sexta-feira, 16 de setembro de 2016

O FIADAPUTA


Não se assustem com o título! Estou só aproveitando que a censura (ainda) não começou.

O fato é que xingamos. Muitos dizem que não, mas experimentem dar uma topada numa pedra no meio do caminho. Aí, se você não for o Drummond, certamente vai lascar um FIADAPUTA.

Esse certamente é o primeiro palavrão que aprendemos xingar, e ele vem com uma carga afetiva tão grande que muitos de nós, ao encher a boca e xingá-lo, ainda sentimos um gostinho da pimenta malagueta que as nossas mães, zelosamente, colocam em nossas linguinhas sujas.

Aprendi, há poucos dias, que é um palavrão perigoso: um vizinho aqui da minha rua jurou de morte outro vizinho porque este usou o FIADAPUTA. Segundo ele, um homem que xinga a mãe do outro merece morrer. Mas, tentei explicar pra ele, esse xingamento é genérico, não tem um significado assim tão literal (ou psicótico) como imaginam. Quando digo FIADAPUTA, é um desabafo, e não uma declaração de atividade autônoma da mãe de ninguém, que, normalmente, está em casa quietinha, sem saber de nada, e ainda com o vidro de pimenta.

Lembram da escola? Quando a gente dava umas risadas e a professora se virava e perguntava: “quem riu?”. Normalmente, tinha um sujeitinho de óculos, limpinho, com um arzin superior, que nos denunciava: o FIADAPUTA.

Isso que, no nosso tempo, se chamava DEDO-DURO, e que hoje é conhecido como delação premiada. Mas, sempre funciona assim: um sujeito, normalmente um canalha, rouba, corrompe, é corrompido, desvia dinheiro, mente. Aí, quando a polícia chega nele, há duas possibilidades: se mesmo tenho roubado, ele for pobre, leva umas porradas e vai em cana. Mas, se ficou rico com sua atividade ilícita, lhe é oferecida a oportunidade de DEDAR um chefão, um político contrário à ação dos delegados ou promotores, ou mesmo um antigo sócio do bandido que não quis “cooperar” com a polícia. O FIADAPUTA deda, e sai livre, com alguns bens a menos.

Mas, é no trânsito que os FIADAPUTAs proliferam igual a pokèmons: tem aquele que te fecha, o que não dá seta, o que avança sinal vermelho, ou que para na faixa de pedestres. O condutor fiadaputa é tão fiadaputa que, ao estacionar, mesmo tendo vagas disponíveis, estaciona onde? Na porta da sua garagem! Isso sem contar o FIADAPUTA que coloca um som potentíssimo no carro e resolve testá-lo, no último volume, às duas da manhã, e não em frente à casa dele, mas em frente às nossas casas.

Escrevi esta crônica vindo da feira. A feira é um lugar em que costumo fofocar, contar piadas, falar de futebol. Mas, hoje, ela estava diferente: um bando de pessoas, que eu nunca vi na vida, estava lá, sorridentes, abraçando todo mundo em busca de votos na eleição. Como defini-los, galera?

Crônica: Jorge Marin

2 comentários:

  1. Será que esses caras que estavam pedindo votos na feira também não eram um bando de "fiadaputas"?!

    ResponderExcluir
  2. Com certeza eram, amigo Nilson. E, já que vc tocou no assunto, temos que confessar que esse FIADAPUTA foi inspirado nas nossas andanças pelas ruas de São João, nos anos de chumbo. Quando, revoltados, e meio "alegres", perguntávamos: "o que que esse ditador militar é?", você se lembra do que você respondia, a plenos pulmões?

    ResponderExcluir

BRIGADU, GENTE!

BRIGADU, GENTE!
VOLTEM SEMPRE, ESTAMOS ESPERANDO... NO MURINHO DO ADIL