quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

MICHEL TELÓ OU RENATO RUSSO?

Foto publicada no mural do humorista Hallorino Júnior.

Dia desses, navegando pelo Facebook, fiz um comentário numa foto, esta aí em cima, porque imaginei, pela disparidade da comparação, que se tratasse de uma brincadeira, entre tantas que rolam no tal site de relacionamentos. Coloquei assim: como gosto de música ao vivo, sou mais o Teló. Pra quê! Imediatamente uma legião enfurecida caiu de pau, uns xingando, outros louvando o seu ídolo, numa catarse semelhante àquela cena do filme A Vida de Brian, na qual o profeta, que nasceu na manjedoura vizinha à de Jesus, dá um trupicão e perde a sandália. Toda a multidão de seguidores retira a sandália do pé, e sai correndo com um pé descalço, dizendo que é um “sinal do mestre”.
Antes que eu seja apedrejado aqui também, quero dizer que, ao afirmar que há uma disparidade entre os intérpretes é porque os considero totalmente diferentes. É como comparar água e vinho: atualmente, sou mais a água, mas já viajei em muitos vinhos.
O que me impressiona é que a tal postagem já teve 7.336 “curtidas” e 9.832 compartilhamentos até agora e, em cada compartilhamento, manifestações iradas, apaixonadas e até meio desrespeitosas, como a minha foi considerada.
Perdido no meio desse fluxo de postagens, reconheço, é claro, que a defesa do ego, num site de relacionamentos tão extenso, assume um grau de realidade ameaçador. No entanto, vamos cair na real, é só uma discussão virtual a respeito de duas grandezas absolutamente distintas.
Mas, além dessa constatação óbvia, percebo uma coisa mais profunda: a diferença entre conhecimento e ignorância é bem pequena, quase imperceptível. Explico: nossa compreensão de determinado assunto é, sempre, baseada num discurso que alguém, um professor, um expert ou um sacerdote, nos faz a título de doutrina, esclarecimento ou catequese. Dessa forma, são tantas as teorias, as explicações científicas, as revelações psicografadas, as escrituras enfim, que podemos explicar, nos dias atuais, qualquer coisa sob qualquer ponto de vista.
E o que fazemos? Usamos todo esse arsenal de conhecimentos para justificar de forma clara e inquestionável, todas as nossas escolhas equivocadas, ou para transferir, para terceiros, toda a culpa pelo nosso sofrimento.
É claro que isso mesmo que estou falando pode ser uma grande bobagem, e não irão faltar argumentos lógicos e racionalizações perfeitas para me contradizer. Sempre vai haver uma desculpa para podermos ficar mergulhados, até o último fio de cabelo, em nossas neuroses.
Mas, às vezes, sem menos esperar, levamos uma pancada, uma decepção, uma perda qualquer, que nos leva a entrar na angústia, terrível, de querer saber: afinal, o que é que eu estou fazendo aqui? E, principalmente, por que é que estou vivendo uma vida tão rasa, tão absurdamente baseada na valorização de coisas da moda, da hora, ou daquilo que eu acho que devo fazer porque senão o que os outros vão pensar de mim? Infelizmente, quando chegamos no ponto dessa dor, a maioria de nós, sabendo que não é chique sofrer, nem por luto, pede mais uma, e com energético!
Queremos a felicidade, e tem que ser agora, e tem que ter aquilo, aquele poder de Brasília, aquele sapato de sola vermelha, aquela religião verdadeira, o último sistema operacional.
Tudo é tão rápido que já é capaz de ter uma agência vendendo, financiada no cartão, uma passagem para Netuno (agora que Plutão está demodê). “Eu quero”, alguém comenta no Facebook. E 7 bilhões compartilham.
E o senso comum, cadê?

(Crônica: Jorge Marin)

Um comentário:

BRIGADU, GENTE!

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