sexta-feira, 2 de setembro de 2016

QUEBRANDO A CORRENTE


Não sei se devido a alguma forma de ligação com a escravatura (que era legal até 1888, mas não aceito), o fato é que não curto nenhum tipo de corrente me prendendo. Lógico que são assuntos que poderiam ser aprofundados aqui, mas quero falar de uma outra coisa.

A corrente que recebi nesta semana não é daquele tipo real, de ferro, mas uma corrente virtual, dessas que circulam pelo Facebook. A que eu recebi me convidava para “fazer uma corrente para unir o casal” de apresentadores da TV Globo, recém-separados.

Ora bolas, pensei. Se o casal, depois de um período que imagino sofrido, de discussões, desencontros e angústias, DESEJA se separar, por que é que eu, que não tenho nada com isso, vou organizar um grupo para unir o tal casal? A mim me parece um tipo de estupro “do bem”, se é que tal coisa pode existir.

Chato de natureza e detentor de tempo, questionei a pessoal que me enviou a corrente, e ela me disse que, quando sabemos que uma coisa é a certa a fazer, temos o dever ético de tentar fazê-la.

Mas aí eu me pergunto: como é que eu sei que uma coisa é eticamente certa? Penso que existem, sim, essas coisas: é o bem-estar das pessoas, o sossego público, a paz, o direito de ir e vir, entre outros.

No entanto, arbitrar por minha conta que uma determinada coisa deve ser feita, SÓ porque eu acho, baseado em minha religião, ou em minhas crenças, ou meus preconceitos, que aquilo deva ser feito, penso que é uma TREMENDA violência!

Vejam, por exemplo, o caso das mulheres (mesmo em pleno século XXI). A garota pode estar terminando o seu doutorado, com toda a dedicação e empenho que a questão, para grande parte das pessoas AINDA é: se tá solteira, tem que casar. Se casar, tem que ter filho. Se tem filho, tem que ser a melhor mãe do mundo. Se quiser ser a melhor mãe do mundo, tem que ter uma religião (“seu filho não vai batizar? ”). E por aí vai.

Se for homem, a coisa não muda muito. Embora até seja mais aceito que ele não se case, ele deve ter namoradas, de preferência mais de uma (isso HOJE, no século XXI!). Se não casou, e não tem namorada, então é porque é gay. Se for gay, AINDA é visto com um misto de perplexidade e desconfiança. “Mas como pode ser? O Fulano é tão forte e bonito! ”.

A verdade é que a ética não pode ser uma coisa estática, congelada. Mudar a ética, ou pelo menos propor novas abordagens em virtude dos novos tempos, demanda, no entanto, um pouco de senso crítico. E inteligência.

Será que é por isso que compartilham tanta imbecilidade?

Crônica: Jorge Marin

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