sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

RELEITURAS: O MASSACRE DA FÁBRICA DE MACARRÃO IV

Frame do filme Judgement Day

AAAAAAAAAAAAI!
No interior da velha fábrica de macarrão, A GRITARIA ERA GERAL! (Na verdade, dois amigos – muy amigos! – tentavam assustar seus companheiros com um verdadeiro show de efeitos especiais). O primeiro truque funcionou perfeitamente: as correntes, acionadas por um par de chinelos, começaram a se arrastar na escuridão. No mesmo instante, outra linha era puxada, fazendo um ruído sinistro e assustador. Este ruído era devido ao trinco de uma porta, que também se arrastava pelo chão. MAIS GRITOS DE HORROR!
Deste ponto em diante, a coisa realmente começava a pegar fogo, principalmente quando se dirigiam para uma areazinha externa do prédio onde existia um pequeno banheiro. A intenção era verificar alguns ruídos estranhos, que vinham daquele lugar.
Esta hora foi verdadeiramente desesperadora, pois este banheiro, de construção antiga, tinha sobre seu vaso, uma pequena corda, para dar descarga. Nem é preciso dizer que nela foi colocada também uma linha, da cor da parede, só esperando ser puxada por quem de direito. Quando focaram o vaso com a lanterna, foi realmente incrível, pois, debaixo dos narizes de todos, e a menos de dois metros, presenciariam o movimento da cordinha, acionando aquela descarga.
Aí, a correria foi geral, enlouquecida, desenfreada e para todos os lados. Uns davam cabeçada na parede e outros gritavam pela mãe. Foi como um grande estouro de boiada no escuro, pois nada se via e todos corriam sem rumo, à procura de uma saída.
Nesta hora, no meio do corre-corre, ao virar a lanterna para trás, Serjão presenciou uma cena ainda mais engraçada, pois o Renê, quase deitado, ficava desesperadamente abanando a mão no escuro, tentando em vão achar uma suposta linha que, naquele lugar, deveria estar esticada.
No corredor, janelas e portas batiam sem parar e, quando iam passando pelo pé da escada, eis que surge, do terraço, nada mais nada menos, do que aquele tamborzão.
E QUE BARULHADA! A coisa apareceu de repente, descendo pela escada abaixo, pulando na direção deles, igual a uma mula sem cabeça... GRITOS DE HORROR!
A intenção era justamente fazer com que o tambor impedisse a passagem de volta, obrigando assim, a um retorno forçado para o salão, o que realmente aconteceu, para desespero geral.
Encurralados, permaneceram uns trinta minutos, esperando coragem para fazer o caminho de volta.
Logo que a coisa serenou e os batimentos cardíacos se normalizaram, começaram enfim, a fazer o retorno e alcançar, finalmente, o tão sonhado terreiro.
Lá fora, mais aliviado, o Sílvio, mais uma vez, desafiou a suposta assombração, ainda com o pedaço de cano, gritando bem alto:
- SE VOCÊ FOR HOMEM, VEM AQUI FORA, AGORA!
Para sua surpresa, havia uma última armadilha: uma folha de zinco foi deixada estrategicamente bem em cima do telhado, que serviria para finalizar as manifestações.
Quando ele gritou, uma linha foi puxada, fazendo um grande barulho no telhado. Nesta hora, novo grito:
-TAMBÉM NÃO PRECISA SER ASSIM, NÉ!
E agora: o que acontecerá? Os amigos terão coragem de voltar? A notícia se espalhará? Quem serão as novas cobaias? Como é que o Deivid errou aquele gol?
E, fala sério: quem de nós, reagiria de forma diferente, numa situação como essa?
Não percam o próximo capítulo da macarronesca novela O Massacre da Fábrica de Macarrão, agora em 3D (Deve Doer Demais).

(Crônica original: Serjão Missiaggia / Adaptação e releitura: Jorge Marin)

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

O TERCEIRO ESPINHO

São João Nepomuceno, Bloco dos Prisioneiros, final do Carnaval de 1978 (De pé: Júlio Lima, um primo do Verô, o próprio Veroaldinho Soares, Nilson Batista e Camilo Pontes. Sentados: Ercília e Marcos Dadalti, Jorge Marin e Luis Augusto Dadalti.)

março das ressacas pós-carnavalescas
lavadas a água fria
expurgadas no turbilhão
de lembranças momescas
que rolam coloridas e risonhas
até o abismo não-querente
de azáfamas e afazeres cotidianos
março das petas sorridentes
dos corre-corres escolares
dos livros novos
e das sinetas
velhas sinetas do outro verão!

março das águas de tom jobim
das canseiras noturnas
das solidões domingueiras
e das folhas secas
estalando sob as solas dos sapatos...

foi em março
num desses marços de que já não faço conta
que peguei a primeira borboleta de minhas coleção
e eu ali perplexo
grampo na mão
a deixei voar
só porque não era tempo

foi em março
que atravessei a minha primeira ponte
e até hoje tenho medo de pontes
foi num março que aprendi a sonhar
e justamente em outro março
que aprendi a recordar
(deixei de sonhar então)
ah março das manhãs trôpegas
dos grilos finos
e das chuvas grossas!

(Poesia: Jorge Marin, março/1978)

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

RELEITURAS: O MASSACRE DA FÁBRICA DE MACARRÃO III

Frame do filme Freddy Krueger vs Jason


NO CAPÍTULO ANTERIOR DA FÁBRICA, encontramos nossos fabricantes de sustos, Nenê e Serjão, à noite, na porta da fábrica, preparando-se para aprontar para seus amigos Dalminho e Sílvio Heleno. Como bem se recordam, os dois passaram o dia inteiro trançando linhas para produzir efeitos especiais capazes de amedrontar as pobre “cobaias”. 
Era chegado a hora.
Mal havia anoitecido, e lá estavam eles: Nenê, Dalminho, Sílvio Heleno e Sérgio. Antes de entrar, ainda ficaram algum tempo no terreiro, encarando o prédio sinistro. O coração dos fabricantes de sustos batia ainda mais disparado do que os das cobaias, talvez até com uma certa ponta de arrependimento. Ou mesmo um pressentimento de que alguma coisa não muito boa poderia acontecer.
Sílvio Heleno já não estava muito bem. Enquanto esperava a ordem de partida, brandia um pedaço de cano na mão, e gritava bem alto para o interior da fábrica: 
- Se acaso vocês forem homens, venham aqui pro terreiro! 
- Aqui fora, até eu! - resmungou Dalminho...
Emoções à parte, lá foram os desbravadores, ao encontro do sobrenatural... 
Na entrada, a escuridão era total. Não se via absolutamente nada, a não ser o tremeluzente foco da lanterna e a brasa do cigarro do Dalminho. 
Já na porta de entrada, uma linha estrategicamente posicionada, seria puxada. A intenção era fazer com que a porta se fechasse e empurrasse, ainda mais, todos para dentro. FOI O QUE ACONTECEU! Todos engoliram em seco. O arrependimento já começava a tomar conta de alguns corações, uns por colocarem os amigos naquela roubada e os outros, por terem entrado naquela aventura. Mas, naquela altura do campeonato, sem rumo, num breu total, ninguém se atreveria, de forma alguma, a retornar. 
Neste momento, Serjão sentiu uma forte pressão no braço esquerdo, chegando, ele próprio, a se assustar. Parou, respirou e, virando a lanterninha para o lado, viu que era o Dalminho que, caminhando de olhos fechados, apertava, em desespero, o braço do amigo... enquanto dizia baixinho: “mãe, mãe, mãe!”
No último degrau da escadaria do terraço, foi deixado um tambor armado que, preparado com bastante sutileza, bastaria um singelo puxar de linha, para que descesse escada abaixo e viesse em direção à comitiva. Mas esse momento ficou reservado para a volta, juntamente com janelas e portas, que bateriam dentro dos quartos. 
Então, após passar pelo corredor principal, chegaram enfim ao grande salão. 
Neste salão, um chinelo, com linhas amarradas e previamente preparadas, aguardava-os, pois, era só caminhar lentamente com ele, para começar arrastar algumas correntes, que estavam no final do corredor.
Guiado pela luz fraquinha da lanterna, Nenê se aproximou do Serjão e fez um sinal que era a senha para que o show de horror tivesse início.
NA PRÓXIMA SEMANA, sigam: os sustos, os sobressaltos e, principalmente, o inesperado, o assustador e aquilo que nunca esteve combinado... 

(Roteiro original: Serjão Missiaggia / Adaptação: Jorge Marin)

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

CONSIDERAÇÕES SOBRE O JULGAMENTO

Arte digital por Alissia

Ouço o resultado do julgamento: quase cem anos de prisão para o assassino, a mãe feliz na medida do possível e a moça morta. Daqui a pouco, mais um capítulo inédito da novela mais uma cena picante do reality show. Isto é, tudo vai normalmente bem e ainda tem Carnaval no final de semana.
Apesar da justiça ter sido feita, e eu nem sei bem o que é isso (justiça?), me sinto terrivelmente mal. Dói-me ver, pela centésima vez, a moça com os dedos trêmulos na janela, dizendo estar tudo bem e, um pouco mais tarde, morta nos braços de um policial. Causa-me até uma certa revolta, que eu não sentia desde os tempos de FHC, quando vejo aquele moço falando eloquentemente, questionando a juíza, pedindo perdão à família, e agindo como se tivesse batido com um carro emprestado.
Sei também que não devia, mas sinto uma grande raiva da profissão de advogado, embora reconheça que a classe foi muito mal representada no júri.
Eu sei que deveria estar feliz e orgulhoso da justiça do meu país, mas me permito ser politicamente incorreto e digo, com todas as letras, que gostaria mais de ter visto alguém, um policial, o tal do franco atirador arrebentando os miolos desse rapaz com um tiro certeiro.
É incorreto pensar assim? Eu sei que alguns pensam que é, que não vivemos na barbárie e até mesmo que, se assim fosse, o país iria se transformar num selva. Mas, sinceramente, eu preferiria que o país se transformasse numa selva. Porque, na selva, as coisas seguem um sistema e a violência, quando ocorre, segue uma lógica da cadeia alimentar. Na selva, um macho rejeitado não assassina a fêmea, filhotes não atacam os pais e um animal inferior não treita com um superior porque sabe o que pode acontecer.
Racionalmente, eu sei a importância de um estado de direito, e penso até que esse desconforto meu pode ser um sinal de senilidade que pode estar vindo por aí. Mas, eu não falo de leis escritas, falo de leis naturais, e, principalmente, de sentimentos. A sociedade brasileira estará tranquila? Tudo o que sabemos é que, se uma filha nossa for assassinada por um namorado ciumento, e se este não for de uma classe social mais elevada, e se for dada uma boa visibilidade na mídia, então o meliante poderá ser condenado à pena máxima para ser solto após cumprimento de um terço da mesma. É o que ocorreu, mas eu ainda acho muito pouco. Não advogo a pena de morte como uma forma de vingança, porque acho que aplicar a pena de Talião é dar à família da vítima uma chance de ter prazer com uma morte, coisa que eu não vejo muita utilidade nem mesmo desejo naqueles sofridos familiares.
No entanto, saber que um criminoso com as características do réu em questão jamais estaria livre para repetir o seu crime me deixaria mais confiante na justiça, ainda que a solução fosse mesmo a execução. Aqui, sei que muitos argumentarão sob o ponto de vista cristão do perdão e outras coisas, mas, por acaso, não foi o próprio Cristo que, em Mateus (5,13) disse: “vós sois o sal da terra. Se o o sal perde o sabor, com que lhe será restituído o sabor? Para nada mais serve senão para se lançado fora e calcado pelos homens.”
Portanto, desculpem-me, mas, se um ser humano tem o direito de agir dessa forma e pagar aquele preço que a Justiça determina, acho que cada um de nós tem o direito de expressar o seu desagrado. E exercer também o seu direito de pai de exigir respeito às pessoas. E exercer o seu dever de cuidar dos seus filhos, e fechar-lhes, sempre, as portas que os levem a caminhos sabidamente perigosos.
Findo esse episódio, há que se pensar na correção das decisões tomadas, mas também que se avaliar os sentimentos suscitados. E lembrar Sartre: “detesto as vítimas quando elas respeitam os seus carrascos.”

(Crônica: Jorge Marin)

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

RELEITURAS: O MASSACRE DA FÁBRICA DE MACARRÃO II

Frame do filme Festim Diabólico, de Alfred Hitchcock.


Dentro da fábrica de macarrão, era como se nada houvesse acontecido. As máquinas, inertes, pareciam carcaças de animais pré-históricos deixados ao saber das eras. Supunha-se um silêncio total, no entanto, quebrado por risadinhas adolescentes, iluminadas pela chama de uma antiga lamparina. Entediados, perguntavam-se quem poderiam ser as vítimas de seu terrível plano de transformar aquele mausoléu macarrônico numa fantasmagórica casa mal assombrada. Quem? Quem?
Ainda com a bruxuleante lamparina nas mãos, os rostos dos dois planejadores se iluminaram, num pacto diabólico, chegando no mesmo instante a uma conclusão. Não haveria ninguém melhor do que: Sílvio Heleno e Dalminho. Tá certo, os dois planejadores reconheciam-se, eles próprios, medrosos, mas pensavam que os outros dois eram ainda mais. E isso só o tempo diria. Às vezes, de uma forma brutal... 
O passo seguinte seria definir qual tecnologia, eficiente e barata, seria usada nas diversas simulações e efeitos especiais. Ficou decidido que seria usada a conhecida linha dez, nas cores correspondentes a cada parede da referida montagem. Uma lanterninha de pilhas fracas seria a única fonte de luz, que ficaria, naturalmente, nas mãos do Serjão e do Nenê, para não revelar para os dois não iniciados, os falsos episódios sobrenaturais que iriam se manifestar.
Aos poucos, estava sendo montando o palco e o grande teatro macabro logo iria acontecer. O dia foi cheio de trabalho, esticando linha, pois tudo era muito bem calculado e ensaiado... Nada poderia sair errado... Caso acontecesse algum erro, seriam os dois zelosos amigos que acabariam pagando o mico. 
O silêncio dentro do prédio, era aterrador. Qualquer som, por menor que fosse, chamaria logo a atenção, pois a acústica perfeita, o faria ecoar a metros de distância, constituindo-se em mais uma opção de efeito especial, no caso sonoro. 
Finalmente, as cobaias foram chamadas. Como dois frangos que vão para o abate, chegaram com o riso nervoso de sempre. Serjão foi o primeiro a falar: disse que haviam escutado alguns comentários de que aquele local teria sido um cemitério no século passado, e que barulhos estranhos costumavam a acontecer, lá dentro, de forma inexplicável. 
A noticia se espalhou como uma bomba! Todos ficaram apreensivos e assustados. Queriam, a qualquer custo, abortar a aventura e, o que é pior, não queriam nem mesmo passar lá perto. Mas, após muita insistência e negociação, apelando até para o instituto da macheza, naquela época ainda em uso, os dois astutos fabricantes de sustos conseguiram convencer os dois reticentes amigos.
E AGORA: O QUE ACONTECERÁ? Conseguirão Serjão e Nenê fazer os dois colegas de conjunto se assustarem, apesar da coragem dos dois (até que se prove o contrário)? É possível um ser humano ser habilmente conduzido ao medo? Ou tudo irá por água (de macarrão) abaixo? E, afinal, quem roubou o diamante do João Coragem?
A resposta a essas perguntas, mas nem de todas, fará arrepiar as espinhas dorsais dos mais fracos e levará um suor frio à testa dos que se dizem fortes. Vai ser massa!

(Crônica: Serjão Missiaggia / Adaptação: Jorge Marin)

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

MICHEL TELÓ OU RENATO RUSSO?

Foto publicada no mural do humorista Hallorino Júnior.

Dia desses, navegando pelo Facebook, fiz um comentário numa foto, esta aí em cima, porque imaginei, pela disparidade da comparação, que se tratasse de uma brincadeira, entre tantas que rolam no tal site de relacionamentos. Coloquei assim: como gosto de música ao vivo, sou mais o Teló. Pra quê! Imediatamente uma legião enfurecida caiu de pau, uns xingando, outros louvando o seu ídolo, numa catarse semelhante àquela cena do filme A Vida de Brian, na qual o profeta, que nasceu na manjedoura vizinha à de Jesus, dá um trupicão e perde a sandália. Toda a multidão de seguidores retira a sandália do pé, e sai correndo com um pé descalço, dizendo que é um “sinal do mestre”.
Antes que eu seja apedrejado aqui também, quero dizer que, ao afirmar que há uma disparidade entre os intérpretes é porque os considero totalmente diferentes. É como comparar água e vinho: atualmente, sou mais a água, mas já viajei em muitos vinhos.
O que me impressiona é que a tal postagem já teve 7.336 “curtidas” e 9.832 compartilhamentos até agora e, em cada compartilhamento, manifestações iradas, apaixonadas e até meio desrespeitosas, como a minha foi considerada.
Perdido no meio desse fluxo de postagens, reconheço, é claro, que a defesa do ego, num site de relacionamentos tão extenso, assume um grau de realidade ameaçador. No entanto, vamos cair na real, é só uma discussão virtual a respeito de duas grandezas absolutamente distintas.
Mas, além dessa constatação óbvia, percebo uma coisa mais profunda: a diferença entre conhecimento e ignorância é bem pequena, quase imperceptível. Explico: nossa compreensão de determinado assunto é, sempre, baseada num discurso que alguém, um professor, um expert ou um sacerdote, nos faz a título de doutrina, esclarecimento ou catequese. Dessa forma, são tantas as teorias, as explicações científicas, as revelações psicografadas, as escrituras enfim, que podemos explicar, nos dias atuais, qualquer coisa sob qualquer ponto de vista.
E o que fazemos? Usamos todo esse arsenal de conhecimentos para justificar de forma clara e inquestionável, todas as nossas escolhas equivocadas, ou para transferir, para terceiros, toda a culpa pelo nosso sofrimento.
É claro que isso mesmo que estou falando pode ser uma grande bobagem, e não irão faltar argumentos lógicos e racionalizações perfeitas para me contradizer. Sempre vai haver uma desculpa para podermos ficar mergulhados, até o último fio de cabelo, em nossas neuroses.
Mas, às vezes, sem menos esperar, levamos uma pancada, uma decepção, uma perda qualquer, que nos leva a entrar na angústia, terrível, de querer saber: afinal, o que é que eu estou fazendo aqui? E, principalmente, por que é que estou vivendo uma vida tão rasa, tão absurdamente baseada na valorização de coisas da moda, da hora, ou daquilo que eu acho que devo fazer porque senão o que os outros vão pensar de mim? Infelizmente, quando chegamos no ponto dessa dor, a maioria de nós, sabendo que não é chique sofrer, nem por luto, pede mais uma, e com energético!
Queremos a felicidade, e tem que ser agora, e tem que ter aquilo, aquele poder de Brasília, aquele sapato de sola vermelha, aquela religião verdadeira, o último sistema operacional.
Tudo é tão rápido que já é capaz de ter uma agência vendendo, financiada no cartão, uma passagem para Netuno (agora que Plutão está demodê). “Eu quero”, alguém comenta no Facebook. E 7 bilhões compartilham.
E o senso comum, cadê?

(Crônica: Jorge Marin)

domingo, 5 de fevereiro de 2012

PARABÉNS, SÍLVIO HELENO!

A pedido, e EM HOMENAGEM ao aniversariante Sílvio Heleno,estamos disponibilizando, na Galeria de Fotos do Pytomba, várias imagens do Pytomba e de São João Nepomuceno. São tiradas de alguns slides, que estavam em poder do Sílvio, e foram digitalizadas pelo Badeco. Só pra matar a saudade... E rir também!

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

RELEITURAS: O MASSACRE DA FÁBRICA DE MACARRÃO I

Arte digital por Sam Hogg

Quando em 1969, encerraram-se as atividades da fábrica de macarrão, que pertencia à família Missiaggia, empresa que produzia massas seguindo a tradição italiana, ninguém em sã consciência, imaginaria que, naquele lugar, tanta coisa aconteceria três anos depois.
Pois foi exatamente em inícios de 1972, que, no prédio abandonado, alguns componentes do Pytomba viveriam uma grande aventura, talvez a maior de suas vidas.
Na época, por incrível que pareça, e bota incrível nisto, pois o lugar era sinistro demais, alguns elementos do Pytomba tinham o estranho hábito de frequentar o local quase todas as noites. Chegavam com velas e violões, faziam pequenos ensaios e soltavam sua fértil imaginação que, no dizer dos mais velhos, “era só bobagem”.
O lugar, como se pode deduzir de uma fábrica fechada há anos, só possuía três tipos de coisa: poeira (muita), teias de aranha e escuridão, pois não havia energia elétrica. No entanto, era o local escolhido pelo grupo para acrescentar novos detalhes às canções e estudar novos repertórios.
Por que faziam isto? Ninguém, analisando nos dias de hoje, sabe explicar. O fato é que o hábito continua inexplicável, porque, cientes de suas limitações de coragem, aqueles heróis, na realidade, morriam de medo mesmo!
Mas era justamente neste ambiente empoeirado, silencioso e escuro, que buscavam inspiração, privacidade e principalmente, risos, risos nervosos, risos histéricos, mas muitos risos. E neste misto de medo e pavor, a aventura parecia mais um passeio de trem fantasma, pois, ao entrar pelos corredores escuros, ficavam sempre aguardando que algo acontecesse: um susto? Ou algo mais misterioso?
E assim aconteceu, por noites e noites, até que, passado algum tempo, a coisa foi se tornando monótona e acabou perdendo a graça. Nada de novo acontecia, e até o Dalminho e o Sílvio Heleno, os mais reticentes no momento das visitas àquele mausoléu, já estavam pedindo para ir lá, na maior tranquilidade, se bem que ainda com aquele risinho nervoso na cara.
Foi neste momento que Nenê e Serjão refletiram e, ao observar o imenso potencial que o lugar oferecia, vislumbraram cenários interessantes, fizeram profundas prospecções e começaram a esboçar um projeto cujo teor e objetivo era: transformar o local numa verdadeira e convincente CASA MAL ASSOMBRADA!!!
Como, graças a Deus, tinham bastante tempo disponível (bons tempos!), fizeram um planejamento minucioso, começaram a arquitetar um plano maquiavélico. Depois de analisar detalhadamente o percurso, observaram que o cenário daria uma imensa riqueza de opções.
Tudo começaria no terreiro da casa do Serjão para, posteriormente, entrar pela porta dos fundos da fábrica. Passariam, em primeiro lugar, pelo cômodo das máquinas, com seus estranhos buracos negros. A seguir, depois de passar diante da escadaria do terraço, atravessariam o corredor central - com três quartos misteriosos - para, finalmente, alcançar o coração do prédio, que seria denominado o “grande salão”, the big hall. Este salão seria o término da primeira etapa, para, posteriormente,, recomeçar a volta até retornar ao terreiro.
Ficou decidido que tudo seria como um grande teatro, onde coisas estranhas e misteriosas aconteceriam, tanto na ida como na volta. Mas, para que tivesse graça, alguma coisa estava faltando. Sim, os personagens, ou ... as cobaias. Mas, quem seriam?
NA PRÓXIMA SEMANA: VÍTIMAS DE UMA AMIZADE MORTAL
(Roteiro original: Serjão Missiaggia / Adaptação: Jorge Marin)

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

O QUE HÁ DE NOVO NO DIVÃ - VI

Arte digital por Juergen

Posso dizer que venho me adaptando bem a esse retorno ao consultório, depois de dez anos afastado. Mas, é mentira: é como se um tsunami tivesse passado por aqui e levado aquelas coisas que aprendi e que me serviam de referência: pai, recalque, semblante, foi tudo pelo ralo da modernidade. Chega a paciente das sete e o negócio, então, é a gente ir se reinventando e aprender.
Quando ela passa em direção à cadeira, é impossível não perceber o forte aroma oriental. É Obsession, diagnostico baixinho, sei porque minha orientadora usa, e até ostenta a sua embalagem laranja de Calvin Klein em cima de um aparador meio esquisito.
- Desculpe, eu não estou me sentindo muito bem - diz Malena (segundo ela, o nome dela veio de uma música do Roberto Carlos).
Ficamos em silêncio. Ela é uma mulher muito bonita, já foi Garota alguma coisa no passado, em 1980, lembra sempre.
- Acho que é a oliveira – fala. Eu estou tomando esse chá quatro vezes ao dia. Mas, não pode por açúcar. Sabe como é, não?
Eu, absolutamente, não sei, mas fico olhando, esperando uma definição. Ela continua:
- Este chá é tiro e queda. Já perdi dois quilos. Estou quase chegando ao ideal.
- Você acha que vai chegar ao ideal? – pergunto.
Antes de dizer a resposta dela, quero dizer, para situá-los, que Malena é uma mulher de cinquenta anos, ou melhor, vai fazer em novembro, como sempre faz questão de dizer e tem uma preocupação diuturna com essa questão corporal.
- Ah, o ideal é a Gisele, que tem 86-59-87.
- Você quer atingir as medidas da Gisele? – continuo provocando, porque não sei como é que uma baixinha (ela deve ter a minha altura: 1,65 m) vai conseguir os quase 1,80 da Gisele.
- Não, eu não sou louca: sei que ela é bem mais alta, mas, fazendo uma regra de três posso dizer que estou bem melhor do que ela, pois estou com 45 quilos. Além disso, as minhas medidas estão exatamente iguais às de 1980. Quando o cachorro me ver, ele não vai nem me reconhecer mais.
O cachorro é o ex-marido, um personal trainer de uns 35 anos; ficaram juntos uns cinco anos. Continua:
- É claro: eu não estou fazendo isto por ele, não. Eu faço por mim: nós que estamos na faixa dos 50 temos que nos cuidar, porque a nossa taxa metabólica cai muito, e, no meu caso, ainda teve essa coisa da menopausa e eu, definitivamente, não quero uma doença crônica.
Gente, eu acho que, definitivamente, sou eu que não quero ouvir mais toda essa sabedoria de revista, por mais que concorde a respeito dos cuidados com a alimentação. Mas, há uns vinte anos atrás, eram os jovens que tentavam se afirmar para agradar os pais. Hoje, parece que são os jovens que autenticam os velhos. Essa mulher, já esquelética, chegou nos 45 quilos e quer continuar o regime até quando? E por que? Sei que, por incrível que pareça, ela não tem controle sobre isso.
- Você tem ido no Sérgio (o psiquiatra)? – pergunto.
- Ah, ele cortou o Citalopram. Agora eu estou tomando Zyban e acho que está acontecendo alguma coisa louca com o cigarro porque, depois que estou tomando esse remédio novo, não estou conseguindo fumar.
- Você está achando ruim porque o remédio está fazendo você parar de fumar?
- É lógico. Se eu parar de fumar, vou engordar que nem uma porca. Tá louco?
É...

(Crônica: Jorge Marin)

BRIGADU, GENTE!

BRIGADU, GENTE!
VOLTEM SEMPRE, ESTAMOS ESPERANDO... NO MURINHO DO ADIL