sexta-feira, 28 de outubro de 2011

ASSOMBROSA PAIXÃO - CAPÍTULO 2

Frame do filme Crepúsculo

Sabe essas noites que cê sai caminhando, sozinho, com a mão no bolso (na rua)... E você fica pensando naquela menina, você fica torcendo e querendo que ela estivesse (na sua)... Aí, finalmente, você encontra o broto (que felicidade, que felicidade). Aí, é ela que te convida pra uma quebrada. E eu, já com o coração saindo pela boca, escuto ela dizer:
- Serjão! - Imaginem aquele “serjão” pronunciado bem doce, bem txutxuca. E completou:
- Você não iria ao cemitério comigo me fazendo companhia?

Gelei. Não é que eu tenha medo de ir no cemitério de noite. Na verdade, eu tenho pavor de ir no cemitério, mesmo de dia. Mas, tudo em nome do amor:
- Claro que sim! – respondi, imponente.
Neste momento a chuva chegou de vez trazendo com ela muito vento e relâmpagos.
Saímos correndo e nos escondemos sob a marquise onde hoje é a Guarujá.
O tempo só ia piorando enquanto eu tentava, a todo custo, convencê-la a deixar aquela visita pra outro dia. Justificava, dizendo que aquele mau tempo estava fazendo escurecer muito depressa e, com certeza, iríamos nos molhar.
Pura ilusão. Não teve mesmo jeito e, após uma pequena estiagem, seguimos imediatamente rumo ao cemitério. Segundo ela, suas amigas haviam dito que aquelas intenções não poderiam ser quebradas um só dia. As minhas más intenções então, estas eu já tinha esquecido. Mas, sabem como é, aquele pedido meio chorado (ah, vamos, Serjão!), mais cabelinho molhado, os lábios assim pertinho de mim.
Aí, me lasquei de vez! Acho que vou mesmo ter que encarar essa, pensei.
O pior é que minha desculpa, o tempo, deu uma boa melhorada. E o arrependimento voltou, e já começava facilmente ser observado na minha sutil mudança de humor.
E assim, sob uma pequena chuva que ainda caía, fomos descendo rapidinho a avenida. Fui tentando, a todo custo, não perder a pose e muito menos as aparências. Tava difícil, mas não impossível. Soltei o meu pigarro característico e falei grosso.
Nisso, as luzes dos postes se acenderam e nós, já um tanto ressabiados, nos aproximamos do portão principal. Estava trancado.
Naquele momento, mal conseguíamos enxergar dentro do cemitério, pois havia escurecido de vez.
Como única opção, além é claro, a de tentar pular o muro frontal, somente nos restava apelar para o portão ao lado. E foi o que fizemos.
Não passava uma santa alma nas proximidades. E se dentro não estivesse acontecendo o mesmo? Meu Deus, o que é que eu vim fazer aqui? Fiquei pensando com meus botões.
Aquela rua que margeia o nosso campo santo estava que era barro puro, pois ainda não havia calçamento. Atola daqui, afunda dali, até que, em frente ao referido portãozinho, empacamos. Após olharmos um para o outro numa despistada agonia telepática, ficamos a desejar, esperançosos que a qualquer momento um de nos pudesse desistir. Pura ilusão!!!
Até que eu poderia ter me apoiado naquele velho ditado onde diz que devemos ter medo dos vivos e não dos mortos, mas, infelizmente, naquela época eu ainda não o conhecia.
E o tempo começou a piorar novamente enquanto alguns relâmpagos, rasgando o céu, ficavam a nos mostrar, num piscar de olhos, cada detalhe dos túmulos.
Mesmo assim, juntos e de uma só vez, passamos os dois espremidos naquele portãozinho. Não sei com que coragem, mas, quando vimos, já estávamos lá dentro.
Mal havíamos entrado e, de imediato, fui dando as ordens:
- Faça logo o que tem que fazer que daqui a pouco vai descer água!
Já tremendo de medo, e já quase implorando pra sair dali, tentava “calmamente” desta forma convencê-la. E o tempo só ia piorando. Nesta hora ela virou pra mim e disse:
- Aqui não pode! Temos que ir lá em cima até o Cruzeiro!
Aí trovejou forte. Continua na próxima semana...

(Crônica: Serjão Missiaggia)

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

O QUE HÁ DE NOVO NO DIVÃ? - II

Frame do filme Dom Juan de Marco

Ainda meio bolado pela última, aliás, primeira paciente, escuto a campainha e vou atender: é o paciente das 15 horas. Elétrico... é a primeira palavra que me vem à mente, não mostra dúvida em qual cadeira sentar, olha o relógio e parece um tanto incomodado de estar aqui.
No entanto, vai me fornecendo os seus dados pessoais e não demonstra inibições. Sabem aquele mistério: afinal de contas, por que é que esse cara, com tantas certezas, está aqui? Chegamos ao ponto:
- Minha noiva engravidou e estamos morando juntos...
Penso: finalmente um assunto comum, já que tantas pessoas, mesmo no meu tempo, já passamos. Digo “no meu tempo” porque esse jovem, até um pouco franzino, deve ter, no máximo, uns 25 anos.
Fiz aquela coisa horrível, que nenhum analista deve fazer: prejulguei, achando que o problema do paciente era semelhante àqueles com os quais estamos acostumados: o rapaz, fazendo mestrado ou pós, engravida a moça, resolvem se casar, mas têm que depender dos pais, até poderem caminhar com as próprias pernas, certo? Errado!
- Eu tenho uma situação financeira estável. Criei um aplicativo para celular que foi comprado por uma multinacional, e posso ficar tranquilo, em meu apartamento, bolando meus programas. Mas agora, com a Gabi morando comigo, fica impossível receber outras mulheres para transar.
Faço cara de trailer de filme de arte, mas minha vontade é perguntar: como assim, mulheres?
- Eu sempre tive muitas mulheres. Antes, eu transava nos lugares mais bizarros, tipo posto de gasolina, banheiro de bar gay, mesa de sinuca, mirante, essas coisas. Depois que comprei meu apartamento, eu prefiro levar para lá, para dar mais privacidade, sabe como é né?
Como não sei, não faço o menor movimento.
- Agora me sinto completamente tolhido. Não consigo entender esse lance de monogamia porque acho tudo muito ilógico. Preciso do contato de outras mulheres pra me sentir vivo. Estou me sentindo como um padre porque, depois que casei, tive que fazer voto de castidade com as outras mulheres. Acho isso tremendamente injusto!
Quebro o silêncio:
- Então você acha injusto pessoas casadas não poderem fazer sexo com outras pessoas?
- Eu sei aonde você quer chegar – o cara fica irado (ih, já estou falando igual a outra paciente) – você quer que eu lhe diga se concordo que a minha mulher faça a mesma coisa?
- Você quer dizer?
- É claro: não tem nada a ver uma coisa com a outra. Eu tenho minhas necessidades, mas ela não se liga muito nesse lance de sexo com várias pessoas diferentes. Por que é que eu teria que me preocupar com ela?
- Com o desejo dela? – completo.
- O que é que você quer dizer com desejo dela? – pergunta o jovem marido. E fica me olhando...

(Conto – Jorge Marin)

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

ASSOMBROSA PAIXÃO - CAPÍTULO 1

Arte digital por Ashlie Dawn Nelson

Hoje, após terminar meu dia na oficina, fui ao SESI buscar o histórico de meu filho para alguns trâmites de transferência.
Era noitinha e, enquanto vinha tranquilamente fazendo meu caminho de volta, ao passar em frente de nosso campo santo, lembrei-me de um fato que ocorreu comigo.
Pra ser sincero, não saberia dizer se foi uma feliz ou infeliz recordação. Na verdade mesmo, a única coisa que posso afirmar é que foi verdadeiro. Daí a dizer que foi prazeroso, é outra coisa. Talvez um pouquinho de cada.

Mas foi assim que tudo começou:
Eu estava, numa tarde noite de segunda-feira de 1972, vindo pra casa, quando, ali naquele local onde hoje é o calçadão, mais precisamente próximo àquele relógio digital, encontrei com uma amiga que eu estava paquerando há quase um ano. Sabem aquelas primeiras paixões de adolescência? Aí vocês já imaginam: enquanto o coração começou a bater mais forte e as mãos ficarem suadas e frias, fui, de imediato, falar com ela. Só não poderia jamais imaginar que aquele nosso encontro iria me colocar numa situação um tanto embaraçosa e delicada.
Hoje, diriam que paguei o maior mico, mas, naquela época, como a turma pegava menos pesado, tudo não passou mesmo de uma simples aventura, além, é claro, da imagem que deixei: a de um tremendo cagão!
Mas, voltando àquele meu encontro, ao vê-la sozinha descendo a Rua do Sarmento, aparentemente com pressa, fui logo perguntando qual o motivo de estar ela na rua naquele horário. Era uma segunda-feira e, além de ventar pra caramba, havia o prenúncio de uma forte chuva.
Naquele momento, folhas e restos de papéis começavam a passar voando sobre nossas cabeças, parecendo querer avisar que seria um entardecer nada romântico. Pra não dizer um desastre.
Desta forma, aproximando-me dela, fiquei imaginando que, no mínimo, iria me convidar para acompanhá-la até a esquina de sua casa. Nesta época, ela morava na Rua Comendador José Medina e, por algumas vezes, já havia feito este pedido a mim.
Então, um tanto eufórico, e já me preparando pra dizer sim, ela simplesmente vira pra mim e diz:
- Serjão! Só você pode me ajudar! Você caiu mesmo do céu! Mas tenho quase certeza que vai dizer não!
- Que foi? Diga logo! É só pedir! - respondi sem pestanejar.
Prosseguido então, veio dizendo:
-É que venho fazendo uma novena todas as quintas-feiras, indo até a igrejinha de Santa Rita rezar!
- Tudo bem, mas hoje não é quinta, estamos ainda na segunda!
- Pois é, aí que entra sua ajuda! - disse ela.
- Como assim? - um tanto apreensivo, perguntei.
- É que, em todas as segundas feiras, juntamente com algumas amigas, vou ao cemitério fazer orações em intenção às almas! Pior de tudo foi que hoje me atrasei, minhas amigas não puderam vir e já está ficando escuro!
Lasquei-me de vez! - disse pra mim mesmo, já imaginando o que ela iria me pedir.
E não deu outra:
- Serjão, você não iria ao cemitério comigo me fazendo companhia?
Na semana que vem, vocês serão testemunhas de uma das maiores burrices da minha vida, e de um dos maiores apertos que eu passei. Aquele clip, do Michael Jackson, que nós postamos na semana passada – o Thriller – é fichinha. Aguardem...

(Crônica: Serjão Missiaggia)

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

O QUE HÁ DE NOVO NO DIVÃ?

Ilustração publicada no site http://www.jogosdemeninas.cc

Essa moça entra pelo meu consultório e parece estranhamente forte, tem ombros largos mas o abdômen é um pouco cheinho, revela uma tatuagem na base das costas, um tribal, e masca um chiclete, piercing na sobrancelha esquerda.
Afastado há uns dez anos da clínica, me sinto meio enferrujado, e sou surpreendido pela pergunta:
- Você quer que eu te chame de você ou senhor?
- Como é que você quer me chamar? – a velha raquetada ainda funciona.
- É que meu avô exigia que eu chamasse ele de senhor. Aí, não sei porquê, mas me lembrei dele.
- Fale do seu avô.
- Ele era uma pessoa muito do bem. Gostava de tudo muito direito, não falava gíria, não xingava palavrão, era muito carinhoso e completamente apaixonado pela minha avó, que era uma megera. Véi, a mulher era muito sinistra. E meu avô era só “meu amor” pra cá, “meu amor” pra lá. Sacanagem, ele morreu de câncer. Eu gostava dele pra caramba. Até hoje, guardo aquele “santinho” dele. Sabe aquele lance que dão na missa de sétimo dia? Eu guardo dentro da minha agenda. Sei lá pra quê, né? Afinal, morreu, acabou...
Abaixa a cabeça e fica pensando, acho que ela vai chorar e já preparo a caixinha de lenços de papel. Mas ela se solta, estica, quase deita na poltrona:
- Minha mãe se liga nesse papo de vida após a morte, vai nuns centros espíritas de vez em quando, maior viagem.
- E você?
- Ah, quando eu tava com depressão, ela me obrigava a ir junto, tomar passe. Depois, me levava na igreja também, e brigava comigo porque queria que eu comungasse. Eu não queria, mas acabava comendo aquele trocinho lá.
A hóstia, penso comigo, mas não falo. Nina tem vinte e dois anos, fez vestibular para Comunicação, mas não passou na federal. O pai, que é separado da mãe, pagou uma faculdade particular: ela matava muitas aulas, ia pros bares em frente. Acabou por desistir do curso. A mãe fez um escarcéu, culpou o pai, e Nina ficou meio desorientada, a mãe afirma que ela teve depressão, mas ela não apresenta sinais de ter estado deprimida.
- Cara, fui no Rock’n Rio, no sábado. Achei o Maroon Five muito irado, mas o tal do Maná é muito paia. Cê tá ligado no Cold Play?
Não é do meu tempo, penso, o Cold Play já é quase da virada do século, e ela continua falando.
- Zuamos até umas sete da manhã, depois voltamos na van, chegamos quase onze horas. Passei um torpedo pra louca da minha mãe, dizendo que estava na casa da Cris, mas fui dormir no apartamento do meu amigo Max. O cara é completamente sem noção...
Fico um pouco atordoado, porque a verborragia é a mesma da época em que parei, só que o ritmo é muito mais rápido, como se ela teclasse ao falar.
- Olha, mas a gente não transou não, tá? Também, do jeito que a gente tava, acho que foi um milagre ter acordado. Já tava de noite. No computador dele, tava passando o show dos Detonautas e aí...
- Seu tempo acabou. Até a semana que vem.
Ela sai e eu fico pensando: será que o tempo passou muito depressa nestes últimos dez anos?

(Conto: Jorge Marin)

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

PAULINHO JÁ VAI ALI 4 - BAD TRIP (FINAL)

Foto publicada no blog http://estrelasolitarianocoracao.blogspot.com

Quem já viveu a experiência, sabe como era bom ficar ali no murinho do Adil, em frente à Pracinha do Coronel. O tempo passava e a conversa rolava até altas horas. Continuei ouvindo os causo do Paulinho:

A única viagem que eu não gostei foi quando resolvi fazer um passeio em Juiz de Fora, e caí na asneira de levar comigo um casal de amigos. Próximo a Goianá, ao pararmos pra beber água numa bica, um deles escorregou e torceu o tornozelo. Aí já me arrependi. De imediato, pedi que esperassem o ônibus e viessem embora, mas eles não quiseram. Saquei, de montão, que eles iriam me travar “bunitin” a viagem. Mesmo assim, com muito custo, chegamos a Juiz de Fora. Já na volta, comecei a ficar desesperado, pois, além de estarmos andando mais devagar que tartaruga, o papo tava “um saco”. Parecia que andávamos um quilômetro pra frente e voltávamos dois.
Foi aí que, chegando na serra de Bicas, ao encarar aquela enorme descida pensei: é agora ou nunca. E “dispinguelei” pra ali afora deixando os dois pra trás.

Na última vez que me encontrei com o Javali, ele estava se preparando para, naquele final de semana, fazer o relaxante circuito do anel: Descoberto – Guarani - Rio Novo- Bicas - São João.
Por sinal, seja aonde for, não abre mão de chegar antes do almoço, salvo quando aparecem patos no caminho, ou uns “cachorrinhos” fila.
Pensei em dar uma chegadinha em seu estabelecimento de trabalho para entrevistá-lo, mas o local seria um pouco impróprio. Não teria nada a ver! Ali, com muito esmero e concentração, procura não se distrair com nada. Acho até que estando fazendo este trabalho, inconscientemente, procura, por alguns momentos, desligar um pouco desta sua paixão. Entrega total! É raro encontrar uma pessoa com tanto apego e amor naquilo que faz. Vou até aproveitar este momento pra fazer um pequeno merchandise do seu ofício:
“PROFISSIONAL EM EXCELÊNCIA NOS CONSERTOS DE BICICLETA!!!”

Melhor então ir a sua casa! Enquanto isso não acontecer, ficarei na expectativa de um novo encontro pra tentar catalogar novos causos.

São pessoas assim, que encontramos na rua, no caminho de casa, na fila do supermercado ou na igreja, que, se soubermos ouvir, vão passar pra gente tanto da leveza da sua alma, da tranquilidade do seu coração e da paz do seu espírito, que nos fazem ter certeza que, frente a essas almas, tudo vale a pena, como dizia aquele Pessoa.

LOUVADO SEJAM AQUELES QUE NOS CATIVAM E SE DEIXAM CATIVAR!

(Crônica: Serjão Missiaggia)

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

MARITACA ATACA 2 - O MYRMECOPHAGIDAE

Foto publicada no site http://www.offroad-adventureteam.com/canastra3.htm

Na semana passada, estava preso num terrível dilema: o ornitólogo, a quem pedi para analisar o desejo irrefreável de um par de maritacas em construir seu ninho no teto oco de meu banheiro de hóspedes, solicitou, para que tivéssemos certeza de que as maritacas eram um casal, que eu conseguisse algumas gotinhas de sangue ou cinco penas para analisarmos o DNA; a alternativa seria submetê-las a uma laparoscopia.
Argumentei com o especialista que, mesmo em nome da pesquisa científica, se eu tirasse sangue ou penas de umas maritacas, ou mesmo abrisse a barriguinha delas, provavelmente eu é que iria pra gaiola.
Há outra solução, ponderou ele, com o olho brilhando: iridomyrmex purpureus! É caro? – perguntei. Esse remédio?
Ah, meu amigo, você não sabe nada mesmo não é? Isto é formiga. É que, quando as aves descobrem que no local há um formigueiro, elas não constroem os ninhos.
Muito bem, disse eu, você está sugerindo que coloquemos umas formigas no telhado do banheiro, mas e depois, como faço para tirar as formigas?
Ora, ora, com um myrmecophagidae, mas um pequenininho.
Já disse que não suporto especialistas, mas esse passou dos limites. Acabei apelando e mandando o cara ir plantar solanum turberosum (batata). Viram como aprendi?
O problema é que as maritacas voltaram nos dias seguintes, e começamos a achar que a fêmea, se é que era um casal, ficou presa e acabou se machucando. E se ela tivesse morrido? Minha esposa começou até a sentir o cheiro do corpo em decomposição.
Meu filho mais velho não sabia da história das maritacas e estava utilizando o banheiro social quando saiu correndo, apavorado: pai, tem um canário no seu banheiro!
Pensei: é, quem não brincou na rua, igual no nosso tempo, não sabe nem diferenciar um canário de... uma maritaca! Não é que ela estava tentando entrar pelo basculante de novo? Aí, saíram os dois gritando, meu filho de um lado, e ela de outro. Cheguei na janela e gritei: some daqui, sua aratinga! Ela gritou de volta, como se me xingasse.
Segunda-feira, estava conversando com uns vizinhos, quando chegou um morador e, ouvindo aqueles lamentos, perguntou: por que você não fecha o basculante? Expliquei que, desde que comprei o apartamento, o basculante estava engripado e não abria mais e nem fechava. O cara não falou nada, foi até o carro voltou com uma latinha, falou: tá vendo? É um desengripante. Vamos lá!
O vizinho chegou lá, esguichou o produto, o basculante movimentou, ele fechou. Pronto, disse ele, agora eu quero ver alguma arara entrar! É maritaca, eu falei.
Fim!
MORAL DA HISTÓRIA: não tem.
Que bom que eu não tive nem que usar o myrmecophagidae, seja lá o que for!

(Crônica: Jorge Marin)

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

PAULINHO JÁ VAI ALI 3 - DISPINGUELADO

Foto publicada no site http://nerdfighters.ning.com/group/oddlyrandomnerdfighters/forum/topics/your-randomly-awesome-desktop?commentId=1833893%3AComment%3A4071604&groupId=1833893%3AGroup%3A1790814

Na semana passada, Paulinho havia me chamado pra dar um “pulinho” até Argirita. Pensei que ele estivesse brincando e saí rindo, falando que ia assistir uma corrida na TV. Mas o Paulinho estava falando sério. Quando o assunto é viajar na bike, ele sempre leva as coisas muito sério.
Pensei: será que ele ficou magoado? Aí, enquanto andava pela rua a caminho de casa, pensei comigo mesmo: vou voltar!
Ao chegar, comentei o fato com minha esposa. Disse a ela o quanto gostaria de ter tido uma boa prosa com ele. Sempre me divirto muito com seus causos e outra oportunidade como esta, provavelmente, só depois de mais um século. E olhe lá!
Mas, como eu teria que ainda voltar à rua pra comprar jornal, procurei retornar ainda mais rápido. Minha esperança era de ainda encontrá-lo. Infelizmente não foi possível e, da mesma forma que surgiu, novamente desapareceu.
Minha intenção era, entre umas e outras coisas, a de pedir permissão pra escrever algumas linhas sobre ele no Blog. Sei, com certeza, que terá muitos causos de viagens pra nos contar. São leves, muito dos quais já tive até a oportunidade de escutar.
Lembro-me bem quando, ali sentados no murinho do Adil, veio me contar da vez em que ia pedalando sossegadamente por uma dessas estradinhas vicinais, quando, de repente, apareceram numa curva, dois imensos cachorros da raça fila. “Encasquetados”, vieram até babando pro meu lado. Gelei de vez. Fiquei parado que nem estátua! Não passava uma “agúia” encerada. Latindo e rosnando, pareciam querer me comer vivo. Doideira é que chegaram do meu lado e só ficaram olhando, ou seja, os dois olhando pra um e um olhando pros dois. Nada se mexia. E assim ficaríamos por quase uma hora, até quando apareceu um fazendeiro e os chamou. Passei o maior “cangaço”! - completou ele.
Numa outra vez, vinha de Coronel Pacheco e descia “dispinguelado” aquele morro do Geo, me distraí ao olhar pra um açude que estava cheio de patinhos (adoro esses bichinhos), perdi o controle e, antes de cair no asfalto, cortei a cabeça no guidão.
Num sei onde é que eu estava com o juízo em ficar apreciando a natureza a quase 100 km por hora! - concluiu.
Aí, com um corte na cabeça e um pouco tonto, meio que assim abobado, me levantei. Só sei que fui rejeitando um monte de caronas. Não queria abrir mão de voltar pedalando. Pior foi quando cheguei e vi que a casa estava toda trancada. Eu queria entrar de qualquer jeito e o mais rápido possível. Meu estado tava meio esquisito. Nesta hora é que fui perceber que, além de ter deixado pra trás alguns pedaços de bicicleta, havia também perdido minha penca de chaves.
Aí, não tive outro recurso a não ser começar a dar pontapés na porta a torto e a direito. Já estava meio escuro e, imaginando que pudesse ser um ladrão, teve uma vizinha que ficou tão apavorada, que começou a gritar ameaçando chamar a policia. Quebrei a porta e entrei. Somente depois de três dias é que fui ao pronto socorro pra fazer curativo na cabeça.
NA SEMANA QUE VEM: capítulo final, uma história inacreditável, a viagem da qual o Paulinho não gostou.
Fui...

(Crônica: Serjão Missiaggia)

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

MARITACA ATACA

Foto disponível no site http://www.flickr.com/photos/blassis/156572134/

Com a onda de violência que rola por aí, às vezes, ficamos tensos, mesmo trancados dentro de casa. E coisas acontecem... mais cedo ou mais tarde.
Sábado passado, aconteceu cedo, bem cedinho: eu estava dormindo um sono bem pesado, porque, normalmente, na sexta, a gente dorme mais tarde e tal. De repente, percebo um barulho na área de ventilação, como se a parede estivesse sendo arranhada, seguido de um gemido, como uma pessoa asmática jogando videogame. Levantamos, eu e minha mulher, intrigados e, quando chegamos junto ao basculante da suíte, ouvimos um grito estridente: aaaaaaaaaah! Horrorizados, aproximamo-nos para ver o que poderia ser aquele grito, quando percebemos um barulho de asas.
- Tem um pássaro preso na área de ventilação, disse minha esposa, será outro urubu?
(Há uns quatro anos, um casal de urubus ficou preso no canal de ventilação e acabou quebrando as telhas e caindo na garagem).
- Não, meu amor, urubu não grita desse jeito.
Subimos até a cobertura, e nada... Inspecionamos a área de ventilação até o fundo, mas nem sinal de uma pena sequer.
Voltei para a cama (afinal, eram umas seis e meia da manhã) e minha mulher, como sempre fazem as donas de casa, foi verificar não sei o quê no banheiro social quando, outro grito! Dessa vez era da minha esposa. Corri e ela, muito assustada, falou:
- Tem um bicho no banheiro e, pela forma com que está gritando, deve estar ferido.
Peguei um pano e uma vassoura, não sei bem como eu ia usá-los, fechei as outras portas dos quartos pro bicho não invadi-los e, bem devagar, fui abrindo a porta. Assim que a porta estava escancarada, eu, de vassoura e pano na mão, vi... nada, só umas penas e uns pedacinhos de gesso espalhados pelo chão e em cima da pia. Há algum tempo atrás, tivemos que consertar um encanamento entupido na parte de cima do banheiro social e o gesso teve que ser quebrado, ficando, até hoje, aquele buraco no teto. Pensei: e se o bicho tiver se escondido lá dentro? Corri para buscar a escada, subi, mas: e a coragem para enfiar a cara no buraco? Aí me lembrei da vassoura e enfiei a danada no buraco, batendo naqueles arames que suportam a placa de gesso. Mais uma vez, nada aconteceu. Silêncio total.
Voltamos para a cama, discutimos um monte de hipóteses, e, quando nos preparávamos para dormir, gritos de novo, dessa vez mais de um, uma verdadeira revoada. Abrimos a janela do quarto de hóspedes e vimos um casal de maritacas. Pareciam iradas, acho que estavam irritadas por estarmos ali, na nossa casa. Mas, como não tínhamos nenhum outro lugar para ir, ficamos ali mesmo, e as maritacas, um tanto desapontadas, foram embora, gritando muito, um grito diferente, como se xingassem palavrões.
Conversando depois com um vizinho, que é ornitólogo, ele nos tranquilizou, dizendo que eram apenas aratingas leucophtalmus. Ara o quê, perguntei. Ele disse: para vocês, que não são especialistas, são duas maritacas. Detesto especialistas, mas ele me diz que, provavelmente, elas estariam, caso se tratasse de um casal, na época da nidação (botar ovos, me explicou) e escolheram o teto do meu banheiro, que é oco, para chocar.
Mas, como vou saber se é um casal? - pergunto. Só tem dois jeitos, diz o cara, já que o sexo das maritacas não é visível. Ou você me traz umas gotinhas de sangue ou umas cinco penas pra eu fazer o DNA, ou levando-as para uma laparoscopia.
Pensei: é... esse assunto vai longe.

(Crônica ornitológica: Jorge Marin)

BRIGADU, GENTE!

BRIGADU, GENTE!
VOLTEM SEMPRE, ESTAMOS ESPERANDO... NO MURINHO DO ADIL