quarta-feira, 18 de abril de 2012

A REVOLUÇÃO PELA INCOMPETÊNCIA

                                                Foto do blog garoas.com


Nesta descida de século, me confundo às vezes, e já nem sei se as ocorrências do dia a dia são fruto de minha crescente ranhetice ou se há mesmo, conforme eu paranoicamente acredito, uma autêntica revolução pela incompetência total.  Vejam só: ligo para a minha operadora de Internet que, para não divulgarmos o nome, chamaremos ficticiamente de Lentox.  Depois de muitas peripécias com um gentil atendente virtual, que faz estranhos barulhinhos, chegamos ao (pelo menos aparente) ser humano:
- Lentox atendimento ao cliente, atendente Britney, em que posso ajudá-lo, senhor?  Confesso que prefiro conversar com o atendente virtual, pois ele é mais dinâmico do que a nossa call(center)girl.  É lógico que não vou retratar aqui todos os diálogos, dignos de um enredo de Kafka, mas, resumindo, eu peço que me remetam um modem grátis que é prometido a quem tem o meu tipo de plano, e ela me diz que eu, por já ser um cliente há mais de dez anos, não tenho direito ao brinde, que é só para clientes novos.  Peço, então, para que ela cancele meu plano, pois assim, eu durmo não-cliente e, no dia seguinte, solicito o plano de volta, desta vez com o brinde prometido.  Ela diz que não vai adiantar porque, quando a auditoria da empresa conferir o meu CPF, vai descobrir que estou tentando, de forma desonesta, me passar por cliente novo, quando sou, na verdade, um cliente (indesejadamente, creio eu) tradicional.  E por aí vamos...
Vou pegar um táxi e o motorista se recusa a fazer o itinerário porque, segundo ele, por trabalhar por quilômetro rodado, a corrida vai ser prejuízo.  Corro, então, para pegar o ônibus, mas o motorista do coletivo, ao me ver correndo feito um louco, fecha rapidamente a porta e sai em disparada.
De carro, então, nem cogito, porque, não sei se vocês viram o ocorrido com a equipe da TV Alterosa, que teve que se ver às voltas com um agente de trânsito desequilibrado que, de bloquinho de multas em punho, passou a “xingar” os repórteres de gay, como se fosse o maior impropério do mundo.  Eu não sei nem se o tal servidor teria qualificação para ser considerado homofóbico.
Mas o que mais me choca, e acredito que seja o principal motivo desse estado de coisas, é uma tendência, muito comum nos meios policiais, de sempre e sempre defender os ofensores, à guisa de estar defendendo os direitos humanos e difundir uma crença, não comprovada, de que os perversos se arrependem, de que os incompetentes merecem mais uma chance e de que os pilantras vão se tornar cidadãos de bem, haja vista a contínua reeleição de políticos enquadrados nestas três características citadas.
Como, além de ranzinza, sou teimoso, vou ao Procon reclamar da minha operadora e, logo que chego, uma pequena confusão está instalada: a primeira atendente saiu para almoçar e ninguém a substituiu e uma senhora reclama que pularam a senha dela.  Esta, muito nervosa, esbraveja: “se nem aqui a coisa funciona, quem poderá nos defender?”
Viro para a minha mulher, que está calmamente sentada naquelas longarinas características desses ambientes, e peço:
- Amor, chama aí, por favor, o Chapolim Colorado!

(Crônica: Jorge Marin)

2 comentários:

  1. Temos no Brasil uma tradição do "coitadismo" (defesa dos coitadinhos ou dos que se passam por) para não ofender ou pressionar os que são incapazes ou têm dificuldades de atingir resultados difíceis. Tudo muito católico, humanista e bonitinho... O problema é que com isso mantemos uma política de nivelar sempre por baixo, nos tornamos cúmplices da incompetência e desmotivamos aqueles que se esforçam para fazer bem feito.

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    1. Creio que isso é um fenômeno mundial, Sylvio. Durante muito tempo, proliferaram ditaduras diversas, tanto políticas quanto eclesiásticas, relegando o povão, a ralé, a uma condição opressiva e degradada, e massacrando as chamadas minorias. Hoje, tenta-se, em curto espaço de tempo, reparar as injustiças, até mesmo por motivos eleitoreiros, mas o que se consegue é criar uma ditadura do oprimido, onde a fraqueza é símbolo de força, a diferença deve ser normatizada e o desviante, descriminalizado. Para atender a um universo tão grande, a mediocridade tem que imperar.

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