questionando sobre a posição adotada na postagem da semana passada (Big Bad Brasil). A questão é a seguinte: “você afirmou que alguns programas podem incentivar a perversão, mas disse que é contra a censura. Como é que podemos fazer em nossas casas? Você não acha que, mesmo proibindo, nossos filhos vão assistir os programas de qualquer jeito?”
Como é um assunto interessante, resolvi retomá-lo porque há uma grande confusão nos dias de hoje, em relação a essa questão da censura. Quando falei que sou contra a censura, eu me refiro àquela exercida pelo estado, pelo governo, por um determinado ministério. E sou contra mesmo, não apenas porque entendo que, quanto menor a interferência do estado, maior a liberdade dos cidadãos, mas, principalmente, porque acho que seria um péssimo serviço, como a saúde pública, a educação pública e a maioria das coisas exercidas pelo estado com o dinheiro dos nossos impostos.
No entanto, é muito importante dizer que eu sou totalmente a favor da censura dentro de casa. Esta é uma obrigação dos pais e deve ser exercida todo dia. Nos tempos atuais, de internet, orkut, twitter e, naturalmente, bbb’s, os pais devem conversar com os filhos sobre os programas de televisão, as séries novas, os videogames que estão jogando, e os sites que tem aparecido, e até trocar aqueles famosos e-mails que circulam.
Nesta conversa, a coisa já começa a pegar, pois, geralmente, adotamos um tom de sermão, do tipo: não sei como é que você pode gostar de uma coisa desta, você devia é estar estudando ao invés de assistir esta porcaria, e outras críticas do gênero.
O ideal (sei que nem sempre conseguimos) seria dizer de forma bem clara sobre aquilo que sabemos que os filhos estão assistindo, sem sermão, sem tentar convencê-los a pensar igual a nós. Estas opiniões, ainda que sejam desobedecidas, têm um valor muito importante para os mais jovens.
No entanto, quando se trata de um programa proibido, não tem discussão: meu filho, de cinco anos, me pergunta se pode assistir a um episódio do CSI. Respondo, firme: não! Por que não, papai? Porque é um programa proibido para menores de 18 anos. Ah, mas o pai do meu colega deixa ele ver... Meu filho, aqui em casa a gente respeita as regras: você leva brinquedo na escola na quarta-feira? Não, pai, só pode levar na sexta. Então, meu filho, este filme você só vai ver quando tiver dezoito anos.
Isto faz parte do processo de civilizar os filhos, porque a educação implica em ensinar a eles todas as qualidades, valores e moral que os pais consideram importantes. Mas, como diz a leitora: eles vão ver de qualquer jeito. E vão mesmo! Eles são muito criativos. E, embora isto nos deixe frustrados, é bom deixar claro dois fatos: o primeiro é que proibir é uma coisa e impedir é outra, e o segundo é que, pelo menos, os filhos passam a ter uma referência do que a família acha certo ou errado, mesmo se forem burlar a regra.
Dou um exemplo do meu pai: ele dizia que nós não devíamos nunca consumir bebidas alcoólicas antes dos dezoito anos. Eu e meu irmão consumimos antes? É claro que consumimos. No entanto, sabíamos muito bem que, ao fazê-lo, estávamos contrariando a vontade do nosso pai. Crescemos, vivemos nossas próprias vidas, e fizemos nossas escolhas, fundamentadas em nossas experiências, mas também nos conceitos formulados pelo nosso pai. Ele não foi omisso, ele nos amava de verdade.
Finalmente, é bom lembrar que assumir esta responsabilidade dá trabalho. E é desgastante. Os filhos vão protestar, vão acabar fazendo (desde o Gênesis é assim) o que o pai proibiu. Mas o que importa não é o que vão fazer ou deixar de fazer, pois terão que assumir as conseqüências dos seus atos. O importante é que eles saibam o que os pais pensam a respeito.

(Crônica: Jorge Marin)

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

DIREITO À PAISAGEM

Foto de Paulo Carvalho (paura) da Praça da Estação em Juiz de Fora

Na semana passada, comentei neste espaço, sobre a participação num encontro de gestores de jardins históricos. Entre os palestrantes, tive a oportunidade de ouvir as considerações feitas por Carlos Fernando Moura Delphim, chefe do setor de Jardins Históricos do IPHAN, considerado pelos presentes como a maior autoridade sobre o assunto no país e que tem, em seu currículo, a restauração do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, obra magnífica conduzida no período de 1977 a 1985. Aqui em Juiz de Fora, ele foi responsável pela restauração do parque do Museu Mariano Procópio.
Achei, e acho, importante as reflexões deste paisagista, que se considera um jardineiro, porque ele toca num assunto muito importante para esta cidade e, pelo que tenho visto nos blogs parceiros, também para outras, como São João Nepomuceno: as pessoas acham bonito, e até chique, a preservação de animais em extinção, como foi o caso do mico-leão. Mas, quando se trata da cultura, todos querem estar antenados com a cultura “oficial”, mas se é proposta a proteção do jegue nordestino, por exemplo, todo mundo dá risada, e acha ridículo. Como acham ridículo atribuir o status de valor cultural às nossas praças e jardins, e à paisagem urbana em geral.
Segundo este paisagista, a arquitetura moderna não deve ter como objetivo a destruição ou desvalorização da arquitetura antiga, mas sim uma convivência produtiva e complementar, onde as características de cada uma sejam valorizadas. O mesmo ocorre com a botânica, onde a pesquisa e uso de novas plantas e modelos de jardins não deve desrespeitar ou destruir o que foi usado anteriormente, considerando-o sem valor. Os jardins antigos representam parâmetros da sociedade que os criou.
Os americanos e ingleses, por exemplo, “treinam” as árvores, com podas direcionadas através de períodos e formas, visando um projeto de longo tempo. As podas no Brasil, muitas vezes, têm um caráter imediatista, sem um planejamento de resultados desejados em longo prazo.
Falando sobre a história do paisagismo, Delfim afirmou que os persas foram o povo que mais valorizou as paisagens. Seus jardins internos eram cuidadosamente planejados e mantidos como um modo de trazer a natureza para dentro de casa.
Concluiu que um dos maiores desafios no momento, talvez o mais importante, é a formação e manutenção de escolas de jardinagem, onde o profissional perceba essa atividade com orgulho e noção de sua importância, e não como um “bico”, uma atividade temporária enquanto procura-se algo melhor. O jardineiro tem que acumular experiência e transmiti-la para que haja um ganho qualitativo na profissão como um todo.
Entendo que Juiz de Fora pode, e deve, resgatar sua vocação de “Atenas mineira” ou “Europa dos pobres”, como já foi reconhecida, devido ao requinte de sua cultura. Deste projeto modernizador e civilizador nasceu a cidade descrita por Murilo Mendes como “um trecho de terra cercado de pianos por todos os lados”.
Assim como uma cidade, que se pretende elegante, primorosa, simpática e imponente, como é o caso da garbosa São João Nepomuceno, também deve estar atenta à relação entre paisagem e habitante, e ao direito que todos têm à paisagem.
Aqui em Juiz de Fora, muitas vezes se fala que o povo suja as ruas e tem péssimos hábitos. A verdade é que a paisagem condiciona o comportamento da coletividade. Como querer disseminar hábitos saudáveis entre a população, numa cidade repleta de poluição visual, com ruas apinhadas de ambulantes, antenas de rádio e TV ilegais e inúmeras torres de telefonia celular?
A preservação, melhoria e recuperação dos espaços públicos, além de direito do cidadão, é um importante item na melhoria da qualidade de vida, além de um incentivo à atividade econômica. Quem não gosta de fazer compras num espaço limpo, bem cuidado e aconchegante?

(Crônica: Sylvio Bazote / Adaptação: Jorge Marin)

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

UM INTRUSO EM MINHA CAMA

Foto do blog Samba de Terno, de Artur Malheiros

Capítulo I - Surpresa

Confesso que cheguei ao meu limite.
Esta tortura psicológica que, de uns tempos pra cá, vem a cada noite me visitando, vai aos poucos me levar à loucura.
O casal se encontra, se apaixona e se casa. Pronto, felizes para sempre... Mas vocês sabem que não é bem assim. Pessoas são sempre diferentes e, mais cedo ou mais tarde, estas diferenças vão aparecendo e, quando mal trabalhadas, podem representar o fim daquele conto de fadas. Eu, acho que como a maioria de todos vocês, pensava que comigo seria diferente. Não, o nosso amor é forte, e pode superar qualquer coisa.
Até que, um dia (sempre ocorre de forma inesperada, infelizmente), Ele apareceu, e daí em diante, nossas vidas têm se transformado num verdadeiro pesadelo.
E o pior é que o danado não tem hora pra chegar. Para ser bem sincero, existe sim, certa preferência, ou seja: justamente quando acabamos de adormecer, ou pela manhãzinha ou, simplesmente, quando o silêncio da noite se faz presente. E, se já estão pensando em pernilongo, sinto dizer que estão dengosamente enganados.
O invasor, vamos dizer desta forma, embora eu saiba que a culpa pode acabar sendo dos dois, chega sempre quando menos estamos aguardando. Sem ao menos nos pedir licença ou prévio aviso, aparece assim, do nada e, invadindo nossa privacidade, vai se instalando em nossa cama e bem no meio da gente!
Imoral e muitas vezes escandaloso, aparece para nos fazer companhia sem o mínimo de pudor. Também não é pulga, cachorro ou afins. Antes fosse!
Oportunista, deselegante, e que, ao se aproximar de nossos ouvidos com seu cantar irritante, nos induz a perder outra noite de sono.
Sabem como é: seguro morreu de velho e, sendo assim, deixo sempre preparada uma cama alternativa em outro quarto, principalmente quando desconfio que, naquela noite, ele virá nos visitar. Não tenho vergonha de não querer encará-lo e, até o final da crônica, vocês me darão toda a razão. Prefiro ficar bem longe. Assim, pelo menos, aquela situação desconfortável vai passando rapidinho e despercebido, ou melhor, quase despercebido, pois, quando o bicho tá pegando, fico a escutar o estrago vindo do outro lado da casa.
Faço de tudo pra não interferir, pois dizem que não é legal pro parceiro fazermos uma abordagem. Por outro lado, é muito desgastante, pois, enquanto ficamos sofrendo na escuta, percebemos que outra noite de sono vai embora, sem que nada possamos fazer. Como poderia dormir, e fingir que nada estaria acontecendo com aquela mulher que eu escolhi para passar o resto da vida? É barra! E tudo por causa do intruso sarcástico.
Já tentamos por várias vezes nos livrar dele, sei que ela também não deseja esta situação, mas reconhecemos que, em algumas noites, ele é bem mais decido que nós. Dizem que a gente acaba se acostumando, mas acho que não é tão fácil assim.
E desta forma, ainda antes de deitarmos, surge novamente aquela interrogação: será que, hoje, ele virá? E, sem que nada possamos fazer, procuramos adormecer o mais rápido possível e ficar aguardando a sua chegada.
Sei que muitas pessoas vão criticar, entendo que encarar a situação desta forma, passiva, não é a melhor solução. Eu até gostaria de conhecer outro tipo de reação, pois tenho certeza que a coisa ocorre em lares de vários amigos meus, cujo nome prefiro preservar, para não causar constrangimentos. Mas entendo que não é possível mais tapar o sol com a peneira e fingir que nada está acontecendo.
Na próxima semana, sejam solidários e acompanhem: as críticas, a incompreensão, as acusações mútuas e, oh dó, o aumento das visitas.

(Crônica: Serjão Missiaggia / Adaptação: Jorge Marin)

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

BIG BAD BRASIL

Cena do videogame The Sims

Começou o Big Brother Brasil mais uma vez e, de novo, somos nós que, mesmo não assistindo ao tal reality, somos atingidos pelos comentários e manchetes dos feitos dos participantes do dito zoológico humano.
O programa, embora tido atualmente como uma das piores audiências de sua história, é visto por cerca de um milhão e seiscentos mil telespectadores, o que o coloca como fenômeno de massa. Ou seja, temos que, inicialmente, reconhecer que há um público imenso ávido por assistir o que se passa na famosa casa. Até aí, nada demais, já que os consumidores de crack, por exemplo, devem superar esta multidão de aditos aí de cima e, nem por isso, resolvemos colocar nosso cachimbinho em ação.
Outra questão levantada, quando se fala no programa, é sobre a moral e a ética. Será que é imoral colocar no dia a dia dos lares (que se dispõem a sintonizar o canal) um transexual que se prostituía na Europa? Ou incentivar o beijo gay entre duas participantes? Ou divulgar, para os assinantes de pay per view, cenas de sexo explícito? Ora, sabemos que a moral é algo que se constroi dentro do processo histórico e que, fora do dogmatismo, é muito difícil dizer o que é certo e o que é errado.
Por isso, recorremos, nem todos, à Ética, que trata da reflexão sobre estas mudanças históricas que vão alterando nossa maneira de conviver com nossos semelhantes, através dos tempos. Eu disse “nem todos”, porque o diretor do BBB afirmou, numa de suas citações bombásticas no Twitter, que, como não é jornalista, não precisa ser ético. Convenhamos que, embora possa dizer que esta declaração é só uma piada, um chiste, é uma afirmação, no mínimo, perigosa para um pai de três filhos (de 25, 12 e 3 anos).
Mas, por que renegar a Ética pode ser assim tão perigoso para as relações humanas? É que, renegando-a, ou fazendo de conta que ela não existe, vamos entregar nossos filhos, de bandeja, para os perversos, que, ao contrário do que se pensa, não são aquelas pessoas “do mal” a que nos acostumamos a ver nos antigos filmes de mocinhos e bandidos. Os perversos, que são atualmente chamados pelo bonito nome de portadores do Transtorno de Personalidade Antissocial, são, como descrito por Ana Beatriz Barbosa Silva, no livro Mentes perigosas, pessoas frias, insensíveis, manipuladoras, perversas, transgressores de regras sociais, impiedosas, imorais, sem consciência e desprovidas de sentimento de compaixão, culpa ou remorso”.
Epa, mas não seriam estes os pré-requisitos para um participante exemplar do Big Brother? Ao que tudo indica é o que desejam os produtores do programa, e são características estimuladas pelo apresentador do mesmo que, travestido de poeta e filósofo, tenta dar um verniz épico, ao que é apresentado como travessura mas, na realidade, se trata de atropelar qualquer um que atravesse seu caminho na busca do prêmio milionário.
Então, não se trata aqui de uma cruzada moralista, mas de uma manifestação higiênica. Sabemos que os hábitos vão se tornando, com o tempo, mais liberais e mais permissivos. Isto é fato. No entanto, não temos que criar shows estimulando todas as formas de perversão, que é uma doença e, pior, uma doença social que chega a matar. E quem assiste televisão, sabe muito bem disto.
Qual seria a solução? Censurar? Penso que não. A censura, para mim, é semelhante àquele grupo de manifestantes pela vida, que mataram o médico na porta da clínica de abortos.
A solução, para quem se preocupa com a qualidade da vida, é não ligar... a TV, é claro. E esperar que os patrocinadores façam o resto.

(Crônica: Jorge Marin)

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