sexta-feira, 30 de setembro de 2016

O VOTO DOS APOLÍTICOS: BRANCO OU NULO???


Como é ser apolítico no século XXI? No meu tempo de menino era fácil: TODOS éramos apolíticos!

Façam as contas: o golpe civil-militar (ou revolução gloriosa redentora, se preferirem) ocorreu em abril de 1964. Os novos partidos autorizados pelos militares, a Arena e o MDB, só foram registrados em abril de 1966.

O nosso eterno mestre Sôbi tinha uma máxima que refletia muito bem esse período da nossa história. Dizia ele: “Eu tinha um amigo que achava muita coisa, e até hoje não acharam ele”.

Mas, voltando aos dias atuais, como é possível ser apolítico num cenário com 35 partidos diferentes?

A coisa funciona assim (vou substituir o nome dos partidos por times de futebol porque, às vésperas da eleição, a coisa é tensa!): você tem o seu time. Eu, por exemplo, sou botafoguense.

Não sou de torcida organizada (ou seja, não sou militante), mas torço pelo Fogão. Aí o meu time começa a perder, coisa que costuma acontecer com o Botafogo na vida real. De repente, um bando de pessoas começa a me zoar no Face: “time ridículo”, “covardes”, “segunda divisão”. Você aceita as críticas, pois, embora NEM TODOS os jogadores sejam assim, o time realmente está deixando a desejar.

Aí, pra poder ir à forra, você pergunta para os seus amiguinhos de Face: qual é o seu time? E a resposta é (quase) unânime: cada um diz SOU APOLÍTICO! Ora, como vou fazer para também exercer o meu direito de crítica se todos os que criticam o meu time são “apolíticos”?

O fato é que, NA VERDADE, eles não são “apolíticos”, mas sim TÊM VERGONHA de assumir os seus partidos e candidatos. Vejam bem: é normal que candidatos que estejam tentando se reeleger sejam muito criticados (afinal, como estavam fazendo alguma coisa, ERRARAM mais). Nessa hora, mesmo aquelas pessoas que, SABIDAMENTE, votaram no sujeito (ou na sujeita), afirmam de pés juntos: eu não votei nele(a), pois sou apolítico!

Como diz o sábio Jorge Kajuru: “ô apolítico, vá te catá!”.

No entanto, SUPONDO que fôssemos todos apolíticos, e votássemos em BRANCO ou NULO, o que aconteceria? Nada, pois, se o candidato, só ele, votar em si, estará eleito com 100% dos votos válidos, ou seja, SÓ TEM UM VOTO E ELE É VÁLIDO. Pronto: o pulha tá eleito!

Crônica: Jorge Marin
Foto     : disponível em https://mortongrovenews.wordpress.com/tag/political-bosses/

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

UM POSTE EM MEU CAMINHO


Estando a três dias das eleições, onde a expectativa já se tornou um fato bastante evidente, resolvi, no intuito de dar uma boa descontraída aos leitores e eleitores, relembrar este fato verdadeiro e muitíssimo surreal, que ocorreu comigo no século passado. A coisa teria acontecido mais ou menos assim:

Estava eu passando pela Rua Nova quando, na esquina com a Rua Joaquim Murtinho, um fato muitíssimo estranho aconteceu. O exato lugar, se não me falha a memória em julho de 1975, tornou-se palco de uma cena não comum a moradores e transeuntes daquela redondeza.

Naquele inesquecível dia, tornei-me personagem principal de um cômico e dramático episódio, que teve como coadjuvantes dezenas de pessoas que por ali passavam: moradores, curiosos, palpiteiros etc.etc.etc. Foi uma cena incomum, e tais pessoas jamais poderiam imaginar que ficariam gravadas, anos e anos, na história da já famosa Rua Nova.
     
Vamos ao fato. Até pouco tempo atrás, havia no referido local um poste de ferro, idêntico ao de nossa ilustração acima, que servia à sinalização de trânsito, cuja característica era possuir esses pequenos orifícios espalhados em sua base. Passar por ali era rotina obrigatória das idas e vindas do namoro, tornando-se local predileto das brincadeiras que eu, religiosamente, fazia toda vez que ali passava.

Uma das brincadeiras exigia de mim uma precisão invejável que, por sinal, era muitíssimo bem ensaiada. Consistia em enfiar o dedo rapidamente num desses buracos e, ante o perigo de ficar preso, deixaria assustado as pessoas que me acompanhavam.

Um belo dia... Não sei se por azar, erro de cálculo ou mesmo se engordei de um dia para o outro, ao enfiar, mais uma vez, o dedo num daqueles buracos, um calafrio no corpo me fez compreender que havia entrado verdadeiramente pelo cano, ou melhor, pelo poste. Senti uma sensação diferente, era como se escutasse ao pé do meu ouvido: - DESSA VEZ EU TE PEGUEI!

Provavelmente, teria sido um erro de cálculo, pois, após estudar minuciosamente o ocorrido, descobri que, ao introduzir o dedo com um pouco mais de pressão no buraco, deixei que as juntas penetrassem além do costume.
E ali estava eu. Por um erro de cálculo, tornei-me um indefeso prisioneiro de um poste e, o que é pior, exatamente na Rua Nova, que sempre foi uma das mais movimentadas da cidade.
    
Em vão, fiz as primeiras tentativas de escapulir dali. Procurei disfarçar, mas impossível.  Já alguns curiosos começaram a circular ao meu redor e aglomerar ao meu lado, enchendo-me de palpites, piadinhas e gozações.  E eu ali indefeso, preso e já começando a ficar preocupado.

Um infeliz, já meio alcoolizado, passou pelo local e, com aquele bafo de pinga e aquele olhar pesado, olhou para mim, olhou para placa, novamente olhou para mim e, colocando a mão em meu ombro, sussurrou baixinho em meu ouvido:
- Gente boa, fica frio, a placa é somente de contramão, mas só o dedinho pode! - Depois dizem que bebum não pensa!...

Fui levando tudo na brincadeira, pois, até então, acreditava que sair dali era questão de momentos ou certa perícia e isto eu acreditava que tinha. O número de curiosos aumentava a cada instante e, entre uma piadinha e outra, chegou um senhor, que, com muita educação, foi pedindo licença a todos, fazendo chegar até a mim uma cadeira, ou melhor, um banquinho amarelo-ouro, sem encosto, duro e bem desconfortável. Mas valeu, pois já um suor frio principiava a dar sinal em meu corpo.  Foi naquela hora, que comecei a pressentir que a coisa era bem mais séria do que eu pensava.

O suor começou a escorrer! Imaginem só, uma pessoa sentada num banquinho amarelo-ouro, no meio da calçada, com uma mão na cintura, a outra mão a meia altura, fazendo sei o quê, num poste qualquer, em plena Rua Nova!  Ou é maluco ou é promessa!

E o suor aumentava... Vontade de fazer xixi... Aí também não!... Chega o Zé da Carroça!  Olha daqui, olha dali e meio desconfiado, tirou o cigarro de palha da boca e foi logo dizendo besteira:
- Procupa não moço!!!  Se ocê não saí por bem, nóis ranca com o poste e tudo!!!

Naquele momento, as gotas de suor já escorriam pelo rosto e as mãos começavam a ficar frias.  Ouvi então, do meio da multidão, a palavra cavadeira.  Aí também não!... Ficar aqui agarrado ainda passa! Mas, sair daqui levando comigo um poste, nem pensar!... Está fora de qualquer cogitação!!! E depois... levar para onde? Hospital?.. Prefeitura?..Ferreiro de plantão?.. Jamais.!!!! E a minha reputação?

Imaginem vocês o que significa uma notícia dessas no rádio ou jornal de uma pequena cidade do interior como a nossa: "Genro do Barroso dá entrada no Hospital S. João acompanhado de um poste". Seria cômico se não fosse triste.
A esta altura, o suor já pingava no chão.   Então, entre licenças e abre caminho, chega uma senhora moradora da rua, trazendo-me, gentilmente, água com açúcar, bolachas e algumas palavras de consolo.  Vendo-me comprimido por tantas pessoas, anunciou-me que estava quase na hora de começar um dos últimos capítulos da novela das oito e que a coisa ali ia serenar um pouco, pelo menos, durante a novela. Na hora, já sem esportiva, perguntei:
- A senhora tá achando que vou ficar aqui até que horas?!
     
Entre risos, um senhor que não conheço, começou a pedir que as pessoas se afastassem um pouco por causa do calor, mas ninguém queria de forma alguma arredar o pé, e olhem que a novela já havia até começado! O engraçadinho da cavadeira, que estava há algum tempo quieto até demais para o meu gosto, manifestou-se novamente do meio da multidão, e, com uma pequena torcida organizada, erguia as mãos para o alto e, em coro, gritavam freneticamente:
- Cavadeira!... Cavadeira!... Cavadeira! - Em meio ao alvoroço, os ânimos começaram a se exaltar e, num ranca, num ranca, ranca, num ranca, comecei a me desesperar.
 
Eu já estava prestes a entrar em pânico. Um calafrio percorreu todo meu corpo. Falaram em serrar o poste, cortar meu dedo e, quando o caso parecia mesmo sem solução, eis que surge, inesperadamente, um enviado das alturas, carregando em suas mãos, a poção mágica e grandiosa, conhecida por nós, simples mortais, pelo nome de sabão. O velho e eficiente sabão que, misturado com um pouco de água, foi aos poucos e lentamente, retirando o quase desfalecido e inchado dedão.

Então, sob uma calorosa salva de palmas, fui rapidinho procurando meu rumo, não sem antes ver, ou melhor, cruzar com um carrinho de pipocas e um menino vendedor de picolés que, apressadamente, dirigiam-se ao local, na expectativa de faturarem às minhas custas. Haviam sido informados que ali o movimento prometia muito. Dessa pelo menos eu escapei!

No mais, já que o nosso assunto de hoje foi POSTE, desejo a todos uma eleição ILUMINADA e, se possível, com muita LUZ frente às URNAS. 

Crônica e foto: Serjão Missiaggia.

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

BELEZAS DA TERRINHA


JARDINS DE SÃO JOÃO.

COMENTÁRIOS SOBRE A RUA GUARDA-MOR FURTADO - A primeira a acertar, lógico, foi a "dona da rua" Renée Cruz: "Sou privilegiada! Esta rua é minha e é testemunha dos meus acertos e desacertos! Vida inteira! Infância e adolescência morava no pé do morro e hoje ao lado da Matriz! AMO!!!".

Rosana Espíndola e Cléa Pessoa foram as outras acertadoras.

Foto de hoje: Serjão Missiaggia

TODA CASA TEM UM CASO


QUEM SABE ALGUM CASO DESSA CASA??? NÓS SABEMOS.

CASA DA SEMANA PASSADA - Luiz Carlos Moura, Ana Emília Silva Vilela e Cida Abreu foram os primeiros a acertar: final da Rua Capitão Ferreira Campos (Rua do Descoberto) com a Travessa Padre Condé, casa da Maria Helena Linhares e do Sr. Miudinho.

Foto de hoje: Serjão Missiaggia

CASOS CASAS & mistério ???


QUEM EXPLICA ESSA PAISAGEM ???

ACERTADORES DA SEMANA PASSADA - A Giovana Miosso protestou: "Deixa eu acertar, Maninho, você acerta todas!", e acertou: "Essa casa de dois andares é aquela maravilhosa, com um belo e grande jardim que fica de frente à entrada do Center Modas, ao lado da Capelinha". Maninho Sanábio completou: "... e a foto foi tirada lá do Shopping". Marcelo Oliveira também reconheceu: "Casa da Guguta Sarmento".

Foto de hoje: Serjão Missiaggia

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

O REIZINHO DA CARIDADE


Vendo as batalhas, as controvérsias e as violência que estão prestes a ocorrer em mais uma mudança da tão sofrida Educação Brasileira, não há como não me lembrar com saudades do meu querido Grupo Escolar Dona Judith Mendonça.

Em tempos simples, de cantigas doces e poesias gaguejadas e aplaudidas, recebi meu primeiro título, outorgado por uma fantástica diretora. Dona Terezinha de Almeida Isbele, ao me ver diariamente na fila dos que contribuíam com legumes para a merenda dos menos favorecidos, me apontava, franzino, e dizia: “lá vem o Reizinho da Caridade!”.

Nem é preciso dizer que aquele título, com a escola toda me olhando, e as professoras aplaudindo, me enchia de uma alegria e de um orgulho, que hoje não sei bem se eu era caridoso mesmo ou só exibido.

O fato é que o tempo passou, depois me tornei vicentino, e aquele sentimento cristão de ser caridoso me acompanhou por um tempo, embora, confesso, me sentia meio incomodado quando, nas visitas aos pobres no bairro Santa Rita, sentava-me com os demais confrades, e ficava ali com a roupinha limpinha, enquanto os filhos daqueles que recebiam o desejado “vale” brincavam sujos nas ruas sem calçamento do bairro.

Hoje, a caridade praticada daquela forma ainda me incomoda. E por dois motivos. O primeiro é político: tenho em mim essa impressão de que ir levar recursos que me sobram para os pobres é uma coisa assim meio prepotente da minha parte. Penso que o Estado tem a obrigação de dar uma vida digna aos menos favorecidos e, antes que se apressem em me rotular, já vou logo dizendo que esse é um preceito constitucional, ou seja, é Lei.

O outro motivo pelo qual a prática da caridade me incomoda tem a ver com a psicanálise: ser bom e, o que é pior, ter a obrigação de ser bom, além de uma carga narcísica muito grande, me joga numa ciranda obsessiva muito perigosa e pouco saudável.

Hoje, para apaziguar os meus ímpetos de Reizinho da Caridade, tento ser gentil. Adoro: ceder lugar para as pessoas no ônibus, sorrir para as crianças, ser paciente com imbecis, não ser excessivamente sincero e, principalmente, evitar conflitos.

Porém, até essa coisa doce e desejável de ser gentil tem sido difícil. As pessoas nos julgam o tempo todo: se cedemos o lugar no ônibus para uma mulher, dizem que somos machistas; se sorrimos para as crianças, podemos ser algum tipo de pedófilo e até mesmo evitar conflitos revela algum traço de frouxidão, de covardia.

Por isso, resolvi abdicar aqui hoje, 50 anos depois, do meu título de Rei da Caridade. A gentileza ainda quero continuar exercendo. Se me deixarem!

Crônica: Jorge Marin
Foto     : acervo pessoal do autor

quarta-feira, 21 de setembro de 2016

VERDE QUE TE QUERO VER


Hoje é dia de nossas amigas árvores e, mesmo consciente de estar sendo uma postagem repetitiva, nunca é demais falarmos novamente um pouquinho sobre elas.

Mas, é fazendo uso de suas sombras ao subir o morro da Matriz, sob sol escaldante, que não deixo de imaginar, no futuro, a possibilidade de termos outras iguais a essas espalhadas por todas nossas ruas. A falta de uma única árvore é suficiente para sentirmos o quão úteis elas são, enquanto seus fartos benefícios poderão ser facilmente percebidos quando se perde uma próxima de você.

Estranho falar nisso agora, e justamente numa época de temperaturas amenas, mas será fácil constatar, bastando, principalmente neste próximo período de calor, deixar o ar condicionado de nossos carros e casas de lado, e sairmos, por instantes, andando por determinados lugares.

As arvores dão beleza e harmonia em qualquer lugar. Fazem a vida mais agradável, tranquila, feliz e relaxada, e, como havia dito anteriormente, supõem um rico legado para aqueles que virão.

Não há e jamais haverá algo que substitua o santo frescor da sombra de uma árvore! O interessante é que esta tecnologia tão perfeita, criada por nosso Deus supremo, além de não gastar energia elétrica e ser inteiramente grátis, é um colírio para os nossos olhos, frescor pra o nosso corpo e equilíbrio para nossa alma.  

Pra finalizar, gostaria de lembrar Rubem Alves quando diz: “QUEREM ME PRESENTEAR NO ANIVERSÁRIO? PLANTEM UMA ÁRVORE”!

Crônica: Serjão Missiaggia
Foto     : Facebook

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

SE ESSA RUA FOSSE A MINHA


QUEM VIVEU MOMENTOS MARCANTES NESSA RUA???

Foto de hoje: Serjão Missiaggia
Trat.imagem: Jorge Marin

TODA CASA TEM UM CASO


QUEM CONTA ALGUM CASO DESSA CASA???

CASA DA SEMANA PASSADA - Marcelo Oliveira foi o primeiro a se lembrar: "duas senhorinhas com seus cachorrinhos na janela da varanda!", Vilma Medina e Francisco de Assis Rabello lembraram-se do local (subida da Matriz), mas foi o Antônio José Capanga que cravou: "Casa da Família Fragoso. Hoje mora só a Dona Maria Fragoso".

Foto de hoje: Serjão Missiaggia
Trat.imagem: Jorge Marin

CASOS CASAS & mistério ???


QUE LUGAR É ESSE ???

ACERTADORES DA SEMANA PASSADA - A Igreja Batista no Bairro Caxangá e a garagem da Bassamar, cujo beco dá acesso ao Bairro Centenário foram reconhecidas primeiramente pelo Maninho Sanábio, e em seguida pela Lucimar Soares de Mendonça, que completou: "... e a casa da Cida Varoto".

Foto de hoje: Serjão Missiaggia

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

O FIADAPUTA


Não se assustem com o título! Estou só aproveitando que a censura (ainda) não começou.

O fato é que xingamos. Muitos dizem que não, mas experimentem dar uma topada numa pedra no meio do caminho. Aí, se você não for o Drummond, certamente vai lascar um FIADAPUTA.

Esse certamente é o primeiro palavrão que aprendemos xingar, e ele vem com uma carga afetiva tão grande que muitos de nós, ao encher a boca e xingá-lo, ainda sentimos um gostinho da pimenta malagueta que as nossas mães, zelosamente, colocam em nossas linguinhas sujas.

Aprendi, há poucos dias, que é um palavrão perigoso: um vizinho aqui da minha rua jurou de morte outro vizinho porque este usou o FIADAPUTA. Segundo ele, um homem que xinga a mãe do outro merece morrer. Mas, tentei explicar pra ele, esse xingamento é genérico, não tem um significado assim tão literal (ou psicótico) como imaginam. Quando digo FIADAPUTA, é um desabafo, e não uma declaração de atividade autônoma da mãe de ninguém, que, normalmente, está em casa quietinha, sem saber de nada, e ainda com o vidro de pimenta.

Lembram da escola? Quando a gente dava umas risadas e a professora se virava e perguntava: “quem riu?”. Normalmente, tinha um sujeitinho de óculos, limpinho, com um arzin superior, que nos denunciava: o FIADAPUTA.

Isso que, no nosso tempo, se chamava DEDO-DURO, e que hoje é conhecido como delação premiada. Mas, sempre funciona assim: um sujeito, normalmente um canalha, rouba, corrompe, é corrompido, desvia dinheiro, mente. Aí, quando a polícia chega nele, há duas possibilidades: se mesmo tenho roubado, ele for pobre, leva umas porradas e vai em cana. Mas, se ficou rico com sua atividade ilícita, lhe é oferecida a oportunidade de DEDAR um chefão, um político contrário à ação dos delegados ou promotores, ou mesmo um antigo sócio do bandido que não quis “cooperar” com a polícia. O FIADAPUTA deda, e sai livre, com alguns bens a menos.

Mas, é no trânsito que os FIADAPUTAs proliferam igual a pokèmons: tem aquele que te fecha, o que não dá seta, o que avança sinal vermelho, ou que para na faixa de pedestres. O condutor fiadaputa é tão fiadaputa que, ao estacionar, mesmo tendo vagas disponíveis, estaciona onde? Na porta da sua garagem! Isso sem contar o FIADAPUTA que coloca um som potentíssimo no carro e resolve testá-lo, no último volume, às duas da manhã, e não em frente à casa dele, mas em frente às nossas casas.

Escrevi esta crônica vindo da feira. A feira é um lugar em que costumo fofocar, contar piadas, falar de futebol. Mas, hoje, ela estava diferente: um bando de pessoas, que eu nunca vi na vida, estava lá, sorridentes, abraçando todo mundo em busca de votos na eleição. Como defini-los, galera?

Crônica: Jorge Marin

quarta-feira, 14 de setembro de 2016

SAUDADE DO LUGAR


Hoje, dando uma espiadela num álbum de família, deparei-me com uma foto de 1976. Na oportunidade, de bagagem na mão e violão sobre os ombros, vivia minha primeira e única experiência à procura de novos horizontes. Experiência essa que veio durar pouco mais que vinte dias, mas tempo suficiente para, enquanto longe da TERRINHA, escrever estas linhas.                                                                                         
                                                     Saudade do lugar                                                                                                                
Parti pra longe, levei saudade,
Daquele amor levei a imagem,
Até recordo a paisagem,
Na viagem do pensar.

                                    Recordo o céu que me cobria,
                                    Até um sol que me sorria,
                                    E a natureza me dizia,
                                    Partir eu ia pra longe andar.

E o luar que eu fitava,
De tão lindo até cantava,
Pois a lua me olhava,
Se eu estava a chorar.
                                   
                                   Vivo agora aquela infância,
                                   Carregando uma esperança,
                                   Meu pensar é minha herança,
                                   Daquela ânsia de voltar.

Se eu pudesse olhar em volta,
E sentir o que mais importa,
Veria tudo em linhas tortas,
Esperança morta de tocar.
                                   
                                    Mas o tempo não me cessa,
                                    Vou correndo vou depressa,
                                    Que uma hora... Hora dessas,
                                    Não me impeças de voltar.

Poesia e foto: Serjão Missiaggia

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

BELEZAS DA TERRINHA


CASARIOS

COMENTÁRIOS SOBRE A RUA DR. PÉRICLES MENDONÇA - Ana Emília Silva Vilela e Eluza Lima lembraram-se da casa da esquina (com a Rua Joaquim Murtinho) que pertencia ao sr. Gastão Ladeira e Dona Menininha, onde o filho deles, o Helir, ficava na varanda chamando todos que passavam.

Eliane Tamiozzo Fam deu mais detalhes: "Rua onde moravam Bolote, a família da Luíza Cestaro, minha amiga; aqui do lado direito Dona Cinila; mais à frente, ainda do lado direito, a antiga Cia. Força e Luz; onde morava Sr. Waldemar, Dona Lora e os filhos... Lucinha, minha amiga... aqui, fazendo esquina com a Avenida Zeca Henriques, onde eu morava... Pisei muito nesse chão..."

Foto             : Serjão Missiaggia
Trat.imagem: Jorge Marin

TODA CASA TEM UM CASO


QUEM SABE ALGUM CASO DESSA CASA???

CASA DA SEMANA PASSADA - a casa do sr. José Marchiori e da dona Irinéa Marchiori (hoje do Heloísio) na Rua Nazareth foi reconhecida, primeiramente, pela Maria da Penha Santiago, Rita Knop e Débora FP.

Foto de hoje: Serjão Missiaggia
Trat.imagem: Jorge Marin

CASOS CASAS & mistério ???


QUEM CONHECE ESSE LOCAL ???

ACERTADORES DA SEMANA PASSADA - a Escola CEDI (Centro de Educação e Desenvolvimento Integrado) tendo, ao fundo, os Núcleos, foi reconhecida apenas pelo Maninho Sanábio.

Foto de hoje: Serjão Missiaggia

sexta-feira, 9 de setembro de 2016

ARREMEDANDO O FILHO DO SEU FULÔ


Meu pai era homem observante, matreiro, escutador de ordens superiores; e sido desse modo desde São José dos Cabritos, na roça de camisolão ou pelado pelos matos, segundo pareceres judiciosos de assistentes, quando especulei das lidas lá dele.

Do que me lembro até agorinha, ele não tinha parecença assim de mais iletrado nem mais vexado do que os outros pais, visitas de vez em quando, congregados marianos em sua maioria. Só assuntava. Minha mãe era quem prescrevia, e espinafrava nos remoinhos das doideiras nossas de moleques – meu irmão e mais eu.

Pai não desconcordava, mas guardava atrás dos lampejos das vistas cansadas da fiação, um risco de lembrança que resplandecia, e era um vislumbre mesmo alumiado, coisa de gente que vê, caboclos ou vaticinadores ainda não de todo exercitados nas artes.

Via um cinema debaixo da testa. Não que fosse conhecedor dessas maravilhas, o máximo que percorria era a porta onde nos levava depois da missa. Namorar os cartazes. Dizia que as línguas estranhas não lhe cabiam. Minha mãe experimentava que não era isso. Ele nem não sabia e nem enxergava muito bem as palavrinhas, os deseinzin dizia ele. Mas ria, não se amofinava na modernice dos tempos. Assistia o Repórter Esso e nisso mestrou-se de dar palpite em notícias de lugares inventados, achava ele.

Dizer o que ele via não posso jamais. Sei que eram coisas que ele fazia no que hoje chamam Ituí, mas era dentro do rio. Uma vez revelou, reservado pra não nos fornecer ideias, sobre umas cabaças que punha na cintura. Pra nadar, mas quase que as embiras arrebentadas levaram ele e o irmão mais novo lá pro lado de lá, sem volta. Não contava onde, eu que mais sabido adivinhava quando mãe lia a Bíblia inteira, modo de falar, pra nós meninos, criminados.

No domingo depois de quando fui pra escola, mãe ficou asmática com meu irmão novo, e fomos só eu e pai cumprir obrigações de Missa, eu ainda no catecismo não podia manducar o corpo do Nosso Senhor Jesus Cristo. Pai me levava junto na fila, mãos agrestes, e eu só mirava as benzeções. Padre Trajano era cego.

Corolário de teimosias minhas que queria porque queria, pai aprovou que fôssemos apressurados no cinema. E eu ainda queria uma brevidade que vendia na Padaria do Popó. Fomos, meu pai açodado, suava dentro da camisa bem passada. Azul céu, fumava meio escondido cigarro Continental.

Na porta do Cine Brasil, meu pai meio vergonhoso da fumaça pra não me sufocar, ficou só apreciando meus interesses pelos cartazes. Até que aconteceu, não sei como foi, de eu intentar, e desvendar de ler: “Marcelino”. Meu pai, que não tinha esses costumes de aproximações corporais, jogou o cigarro fora, agachou, me abraçou. Chorou. Não vi, mas senti os soluços. Era dia 23 de fevereiro de 1964.

Crônica: Jorge Marin, imitando Guimarães Rosa
Foto     : Roberto Capri, do livro “Minas Gerais e seus Municípios”, de 1916

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

QUARENTA ANOS DO NOSSO CONTATO (QUASE) IMEDIATO COM UM OBJETO VOADOR NÃO IDENTIFICADO - FINAL


(continuação)
E para o campo de aviação seguimos novamente, decididos a bater de frente com os hominhos verdes. Era tudo ou NASA, digo nada! 

Tivemos que fazer três ou mais tentativas para subir com todo aquele peso o morro da antiga zona. A Vemaguet, gemendo a cada tentativa, deixava para trás um imenso rastro de fumaça e um insuportável cheiro de óleo queimado. Mesmo assim, no intuito de aliviar o peso, ninguém no meio daquela parafernália se aventurava a descer, receando, talvez, ser DEIXADO PARA TRÁS.

Após algumas tentativas, conseguimos enfim, e mais uma vez, chegar ao campo de aviação. Enquanto aquela coisa permanecia ainda no mesmo lugar, parecendo sempre a nos desafiar, após uma primeira observação com o auxilio de uma pequena luneta, começamos a traçar o plano de abordagem. Foi naquela hora que o mestre astrônomo, bastante surpreso e assustado com aquela visão, começara a encarar a coisa com mais seriedade. 

De imediato, pedindo a palavra, foi logo dando algumas recomendações táticas. Coisas do tipo “se acaso OVNI se mexer, procurar manter a calma e, se possível, ninguém correr”. A seguir, ordenou para que os mais jovens fossem caminhando fora do carro, ou melhor, andando silenciosamente atrás dele. Na Vemaguet, seguiriam somente ele e o motorista que, por sinal, para a infelicidade sua, era o mais desconfiado de todos. E lá fomos nós, caminhando lentamente, passo a passo, AO ENCONTRO DO DESCONHECIDO. 

Naquela escuridão, entre medos e arrepios, só ficávamos a escutar o clicar da máquina fotográfica que, a cada segundo, era disparada pelo amigo astrônomo. Enquanto uma suave brisa batia em nossos rostos, a cada metro que avançávamos, o medo aumentava, sempre mais e mais. Chegou ao ponto de nossa adrenalina estar tão alta, que qualquer movimento ou barulho em falso, por mais simples que fosse, seria o suficiente para detonar uma reação em cadeia, que nem mesmo os irmãos alienígenas saberiam contornar. Seria, uma reação tão desastrosa e imprevisível, que possivelmente, em questão de segundos, despencaria gente para tudo enquanto é lado. O mestre astrônomo, coitado, teria que se virar sozinho, pois, certamente, ficaria abandonado dentro do carro, a mercê dos possíveis ET’s ou mesmo de quem fosse. 

Foi naquele exato momento que nosso motorista, articulando intimamente a possibilidade de outra retirada de emergência, foi logo pedindo que todos entrassem novamente dentro da Vemaguet. O Velho Mestre, não gostando em nada da ideia, ficava a resmungar insatisfeito, dizendo que estava muito abafado, e que não caberia tanta gente dentro do carro. Enquanto resmungava, simplesmente era espremido e sufocado num canto do banco dianteiro da Vemaguet.

Após todos entrarem, nosso motorista, como era de se esperar, afundou novamente o pé no acelerador e, para nossa surpresa e desespero, nos lançou a toda velocidade, AO ENCONTRO DO OVNI!!! Talvez quisesse, de uma vez por todas, acabar com aquela angustiante e interminável tortura e ansiedade. A GRITARIA era geral, e nossos olhos, cada vez mais fixos e arregalados à frente, viam aquele objeto cada vez mais se aproximar. A Vemaguet, de tanto peso e velocidade, começou a cheirar queimado e a tremer sem parar, dando inveja a muito ônibus espacial reentrando na atmosfera. Ela, a Vemaguet, tremendo por fora, e nós tremendo de medo por dentro.

Enquanto isso, a coisa foi se revelando aos poucos. Faltando uns 20 metro para o final da pista, nosso comandante e motorista acelerou ainda mais.  Era tudo ou nada! Uns gritavam, outros tampavam os olhos, alguns até cantavam... Teve gente até se abraçando pra não chorar. 

Faltando ainda uns 10 metros, fizemos uma curva superperigosa à direita e, passando igual a um foguete pelo local, tivemos apenas alguns segundos para visualizar. A velocidade era tanta, que, enquanto íamos, já estávamos voltando. O tempo de observação foi mínimo, mas suficiente para começar a nos revelar o tão esperado MISTÉRIO...
Foi quando alguém sentado no banco de trás manifestou-se naquela confusão, fazendo a mais inesperada das observações:
-       Hiiiiiii!!!!!! Tem placa... E acaba com nove!
-       Tem o quê??? - gritou o velho astrônomo.
-       Sei lá! Acho que foi ilusão de ótica! - retrucou um de nós!
-       Com placa ou sem placa, não sou eu quem vai voltar pra ver! – bradou o nosso motorista, batendo em retirada a uns cem por hora. 

Daí pra frente, creio que vocês já imaginam. Diante de uma decepcionante, mas aliviada surpresa, o que aconteceu, realmente, é que nos deparamos, frente a frente, com uma KOMBI, isto mesmo!!! UMA KOMBI!!! Estava ela há mais de duas horas estacionada naquele lugar, de luz acesa. Provavelmente, um casal de namorados que, certamente alheios e indiferentes a tudo e a todos, tranquilamente se amavam. Do lado de fora, ao relento, é que a coisa realmente pegava fogo, pois alguns lunáticos malucos corriam desenfreadamente, atrás do nada, para chegar a lugar nenhum. 

Vendo de que realmente se tratava, nossa decepção foi tanta, que um profundo silêncio tomou conta de todos naquele momento. Ninguém falava nada e muito menos olhava para o outro. Enquanto a Vemaguet ia, aos poucos, perdendo velocidade, já se podiam escutar algumas tímidas risadas. 

O velho astrônomo, ainda mais decepcionado e pulverizado de poeira, tossindo sem parar, não mexia um único fio de cabelo. Estático, olhando duro para frente, com a cabeça branca de sujeira, resmungava baixinho, algumas palavras, que mais pareciam:
- ME DEIXEM EM CASA POR FAVOR!  

Imagino que, provavelmente, seus pensamentos, naquele instante, eram de absoluta e profunda preocupação. Acaso uma notícia dessas vazasse, seria para ele um verdadeiro escândalo, principalmente perante seus colegas e antigos alunos da comunidade científica brasileira. Imaginem... PROFESSOR, CIENTISTA E ASTRÔNOMO SAIU DE SUA CASA À NOITE PARA FAZER CONTATOS IMEDIATOS COM UMA KOMBI. E o subtítulo: NA RETAGUARDA, SEGUIU COM ELE UM BANDO DE RAPAZES MALUCOS QUE NÃO TINHAM O QUE FAZER”. Coitado!!! 

Quando o levamos para casa, era de dar pena, pois, assim como nós, estava de poeira da cabeça aos pés. Quando tirou os óculos para limpá-lo, havia até um círculo branco em volta de seus olhos. Sem dar uma única palavra, e sem mesmo olhar para trás, foi rapidinho entrando pelo portão, amparado pelo filho. Mais tarde é que ficaríamos sabendo que ele, na verdade, achou tudo o maior barato e que tinha se divertido bastante. 

Na realidade, éramos nós que, para ele, NÃO FAZÍAMOS PARTE DESTE MUNDO (palavra de astrônomo).

Para finalizar, ainda teríamos uma última surpresa, pois nosso amigo astrônomo, após revelar os negativos, observou que não saiu absolutamente nada. Interessante que ele era extremamente hábil e experiente em fotos de altíssima dificuldade e precisão. Entre os mais místicos, o MEGAEFEITO MAGNÉTICO da nave teria levado as fotos a se queimarem, e o que houve mesmo, naquela noite, foi a MATERIALIZAÇÃO do objeto voador não identificado em uma KOMBI. 

Crônica: Serjão Missiaggia
Foto     : fotomontagem de Jorge Marin em foto de Marcus Martins

terça-feira, 6 de setembro de 2016

SERJÃO 60 - O COMANDANTE DO BLOG


Hoje o meu amigo, e parceiro de Blog, Serjão completa sessenta anos.

Serjão é uma pessoa que sonha. E sempre sonhou muito, desde menino. Ontem, em sua coluna no Estadão, o historiador Leandro Karnal, falando sobre o processo de envelhecer, dizia que jovens chatos serão velhos chatos, o que nos leva a afirmar que jovens sonhadores serão velhos sonhadores.

Tornar-se sexagenário só vai fazer do Serjão uma coisa: um sexagenário sonhador!

E que sorte temos nós que convivemos com ele! Pois conviver com um sonhador é conhecer realidades que nunca existiram ou sequer venham a existir. É saber de histórias muito mais ricas que as que realmente aconteceram.

Tive a felicidade, ou a graça, de encontrar Serjão num desses momentos de sonho, no qual sonhava levar para a Internet o Pitomba, nosso eterno sonho de juventude.

Queria contar os casos da banda. Como estava desempregado (aposentado), topei o projeto na hora, pois uma coisa que aprendi sobre empreendedorismo é que o melhor sócio é um sonhador.

Assim, comecei a receber os casos contados pelo Serjão. Mas o que logo percebi é que o grande barato não era o caso em si (a maioria eu já conhecia), mas sim a FORMA com a qual ele contava.

E dessa forma, fã e sócio, passei a viajar ao passado em aventuras QUE FORAM, QUE NÃO FORAM, QUE PODERIAM TER SIDO e até mesmo aventuras QUE SERÃO AINDA.

Dessas que serão ainda, espero fazer parte.

Serjão, definitivamente, é o cara. O que cara que sonha! Felicidades, amigo.

Texto: Jorge Marin
 Foto : Sílvio Heleno Picorone

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

SE ESSA RUA FOSSE A MINHA


QUEM JÁ VIVEU ALGUM MOMENTO MARCANTE NESSA RUA???

Foto de hoje: Serjão Missiaggia
Trat.imagem: Jorge Marin

TODA CASA TEM UM CASO


QUEM CONTA ALGUM CASO SOBRE ESSA CASA???

CASA DA SEMANA PASSADA - Maninho Sanábio, Marcelo Oliveira e Alex Geraldi foram os primeiros a acertar: casa do Hélder Furtado e Rita Rocha.

Foto de hoje: Serjão Missiaggia
Trat.imagem: Jorge Marin

CASOS CASAS & mistério ???


QUEM SABE ONDE FICA ???

ACERTADORES DA SEMANA PASSADA - mais uma vez, o Maninho Sanábio reconheceu a casa da Avenida Carlos Alves. Ele chegou até a confundir com uma da rua da Fábrica, mas depois acertou.

Foto de hoje: Serjão Missiaggia
Trat.imagem: Jorge Marin

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

QUEBRANDO A CORRENTE


Não sei se devido a alguma forma de ligação com a escravatura (que era legal até 1888, mas não aceito), o fato é que não curto nenhum tipo de corrente me prendendo. Lógico que são assuntos que poderiam ser aprofundados aqui, mas quero falar de uma outra coisa.

A corrente que recebi nesta semana não é daquele tipo real, de ferro, mas uma corrente virtual, dessas que circulam pelo Facebook. A que eu recebi me convidava para “fazer uma corrente para unir o casal” de apresentadores da TV Globo, recém-separados.

Ora bolas, pensei. Se o casal, depois de um período que imagino sofrido, de discussões, desencontros e angústias, DESEJA se separar, por que é que eu, que não tenho nada com isso, vou organizar um grupo para unir o tal casal? A mim me parece um tipo de estupro “do bem”, se é que tal coisa pode existir.

Chato de natureza e detentor de tempo, questionei a pessoal que me enviou a corrente, e ela me disse que, quando sabemos que uma coisa é a certa a fazer, temos o dever ético de tentar fazê-la.

Mas aí eu me pergunto: como é que eu sei que uma coisa é eticamente certa? Penso que existem, sim, essas coisas: é o bem-estar das pessoas, o sossego público, a paz, o direito de ir e vir, entre outros.

No entanto, arbitrar por minha conta que uma determinada coisa deve ser feita, SÓ porque eu acho, baseado em minha religião, ou em minhas crenças, ou meus preconceitos, que aquilo deva ser feito, penso que é uma TREMENDA violência!

Vejam, por exemplo, o caso das mulheres (mesmo em pleno século XXI). A garota pode estar terminando o seu doutorado, com toda a dedicação e empenho que a questão, para grande parte das pessoas AINDA é: se tá solteira, tem que casar. Se casar, tem que ter filho. Se tem filho, tem que ser a melhor mãe do mundo. Se quiser ser a melhor mãe do mundo, tem que ter uma religião (“seu filho não vai batizar? ”). E por aí vai.

Se for homem, a coisa não muda muito. Embora até seja mais aceito que ele não se case, ele deve ter namoradas, de preferência mais de uma (isso HOJE, no século XXI!). Se não casou, e não tem namorada, então é porque é gay. Se for gay, AINDA é visto com um misto de perplexidade e desconfiança. “Mas como pode ser? O Fulano é tão forte e bonito! ”.

A verdade é que a ética não pode ser uma coisa estática, congelada. Mudar a ética, ou pelo menos propor novas abordagens em virtude dos novos tempos, demanda, no entanto, um pouco de senso crítico. E inteligência.

Será que é por isso que compartilham tanta imbecilidade?

Crônica: Jorge Marin

BRIGADU, GENTE!

BRIGADU, GENTE!
VOLTEM SEMPRE, ESTAMOS ESPERANDO... NO MURINHO DO ADIL