quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

ALÉM DA VIDA


Still do filme Além da Vida

O tema da comunicação com os mortos vem encantando gerações de curiosos, atiçando as mentes questionadoras e levantando perguntas difíceis de serem respondidas, sem se tomar partido: afinal, os mortos se comunicam com os vivos? Como explicar fenômenos como Chico Xavier e, mais recentemente, Waldo Vieira, criador da chamada ciência da Projeciologia, que tem levado milhares de pesquisadores a Foz do Iguaçu, em busca de resposta a estas perguntas?
O filme “Além da Vida”, do diretor Clint Eastwood, vem trazer uma nova visão sobre o assunto, e o faz de uma forma tão digna e surpreendente, que conseguimos sair da abordagem dogmática, mostrada pelos filmes espíritas, tão em voga aqui no Brasil no ano passado. Se as produções locais se esmeraram em apresentar e referendar a visão espírita de uma forma didática e emocionante, o americano centra suas ações nas chamadas experiências de quase-morte e numa explicação, bem plausível, de que as supostas mensagens, recebidas pelo médium George Lonegan (Matt Damon) poderiam ser simplesmente impressões telepáticas, a ele transmitidas pelos sobreviventes em busca de contato com seus entes “desencarnados”. Ou seja, as mensagens viriam, não de além-túmulo, mas das impressões e mentes dos próprios clientes.
O filme foi escrito (por Peter Morgan, que também roteirizou o excelente “A Rainha”) de uma forma cética, sem ratificar nenhuma teoria espiritualista, mas também sem cometer a imprudência de negar fatos comprovados. Pode ser que os partidários das noções do tipo New Age fiquem meio decepcionados, mas o filme é dirigido a mentes inquiridoras, que tenham a curiosidade de saber o que ocorre no momento da morte, mas que não estejam dispostas a seguir nenhuma seita ou teoria.
A história se passa em três ambientes distintos, bem distintos mesmo, desde uma tsunami (aquela famosa), envolvendo a personagem Marie Lelay (Cécile de France), passando por Londres, onde os gêmeos Jason e Marcus (Frankie e George McLaren) são separados pela morte de um deles e, finalmente, na americana São Francisco, onde o médium trabalha como operário de uma empresa, pois desistiu da profissão que ele considera, não um dom, mas uma maldição. Com o que podemos concordar, ao observar a maioria da vida dos videntes conhecidos.
No entanto, George Lonegan acaba sendo obrigado a usar seus poderes, seja para prestar um favor ao irmão, ou a uma colega da aula de culinária que inicia um possível romance com ele.
Finalmente, o impossível acontece, e os protagonistas das três histórias acabam se encontrando num ambiente comum. E a forma como o médium aposentado trata o pedido do menino que perdeu o irmão, é de uma delicadeza e de uma bondade tais, que pouco importa se a mensagem recebida do gêmeo morto é real ou não. Afinal, o que fica claro é que, ciência ou impostura, todos, ou a maioria de nós, temos uma grande necessidade de vida após a morte.
O diretor, por sua vez, deixa claro, e o título é sugestivo, Hereafter, que poderíamos traduzir livremente como “daqui para frente”, que, para ele, o que importa é a vida antes da morte. E isto fica claro quando, no encontro de George e Marie, percebe-se o quanto temos de morrer em nossos papéis vividos no dia a dia, para chegar à paz. Aqui mesmo. Em 3D.

(Crítica: Jorge Marin)

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