Foto de Paulo Carvalho (paura) da Praça da Estação em Juiz de Fora
Na semana passada, comentei neste espaço, sobre a participação num encontro de gestores de jardins históricos. Entre os palestrantes, tive a oportunidade de ouvir as considerações feitas por Carlos Fernando Moura Delphim, chefe do setor de Jardins Históricos do IPHAN, considerado pelos presentes como a maior autoridade sobre o assunto no país e que tem, em seu currículo, a restauração do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, obra magnífica conduzida no período de 1977 a 1985. Aqui em Juiz de Fora, ele foi responsável pela restauração do parque do Museu Mariano Procópio.
Achei, e acho, importante as reflexões deste paisagista, que se considera um jardineiro, porque ele toca num assunto muito importante para esta cidade e, pelo que tenho visto nos blogs parceiros, também para outras, como São João Nepomuceno: as pessoas acham bonito, e até chique, a preservação de animais em extinção, como foi o caso do mico-leão. Mas, quando se trata da cultura, todos querem estar antenados com a cultura “oficial”, mas se é proposta a proteção do jegue nordestino, por exemplo, todo mundo dá risada, e acha ridículo. Como acham ridículo atribuir o status de valor cultural às nossas praças e jardins, e à paisagem urbana em geral.
Segundo este paisagista, a arquitetura moderna não deve ter como objetivo a destruição ou desvalorização da arquitetura antiga, mas sim uma convivência produtiva e complementar, onde as características de cada uma sejam valorizadas. O mesmo ocorre com a botânica, onde a pesquisa e uso de novas plantas e modelos de jardins não deve desrespeitar ou destruir o que foi usado anteriormente, considerando-o sem valor. Os jardins antigos representam parâmetros da sociedade que os criou.
Os americanos e ingleses, por exemplo, “treinam” as árvores, com podas direcionadas através de períodos e formas, visando um projeto de longo tempo. As podas no Brasil, muitas vezes, têm um caráter imediatista, sem um planejamento de resultados desejados em longo prazo.
Falando sobre a história do paisagismo, Delfim afirmou que os persas foram o povo que mais valorizou as paisagens. Seus jardins internos eram cuidadosamente planejados e mantidos como um modo de trazer a natureza para dentro de casa.
Concluiu que um dos maiores desafios no momento, talvez o mais importante, é a formação e manutenção de escolas de jardinagem, onde o profissional perceba essa atividade com orgulho e noção de sua importância, e não como um “bico”, uma atividade temporária enquanto procura-se algo melhor. O jardineiro tem que acumular experiência e transmiti-la para que haja um ganho qualitativo na profissão como um todo.
Entendo que Juiz de Fora pode, e deve, resgatar sua vocação de “Atenas mineira” ou “Europa dos pobres”, como já foi reconhecida, devido ao requinte de sua cultura. Deste projeto modernizador e civilizador nasceu a cidade descrita por Murilo Mendes como “um trecho de terra cercado de pianos por todos os lados”.
Assim como uma cidade, que se pretende elegante, primorosa, simpática e imponente, como é o caso da garbosa São João Nepomuceno, também deve estar atenta à relação entre paisagem e habitante, e ao direito que todos têm à paisagem.
Aqui em Juiz de Fora, muitas vezes se fala que o povo suja as ruas e tem péssimos hábitos. A verdade é que a paisagem condiciona o comportamento da coletividade. Como querer disseminar hábitos saudáveis entre a população, numa cidade repleta de poluição visual, com ruas apinhadas de ambulantes, antenas de rádio e TV ilegais e inúmeras torres de telefonia celular?
A preservação, melhoria e recuperação dos espaços públicos, além de direito do cidadão, é um importante item na melhoria da qualidade de vida, além de um incentivo à atividade econômica. Quem não gosta de fazer compras num espaço limpo, bem cuidado e aconchegante?
(Crônica: Sylvio Bazote / Adaptação: Jorge Marin)
Sábias consideraçoes!
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