E
para o campo de aviação seguimos novamente, decididos a bater de frente com os
hominhos verdes. Era tudo ou NASA, digo nada!
Tivemos
que fazer três ou mais tentativas para subir com todo aquele peso o morro da
antiga zona. A Vemaguet, gemendo a cada tentativa, deixava para trás um imenso
rastro de fumaça e um insuportável cheiro de óleo queimado. Mesmo assim, no
intuito de aliviar o peso, ninguém no meio daquela parafernália se aventurava a
descer, receando, talvez, ser DEIXADO PARA TRÁS.
Após
algumas tentativas, conseguimos enfim, e mais uma vez, chegar ao campo de
aviação. Enquanto aquela coisa permanecia ainda no mesmo lugar, parecendo
sempre a nos desafiar, após uma primeira observação com o auxilio de uma
pequena luneta, começamos a traçar o plano de abordagem. Foi naquela hora que o
mestre astrônomo, bastante surpreso e assustado com aquela visão, começara a
encarar a coisa com mais seriedade.
De
imediato, pedindo a palavra, foi logo dando algumas recomendações táticas. Coisas
do tipo “se acaso OVNI se mexer, procurar manter a calma e, se possível, ninguém
correr”. A seguir, ordenou para que os mais jovens fossem caminhando fora do
carro, ou melhor, andando silenciosamente atrás dele. Na Vemaguet, seguiriam
somente ele e o motorista que, por sinal, para a infelicidade sua, era o mais
desconfiado de todos. E lá fomos nós, caminhando lentamente, passo a passo, AO
ENCONTRO DO DESCONHECIDO.
Naquela
escuridão, entre medos e arrepios, só ficávamos a escutar o clicar da máquina
fotográfica que, a cada segundo, era disparada pelo amigo astrônomo. Enquanto
uma suave brisa batia em nossos rostos, a cada metro que avançávamos, o medo
aumentava, sempre mais e mais. Chegou ao ponto de nossa adrenalina estar tão
alta, que qualquer movimento ou barulho em falso, por mais simples que fosse,
seria o suficiente para detonar uma reação em cadeia, que nem mesmo os irmãos
alienígenas saberiam contornar. Seria, uma reação tão desastrosa e
imprevisível, que possivelmente, em questão de segundos, despencaria gente para
tudo enquanto é lado. O mestre astrônomo, coitado, teria que se virar sozinho,
pois, certamente, ficaria abandonado dentro do carro, a mercê dos possíveis ET’s
ou mesmo de quem fosse.
Foi
naquele exato momento que nosso motorista, articulando intimamente a
possibilidade de outra retirada de emergência, foi logo pedindo que todos
entrassem novamente dentro da Vemaguet. O Velho Mestre, não gostando em nada da
ideia, ficava a resmungar insatisfeito, dizendo que estava muito abafado, e que
não caberia tanta gente dentro do carro. Enquanto resmungava, simplesmente era
espremido e sufocado num canto do banco dianteiro da Vemaguet.
Após
todos entrarem, nosso motorista, como era de se esperar, afundou novamente o pé
no acelerador e, para nossa surpresa e desespero, nos lançou a toda velocidade,
AO ENCONTRO DO OVNI!!! Talvez quisesse, de uma vez por todas, acabar com aquela
angustiante e interminável tortura e ansiedade. A GRITARIA era geral, e nossos
olhos, cada vez mais fixos e arregalados à frente, viam aquele objeto cada vez
mais se aproximar. A Vemaguet, de tanto peso e velocidade, começou a cheirar
queimado e a tremer sem parar, dando inveja a muito ônibus espacial reentrando
na atmosfera. Ela, a Vemaguet, tremendo por fora, e nós tremendo de medo por
dentro.
Enquanto
isso, a coisa foi se revelando aos poucos. Faltando uns 20 metro para o final
da pista, nosso comandante e motorista acelerou ainda mais. Era tudo ou nada! Uns gritavam, outros tampavam
os olhos, alguns até cantavam... Teve gente até se abraçando pra não chorar.
Faltando
ainda uns 10 metros, fizemos uma curva superperigosa à direita e, passando
igual a um foguete pelo local, tivemos apenas alguns segundos para visualizar. A
velocidade era tanta, que, enquanto íamos, já estávamos voltando. O tempo de
observação foi mínimo, mas suficiente para começar a nos revelar o tão esperado
MISTÉRIO...
Foi
quando alguém sentado no banco de trás manifestou-se naquela confusão, fazendo
a mais inesperada das observações:
- Hiiiiiii!!!!!!
Tem placa... E acaba com nove!
- Tem
o quê??? - gritou o velho astrônomo.
- Sei
lá! Acho que foi ilusão de ótica! - retrucou um de nós!
- Com
placa ou sem placa, não sou eu quem vai voltar pra ver! – bradou o nosso
motorista, batendo em retirada a uns cem por hora.
Daí
pra frente, creio que vocês já imaginam. Diante de uma decepcionante, mas
aliviada surpresa, o que aconteceu, realmente, é que nos deparamos, frente a
frente, com uma KOMBI, isto mesmo!!! UMA KOMBI!!! Estava ela há mais de duas
horas estacionada naquele lugar, de luz acesa. Provavelmente, um casal de
namorados que, certamente alheios e indiferentes a tudo e a todos, tranquilamente
se amavam. Do lado de fora, ao relento, é que a coisa realmente pegava fogo,
pois alguns lunáticos malucos corriam desenfreadamente, atrás do nada, para
chegar a lugar nenhum.
Vendo
de que realmente se tratava, nossa decepção foi tanta, que um profundo silêncio
tomou conta de todos naquele momento. Ninguém falava nada e muito menos olhava
para o outro. Enquanto a Vemaguet ia, aos poucos, perdendo velocidade, já se
podiam escutar algumas tímidas risadas.
O
velho astrônomo, ainda mais decepcionado e pulverizado de poeira, tossindo sem
parar, não mexia um único fio de cabelo. Estático, olhando duro para frente,
com a cabeça branca de sujeira, resmungava baixinho, algumas palavras, que mais
pareciam:
-
ME DEIXEM EM CASA POR FAVOR!
Imagino
que, provavelmente, seus pensamentos, naquele instante, eram de absoluta e
profunda preocupação. Acaso uma notícia dessas vazasse, seria para ele um
verdadeiro escândalo, principalmente perante seus colegas e antigos alunos da
comunidade científica brasileira. Imaginem... PROFESSOR, CIENTISTA E ASTRÔNOMO
SAIU DE SUA CASA À NOITE PARA FAZER CONTATOS IMEDIATOS COM UMA KOMBI. E o
subtítulo: NA RETAGUARDA, SEGUIU COM ELE UM BANDO DE RAPAZES MALUCOS QUE NÃO
TINHAM O QUE FAZER”. Coitado!!!
Quando
o levamos para casa, era de dar pena, pois, assim como nós, estava de poeira da
cabeça aos pés. Quando tirou os óculos para limpá-lo, havia até um círculo
branco em volta de seus olhos. Sem dar uma única palavra, e sem mesmo olhar
para trás, foi rapidinho entrando pelo portão, amparado pelo filho. Mais tarde
é que ficaríamos sabendo que ele, na verdade, achou tudo o maior barato e que
tinha se divertido bastante.
Na
realidade, éramos nós que, para ele, NÃO FAZÍAMOS PARTE DESTE MUNDO (palavra de
astrônomo).
Para
finalizar, ainda teríamos uma última surpresa, pois nosso amigo astrônomo, após
revelar os negativos, observou que não saiu absolutamente nada. Interessante
que ele era extremamente hábil e experiente em fotos de altíssima dificuldade e
precisão. Entre os mais místicos, o MEGAEFEITO MAGNÉTICO da nave teria levado
as fotos a se queimarem, e o que houve mesmo, naquela noite, foi a
MATERIALIZAÇÃO do objeto voador não identificado em uma KOMBI.
Crônica: Serjão Missiaggia
Foto : fotomontagem de Jorge Marin em foto de Marcus Martins
Kkkkkkk, tenho que rir dessa estória, pois, na verdade, conheço todos os atores acima citados.. Que vergonha!!!!! Realmente faltava o que fazer.... Estudar e trabalhar ninguém queria...
ResponderExcluirMas, uma coisa pude notar: o autor desse texto pode escrever um livro no nível do Sidney Sheldon e não ficarei surpresa se o mesmo virar um best-seller....
Silvana,
ExcluirSe todo mundo ficasse só estudando e trabalhando, não teríamos estas histórias para contar hoje.
E aguarde, pois vem aí, Serjão Sheldon com o livro: "Lembranças da Meia-Noite, Atrás da Fábrica".