sexta-feira, 28 de outubro de 2011

ASSOMBROSA PAIXÃO - CAPÍTULO 2

Frame do filme Crepúsculo

Sabe essas noites que cê sai caminhando, sozinho, com a mão no bolso (na rua)... E você fica pensando naquela menina, você fica torcendo e querendo que ela estivesse (na sua)... Aí, finalmente, você encontra o broto (que felicidade, que felicidade). Aí, é ela que te convida pra uma quebrada. E eu, já com o coração saindo pela boca, escuto ela dizer:
- Serjão! - Imaginem aquele “serjão” pronunciado bem doce, bem txutxuca. E completou:
- Você não iria ao cemitério comigo me fazendo companhia?

Gelei. Não é que eu tenha medo de ir no cemitério de noite. Na verdade, eu tenho pavor de ir no cemitério, mesmo de dia. Mas, tudo em nome do amor:
- Claro que sim! – respondi, imponente.
Neste momento a chuva chegou de vez trazendo com ela muito vento e relâmpagos.
Saímos correndo e nos escondemos sob a marquise onde hoje é a Guarujá.
O tempo só ia piorando enquanto eu tentava, a todo custo, convencê-la a deixar aquela visita pra outro dia. Justificava, dizendo que aquele mau tempo estava fazendo escurecer muito depressa e, com certeza, iríamos nos molhar.
Pura ilusão. Não teve mesmo jeito e, após uma pequena estiagem, seguimos imediatamente rumo ao cemitério. Segundo ela, suas amigas haviam dito que aquelas intenções não poderiam ser quebradas um só dia. As minhas más intenções então, estas eu já tinha esquecido. Mas, sabem como é, aquele pedido meio chorado (ah, vamos, Serjão!), mais cabelinho molhado, os lábios assim pertinho de mim.
Aí, me lasquei de vez! Acho que vou mesmo ter que encarar essa, pensei.
O pior é que minha desculpa, o tempo, deu uma boa melhorada. E o arrependimento voltou, e já começava facilmente ser observado na minha sutil mudança de humor.
E assim, sob uma pequena chuva que ainda caía, fomos descendo rapidinho a avenida. Fui tentando, a todo custo, não perder a pose e muito menos as aparências. Tava difícil, mas não impossível. Soltei o meu pigarro característico e falei grosso.
Nisso, as luzes dos postes se acenderam e nós, já um tanto ressabiados, nos aproximamos do portão principal. Estava trancado.
Naquele momento, mal conseguíamos enxergar dentro do cemitério, pois havia escurecido de vez.
Como única opção, além é claro, a de tentar pular o muro frontal, somente nos restava apelar para o portão ao lado. E foi o que fizemos.
Não passava uma santa alma nas proximidades. E se dentro não estivesse acontecendo o mesmo? Meu Deus, o que é que eu vim fazer aqui? Fiquei pensando com meus botões.
Aquela rua que margeia o nosso campo santo estava que era barro puro, pois ainda não havia calçamento. Atola daqui, afunda dali, até que, em frente ao referido portãozinho, empacamos. Após olharmos um para o outro numa despistada agonia telepática, ficamos a desejar, esperançosos que a qualquer momento um de nos pudesse desistir. Pura ilusão!!!
Até que eu poderia ter me apoiado naquele velho ditado onde diz que devemos ter medo dos vivos e não dos mortos, mas, infelizmente, naquela época eu ainda não o conhecia.
E o tempo começou a piorar novamente enquanto alguns relâmpagos, rasgando o céu, ficavam a nos mostrar, num piscar de olhos, cada detalhe dos túmulos.
Mesmo assim, juntos e de uma só vez, passamos os dois espremidos naquele portãozinho. Não sei com que coragem, mas, quando vimos, já estávamos lá dentro.
Mal havíamos entrado e, de imediato, fui dando as ordens:
- Faça logo o que tem que fazer que daqui a pouco vai descer água!
Já tremendo de medo, e já quase implorando pra sair dali, tentava “calmamente” desta forma convencê-la. E o tempo só ia piorando. Nesta hora ela virou pra mim e disse:
- Aqui não pode! Temos que ir lá em cima até o Cruzeiro!
Aí trovejou forte. Continua na próxima semana...

(Crônica: Serjão Missiaggia)

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