sábado, 28 de abril de 2012

TERCEIRO ANIVERSÁRIO DO BLOG

Foto do blog.myeccentrictees.com


Estamos completando TRÊS ANOS DE BLOG!
É uma data que nos enche de orgulho, pois significa que estamos JUNTOS HÁ TRÊS ANOS.  Juntos como nos velhos tempos.  Juntos AGORA nestes tempos.  Contra a tirania do tempo e das impossibilidades, construímos um MURINHO DO ADIL VIRTUAL, uma BEIRADA DO CÓRREGO VIRTUAL, uma PRACINHA DO CORONEL VIRTUAL.  E VAMO QUE VAMO!  Não temos outra pretensão do que falar, contar causos, conviver, só viver. Torcemos para que a nossa fala cause: saudade, emoção, alegria, risos.
Estamos apresentando, desde quarta-feira, a origem do Blog, O Efeito Borboleta!
Apresentaremos, nas próximas semanas, a última releitura de um dos causos mais impactantes do Pitomba: O DISCO VOADOR.
Depois, retornaremos à apresentação de causos e crônicas inéditos.  Aguardamos a visita de cada um de vocês!
OBRIGADO POR MANTER O SONHO COM A GENTE!
Serjão Missiaggia e Jorge Marin  

sexta-feira, 27 de abril de 2012

RELEITURAS - EFEITO BORBOLETA: O SONHO DO SERJÃO

  Foto publicada no site http://moje.radio.lublin.pl       


Hoje sonhei com o Pitomba. Fato raro. Confesso que, na realidade, ainda nunca havia sonhado. Sabe de uma coisa? Até que estava o maior barato.
Neste sonho montávamos um palco em plena praça da matriz. Tínhamos reunido toda “pareage” da região e umas cinquenta mil pessoas eram esperadas para o show. O palco estava sendo montado bem em frente à escadaria da igreja, ficando aquela grande área de jardim até o colégio Augusto Glória, somente para o grande publico.
Êta titica!!! Pra variar, teria que acordar justamente na hora em que íamos ligar aquela mega aparelhagem. Deveriam ser, mais ou menos, umas duas horas da madruga e eu, preocupado com algumas contas atrasadas para pagar, perderia de vez o sono. Se eu contasse que o Pitomba veio perturbar minha noite, quase quarenta anos depois, alguém acreditaria?
Após aquela frustrada possibilidade, de sentir novamente em minhas mãos o tato de uma baqueta, e com a insônia já instalada, só me restou, como única alternativa, entregar-me ao acaso e esperar pacientemente que o sono voltasse.
Desta forma, após dar uma chegada na cozinha e tomar um pequeno copo de leite, voltei para cama. Numa breve relaxada, fechei os olhos e aproveitei para dar uma esticadinha ao século passado. Mais precisamente em 1971.
Primeiro questionamento: QUE CULPA OU AONDE TERÍAMOS ERRADO?
Éramos supercarismáticos (tipo Mamonas Assassinas). Superfanáticos. (Pulávamos até a janela do colégio só para poder dar uma ensaiadinha) Animadérrimos? (até demais), Tínhamos até boas aparências, é claro que com algumas exceções. Éramos, acima de tudo, simpáticos, extremamente unidos, malucos e sonhadores. Para tirarmos leite de pedra seria moleza. Difícil mesmo era nossa capacidade, principalmente no início da banda, em tirar som num monte de alto-falantes que ficavam passeando pelo chão. Isto pra não falar que o vocal era feito em microfone de gravador (mono), e que o prato da bateria chegou a ser uma calota de caminhão. Se não me falha a memória a de um velho Mercedes-Benz do Senhor Anginho. Ah! Já ia me esquecendo que nosso instrumento de percussão era simplesmente um chifre. Por sinal, de ótima qualidade!
Mas de uma coisa sempre tive plena convicção. Nossas cabeças estavam muito além da nossa época. (Uns quarenta anos, talvez) Infelizmente, os membros de alguns é que não ajudavam!!!
Tantas e tantas qualidades e apenas este único e fatídico defeito. Único e crucial: ALGUNS, NA ÉPOCA, NÃO TINHAM O DOM MUSICAL. Teria sido ira dos deuses ou conjunções astrológicas inadequadas?
A mãe natureza nos foi fiel em quase tudo, esquecendo apenas deste minúsculo e simples detalhe.
Por qual razão teria ela negado, a algum de nós, o abençoado direito deste imprescindível dom? Esta mesma natureza, de bondosa mesmo, foi só pra sacanear, principalmente quando, no início de tudo, veio nos presentear com um guitarrista solo que, além de não saber afinar uma única corda de guitarra, também, simplesmente, não sabia entrar no tom. Aí também não... Pura apelação!!!! Por sinal, pessoa muito querida, mas, como músico, se tornou um invejável técnico em eletrônica. Abro aqui um parêntese, pois não poderíamos esquecer jamais que tal componente, devido a sua privilegiada e rara inteligência, veio posteriormente e de uma maneira muito além de nossas expectativas, aprender teclado.
Por outro lado, se pensarmos bem, que futuro poderia ter um conjunto que, na época, tinha esta formação: PATETÃO, SERJÃO, GORDA, MAGRELO, BELASQUES E RENES? Uma escalação que daria inveja a muito time de futebol, principalmente se fosse de algum presídio de segurança máxima.
E, por falar em futebol, até isto nós tínhamos. Se bem que, na verdade, só ganhávamos quando jogávamos contra o time dos Vicentinos.
Em outras palavras: algum de nós, na realidade, quando tudo começou, não tinha jeito nenhum pra musica.
De minha parte, tenho a consciência tranquila de que, enquanto na bateria, pelo menos do compasso eu não saía. E já tava bom demais!!!!!
Hoje, nossa terra é merecidamente reconhecida nacionalmente como a cidade dos conjuntos Eldorado e Itaborahy. De músicos do quilate de um Emmerson Nogueira, Kico Furtado, “Serjão Missiaggia” e outros.
Agora eu pergunto:
Alguém conheceu ou já ouviu falar que, em São João, teria existido algum conjunto musical que fosse tão irreverente, sonhador e sobrenatural como o Pitomba??? Fica aí o desafio. NUNCA HOUVE, NÃO HÁ E JAMAIS EXISTIRÁ! Assino embaixo.
Não podemos também esquecer que fizemos contatos “quase” imediatos com um disco voador, digo... Uma Kombi voadora. Fomos peritos em bombas e até uma fantástica aventura poltergaiste tivemos oportunidade de viver: a fábrica.
Dia desses, uma figura querida e hoje um tanto folclórica, o Cabralzão, ao encontrar-me em pleno calçadão, sem nenhuma cerimônia e num tom bastante eufórico, veio logo me dizendo:
- Serjão! Sou um daqueles que viu o Pitomba!!!!!
Por esta e por outras infinitas razões, somos, ou não somos, também merecedores de um pequeno espaço na história cultural da cidade???

Se nascemos mortos, morremos vivos. Tudo se foi e nem mesmo partimos!!!

(Crônica: Serjão Missiaggia, abril 2007)

quinta-feira, 26 de abril de 2012

RELEITURAS - EFEITO BORBOLETA - A . . . S I N U C A

                             Foto do blog meupequenomundolouco.blogspot.com


Serjão e Jorge chegaram correndo ao salão de sinuca já meio molhados, e não havia ninguém, exceto o fiel dono do estabelecimento. Como não havia jogadores, foi permitido que os jovens utilizassem a mesa principal, onde os apostadores jogavam.  Pegaram também os melhores tacos e iniciaram a partida, sob os reflexos dos relâmpagos e o barulho cada vez maior dos trovões.
Pintinho se admirava: jamais podia imaginar que aqueles dois rapazolas jogassem de uma forma tão correta e espantosamente corajosa. Tão corajosa que uma bola dois, tacada pelo Serjão, voou da mesa e passou a centímetros do seu nariz.  Serjão deu aquela tradicional limpada de garganta, foi lá, pegou a bola, e recomeçou a partida. Para compensar a lambança, deu uma sinuca no amigo Jorge.  De bico.  Impossível.  Este, inabalável, anunciou:
- Vou sair da sinuca, e ainda vou matar aquela bola cinco, lá na caçapa do fundo!
Aquilo era insano, sair da sinuca de bico talvez ele até conseguisse, mas matar a bola cinco era impensável, inatingível. Jorge pegou o taco, concentrou-se e, quando ia dar a tacada, UM RELÂMPAGO ILUMINOU A SALA E UM TROVÃO EXPLODIU: a luz se apagou! Ainda assim, guiado por seus instintos, Jorge tacou no escuro. Naquele breu, tudo o que se ouviu foi o barulho da bola tocando na tabela, depois tocando outra bola, e o silêncio. Todos ficaram paralisados, inclusive o Pintinho que, instintivamente levou a mão ao rosto, temendo levar nova bolada.
O blackout durou uns dois minutos, Serjão pedia ao Jorge que desencostasse da mesa, mas este continuava de pé, com o taco na mão.
A luz voltou, TRINTA E DOIS ANOS SE PASSARAM. Num sábado, dia 11 de abril de 2009, Jorge, que não tinha contato com Serjão há uns quinze ou dezesseis anos, recebe o seguinte e-mail:
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Grande Dr. Gregório! Ô home difícil de achar sô! 
Abraços em todos da família.

Pra inicio de conversa, continuo reafirmando que aquela tacada na bola cinco foi vergonhosamente roubada, e que você a empurrou com a mão quando a luz se apagou. Pena que o Pintinho (proprietário) faleceu, pois era até então minha única testemunha.
Mas, deixando as diferenças do passado de lado, vamos logo ao assunto:
Não sei se terá saco pra ler, mas, sempre que puder, procure ir dando uma olhadinha nesta história que escrevi do Pitomba ( anexo).
... Contarei com a ajuda dos demais componentes.
Tenho também, na integra, a história do Disco Voador, da Bomba e da Fábrica Mal-Assombrada. 
Como não poderia deixar de ser, acredito também na grande possibilidade de cada um de nós possuirmos um pequeno acervo referente ao Grupo. Ex: fotos antigas, gravações, objetos etc.etc.etc.
... quem sabe, não abriríamos um SITE do Pitomba? Não sei como a coisa funcionaria mas, se desse certo, seria uma bela página na NET com vários LINKS contendo toda nossa história. 
Na verdade, esta idéia surgiu mesmo em circunstância de um sonho que tive com o Pitomba. (anexo)
Depois falaremos mais. Foi muito bom te ver
Serjão
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AMANHÃ (NÃO PERCAM!): O SONHO

(Crônica: Jorge Marin)

quarta-feira, 25 de abril de 2012

RELEITURAS: EFEITO BORBOLETA - A N O I T E !

                                Foto publicada no blog jeffnamyra.blogspot.com

Dia 08 de abril de 1977 era uma segunda-feira sombria. Depois do feriadão da Semana Santa, aquela era uma noite especialmente escura e chuvosa em São João Nepomuceno: o vento descia a Rua do Sarmento, fazendo bater janelas e assustando uns poucos clientes que teimavam em ficar papeando no Bar Central. Do outro lado, em frente ao Correio, e até a Praça do Coronel, também não havia viva alma. Era como se o vento, passando veloz, houvesse varrido das ruas, todo vestígio da civilização humana. O Cebolinha era um deserto e, no Bar do Tchan, também vazio, alguém guardava uma penca de bananas debaixo do balcão. Como os jovens gostam de andar em bando, era de se supor que ninguém saísse de casa, pois era melhor ficar assistindo à novela Locomotivas, do que se aventurar por aquelas ruas com um aguaceiro prestes a cair. Quem era louco de sair? Mas, tem sempre um. Dois no caso: Serjão Missiaggia e Jorge Marin. Os dois se encontraram ali na avenida Zeca Henriques, como sempre faziam e, a despeito do mau tempo, e do vento, e da solidão da noite, foram cumprir sua missão noturna diária. Bons amigos, iam falando de tudo: das meninas, das garotas, das gatinhas, além do último número da revista Homem (era como se chamava a revista Playboy naquele tempo) que trazia, na página central, as gatas do programa Planeta dos Homens. Ah, finalmente, falavam também do Botafogo, aquele super-time com Osmar Guarnelli, Mendonça, Mário Sérgio, Rodrigues Neto, Nilson Dias e Paulo César Lima, mas que havia obtido uma vitória magrinha de apenas 1x0 sobre a Portuguesa. Resumindo: apesar do paisagem sinistra, com os dois amigos tudo era só alegria e muita conversa interessante. Embora o destino dos dois fosse a Praça Carlos Alves, havia um ritual a ser cumprido e ambos seguiram caminho rumo à Praça do Coronel, passaram em frente à casa do Dr. Nagib, desceram em frente à casa do Dr. Írio e assobiaram para os patos, até chegar na Rua Duque de Caxias, onde desceram rapidamente, pois já estava começando a chuviscar. Chegando à praça, caminharam rapidamente para cumprir sua missão: o destino era a Sinuca do Pintinho. Lugar meio reservado, nos fundos da União, onde, ao contrário da Sinuca do Cida – repleta do playboyzinhos e coroas – encontravam-se os homens, homens de verdade, policiais, caminhoneiros, malandros e uns tantos pinguços que apareciam e eram enxotados pelo sempre respeitado Ronald Pinto. Mas o que dois rapazes, como o Serjão e o Jorge faziam num lugar daqueles, onde o jogo era “a valer” e os campeões apostavam para ganhar dinheiro? Por mais de uma vez, seu Tuninho e seu Irenio chamaram os filhos para uma conversa, dizendo que aquele lugar não servia para eles, mas os dois, como bons adolescentes saindo da adolescência, eram rebeldes, tinham a sua mesa, justamente aquela na qual ninguém gostava de jogar e brincavam, simplesmente brincavam pois mal tinham dinheiro para pagar uma hora de jogo. Naquela noite, no entanto, tudo seria diferente...

CONTINUA AMANHÃ>>>

(Crônica: Jorge Marin)

sexta-feira, 20 de abril de 2012

RELEITURAS: EU SEI QUE VOCÊS EXPLODIRAM SÃO JOÃO NO PASSADO! DOIS MIL STIDUM - UMA PITOMBEIA NO ESPAÇO (FINAL)

Arte fractal por Austr-alien

(Informa o seu Repórter Esso, em Edição Extraordinária):
CHEGOU A HORA!!!  É A TERCEIRA VERSÃO DA BOMBA!
São João Nepomuceno – U R G E N T E – Interrompemos a Guerra Fria para informar que, após a explosão pacífica (mas barulhenta pra caramba!) das DUAS PRIMEIRA BOMBAS DE MELODIAS DA HISTÓRIA, chegou o momento da terceira versão, na qual foram empregados toda a tecnologia, experiência e conhecimentos adquiridos anteriormente. Com uma NOTÁvel potência de 36 MELODIAS, o local da detonação será nos fundos do quintal da Mansão Picorone, no Atol do Stidum, mas a informação da hora é TOP SECRET!
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CONVIDADO ESPECIAL - Para participar do evento, chamamos o Moacyr Ângelo Ferreira, o saudoso e inesquecível Godelo que, como sempre, topou a parada de ser, além de testemunha, o padrinho do modelo XB3/4 versão 03.
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RELATÓRIO DA COMISSÃO DE ENERGIA ATÔNITA (é atônita mesmo!):
Após o meticuloso acondicionamento do artefato nos fundos do barracão, teve início a contagem regressiva. Até que, ao faltarem APENAS 8 segundos, a segurança falou mais alto e a contagem teve de ser interrompida. O motivo foi a perigosa distância em que o Godelo insistia em se manter da bomba. Queria ficar em pé, a pouco mais de 10 metros, praticamente um vestibular para kamicaze!  Depois de muita resistência, pois o Godelo alegava que a explosão não seria tudo aquilo que era imaginado, este resolveu finalmente se esconder atrás de um tambor velho, mas foi a vez do Renatinho ficar exatamente no lugar dele.  SAI DAÍ, MININO!!!
Foi reiniciada a contagem regressiva, e a detonação – BUM! - afinal realizada!
CRUIS CREDO, todos falaram junto com o Gudilim.
NUNCA SE TINHA VISTO COISA IGUAL!  SUBIU UMA LABAREDA DE FOGO QUASE DA ALTURA DO BARRACÃO!
----------------------------------------------------------------------------------------------------------Enquanto isso, na Sala do Juquinha, lá no Ginásio, a EXPLOSÃO foi ouvida e correram todos para as janelas: o Sô Bi, alunos, professores e serventes.  Até que, segundo o Betto Vampiro, alguém, possivelmente um filósofo, gritou:
- SÓ PODE SER COISA DO SÍLVIO HELENO COM O PESSOAL DO PITOMBA!  Ô boquinha santa!
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FINAL DO RELATÓRIO: No piso duro e compactado do terreiro, foi aberta uma CRATERA de uns 20 centímetros!  Fragmentos ainda caindo... AI!
Funcionários do Banco do Brasil fugiram para a rua, pois acharam que o prédio estava desabando. 
Declaração Histórica do Godelo (saindo de trás do tambor):
- “CRIATURA, SE EU SOUBESSE QUE ESSE TREM FOSSE ASSIM, EU NUM TERIA NEM VINDO AQUI!” E, mais do que depressa, vazou...
----------------------------------------------------------------------------------------------------------A BOMBA DA PAZ (por Sílvio Heleno e Bellini), em Lá Menor:
“A bomba vai explodir ali, ali, ali/ Vai matar aquelas cabeças, que eu não quero ver, / Cabeças que me perturbam / não deixando eu viver.
A bomba vai salvar ali, deixando sumir, / A bomba vai salvar ali, fazendo sumir, / Coisas que incomodam que vêm para reprimir, / Fazendo fazer da vida, o amor brotar ali, / O amor brotar ali.
A bomba vai explodir ali, ali, ali, / O amor vai brotar daqui, daqui, ali, /A paz vai nascer ali, ali, ali, / Criança nova há de vir, para aqui, dali.”

(Crônica original: Serjão Missiaggia / Adaptação e releitura: Jorge Marin)

quarta-feira, 18 de abril de 2012

A REVOLUÇÃO PELA INCOMPETÊNCIA

                                                Foto do blog garoas.com


Nesta descida de século, me confundo às vezes, e já nem sei se as ocorrências do dia a dia são fruto de minha crescente ranhetice ou se há mesmo, conforme eu paranoicamente acredito, uma autêntica revolução pela incompetência total.  Vejam só: ligo para a minha operadora de Internet que, para não divulgarmos o nome, chamaremos ficticiamente de Lentox.  Depois de muitas peripécias com um gentil atendente virtual, que faz estranhos barulhinhos, chegamos ao (pelo menos aparente) ser humano:
- Lentox atendimento ao cliente, atendente Britney, em que posso ajudá-lo, senhor?  Confesso que prefiro conversar com o atendente virtual, pois ele é mais dinâmico do que a nossa call(center)girl.  É lógico que não vou retratar aqui todos os diálogos, dignos de um enredo de Kafka, mas, resumindo, eu peço que me remetam um modem grátis que é prometido a quem tem o meu tipo de plano, e ela me diz que eu, por já ser um cliente há mais de dez anos, não tenho direito ao brinde, que é só para clientes novos.  Peço, então, para que ela cancele meu plano, pois assim, eu durmo não-cliente e, no dia seguinte, solicito o plano de volta, desta vez com o brinde prometido.  Ela diz que não vai adiantar porque, quando a auditoria da empresa conferir o meu CPF, vai descobrir que estou tentando, de forma desonesta, me passar por cliente novo, quando sou, na verdade, um cliente (indesejadamente, creio eu) tradicional.  E por aí vamos...
Vou pegar um táxi e o motorista se recusa a fazer o itinerário porque, segundo ele, por trabalhar por quilômetro rodado, a corrida vai ser prejuízo.  Corro, então, para pegar o ônibus, mas o motorista do coletivo, ao me ver correndo feito um louco, fecha rapidamente a porta e sai em disparada.
De carro, então, nem cogito, porque, não sei se vocês viram o ocorrido com a equipe da TV Alterosa, que teve que se ver às voltas com um agente de trânsito desequilibrado que, de bloquinho de multas em punho, passou a “xingar” os repórteres de gay, como se fosse o maior impropério do mundo.  Eu não sei nem se o tal servidor teria qualificação para ser considerado homofóbico.
Mas o que mais me choca, e acredito que seja o principal motivo desse estado de coisas, é uma tendência, muito comum nos meios policiais, de sempre e sempre defender os ofensores, à guisa de estar defendendo os direitos humanos e difundir uma crença, não comprovada, de que os perversos se arrependem, de que os incompetentes merecem mais uma chance e de que os pilantras vão se tornar cidadãos de bem, haja vista a contínua reeleição de políticos enquadrados nestas três características citadas.
Como, além de ranzinza, sou teimoso, vou ao Procon reclamar da minha operadora e, logo que chego, uma pequena confusão está instalada: a primeira atendente saiu para almoçar e ninguém a substituiu e uma senhora reclama que pularam a senha dela.  Esta, muito nervosa, esbraveja: “se nem aqui a coisa funciona, quem poderá nos defender?”
Viro para a minha mulher, que está calmamente sentada naquelas longarinas características desses ambientes, e peço:
- Amor, chama aí, por favor, o Chapolim Colorado!

(Crônica: Jorge Marin)

sexta-feira, 13 de abril de 2012

RELEITURAS: EU SEI QUE VOCÊS EXPLODIRAM SÃO JOÃO NO PASSADO! - Capítulo 3 - EXPLODE, DANADA!

Foto do blog apagueminhasinterrogacoes.blogspot.com

NA SEMANA PASSADA, ATENÇÃO: CONTAGEM REGRESSIVA!
20... 19... 18... 17... 16... 15... 14... 13... 12... 11... 10... 9... 8... 7... 6... 5... 4... 3... 2... 1... ZERO!
Quando o botão foi acionado, a única sensação relatada pelos participantes da experiência é de terem ficado completamente surdos e cegos.
Passados alguns segundos, envoltos numa fumaceira danada de espessa, só se percebia que uma multidão começou a chegar de todos os lados.
Acredite quem quiser, mas a pressão do impacto foi tão grande, que a porta da oficina se dividiu em duas. Ao mesmo tempo, a explosão fez surgir na parede uma rachadura de quase 2 metros de comprimento, sem falar na chuva de alto-falantes que despencaram das estantes da oficina e rolaram em todas as direções.
Neste mesmo instante, passageiros do ônibus das 19 horas, que estavam saindo da antiga rodoviária com destino a Juiz de Fora, saltaram assustados do ônibus e, sem saber o que estava acontecendo, ficavam a olhar, abobados, em direção à oficina.
Enquanto isso, em meio a toda confusão, os responsáveis foram saindo do epicentro da explosão, tossindo alto e como se nada tivesse acontecido.
Ainda bem que, nesta hora crucial, com os três já do lado de fora, aquele irmão do Serjão, o suposto conhecedor de bombas, chegou extremamente apavorado. Na verdade, havia acompanhado tudo à distância e aguardava-os ansiosamente para, com seu carro, levá-los a uma em retirada estratégica, já que havia comentários de que algumas pessoas já teriam prestado queixa na delegacia.
O veículo saiu cantando pneus, com destino ignorado e, a bordo, um irmão assustado e os três responsáveis pela primeira explosão de uma bomba de Melodias na História. Sem flagrante, nada aconteceu, e todos foram voltando para suas casas, para o ônibus, para a Assembleia de Deus e para o posto de gasolina.
Na segunda versão, poucos fatos aconteceram, mas um fato, ocorrido na armação da segunda bomba, merece ser relembrado. Já era bem tarde da noite e, sob focos de luzes, numa mesa da oficina, era finalizada a montagem da segunda bomba. De repente, dois policiais apontaram o rosto na porta, analisaram o ambiente e todos que ali estavam. Polícia naquele tempo era uma coisa muita temida. Todos engoliram em seco, mas os PMs perguntaram, em tom de brincadeira:
- E aí, Professor Pardal! O que é que vocês estão inventando aí?
- É uma bomba! – respondeu Sílvio Heleno, curto e grosso.
Para surpresa de todos, os oficiais da lei disseram OK, fizeram meia-volta e foram embora. Saíram dando boas gargalhadas. Jamais poderiam imaginar que a segunda bomba estava logo ali, bem debaixo de seus narizes.
Esta bomba teve a mesma potência que a primeira, sendo que algumas poucas modificações foram introduzidas, para adaptá-la ao meio liquido.
Foi construída uma embalagem especial, que a tornaria protegida da água, e assim, pudesse ser colocada no fundo de um tanque qualquer, que viria a ser o lavador do Sr. Anginho Picorone. Este teste foi um verdadeiro êxito, pois além de provocar algumas rachaduras no tanque, subiu água a mais de cinco metros!
NA PRÓXIMA SEMANA: fiquem ligados no último capítulo com a derradeira, a mais potente e definitiva bomba: A BOMBA SUBMARINA DE 36 MELODIAS! O primeiro, e único tsunami artificial da História. Não percam!!!

(Crônica original: Serjão Missiaggia / Adaptação e releitura: Jorge Marin)

quinta-feira, 12 de abril de 2012

A MORTE E A COMPRA DO PARAÍSO

                                 Foto do arquivo pessoal de Robson Terra

Com a morte repentina de um amigo, o já saudoso Robson Terra, ficamos, eu e meu amigo César Brandão, conjeturando sobre a morte. Parece que, depois dos 50, ou, como dizia meu velho pai, após “dobrar a curva do Caxangá”, começamos a ter pretensão de querer negociar com a vida: ah, eu gostaria de ir assim ou eu não gostaria de ir de jeito nenhum, essas viagens.
Fato é que crescemos sendo ensinados que, cumprido um certo número de virtudes morais, estaríamos assegurando, não apenas uma vida longa e feliz, como também uma vida eterna num lugar aprazível e pacífico. Passados esses anos, no entanto, não consigo perceber, nem uma coisa, nem outra. A obediência cega aos mandamentos da lei de Deus, seja de qual religião for, e com todo o respeito que entendo que elas merecem, não parece garantir, automaticamente, as benesses, nem de uma vida física saudável, e muito menos de uma vida espiritual plena.
Há questões muito complexas, principalmente quando são envolvidos os conceitos de “certo” e “errado”. Exemplificando: um soldado que vai defender sua pátria numa guerra, mesmo numa guerra santa, aos olhos do grupo religioso local seria um herói, um santo ou um mártir. No entanto, aos olhos do inimigo, seria um vilão, um pecador e um perverso.
Mas, e aos olhos de Deus? Ou do Cósmico? Ou da Mãe Terra, ou seja qual for o nome que cada qual atribui às instâncias que justificam nossa existência aqui neste planeta?
Não nos iludamos, portanto, porque, simplesmente, as virtudes mais puras e também os pecados mais terríveis só farão sentido em relação às nossas próprias idealizações e à luz da cultura vigente. Não digo isso no sentido de que, apreendida essa verdade, tudo é permitido. Há um limite e este limite é a nossa própria consciência ética. A frase memorável de São Paulo na epístola aos Coríntios é definitiva: “todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm; todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma”.
Não existem verdades absolutas em nenhum discurso doutrinário, palavras não são capazes de revelar a inefável lógica da Vida. Toda a preocupação com o cumprimento de dogmas e toda acumulação de “pontos” conversíveis em indulgências celestiais são comportamentos antinaturais que refletem apenas uma coisa: a preocupação, o medo e o pavor da Morte e do Morrer, o momento em que nosso ego é deletado para sempre.
Na vida alucinada em que vivemos e em meio ao pavor suscitado pela questão de se ver anulado de uma vez por todas no turbilhão temporal, acabamos por nos afastar daquilo que seria um aprendizado sobre a arte de morrer. Se tivéssemos a coragem e a serenidade para tratar do assunto, veríamos que a vida é. Não somente a vida é, como também o que morre são os nossos atos. Não adianta ficar fazendo poupança de supostas boas ações, nem promessas para se obter alguma vantagem ainda que lícita e louvável. A morte acontece, vejam o segredo, apenas para quem não aprendeu olhar para fora. Com efeito, ao ver a postagem do amigo conceituado como “morto”, meu filho pergunta:
- Papai, o Mágico de Oz (um dos personagens do Robson) morreu?
- Não meu filho, respondo, apenas o moço que usava o corpo dele. O mágico continua lá, na Cidade de Esmeralda, que fica depois da estrada de tijolos amarelos, acima da curva do Caxangá.

(Crônica: Jorge Marin)

sexta-feira, 6 de abril de 2012

RELEITURAS: EU SEI QUE VOCÊS EXPLODIRAM SÃO JOÃO NO PASSADO! - Capítulo 2

Arte por Steve Maher

Na semana passada falávamos de... BOMBAS!
Para que os leigos possam entender, na prática, a relação bélico-musical, basta informar que cada melodia correspondia a 1 tom, e 1 tom a uma trouxinha de foguete. Na bombástica reunião, após uma longa deliberação, ficou também decidido que, por questões de segurança, estaria descartada a possibilidade de se fazer alguma detonação tipo pavio. Foi, portanto, aclamado por unanimidade, o sistema elétrico de detonação “APF 220”, também conhecido como: Ativação por Filamentos em 220 Volts.
Finalmente, foram fixados o local do teste, a data e o horário da detonação: para a primeira versão, o local do teste seria a entrada da oficina do Sílvio Heleno, em frente à antiga Estação Rodoviária, o dia marcado seria o próximo domingo, e o horário, 18 horas e 30 minutos.
A decisão havia sido tomada, uma decisão que mudaria, para sempre, a vida pacífica da cidade de São João Nepomuceno. Um grupo de jovens idealistas decidira, pela primeira vez na História da Humanidade, detonar uma bomba de Melodias.
Naquele fatídico domingo de 1972, o Programa Flávio Cavalcanti não seria o campeão absoluto de audiência. Às 18 horas e 30 minutos, uma outra atração estava programada para pegar a população de surpresa.
E foi assim que tudo ocorreu.
Pontualmente, às seis e meia da tarde, sabem quem estava no local determinado? Pois é, ninguém. Todos haviam sumido. Após mais alguns minutos, o Sílvio Heleno, que morava lá, saiu pela porta da cozinha. Logo depois, os vizinhos mais próximos, Renatinho e Serjão, também chegaram. Seriam as cobaias, para ver e sentir do que a danada da bomba era capaz. Sem saber, estavam escrevendo páginas da História.
Serjão estava particularmente preocupado, pois um dos seus irmãos acompanhava, um tanto ressabiado, e de forma discreta, esta nova loucura. Na realidade, ele não acreditava muito na capacidade dos rapazes, mas ficava o tempo todo dizendo que, de bombas, ele entendia e que, juntamente com o primo Biel, havia feito muitas na adolescência.
No dia e na hora marcados, enquanto eram checados os últimos detalhes da montagem do aparato e a contagem regressiva já era iminente, quase acontece uma tragédia. Silvio Heleno, para espanto de todos, esticou um fio até a escada da oficina e colocou aquela bendita “coisa” bem na porta de entrada.
Nesta hora, tenso e assustado, Serjão pergunta:
- Sílvio! Eu não entendo muito bem de bombas, mas... Você não acha que esta coisa, colocada ali, principalmente de portas abertas, não vai dar retorno? Ou seja... Não está muito perto da gente?!
Silvio Heleno, como todos que o conhecem sabem, é simples e direto:
- Tá tudo tranquilo, Serjão! É só fazer a contagem regressiva, tapar os ouvidos, apertar o botão e entregar para Deus!
Nesta hora, sentindo que ele, na empolgação, estava meio cego para o perigo, Serjão buscou cercar-se de alguma segurança ainda possível. Pediu ao Sílvio que fechasse um pouco a porta, colocasse a bomba um pouco mais para fora e deixasse pelo menos uma janela aberta. Para a sorte de todos, assim foi feito.
Começaram, então, a escutar a contagem regressiva, que já estava previamente gravada, sentido 20 para zero. E AGORA? O QUE ACONTECERÁ? Vejam, na próxima sexta-feira (13) neste mesmo bombablog! Não fiquem nervosos, senão... bum! Aguardem...

(Roteiro original: Serjão Missiaggia / Adaptação e releitura: Jorge Marin)

quarta-feira, 4 de abril de 2012

A PAIXÃO DA SEXTA-FEIRA

Foto de divulgação do Vam Design Center

Volto da feira com o carrinho cheio de batatas, para o inevitável bacalhau da sexta-feira e me vejo cara a cara com um indivíduo magrinho, meio assustado, com uma bolsa feminina nas mãos. Olho para o cara, do outro lado da rua, ele pega uma bicicleta, propositalmente deixada no chão, e pedala rapidamente rua abaixo, em direção à delegacia de São Mateus. Atravesso a rua e vem descendo, também assustada, uma senhora idosa, gritando e chorando, dizendo que havia sido assaltada pelo tal ciclista. Volto para esquina, não sei bem para quê, mas o sujeito, como se diz, “vazou”. A idosa vai em direção à delegacia.
Também idosa, minha vó cobria os espelhos numa Semana Santa dessas do começo dos anos 60, com um pano roxo. Com o mesmo tipo de pano, embrulhava todas as imagens de santos, e havia muitas, Santa Terezinha, Nossa Senhora da Piedade e um São Francisco de Assis colado, no qual eu tinha dado um tombo, e fiquei uma semana sem ouvir um programa de rádio que eu gostava.
Enquanto isso, de volta ao século XXI, na 1061 Budapest Király utca 26, na Hungria, pessoas ávidas se espremem na fila do Vam Design Center para assistir a uma exposição... de cadáveres: são corpos de pessoas mortas naturalmente (espero) conservadas por um processo chamado plastinação que disseca os cadáveres em universidades da China (até isso eles exportam) e, após um tratamento com substâncias químicas, expostas revelando suas intimidades, isto é, órgãos internos, músculos, vasos e artérias.
Até aí, nada de mais, pois a exposição já esteve no Brasil no ano passado, minha vó já morreu e seu corpo não está na exposição, mas o assaltante ainda ficou na minha cabeça. Fico pensando: saímos de um tempo, onde tudo era sagrado, para outro onde nada, mas absolutamente nada mesmo, é sagrado!
Adolescentes, rebeldes e irrequietos, íamos para um boteco em São João Nepomuceno, o único que abria na Sexta-Feira da Paixão, e esperávamos faltar um minuto para a meia-noite para pedir a primeira cerveja: alguém segurava o abridor na tampa e todos fazíamos a contagem regressiva até que o ponteiro cruzava o 12 e comemorávamos barulhentamente: vamos acabar com esse Judas! Pessoalmente, eu já achava aquilo meio desrespeitoso, mas, como eu sempre digo, a adolescência é a época certa de fazer coisas erradas.
Devo reconhecer que aquela pressão toda era aterradora: as casas pareciam cenários de filmes do Vincent Price, ninguém se barbeava e as mulheres não varriam as casas. Sonhávamos com um tempo em que o mundo fosse mais “evoluído” e não precisássemos nos submeter a rituais que achávamos bizarros.
Pois bem, acho que conseguimos: hoje, dizem os cientistas, o céu está vazio. As mulheres, que queríamos ver nuas nas playboys censuradas, levantam a pele do púbis e mostram o útero. E um moleque se julga no direito de espancar uma velha para roubar o real. Penso que é justamente aí, na ansiedade por obter o real, o real a todo custo, o real desnudo, o real empírico é que começamos a nos afastar do sagrado. E, agora, livres do sagrado, homens totalmente racionais, comandamos o planeta, mas, como na antiga série de tv, ficamos perdidos no espaço.
Acabamos com a Sexta-Feira da Paixão, mas, ao fazê-lo acabamos também com nossos objetos da paixão. Ficaram alguns objetos de consumo, importados da China, em meio ao lixo acumulado de papéis de ovos de páscoa, já comidos na véspera.

(Crônica: Jorge Marin)

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