sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

VEM, 2012!

Arte digital por M.L. Eccleston

E se eu dissesse que um milhão
de dólares não vale nada
e que a felicidade consiste
em despertar numa manhã
de sol nos braços nas coxas
no ventre da mulher amada?

E se fosse falso o que você
vê sente apalpa discute tenta
solucionar pela via da razão
e se houve só coração e o cé-
rebro só pensasse que era
mas não era não?

A vida que parte do princípio
que se parte não vai a parte
alguma pois se limita ao olho
que alimenta o córtex que sedi-
menta a memória que traz coisas
das quais não lembro e guarda outras
que tento, em vão, resgatar.

E se houvesse outra vida
e se existisse outra chance
e se a água passada refluísse?
E se, de repente, o tempo voltasse
a estrela reacendesse e o corpo
regenerasse?

Mas o tempo não para
e o Cazuza não sara
a gravidade limita mas não há
coisa mais bonita mais leve es-
sa coisa mais louca
do que este beijo na boca
este amor que demora e,
no entanto, é agora
é aqui...
infinito
do verbo ser.

(Poesia: Jorge Marin)

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

RELEITURAS: O ÚLTIMO SHOW

Evento raro na vida do Pytomba: um ensaio, realizado no Operário, com Sílvio Heleno, Serjão, Bellini e Zé Neli

Dia 14 de novembro de 1980 era uma sexta-feira, véspera de feriado. Nesse dia, o Pytomba fez seu último show ao vivo, no Clube Trombeteiros. A cidade estava cheia pois, curiosamente, nesse mesmo dia, os professores da UFJF haviam decretado uma greve, em pleno governo Figueiredo, fato inédito. Os estudantes, claro, não queriam nem saber e aproveitaram para antecipar o feriadão.
Esse show trouxe algumas novidades: músicas inéditas, todas de autoria do grupo e algumas estreias. Paulinho Manzo apresentou, em sincronia com os sons, uma seleção de fotos em um telão, recurso pouco utilizado na época. Jorge Marin apresentou textos e poesias ligando as apresentações e o Moacir Godelo gravou o show ao vivo num moderno (na década de 80) gravador de rolo. Renatinho Espíndola foi responsável pelos efeitos especiais, como uma chuva de bolhas de sabão e efeitos de luz. O saudoso Zé Neli arrasou na bateria e Beto Bellini cantou e dançou de forma fantástica.
Essa apresentação pode ser considerada ousada. Primeiro, porque marcamos o início para as 21 horas, concorrendo com a novela “Coração Alado”. Depois, porque catamos toda a aparelhagem existente na cidade, ligando tudo em série, o que resultou numa potência ainda não experimentada pelo grupo, verdadeira coluna de P.A. (public address).
Nos ensaios, conseguimos reproduzir alguns momentos muito semelhantes ao Pink Floyd e ao Yes, com cenas parecidas com a briga entre Roger Waters e Richard Wright, depois entre Roger Waters e todo mundo, ou seja, aquela baixaria em que, histericamente, a pessoa grita: eu não vou tocar nunca mais!!! Foi mais ou menos o que Jon Anderson falou quando brigou com o Chris Squire no Yes. Perguntaram ao Keith Richards por quê esse tipo de briga não acontece nos Rolling Stones e ele revelou que, normalmente, está tão bêbado que nem vê se o Mick Jagger está no palco. Inspirados nesse fenômeno da guitarra, mobilizamo-nos para repetir a performance e, na hora do show Renatinho e Jorge providenciaram, diretamente do Botequim do Zé Medina, uma inspiradora garrafa de vodka. Serjão ficou tão mal que, simplesmente, esqueceu-se do show e foi pra casa, assobiando o hino do Botafogo. Conseguimos pará-lo, perto do Correio (enquanto isso a plateia já gritava “Pytomba, Pytomba” lá no Trombeteiros), e aplicamos uma técnica milenar que consistia em esfregar vigorosamente sal debaixo do sovaco da vítima de alcoolismo. O resultado foi muito engraçado, pois ele começou a rir e nós todos começamos a rir junto, e quase nos esquecemos também do tal show. Finalmente, demos meia volta e carregamos nosso bravo componente de volta ao clube e entramos, com a cara e a coragem no palco. Serjão, mesmo amparado por duas pessoas, ainda socou o violão numa pilastra.
Por incrível que pareça, o show foi um tremendo sucesso!

(Crônica: Serjão Missiaggia / Adaptação: Jorge Marin)

CAMPANHA PARA A RESTAURAÇÃO DA MEMÓRIA PYTOMBENSE: Hoje, reunidos em São João, lembramo-nos que, no dia do último show do Pytomba, foi grande a quantidade de pessoas que fizeram o registro fotográfico do mesmo. Como estamos restaurando nosso acervo, PEDIMOS a quem tenha imagens do show, seja na forma de foto ou slide, que disponibilize esse material para que possamos escanear e divulgar aqui no Blog. Como dizemos sempre, o blog é uma construção coletiva e, ao fazê-lo, estamos mostrando que temos histórias para contar. E essa é uma ótima forma de viver.
Serjão e Jorge

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

FACES DE MIM

Arte digital por Karen Graw

Tenho as mãos que abrandam a graxa e surram o martelo,
que sovam a massa e servem a mesa,
impelem a viola, deslizam a vassoura...
No tambor, fazem ferir a madeira.

Mãos... Que, em silêncio, outras mãos perdoam,
outras mãos... humildemente, pedem perdão.
Alisam seu corpo, acariciam a prole,
Reprimem, aplaudem e acenam.

Mãos que suam, aquecem e oram,
que despem a caneta revestem o papel. Acolhem no peito a bola que rola,
empurram as águas que a pele enamora.

Com orgulho, trazem o fardo que carregam,
à casa retornam troféu que alimenta,
longas filas ferozes sangram,
o ganho que pouco germina e tanto tardia.

No trato diário, inocentes criaturas,
tão frágeis empresto as mãos que as saciam,
pertinho do chão, peso que alivia,
amigo de menino, nas costas um cavaleiro.

Ator incansável, pequenina plateia,
palhaço preferido dos que prefiro,
sou pai, esposo, irmão, companheiro,
professor, aluno, eletricista, cozinheiro e faxineiro.

Também sei chorar, sorrir, agradecer, amar... Por que não, sonhar!
Sou um pouco de tudo e de tudo quase pouco.
Me visto de criança, atleta...brinco até de ser poeta,
e... mergulhado em infinitos pensamentos,
fiz-me expressar no infinito das canções,
deixando voar com o coração,
sensibilidades... sentimentos... causos e emoções...

(Poesia: Sejão Missiaggia, janeiro/2002).

A todos os leitores, comentaristas, seguidores e curtidores:
FELIZ NATAL! E que o Deus do coração de cada um de vocês possa iluminá-los na arte de renascer, com mais energia, prazer e entusiasmo. Que possam transformar o que desejarem e for possível! E que seus espelhos reflitam imagens de anjos!

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

RELEITURAS: FESTIVAIS E FUTEBOL


Capítulo 3: Gigantes do esporte (final)


Quem assistiu, no domingo passado, à final do Campeonato Mundial de Futebol, entre Barcelona e Santos, pode pensar que nada é mais ridículo do que a apresentação do time brasileiro. Pois estão todos totalmente errados, amigos do esporte. JAMAIS HAVERÁ, no cenário esportivo nacional, algo tão ridículo quanto os jogos do glorioso time de futebol do Pytomba. 
As partidas, quase todas realizadas no Campo do Operário, eram verdadeiras performances, com pessoas que, não só não jogavam futebol, como nunca tiveram a mais remota ideia de entrar em campo. Podemos citar, como exemplo, o Bellini que, no palco, arrasava e esbanjava fôlego por várias horas, mas... Na hora de defender as cores do Pytomba Futebol Clube, fez um aquecimento durante exatos 85 minutos e, ao ser chamado pelo técnico para entrar em campo, recusou-se ferozmente, porque, segundo ele, como o gramado estava encharcado, poderia sujar seu uniforme branquinho. Em entrevista à Rádio Intupi, que transmitia o evento em FM, o vocalista declarou ao repórter de campo (Nenê):
- Ai, que nojinho! - frase hoje utilizada num comercial de TV.
Por falar em Rádio Intupi, esta representa um capítulo à parte na história do Pytomba: foi montado, pelo Sílvio Heleno, um transmissor de FM, que permitia a sintonia da trepidante narração de Jorge Marin:
- Meus amigos do esporte, boa tarde. Sábado é dia de esporte, o sábado é nosso, da sua Rádio Intupi. Falamos diretamente do Estádio Carlos Stiebler, o Gigante do Operário, para transmitir a partida de futebol entre Pytomba e Pingão, o Clássico Pypi, em disputa da Taça Júlio Renê.
A transmissão era também gravada num daqueles gravadores de uma tecla só e, à noite, reproduzida nas caixas de som da Lanchonete Joia, de propriedade do saudoso José Luiz de Carvalho que, juntamente com o Marquinho Dadalti, dirigia o esquadrão do Pingão. Quando queríamos um clássico aguerrido, chamávamos o Pingão, mas, quando queríamos só vencer, chamávamos os Vicentinos, que contavam com atletas de primeira linha como o Amaral do Correio e o Cumpadre Pituquinha, o Nem. 
A taça Júlio Nenê tem uma grande semelhança com a Jules Rimet, pois, a exemplo desta, também sumiu e ninguém mais achou até hoje. Foi patrocinada por nós mesmos e ficou escondida no estádio até que tivéssemos certeza que iríamos ganhar. Num jogo emocionante, em que, democraticamente, expulsamos o árbitro (Luiz Quirino) de campo, conseguimos derrotar o Pingão e saímos pela cidade, em carro (caminhão) aberto, numa bela passeata, acompanhada ao som de foguetes e dos olhares espantados do adversário, que tudo via sem nada entender o que estava acontecendo, pois eles nem sabiam da existência da Taça.
A seguir, alguns nomes que tiveram a honra de vestir nosso manto sagrado, a camisa negra do Pytomba: Rômulo, Ademir, Norberto, Cuoca, Nem, Sílvio Heleno, Jorge Marin, Serjão, Dalminho, Zé Neli, Márcio, Renatinho, Geraldo Cantõe, Zezé Constantino, Paulinho, Coxinha, Pipita, Zé Márcio, Pedrinho Ventania, Celso, Clarê, Dantinho, Biel, Quintino, Eduardo e Pedrinho Verardo. Alguns desses atletas chegaram a jogar em grandes clubes do Brasil. Tudo era muito bem organizado. Tínhamos nossas próprias camisas, envelopes timbrados, carimbos e até um símbolo, que era o urso Zé Colmeia.
Alguns jornais da época, como a Voz de São João, Novidade e o Ideal fizeram grandes referências sobre o trabalho do grupo, sendo que, o Ideal de novembro de 76, que tinha como diretor e redator Nilson Magno Baptista, fez sua edição toda voltada integralmente ao conjunto.
Neste ano de 1976, o grupo recebeu novos componentes: Zé Neli na bateria, Bellini no vocal, Paulinho Manzo na programação visual e Jorge Marin nas composições e apresentações de textos. Serjão foi para a guitarra base e percussão, e Sílvio Heleno passou para o teclado. Para a tristeza nossa e dos fãs, nesta época o Dalminho passou a residir em B.H. 
Foi nesta ocasião, que o grupo começou a compor suas próprias canções e algumas instrumentais. Canções como Gen Nini, Rosa de Jericó, Flores Mortas, Verde e Tempo, (letras de Jorge Marin e músicas de Renê), fizeram muito sucesso, sendo que a música Canto Livre foi uma composição conjunta do grupo, alguns dizem até psicogravada, e foi sem dúvida o trabalho mais marcante. 
Gravamos várias dessas músicas que estão pendentes de digitalização para divulgação. Uma bela apresentação, nessa nova fase, foi feita na boate Kako dos Democráticos, com projeção de slides (também sendo atualmente digitalizados) e reprodução das músicas.

(Crônica: Serjão Missiaggia / Adaptação: Jorge Marin)

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

RELEITURAS: FESTIVAIS E FUTEBOL

Foto publicada no blog musicaoriginalbrasileira.blogspot.com

Capítulo 2: O palco giratório, e pulatório

Vendo, nos dias atuais, nossos filhos e alguns, os netos, fazemos, às vezes, a pergunta inevitável: será que eles se divertem mais ou menos do que nós? Hoje, qualquer festinha infantil é feita em bufê, com painéis alugados e animadores contratados. Os adolescentes vão para danceterias nas tardes de domingo, sonham com Smirnoff Ice e, apontando para as menininhas, vão falando para os amigos: ali, véi, já fiquei, já fiquei, já fiquei...
Enquanto isso, no passado, na sala da casa do Márcio, alguém apaga a luz: vai ter início mais um baile do Pytomba. Diferente dos tempos atuais, o baile era feito em casa e as bebidas preparadas na cozinha, no começo, uma caipirinha bem elaborada, uma batidinha esperta, até que, quando o fogaréu era geral, atingíamos o fundo do poço, com a nossa versão genérica – e pobre – dos ices de hoje: quisuco com pinga!
Apagada a luz da sala, acendíamos a iluminação do baile: na verdade, um monte de pisca-piscas de Natal, emendados e colocados no pé de ameixa que, na escuridão do terreiro, eram um verdadeiro show de pirotecnia.
E ninguém pode dizer que não fizemos uma apresentação equilibrada! Em cima do tal tablado sequestrado, tínhamos que nos revezar para não ocorrer uma tragédia pois, como o tablado estava em cima de um piso, melhor dizendo, de uma terra irregular, a coisa acontecia do seguinte modo: se o guitarrista se movesse para uma das laterais do “palco”, ocorria uma sincronia imediata, e a bateria, imediatamente, subia lá trás. Por outro lado, se o tal guitarrista se movesse ou, pior, saía de cima do palco, a bateria arriava lá trás. Imaginem uma pessoa de fogo, acompanhando aquele sobe e desce interminável. O mais interessante é que mesmo alguns dos componentes do conjunto, preocupados, confidenciavam: acho que bebi demais, porque estou sentindo tudo rodar. A triste, ou engraçada, realidade é que o palco/tablado estava mesmo girando, e subindo e descendo.
Voltando aos dias atuais, precisamente no dia 30 de junho de 2009, no Camp Nou, estádio do Barcelona, na Espanha, um outro grupo musical voltou a fazer essa performance: o U2, comandado por Bono Vox, e utilizando um upgrade do tablado da Dona Mariana, deu início ao seu famoso show “U2 360º”. Só que, não tendo a nossa destreza em palco/tablado, tiveram que ensaiar muito e, de tanto cair da beira do palco, o guitarrista David Howell Evans recebeu o seu famoso apelido The Edge.
De volta ao passado, na cozinha da Tia Irineia, uma terrível constatação: a bacia que estávamos usando com água, para lavar os copos, durante a festa, estava também sendo compartilhada por um cachorro, bem embaixo da mesa. A preocupação não era o fato do cachorro ter bebido a água da bacia, o que apenas demonstrava nossas preocupações ecológicas, mas sim, se o cachorro bebera a água DEPOIS de termos lavado os copos, ou ANTES, o que acabaria por se constituir em um atentado, dos grandes, às boas regras de higiene, e também um grande enigma na história da banda.

Também fazem parte da história pytombense as inúmeras vezes em que pulávamos a janela do ginásio, para, religiosamente, ensaiar na sede do Operário. Como não tínhamos as chaves, a única maneira que encontrávamos para entrar no clube era arremessando o magrelo do Dalminho por um buraco. Mais precisamente, pela abertura de um vidro quebrado, que ficava na porta dos fundos. O mais legal era quando ele não conseguia abrir a porta, e ficava preso lá dentro. E íamos embora. Se fosse nos dias de hoje, diríamos rsrsrsrs...
Os ensaios, quando ocorriam, sempre viravam verdadeiros bailes. Era constante e fiel a presença do nosso fã clube, uma galera que nunca desgarrava do grupo.

(Crônica: Serjão Missiaggia / Adaptação: Jorge Marin)

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

RELEITURAS: FESTIVAIS E FUTEBOL

"O monólito", Exposição Nacional da Suíça 2002, por Jean Nouvel

Capítulo 1: O RAPTO DO TABLADO

Na década de 70, os festivais de música eram muito populares: havia o da TV Record, que revelou nomes como Chico, Caetano, Mutantes e Gilberto Gil, mas, estranhamente, premiou artistas dos quais pouco se sabe hoje em dia, como o lendário Geraldo Vandré e o ótimo Taiguara, este último falecido em 1996. Em São João, a coisa não era diferente, e músicas como Edith Pólvora e Cid Navalha, ambas do Márcio Velasco, levavam o povão ao delírio com suas letras irreverentes, reforçadas pelas apresentações vibrantes do Pytomba.
Com a popularidade, o conjunto era chamado para apresentações em clubes, casas, quintais e qualquer lugar onde a galera resolvesse se juntar. E se vocês pensam que, pelo fato da coisa ser assim meio performática, abríssemos mão do planejamento, vocês estão enganados. Tudo era precedido de reuniões, normalmente marcadas para o terraço da casa do Márcio. Feitos os relatos originais, falava-se de tudo, menos do baile que iria acontecer. Depois, todos desciam para a varanda, exceto os que ficavam dormindo lá em cima. Ali, continuavam os debates, via-se o movimento e, para evitar a dispersão, passavam todos para a sala, exceto os que ficavam cochilando na varanda. Na sala, geralmente alguém ligava a televisão e, se estivesse passando o Sábado Som, aí é que não rolava nada mesmo, até terminar o programa. Então, quando ia ter início, efetivamente, a reunião, ficava pronto o café da Helci, e iam todos para a cozinha, inclusive os que haviam dormido, com a finalidade de também filar os cigarros do Márcio. Tomado o inesquecível café, todos se sentavam na escada do terreiro e deliberavam, solenemente: “Fica decidido que... será preciso agendar outra reunião”, quando, então, era escolhido o local, sendo aclamada, por unanimidade, a casa do Márcio para o novo encontro. Não sei o que era mais fantástico: aquela intensa movimentação para não decidir nada, ou o sorriso calmo da Tia Irineia, admirando toda nossa inquietação.
Foi após uma dessas reuniões “proveitosas” que, para servir de palco a uma apresentação que ocorreria também na casa do Márcio, elegemos, democraticamente, o tablado da mãe do Sílvio Heleno. Este, conhecendo a dificuldade de convencer a genitora a ceder a desejada peça, resolveu arquitetar, junto com todo o grupo, o sequestro da mesma.
Fãs incondicionais dos Incas Venusianos, esgueiramo-nos pela mansão dos Picorone e, ninjamente, fomos saindo, pé ante pé, carregando o indigitado tablado quando, ao ranger do portão, olhamos pra trás, e vimos, na varanda, quem? Exatamente, a Dona Mariana que, com seu vozeirão típico de mãe com raiva, trovejou:
- AMANHÃ, BEM CEDINHO, EU O QUERO, AQUI DE VOLTA!
Como já era de se esperar, este tablado jamais voltaria e muitos de nós passaríamos meses, e até anos, entrando e saindo da casa de Silvio Heleno escondidos, às vezes disfarçados de carteiros.
Quase dois anos depois, quando imaginávamos que aquele fato já fazia parte de um passado distante, ao entrarmos pelo portão, ela nos pega desprevenidos e pergunta:
- E aí pessoal!!! E o meu tablado?!!! Nesta hora, foi gente saindo de fininho para todos os lados.
A última noticia que tivemos dele – do tablado - é de que teria se transformado num garboso portão na casa da Tia Irineia, que também não sabia de nada.

(Crônica: Serjão Missiaggia / Adaptação: Jorge Marin)

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

MINHA FAMÍLIA

Minha Família

Doce meiga,
Olhar sereno cristalino,
Riqueza infinita,
Infinitamente mulher.
Namorada eterna namorada,
Habitas meu coração,
Amiga, razão do meu ser, verdadeira paixão.

Pedacinho do universo,
Amor, ternura... Tudo mais!
Um presentinho de Deus,
Luz eterna,
A se apagar jamais.

Meu pequeno,
Amigo companheiro,
Tão grande sua presença,
Hoje, ontem,
Eternamente.
Um verdadeiro homem,
Serás no amanhã, que te espera.

Sábio fui,
Envolvendo-me na
Riqueza de um lar.
Jamais poderia tanto amor imaginar.
Agradecer só resta...
Obrigado Senhor.

(Acróstico: Sérgio R. Missiaggia, Jan 1997)

Dezembro, antes de qualquer coisa, é o mês da família. Por isso, damos uma pequena parada na nave Pytomba, para homenagear essa família que, se fosse uma banda, diríamos que já está na estrada há exatos 25 anos. Já lançaram, juntos, muitos trabalhos, desde o tempo em que eram apenas uma dupla, como Meu Pé de Caqui e Crônicas Galináceas 1 e 2, A Princesa Lá de Casa, O Artilheiro Mora Aqui e, hoje, Bodas de Prata.
Parabéns à família Serjão, Dorinha, Paula e Matheus por serem prova viva desse difícil, mas necessário e doce, Teorema do Amor!

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

RELEITURAS: PRIMEIRO BAILE INTERMUNICIPAL

Arte digital por Punxdude.

Parte II - PARA ARGIRITA, E ALÉM!

23.09.1972, sábado à noite – Um dia para ficar na História: enquanto, em São João Nepomuceno, nossos pais, calmamente, se refestelavam em suas poltronas para assistir Jerônimo, o herói do sertão – na TV Tupi, e Selva de Pedra, com Francisco Cuoco e Regina Duarte, na TV Globo, lá na noite de Argirita, outros heróis, os componentes do Grupo Pytomba, usando o suspeito nome de “Mercado Negro”, tomavam um susto: achando que iam tocar para um bando de caipiras numa roça, surpreenderam-se com a nata da sociedade argiritense, num concorrido baile em traje de passeio completo.

20:30 – Ao conferir o local, ficamos sabendo que aquele lugar chique era, na verdade, a Fazende Vitória, e que o conjunto que ia tocar para aquele bando de bacancas era... nós!
O silêncio foi geral nessa hora. Teve gente até querendo voltar de qualquer jeito.
Vendo que ninguém falava nada, tentei quebrar o gelo, com uma frase que, desde então, passou a fazer parte da Antologia do Rock:
- Gente, como é que toca valsa na bateria?
O pânico se espalhou, uns vomitavam, mas, fazer o quê? O contrato já havia sido fechado e todos teriam que se virar de qualquer jeito.

20:40 – Fomos estacionar a kombi e aí, outra surpresa: uma cobra jararaca, também impecavelmente pronta para o bote. Mas, tínhamos a força: nosso bravo motorista Paulinho esmagou a hedionda serpente com o seu Trombone Justiceiro.

21:30 – Montada a “pareiaje”, não é que o baile até que não foi totalmente catastrófico? O repertório, finalmente, começou a rolar: The End (sempre começávamos com O Fim, curioso não?), Oh My Love, My World, De Tanto Amor, Imagine (meu Deus, já 31 anos sem John Lennon!), Look Aroud And You’ll Find Me There.

22:05 – Cenas Antológicas do Rock: de uma hora pra outra, o aparelho da guitarra, num barulho ensurdecedor, começou a apitar sem parar, Aí... mexe pra cá, mexe pra lá, e o Sílvio Heleno, numa atitude pioneira, sentou um bicudaço naquela porcaria, jogando o impertinente gadget bem no meio do salão. O mais fantástico de tudo é que ... a coisa funcionou: expurgado o aparelho impertinente, tudo começou a fluir normalmente. E, pasmem: deu até para terminar o baile. Mas, cá pra nós, que sufoco!

(Esse gesto do Sílvio Heleno foi, mais tarde, imitado por outros guitarristas, como Greg Lake, do Emmerson, Lake and Palmer, Pete Townshend do The Who e Bento Hinoto dos Mamonas Assassinas, embora este último tenha quebrado acidentalmente, num show em que, também a exemplo do Pytomba, estavam tocando com o nome de “Utopia”).

SÉCULO XXI – LENDA URBANA - O sucesso daquele baile foi tamanho que, durante muitos anos, centenas de moças, para ser exato uma centena (na época era a totalidade da população feminina da cidade) fretavam ônibus para São João em busca dos gatos do conjunto Mercado Negro. Coitadas, até hoje permanecem frustradas, e, atualmente, distintas senhoras, ficam sentadas junto às janelas, suspirando pelos velhos tempos. E aquele menino, que seguiu o Márcio na praça, cresceu, foi jogar no Comercial Futebol Clube, onde foi artilheiro por três temporadas seguidas, adotando o nome que ele ouvira o Sílvio chamar nosso baixista: Belásquez! Depois fez teste no Atlético Mineiro. Mas não passou...

(Crônica: Serjão Missiaggia / Adaptação: Jorge Marin)

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

RELEITURAS: PRIMEIRO BAILE INTERMUNICIPAL

Foto de Argirita por Olinto Cristo

PARTE I - TOCANDO INCÓGNITOS

23.09.1972, Sábado – BR 126, vento nos cabelos, cheiro de mato, estamos indo em direção ao tão esperado PRIMEIRO BAILE INTERMUNICIPAL, na gloriosa cidade de Argirita. Êta nóis! Um único “pobrema”: nós não podemos contar pra ninguém que nós somos nós. Como assim? É que, na hora de assinar o contrato, o Márcio, o único que sabia fazer rubrica, e por isso assinava os contratos, disse que o nome do conjunto era Mercado Negro. Por que, meu Deus? Por que?...

E essa dúvida persistiu no imaginário pytombense durante décadas até que, em 2009, e aqui mesmo no blog, nosso destemido baixista revelou:

- “O negócio na fazenda Vitoria foi que alguém me proibiu de ir lá como Pytomba. Aí pensei em um nome subversivo, como era moda e, depois de grave meditação, cheguei a Mercado Negro. Acho que influenciado por Black Magic Woman do Santana... Só me lembro que, dias antes do evento em Argirita, fui parado na rua por um menino que correu atrás de mim e só faltou pedir autógrafo por causa do nome da banda. Mas, no coração era mesmo Pytomba. Só pra lembrar: muitas reuniões eram feitas na minha casa e eu era formalmente convocado para participar delas.”

18:57 – Lá vamos nós, na potente Kombi do Paulinho Caturra. Todo mundo tranquilo e relaxado. Afinal, estávamos preparados. Sabem quantos ensaios fizemos? Pois é, nenhum! A coisa estava sendo encarada na farra, mas tão na farra que o Paulinho Caturra, já quase chegando ao trevo, resolveu voltar para pegar seu trombone. Afinal, tocar numa fazenda seria moleza, imaginávamos, enquanto, alegremente, seguíamos viagem. Vou ter que espantar as galinhas da beirada do palco, dizia. E todo mundo ria.

19:25 – Chegando em Bicas. As duas garrafas de Menicucci, um “autêntico” vinho chileno de uma safra especial produzido em Cachoeiro do Itapemirim, acabaram de secar. Fazer a cabeça também era parte do nosso plano de produção e, como sempre, levamos muito a sério o nosso planejamento.

19:40 – Ao pegar a BR-267, paramos para abastecer e um fato curioso ocorreu: o funcionário do posto, ao abrir a porta da kombi, levou um baita susto pois, de dentro do carro, um de nós, com baqueta e tudo, arriei aos seus pés.
E notem que o conjunto nem havia chegado ainda ao destino!

20:15 – Já deixamos Guarará e Maripá de Minas bem para trás. A cabeça começa a girar. Brincadeira, já estava girando quando deixamos o trevo de São João. De repente, a kombi teve que reduzir a velocidade pois chegamos num engarrafamento. Começamos a observar essa intensa movimentação na estrada: inúmeros carros se cruzavam na pista, em busca de uma possível vaga, pois os dois lados da estrada estavam completamente ocupados. Homens passavam de um lado ao outro, impecavelmente a rigor. Mulheres, com seus vestidos longos e rosas na mão, ficavam a desfilar pela pista, acompanhadas de seus parceiros com ternos e gravatas.

20:30 – Preocupado com aquela fila de gente bacana, o Paulinho deu uma paradinha em frente a outra Kombi, e perguntou: e aí, meu amigo! A Fazenda Vitória fica muito longe daqui? É aqui mesmo: vocês são do conjunto? Desesperados, lemos o cartaz: 3º Baile da Rainha da Primavera de Argirita. Conjunto: Mercado Negro.
Quem são esses caras? - perguntou um colega já bem alcoolizado. Somo nós, respondeu o Márcio. E começamos a chorar.

(Crônica: Serjão Missiaggia / Adaptação: Jorge Marin)

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

PASSAMOS DOS 30.000!!! QUEM É QUE VIU?

Frame do filme "30.000 léguas submarinas".

BRIGADÚ!!!
30.000 visitas é tudo de bom, é o melhor presente de 40 anos que o Pytomba poderia receber.
Estamos aguardando a foto do 30.000º visitante...

RELEITURAS: O INFERNO DE DANTINHO

Arte digital por Bill Brink

Também em 1972, para comemorar o aniversário de três componentes do grupo, nos apresentamos no terraço da casa do Dantinho.

ANOTAÇÕES DO BAILE:
01) QUEM COLOCOU ESSA P*** DESSA CORDA?
Colocaram uma corda separando o palco da pista de dança. Fiquei preso do lado de cá. Tô meio zonzo. Como faço pra ir no banheiro??? O que faria Phil Collins no meu lugar?
02) QUEM VOMITOU NA TUMBADORA?
Na verdade, não era uma tumbadora, mas um surdo desempenhando o papel. Quando voltei do banheiro (rastejei por baixo da corda), descobri aquela substância e não tive coragem de tocar. Da pista de dança, escutei alguém tocando, animadamente, no meu lugar. Fiquei sentando no chão, até que ouvi o Sílvio Heleno gritando:
- Volta, Serjão! O Nílson já limpou a tumbadora!
Imaginem aquela nojeira espirrando pra todo lado. E até que o Nilson tocou direitinho!
03) O SOM DO SILÊNCIO
Não, não é nome de filme: foi nossa gravação, depois que o César Esquisitinho terminou. Ele ficava rodando o fio do gravador o tempo todo, e ele próprio também rodava pela pista o tempo todo. Resultado: nenhum!
04) A BATIDA DE LIMÃO
Fizemos uma batida de limão zeliciosa, sileciosa, diceliosa, ah, sei lá! Experimentamos tanto a dita cuja que o resultado foi aquele desastre que já contei. Tio Dante e Tia Adail tentaram limpar o chão por muito tempo, o que só aconteceu depois da Copa do Mundo, de 1978!
05) CHUTEI O TAROL
Como é que uma pessoa sabe que está em coma? Ah, ela não sabe nada que aconteceu com ela? Então eu, com certeza, estava em coma.
- Por que você chutou o tarol, Serjão? – perguntou, zeloso, o Sílvio Heleno.
- Escorreguei numa casca de banana – expliquei.
- Ah, tudo bem – responde o Sílvio, concentrado na música que eu já nem estava ouvindo mais.
06) CARREIRA (NO) SOLO
Naquela noite, o conjunto quase se desfez: só conseguimos tocar uma única música juntos. Aí, fomos caindo, um prum lado, outro pro outro. E o baile terminou, apenas, com dois componentes, Márcio e Dalminho, cada um tocando uma música diferente e um estranho casal solitário dançando... tango!


1973 – BAILE NO GINÁSIO – Duas notas, ambas do Sílvio Heleno: estávamos tocando em um tom e ele entrou solando em outro totalmente diferente. Quando questionado, respondeu:
- Foi assim que eu aprendi com o Bastião Cricri! – e continuou.
Na música seguinte, na hora do solo, olhamos pro lado e só vimos a guitarra, ligada, no chão. O Sílvio havia, simplesmente, sumido, no meio do baile.
Pior pra ele que não aproveitou nosso cachê daquela noite: um pão com salame e uma coca-cola (quente).

1974 – PRIMEIRO SHOW INTERDISTRITAL, em Roça Grande na Boate Bate Papo. Naquele tempo, boate era o que hoje se chama danceteria, zona era que se hoje se chama boate. E Paraguaio era o técnico do Botafogo.
Engraçado é que eu não me lembro de nada, só que tivemos que sair do baile pela janela dos fundos. Na volta, fomos parar num lugar esquisito, depois identificado como: a porta do cemitério. Eu hein!!!
Foi uma noite histórica em que conseguimos botar pra dentro da boate todos os sapos. Muito legal. Pena que o único barrado foi o Márcio Velasco, e começamos o baile sem baixista!

(Crônicas/depoimentos: Serjão Missiaggia / Adaptação: Jorge Marin)

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

RELEITURAS: O PRIMEIRO BAILE

Carlos Santana em foto do site jazztimes.com

LADO B: Aint got nobody that I can depend on!

PYTOMBAAAAAAA!!!
O grito da Nely ainda ecoava em nossos ouvidos. Sabe aquela história de não sei se é pra rir ou pra chorar? Sílvio Heleno, apavorado, não acreditava no que estava acontecendo, mas subiu rapidamente no palco e, com a mesma rapidez, se escondeu atrás da aparelhagem.
Márcio Velasco gritava como louco, pedindo para que o bravo guitarrista solo mostrasse pelo menos o rosto, pois, caso contrário, ninguém tocaria. Tudo sob risos e aplausos de uma galera de fãs que delirava.
Renesinho, como num passe de mágica, desapareceu do clube, deixando a bananosa estreia para: Sílvio Heleno, Dalminho, Serjão e Márcio.
Dalminho, numa demonstração surpreendente de coragem, dirigiu-se sozinho para frente do palco, pegou a guitarra e começou a regular a altura do pedestal e microfone. A seguir, numa breve olhada para trás, contou o número de elementos para certificar-se de que ninguém mais havia fugido. Avisou que iria dar seu sinal pra começar... E haja Gin Tônica!
A seguir, um momento histórico: ainda teríamos que aguardar alguns minutos, até que Silvio Heleno, mesmo sentado, fosse arrastado, com cadeira e tudo, mais para frente do palco.
Assim, após todos estarem em seus lugares, Dalminho, dando mais uma olhada para trás, chegou junto à bateria e disse:
- É agora ou nunca!!!! Serjão!
A seguir, começou a cantar, com toda empolgação No One To Depend On: “Aint got nobody that I can depend on”... Era o próprio Santana cantando. E a galera delirava, aplaudia e dançava sem parar.
E mais Santana, tudo vindo ao nosso encontro, ou “Everyting’s Coming Our Way”, seguido de Imagine, My World, Something e, para finalizar, Withou You.
O mais curioso desta noite inesquecível foi a presença maciça, neste baile, de quase todos os músicos da cidade. E o pior: todos sentados próximos ao palco. Possivelmente admirados, talvez pela nossa aparente coragem, mas certamente pela imensa cara-de-pau.
E como diz a letra de Withou You: “yes, I can’t forget this evening, or your face as you were leaving, but I guess that’s just the way the story goes”. Sim, eu não consigo esquecer esta noite, ou sua(nossa) cara(s) na hora em que estava(mos) saindo, mas acho que foi exatamente assim que tudo aconteceu…

(Crônica: Serjão Missiaggia / Adaptação: Jorge Marin)

BRIGADU, GENTE!

BRIGADU, GENTE!
VOLTEM SEMPRE, ESTAMOS ESPERANDO... NO MURINHO DO ADIL