sexta-feira, 27 de abril de 2012

RELEITURAS - EFEITO BORBOLETA: O SONHO DO SERJÃO

  Foto publicada no site http://moje.radio.lublin.pl       


Hoje sonhei com o Pitomba. Fato raro. Confesso que, na realidade, ainda nunca havia sonhado. Sabe de uma coisa? Até que estava o maior barato.
Neste sonho montávamos um palco em plena praça da matriz. Tínhamos reunido toda “pareage” da região e umas cinquenta mil pessoas eram esperadas para o show. O palco estava sendo montado bem em frente à escadaria da igreja, ficando aquela grande área de jardim até o colégio Augusto Glória, somente para o grande publico.
Êta titica!!! Pra variar, teria que acordar justamente na hora em que íamos ligar aquela mega aparelhagem. Deveriam ser, mais ou menos, umas duas horas da madruga e eu, preocupado com algumas contas atrasadas para pagar, perderia de vez o sono. Se eu contasse que o Pitomba veio perturbar minha noite, quase quarenta anos depois, alguém acreditaria?
Após aquela frustrada possibilidade, de sentir novamente em minhas mãos o tato de uma baqueta, e com a insônia já instalada, só me restou, como única alternativa, entregar-me ao acaso e esperar pacientemente que o sono voltasse.
Desta forma, após dar uma chegada na cozinha e tomar um pequeno copo de leite, voltei para cama. Numa breve relaxada, fechei os olhos e aproveitei para dar uma esticadinha ao século passado. Mais precisamente em 1971.
Primeiro questionamento: QUE CULPA OU AONDE TERÍAMOS ERRADO?
Éramos supercarismáticos (tipo Mamonas Assassinas). Superfanáticos. (Pulávamos até a janela do colégio só para poder dar uma ensaiadinha) Animadérrimos? (até demais), Tínhamos até boas aparências, é claro que com algumas exceções. Éramos, acima de tudo, simpáticos, extremamente unidos, malucos e sonhadores. Para tirarmos leite de pedra seria moleza. Difícil mesmo era nossa capacidade, principalmente no início da banda, em tirar som num monte de alto-falantes que ficavam passeando pelo chão. Isto pra não falar que o vocal era feito em microfone de gravador (mono), e que o prato da bateria chegou a ser uma calota de caminhão. Se não me falha a memória a de um velho Mercedes-Benz do Senhor Anginho. Ah! Já ia me esquecendo que nosso instrumento de percussão era simplesmente um chifre. Por sinal, de ótima qualidade!
Mas de uma coisa sempre tive plena convicção. Nossas cabeças estavam muito além da nossa época. (Uns quarenta anos, talvez) Infelizmente, os membros de alguns é que não ajudavam!!!
Tantas e tantas qualidades e apenas este único e fatídico defeito. Único e crucial: ALGUNS, NA ÉPOCA, NÃO TINHAM O DOM MUSICAL. Teria sido ira dos deuses ou conjunções astrológicas inadequadas?
A mãe natureza nos foi fiel em quase tudo, esquecendo apenas deste minúsculo e simples detalhe.
Por qual razão teria ela negado, a algum de nós, o abençoado direito deste imprescindível dom? Esta mesma natureza, de bondosa mesmo, foi só pra sacanear, principalmente quando, no início de tudo, veio nos presentear com um guitarrista solo que, além de não saber afinar uma única corda de guitarra, também, simplesmente, não sabia entrar no tom. Aí também não... Pura apelação!!!! Por sinal, pessoa muito querida, mas, como músico, se tornou um invejável técnico em eletrônica. Abro aqui um parêntese, pois não poderíamos esquecer jamais que tal componente, devido a sua privilegiada e rara inteligência, veio posteriormente e de uma maneira muito além de nossas expectativas, aprender teclado.
Por outro lado, se pensarmos bem, que futuro poderia ter um conjunto que, na época, tinha esta formação: PATETÃO, SERJÃO, GORDA, MAGRELO, BELASQUES E RENES? Uma escalação que daria inveja a muito time de futebol, principalmente se fosse de algum presídio de segurança máxima.
E, por falar em futebol, até isto nós tínhamos. Se bem que, na verdade, só ganhávamos quando jogávamos contra o time dos Vicentinos.
Em outras palavras: algum de nós, na realidade, quando tudo começou, não tinha jeito nenhum pra musica.
De minha parte, tenho a consciência tranquila de que, enquanto na bateria, pelo menos do compasso eu não saía. E já tava bom demais!!!!!
Hoje, nossa terra é merecidamente reconhecida nacionalmente como a cidade dos conjuntos Eldorado e Itaborahy. De músicos do quilate de um Emmerson Nogueira, Kico Furtado, “Serjão Missiaggia” e outros.
Agora eu pergunto:
Alguém conheceu ou já ouviu falar que, em São João, teria existido algum conjunto musical que fosse tão irreverente, sonhador e sobrenatural como o Pitomba??? Fica aí o desafio. NUNCA HOUVE, NÃO HÁ E JAMAIS EXISTIRÁ! Assino embaixo.
Não podemos também esquecer que fizemos contatos “quase” imediatos com um disco voador, digo... Uma Kombi voadora. Fomos peritos em bombas e até uma fantástica aventura poltergaiste tivemos oportunidade de viver: a fábrica.
Dia desses, uma figura querida e hoje um tanto folclórica, o Cabralzão, ao encontrar-me em pleno calçadão, sem nenhuma cerimônia e num tom bastante eufórico, veio logo me dizendo:
- Serjão! Sou um daqueles que viu o Pitomba!!!!!
Por esta e por outras infinitas razões, somos, ou não somos, também merecedores de um pequeno espaço na história cultural da cidade???

Se nascemos mortos, morremos vivos. Tudo se foi e nem mesmo partimos!!!

(Crônica: Serjão Missiaggia, abril 2007)

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