Não se
assustem com o título! Estou só aproveitando que a censura (ainda) não começou.
O fato é
que xingamos. Muitos dizem que não, mas experimentem dar uma topada numa pedra
no meio do caminho. Aí, se você não for o Drummond, certamente vai lascar um
FIADAPUTA.
Esse
certamente é o primeiro palavrão que aprendemos xingar, e ele vem com uma carga
afetiva tão grande que muitos de nós, ao encher a boca e xingá-lo, ainda
sentimos um gostinho da pimenta malagueta que as nossas mães, zelosamente,
colocam em nossas linguinhas sujas.
Aprendi,
há poucos dias, que é um palavrão perigoso: um vizinho aqui da minha rua jurou
de morte outro vizinho porque este usou o FIADAPUTA. Segundo ele, um homem que
xinga a mãe do outro merece morrer. Mas, tentei explicar pra ele, esse xingamento
é genérico, não tem um significado assim tão literal (ou psicótico) como
imaginam. Quando digo FIADAPUTA, é um desabafo, e não uma declaração de
atividade autônoma da mãe de ninguém, que, normalmente, está em casa quietinha,
sem saber de nada, e ainda com o vidro de pimenta.
Lembram
da escola? Quando a gente dava umas risadas e a professora se virava e
perguntava: “quem riu?”. Normalmente, tinha um sujeitinho de óculos, limpinho,
com um arzin superior, que nos denunciava: o FIADAPUTA.
Isso que,
no nosso tempo, se chamava DEDO-DURO, e que hoje é conhecido como delação premiada. Mas, sempre
funciona assim: um sujeito, normalmente um canalha, rouba, corrompe, é
corrompido, desvia dinheiro, mente. Aí, quando a polícia chega nele, há duas
possibilidades: se mesmo tenho roubado, ele for pobre, leva umas porradas e vai
em cana. Mas, se ficou rico com sua atividade ilícita, lhe é oferecida a
oportunidade de DEDAR um chefão, um político contrário à ação dos delegados ou
promotores, ou mesmo um antigo sócio do bandido que não quis “cooperar” com a
polícia. O FIADAPUTA deda, e sai livre, com alguns bens a menos.
Mas, é no
trânsito que os FIADAPUTAs proliferam igual a pokèmons: tem aquele que te
fecha, o que não dá seta, o que avança sinal vermelho, ou que para na faixa de
pedestres. O condutor fiadaputa é tão fiadaputa que, ao estacionar, mesmo tendo
vagas disponíveis, estaciona onde? Na porta da sua garagem! Isso sem contar o
FIADAPUTA que coloca um som potentíssimo no carro e resolve testá-lo, no último
volume, às duas da manhã, e não em frente à casa dele, mas em frente às nossas
casas.
Escrevi
esta crônica vindo da feira. A feira é um lugar em que costumo fofocar, contar
piadas, falar de futebol. Mas, hoje, ela estava diferente: um bando de pessoas,
que eu nunca vi na vida, estava lá, sorridentes, abraçando todo mundo em busca
de votos na eleição. Como defini-los, galera?
Crônica:
Jorge Marin
Foto : disponível em http://carplace.uol.com.br/materia-carplace-povo-mal-educado-ou-mal-orientado/
Será que esses caras que estavam pedindo votos na feira também não eram um bando de "fiadaputas"?!
ResponderExcluirCom certeza eram, amigo Nilson. E, já que vc tocou no assunto, temos que confessar que esse FIADAPUTA foi inspirado nas nossas andanças pelas ruas de São João, nos anos de chumbo. Quando, revoltados, e meio "alegres", perguntávamos: "o que que esse ditador militar é?", você se lembra do que você respondia, a plenos pulmões?
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