sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

CAUSOS INACREDITÁVEIS



CRÔNICAS GALINÁCEAS

O MENINO DONO DO GALINHEIRO

(Roteiro original - Serjão Missiaggia / Adaptação - Jorge Marin)

E, por falar em galinheiro, posso garantir que não haverá papel suficiente para registrar tantas e tantas histórias, ali acontecidas.
O tempo passa e, com ele, muitas lembranças agradáveis vão ficando para trás, felizmente para dar lugar a outras, ainda melhores.
O menino, dono do galinheiro, crescendo a cada dia, faz hoje, do terreiro, seu Maracanã. Nele, batendo sua bolinha, fica a sonhar, quem sabe um dia, ser jogador de futebol.
Missí, como é conhecido, começa a aparecer nos campos da cidade.
Mas, volta e meia, lá está ele abraçando a Galinzinha, sua “penosa preferida” que, por sinal, carinhosamente, veio receber dele mesmo este apelido.
Galinzinha, no auge da menopausa, já não bota um ovo sequer, sendo que o ultimo que havia tentado, foi um Deus nos acuda...
Possivelmente, uma queda súbita de pressão teria motivado esta quase fatalidade! Também, a possibilidade de uma já deficiente elasticidade em seu velho orifício reprodutor não foi uma hipótese de totalmente descartada. Estudamos, na escola, que, nas aves, os dutos provenientes dos rins e das gônadas desembocam, juntamente com a porção terminal do intestino, em uma bolsa chamada "cloaca", a qual se abre para o exterior do corpo. Com o tempo, aprendi a entender este “três em um”, mas confesso que ainda sinto um pouco de pena das penosas.
Enfim, no mês passado, adaptamos uma escadinha, para ajudar Galinzinha alcançar o poleiro. Nossa intenção era que, como não mais aguentava subir ao poleiro, não fosse obrigada a dormir no chão. A coitadinha, com certeza, ficaria a mercê das titicas que o galo arriaria lá de cima.
Ultimamente, passei a usar ração no lugar de milho, tudo para facilitar seu processo de digestão. Eu nunca havia visto galinha engasgar... principalmente com milho. Mas, com a nossa penosa aconteceu...
Uma vez por semana, dou uma removida no chão do galinheiro. Tudo para facilitar seu ciscar. Sabem como é: “Galinha de perna fraca pode ate morrer de fome.”.
Nossa penosa está para completar quase doze anos de idade! Por sinal, a galinha mais velha do mundo, e que consta no Guiness (o livro dos recordes) é uma galinha asiática. Mais um pouquinho, irei pleitear este recorde.
O galinho, também numa possível andropausa (ou gallupausa?), só canta quando se acende a luz, ou alguém está dormindo no quarto de meu irmão. E bem desafinado.
É o único galo do mundo de uma só galinha (acredite se quiser). Só aceita mesmo a velha Galinzinha. Eu nunca havia visto galo fiel, mas no nosso galinheiro tem um. Talvez tenhamos que rever o Dicionário Michaelis que traz, no verbete “galinha”, a definição: “mulher (e às vezes homem) que se entrega facilmente.” Também não entendo este “às vezes”, mas deixa pra lá...
Muito normal também é ver nosso garboso galinho, após calcular erradamente sua decida do poleiro, aterrissar em qualquer lugar, ficando constantemente pendurado, de cabeça para baixo, com aquelas enormes esporas presas na tela de arame. Difícil acreditar, mas este fato não o impede, em nada, de continuar cantando.
Qualquer dia desses, irei retirar aquela placa onde está escrito: LAR DOCE LAR, para substituí-la por:
SILÊNCIO! REPOUSO DE ANIMAIS;
RETIRO DOS EM EMPENADOS;
PARAÍSO DAS MINHOCAS.
Galinzinha, secando no varal, já é coisa do passado. Com a falta de equilíbrio, que ultimamente a tem acometido, fica muito perigoso.
Sexo? Nem pensar! Se ela se agachar, corre o sério perigo de não levantar mais.
De novo mesmo, só um filhote de pardal que anda morando no andar de cima do poleiro.
Há um projeto, tramitando entre quatro paredes, que consiste na doação de metade do galinheiro, para plantação de tomates.
Uma forte resistência, de oposição, já começa tentar embargar o projeto. Tudo na justificativa de que a plantação iria impedir o banho de sol dos empenados. Vamos ver no que vai dar...
Ah... já ia me esquecendo: Este galinheiro já foi até moradia de um Gambá e dois patos. Aguardem, pois ambas as histórias todos vocês conhecerão em breve!
NA SEMANA QUE VEM, não percam! Roberto Carlos, o galo, empoleirado à beira de um ninho.
Saudações galináceas.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

OS FILMES QUE EU VI NO CINE BRASIL


O PODEROSO CHEFÃO
(Comentário - Jorge Marin)

Quem gosta de cinema sabe que os grandes filmes são eternos: a emoção da primeira vez se renova a cada exibição e novos detalhes são revelados. Assistir, de novo “O Poderoso Chefão” é, ao mesmo tempo, um prazer, uma aula de cinema e um ato obrigatório a todo cinéfilo que se preze.
O filme surpreende porque é contado ao contrário. Explico: geralmente os filmes de gangsters ao qual estávamos acostumados, naqueles idos de 1972, mostravam cenas externas de perseguições, tiroteios e hotéis suspeitos. No filme do diretor Francis Ford Coppola, somos jogados diretamente dentro da casa do poderoso chefão, ou do padrinho, como se diz em Portugal, numa tradução mais fiel ao título em inglês. Participamos, como convidados, do casamento da filha de Don Vito Corleone (Marlon Brando), e testemunhamos o vai-e-vem de convidados que vão beijar a mão do padrinho, jurar fidelidade e, às vezes, pedir algum favor, mesmo sabendo que isto implica em ficar em dívida com o Don, o que pode ser bastante perigoso, ou não.
Baseado no livro homônimo de Mario Puzo (que foi também o autor do roteiro, habilmente alterado por Coppola), o filme narra a história da família Corleone, que sabemos mafiosos embora a palavra Máfia não seja mencionada em nenhum momento. A família controla grande parte dos negócios ilegais em Nova Iorque, além de ter em sua folha de pagamento, policiais, delegados, juízes e parlamentares, um hábito que parece ter permanecido em alguns países até os dias de hoje. Don Corleone prepara seu filho Sonny (James Caan) para substituí-lo, pois sempre exige sua presença e lhe repassa todas as informações sobre os negócios. O contrário ocorre com o filho caçula, Michael (Al Pacino), herói da Segunda Guerra Mundial, que vive como civil, mas com uma carreira política sonhada pelo velho pai.
Com o desenrolar da trama, percebemos que o personagem principal do filme é justamente o jovem Michael, que é obrigado a rever seus conceitos a partir da reação das famílias à decisão de Don Corleone, que se posiciona contra a introdução do tráfico de drogas na cidade. Não por acaso, nas duas sequências do filme, é Al Pacino quem aparece nos cartazes. E o curioso é que Al Pacino não era o favorito dos produtores para interpretar o personagem: teve que “derrotar” Jack Nicholson e Dustin Hoffman.
Isto não quer dizer que a atuação de Marlon Brando seja menor. Sua personificação do velho chefe mafioso é memorável. Com as bochechas aumentadas pela maquiagem, sua mandíbula praticamente não se move e, no entanto, ele consegue ser o centro das atenções, apesar da voz meio rouca e asmática. É como se ele fosse uma pessoa que não precisasse falar alto, devido ao respeito naturalmente prestado por todos ao redor. O papel rendeu a Brando o Oscar de melhor ator, prêmio recusado pelo mesmo, que enviou à Academia uma atriz chamada Maria Cruz caracterizada como uma índia americana, com um discurso contra a discriminação que o governo americano fazia aos nativos.
Nos demais papéis, temos Diane Keaton praticamente em início de carreira, interpretando Kay Adams, mulher de Michael, totalmente alheia ao mundo sórdido adotado pelo marido, o que vai render bons conflitos nos próximos filmes da trilogia. Outra atuação magnífica é de James Caan, como o passional Sonny Corleone, violento, mulherengo e perigosamente destemido. Além do difícil papel de Robert Duvall (que trabalharia com Coppola em Apocalypse Now) na pele do advogado da família, Tom Hagen, o consigliere, missão duplamente difícil, tanto pela ilegalidade brutal dos negócios, como pelo temperamento explosivo de Sonny.
A fotografia do filme, de Gordon Willis (o favorito de Woody Allen), é pura arte, com nuances de cores, como no início do filme, onde os tons de marrom avermelhado assemelham-se às primeiras fotos coloridas publicadas por jornais, efeito obtido pelo cineasta por filmar, segundo ele, no horário mágico, pouco antes do crepúsculo do sol. Outro ponto alto é a música de Nino Rota, que dá o clima felliniano ao filme, com o inesquecível tema que nos remete ao que a Itália tem de melhor.
Por falar em Itália, igualmente marcantes são as cenas gravadas na Sicília, bem como: a festa de casamento, o horror do produtor de cinema (a cabeça de cavalo é real), a tentativa de assassinato na barraquinha de frutas, a água saindo do hidrante no espancamento do marido violento e o batizado.
Foram apenas três Oscars (roteiro adaptado, ator e filme), mas são três horas de puro deleite e atenção integral. O filme acaba e ficamos ainda com a sensação, de que necessitaríamos saber mais alguma coisa ainda sobre alguns personagens. Muito das intenções e justificativas só poderão ser conhecidas com a leitura do livro. Mas a maioria das emoções é revelada pelo simples olhar de cada ator, pelos gestos e até mesmo pelo silêncio.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

CAUSOS INACREDITÁVEIS



CRÕNICAS GALINÁCEAS

VALE A PENA VER O OVO

(Roteiro original - Serjão Missiaggia / Adaptação - Jorge Marin / Prefácio - Mika)


Quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha? Esta pergunta filosófica, que tirou, e tem tirado o sono de muita gente, não só vai ser respondida nesta série de crônicas, mas novas questões, mais complexas e profundas, surgirão. A resposta, para quem não sabe, é: nem ovo, nem galinha. Quem veio primeiro foi... o galinheiro. E justamente nesta que pode ser considerada uma verdadeira instituição nacional (quem, com mais de quarenta anos, nunca teve um galinheiro no próprio quintal ou no quintal do vizinho?) é que serão vivenciados os dramas, as aventuras e as desventuras destes bípedes, com penas e sem penas. Aqui começam as crônicas:

PREFÁCIO

ERA UMA VEZ UM GALINHEIRO muito importante. Tão importante que, de nenhum, antes ou depois, se soube tão numerosas histórias. Vivia ele num pequeno quintal que, por sinal, tinha lá também suas histórias, assim como seu dono, um menino esperto, levado, alegre, perguntador, curioso, guloso de coca-cola e muito amigo dos galos e galinhas de pena. A irmã do menino que era dono do galinheiro e dos galos e galinhas de pena, era muito bonita, bonita mesmo! Dessas belezas puras e felizes de se ver. Ela até desfilava para revistas, e todos gostavam de vê-la em sua graça e elegância. Mas o pai da menina, que também era o pai do menino, era muito desconfiado e guardava a menina com muito cuidado, pois sabia que aquela beleza toda e a aquela pureza precisavam de fato de um cuidado muito especial. A mãe da menina que era irmã do menino que era dono do galinheiro e do galo que cantava de madrugada e acordava a prima que chegava de viagem, lá da cidade onde ela morava, e que dormia num quarto perto do galinheiro (mas esta é outra história. São tantas que a gente até se confunde!) mas, como ia dizendo, a mãe já era mais tranquila e ria muito. Ria ou apitava. Não podemos dizer ao certo se era riso ou apito, já que trens por aqueles lados já não passavam há muito tempo, e todos já tinham até se esquecido de como era aquele apito da Maria Fumaça que fumegava fazendo tremer as casas perto de onde passava. Dizem que havia gente que pegava carona nela. Subiam na farra e seguiam até a estação que hoje também é estação, mas não mais da Maria Fumaça que já não existe para tristeza e saudades de muitos. Outro dia, contamos para vocês a história da Maria Fumaça, que também são muitas, como muitas são as sabidas, lembradas e sonhadas lembranças de um tempo bom. Não que este também não seja bom, mas aqueles... Mas voltemos ao galinheiro do menino. Não sei ao certo quando ele foi construído, faço aí uma grave e importante reivindicação aos responsáveis em questão: nada nestes termos foi ainda registrado? Quando se deu sua construção? Quem o construiu, quem ajudou? Se nada ainda se registrou a este respeito, que se faça com urgência, pois algo de tamanha grandeza e de relevância para aqueles que por ali tantos anos foram felizes, se faz necessário. Faz parte da história e esta lacuna não pode existir. Será que alguém ainda se lembra da primeira família de penas que por ali se instalou? Quem cuidou?

NÃO PERCAM, NA PRÓXIMA SEMANA: O MENINO, DONO DO GALINHEIRO, as penosas e seus cacarejos, um galo na andropausa e outras surpresas empenadas.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

QUEM SE LEMBRA DO PAI?




Crônica - Jorge Marin

No final do último Causo Verídico, postado na última sexta-feira, Serjão, ainda emocionado com a realização do filho, lembrou-se do seu pai, o sr. Tuninho Missiaggia. Segundo ele, em texto não publicado, conversando com pessoas da época da juventude do seu pai na década de 30 (como Neca Beraldo, Pedro Caxambu e outros), teve o orgulho de saber que Tuninho Missiaggia teria sido o maior meia esquerda de São João de todos os tempos. A vida esportiva desse craque, que também era um gentleman, tenho certeza que vai ser assunto de uma futura crônica aqui no blog.
A saudade do pai, num momento de realização do filho, traz à tona a questão desta instituição, hoje tão fora de moda, tão pouco valorizada, que é o pai. Pai, na década de 30, era uma verdadeira força da natureza. Pablo Neruda descreve seu pai, dizendo: “numa rajada o vento entrava com meu pai, e entre os dois passos e pressões, a casa estremecia.”
Quando éramos crianças, as referências ao pai eram sempre respeitosas, como Papai Sabe Tudo, Pai Herói, Pai Nosso. Tínhamos o orgulho de mostrar aos nossos amigos (“aquele é meu pai!”) e, de certa forma, nunca nos sentíamos desamparados, pois, voltando para casa, sempre havia aquela presença maciça, imponente, definitiva. Crescíamos e era o pai que nos barbeava pela primeira vez.
Para as meninas não era diferente: a figura paterna era um ideal de homem. Falavam baixo na sua presença e, quando em bando com suas colegas, planejavam alguma aventura mais ousada, era comum se ouvir: “não posso, meu pai não deixa.”
E, realmente, a palavra paterna era uma palavra de ordem. “Não” era “não” mesmo, e não tinha choro nem vela que mudasse seu veredicto.
O mais estranho é que, apesar disto, era bom! O pai era absoluto, mas não absolutista, sabia dar ordens, impor limites, mas, ao mesmo tempo, era uma pessoa do bem. Trabalhador, honesto, bom marido, dedicado. Estes eram os adjetivos que se aplicava à maioria dos pais. Não havia muita preocupação sobre a situação financeira, formação acadêmica ou mesmo sucesso profissional.
Um pai era... um pai. Isso bastava. Havia, dentro das casas, um código não escrito que deixava claro que aquele homem (na época os pais eram apenas homens) era o provedor, o responsável pelo sustento da família, e também a pessoa a qual devíamos obediência e respeito. Um norte, um porto seguro e um exemplo de vida.
Lógico que nem todos os pais eram tudo isso, e também não há nestas afirmações nenhum saudosismo. Eram outros tempos. Tempos difíceis, mas, estranhamente, mais fáceis de serem vividos. Obedecíamos às ordens sem questionar, mas sabíamos o que nossos pais esperavam de nós. Quase ia dizendo que não éramos livres, mas brincávamos na rua o dia inteiro, passeávamos na casa dos parentes e amigos, namorávamos à noite nos jardins e fazíamos serenatas nas madrugadas. A única obrigação era avisar: sua benção, pai! Vai com Deus, meu filho!
Hoje colocamos a culpa na política, na mídia, na emancipação feminina, mas a verdade é que cada um de nós, pais atuais, nos encarregamos de esculhambar um pouco a figura paterna: seja por simples omissão, ou por querer concorrer com nossos filhos, ou por pura preguiça. O fato é que uma grande quantidade de famílias em nosso país é chefiada pelos avôs, que são aqueles pais “antigos”. Uma outra parte é chefiada pelas mães que, aliás, cumprem por vezes muito bem a função paterna.
Mas o pai não precisa ser assim este zero à esquerda, ou este estepe de mãe. Voltando à crônica do Serjão, notamos que, para ser pai, mas um pai “daqueles”, digno de respeito, obediência (não precisa ser tão cega) e imitação, basta acompanhar o filho, não por culpa ou por obrigação, mas por respeito mútuo, admiração mútua e confiança. Precisamos resgatar esta função pai, ainda que seja apenas aqui na terra! E lembrar, sempre que possível, daqueles belos exemplos que estão no Céu...

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

UM CAUSO VERÍDICO



HAJA CORAÇÃO!

Depoimento: Serjão Missiaggia

Hoje é domingo 18 de fevereiro de 2009.
E lá vamos nós, mais uma vez, subir o morro da Igreja do Rosário com destino ao campo do Operário. É dia da tão esperada decisão do segundo torneio interestadual de futebol de base de São João Nepomuceno, onde 44 equipes, de cinco estados, se fazem presentes.
O dia amanheceu bastante nublado e com uma temperatura bem amena, possivelmente em decorrência de muita chuva ocorrida no dia anterior.
Saímos de casa, Dorinha e eu, por volta das 9:30 da manhã e, assim como Matheus, bastante desgastados com a sequência de jogos que já vinham acontecendo ao longo da semana. Foram partidas todos os dias e sempre em horários diferentes. Isto para não falar da variação de tempo e temperatura, que sempre acontece na cidade nesta época do ano. Extremo calor e sol dão lugar, de uma hora para outra, a muita chuva e vento.
Então, após colocar meu uniforme da sorte e tomar um bom café, seguimos com destino ao campo. E, por falar em uniforme da sorte, não que eu seja supersticioso, mas, após a primeira vitória, não mais o tirei: calção verde, camiseta azul, tênis preto, meias brancas e minha maltratada cueca listrada.
Neste dia, por sorte, antes mesmo de começarmos a subir o morro, pegamos uma bela carona de carro com o Nica.
Ao chegarmos ao campo, e como primeiro impacto, observamos de imediato não haver um único lugar para estacionar. Casa lotada como jamais havia visto.
Muitos políticos, ex-atletas, olheiros, pais estressados, sonorização ao vivo. Enfim: palco perfeito para um belo espetáculo.
Uma velha mochila abastecida com água mineral, biscoitos, torradas e até uma pequena sombrinha nos fizeram companhia neste dia.
Já dentro do estádio, sentamos num banco de madeira, que se encontrava sobre a sombra de uma árvore posicionada bem à direita de quem entra. Uma simpática senhora, que acompanhava seu neto no pré-mirim, nos fez companhia neste jogo. Por sinal, pessoa que não parava um só minuto de falar, enquanto comia quase toda nossa torrada.
O excelente gramado do Operário, pela primeira vez, estava extremamente pesado. As constantes chuvas e o excesso de jogos, às vezes até cinco no mesmo dia, muito o maltrataram.
Matheus, neste momento, estava dando sua primeira entrevista como jogador ao locutor da Radio Difusora Kibil.
E começa o jogo.
A pressão de nosso time foi total e, já nos primeiros minutos, percebia-se nitidamente uma superioridade bem grande. Jogo super-truncado. O adversário já demonstrava, desde o começo, a intenção de levar a decisão para os pênaltis.
O tempo foi passando e, a cada lance, íamos perdendo gols incríveis. Matheus, com muita personalidade, procurava, como sempre, ditar o ritmo de jogo.
Já quase terminando a primeira etapa, eis que passa por nós meu primo Biel. De imediato, logo que chegou ao nosso encontro, procurei mostrar-lhe o Matheus. Seu orgulho e entusiasmo foram imensos pois, afinal de contas, estava logo ali, dentro do campo, um genuíno representante da linhagem dos Verardos. Com aquela euforia, bem ao estilo Gaby, brincava anunciando a chegada de um novo Heleno de Freitas.
E assim terminaria o primeiro tempo, carregando, para segunda etapa, muita expectativa, tanto dentro como fora de campo.
Recomeçando o jogo pouca coisa mudou e nosso time continuava a pressionar o adversário.
A expectativa aumentava em cada lance e gol perdido.
Matheus, agora ainda bem mais marcado, tentava de todas as formas empurrar o time pra frente.
Uma ligeira dor de cabeça começava dar seus primeiros sinais de boas-vindas, enquanto Dorinha, com um guardanapo, tentava em vão aliviar sua bendita alergia emocional na mão esquerda.
Minhas pernas e joelhos também começaram a reclamar em circunstância dos constantes sentas, levantas e subidas no banco para, ora descansar, ou poder visualizar melhor o jogo.
Já na metade do segundo tempo, o time adversário, vislumbrando a possibilidade de segurar o empate, começou a truncar ainda mais o jogo.
Dorinha, nesta altura do campeonato, além de não mais se levantar do banco, mal dirigia um olhar para o lado do campo. Seu nervosismo era visível.
Enquanto a dor de cabeça cada vez mais me incomodava, Dorinha, desesperadamente, não parava um só minuto de coçar sua alergia na mão.
Comecei, neste momento, a pensar seriamente na possibilidade de uma prorrogação ou mesmo de irmos para os pênaltis. O que será de nós? Pensava!
Enquanto os minutos finais se aproximavam, uma nuvem bem carregada no céu começou prometer uma forte tempestade.
Já quase na última volta do ponteiro, um tanto esgotado, me dei por vencido e sentei-me de vez com Dorinha no banco. E a danada da “veia”só comendo minha torrada.
Minha visão do campo ficou restrita a apenas algumas pequenas brechas entre as pernas daquela multidão que estava em pé no alambrado bem a nossa frente. Também desta forma, somente visualizávamos a faixa do campo em que nosso time atacava. Na realidade, uma inocente estratégia que, certamente, nos pouparia energia naqueles angustiantes minutos finais.
O treinador Marco Aurélio já nem mais se fazia escutar, pois, de tão rouco, se limitava apenas a correr de um lado ao outro do campo.
E para complicar ainda mais as coisas, nosso massagista sr. Cícero estava, neste dia, meio adoentado. Sentado sob a sombra de uma árvore, pedia a Deus para que ninguém se machucasse.
Tirica, nosso auxiliar técnico, após acender seu centésimo cigarro, dirigiu-se para a porta do vestiário e, “de rabo de olho”, ficou ao longe, acompanhando os minutos finais.
E começara a ultima volta do ponteiro.
Dorinha pediu uma luz à Nossa Senhora, para que lhe mostrasse alguma coisa que pudesse convencê-la de que tudo aquilo não estaria sendo em vão.
Na minha cabeça, não sei por quê, veio a lembrança do velho pai. Quanto orgulho estaria ele sentindo ao ver o neto jogar o esporte que ele tanto amava e que, por tantas e tantas vezes, foi até mesmo impedido de praticar.
Imediatamente, uma vibração, com pulos de alegria, tomou conta de todo o estádio. Sem mesmo ver o que estava acontecendo, também me levantei do banco e gritei de alegria, pois tinha a certeza que era nosso time que estava atacando naquele lado do gramado.
Dorinha, se levantando mais que depressa, não parava de gritar: É do Matheus... É do Matheus... É do Matheus...
Após subir imediatamente no banco, é que pude observá-lo vibrando como nunca. Enquanto corria como louco, beijando o escudo da camisa, era sufocado por todos os jogadores. Quanta emoção!
Não tive a felicidade de ver o gol, mas pude presenciar e sentir a vibração e a alegria daquela imensa torcida. Além, é claro, da sensação de ter tirado um gigantesco trator das minhas costas.
Biel, de imediato, logo após o gol, retornou até junto de nós com outras pessoas. Muitos abraços e apertos de mãos. Na oportunidade, confessei a ele que somente viria em jogos desta natureza após engolir um Lexotan de 6mg ou, pelo menos, depois de tomar umas duas garrafas de cervejas. Herdeiro do velho e saudoso tio Gaby não sabia mais o que falar de tanto elogiar. Fez-me prometer que teria que avisá-lo sempre que houvesse jogos, pois faria questão de nos acompanhar fosse aonde fosse. Na condição de primo, e de atuante vereador que é, disse-nos que poderíamos sempre contar com ele no que fosse preciso.
Infelizmente, uma briga generalizada veio acontecer logo após, no jogo do juvenil. De certa forma, este fato tirou um pouco da graça daquela garotada do infantil que estava, naquele momento, se preparando para receber a taça e suas medalhas.
Retornamos para casa às quatro da tarde. E que ressaca! Parecia que estávamos chegando de uma noite de carnaval.
Enfim valeu muito. E como!

E que venham outras...

Por último, um breve comentário:

Fico muito feliz e orgulhoso quando os elogios que são atribuídos ao Matheus são sempre acompanhados de lembranças e referências aos Verardos que, no passado, foram bons jogadores de futebol. Sinto apenas que, em São João, e mesmo no meio daquela multidão de quase 2.000 mil pessoas, não houvesse uma única alma viva que tivesse visto, ou mesmo ouvido falar, no talento de nosso velho pai.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

PYTOMBA NA OREIA



A NIGHT AT THE OPERA - QUEEN
(Comentário - Jorge Marin)

Era um tempo em que ouvir o último LP da sua banda favorita (a gente chamava de “conjunto”) não era tão fácil quanto hoje. Por isso, era comum que os fanáticos por música se encontrassem, se visitassem, ou até mesmo, tão logo comprassem seus LPs em Juiz de Fora, levassem no Rubro Bar, ou no Bar Xodó, para todos conhecerem aquele novo trabalho.
Numa dessas visitas, fui até a casa do Veroaldinho, que dividia comigo a coluna de crítica de música no jornal “Novidade”, apreciar o trabalho de um conjunto, então desconhecido para nós: era o Queen. O Verô, com todo seu conhecimento musical, ainda destacava que aquele (A Night At The Opera), não era o primeiro trabalho do grupo, que já havia lançado “Queen”, “Queen II” e “Sheer Heart Attack”, mas, naquele tempo, era o ano de 1975, os lançamentos internacionais não ocorriam simultaneamente no mundo inteiro, como ocorrem hoje.
O LP, de capa branca, com o brasão inspirado na Família Real Britânica, tinha um ar imponente, um título inspirado numa comédia dos Irmãos Marx de 1935, e um aviso, que parecia o anúncio de uma grande vantagem: “No Synthesisers”. Sem sintetizadores. Pensamos: ih, se o disco for bom, Rick Wakeman, Keith Emerson e Richard Wright vão ficar desempregados!
Mas foi quando o disco começou a tocar, que o bicho pegou, pois ficamos totalmente fascinados com os arranjos, os efeitos em estéreo, a guitarra de Brian May e a voz inesquecível de Freddie Mercury.
A Night At The Opera tem início com um piano tipo ópera misturado com um som espacial, explodindo na guitarra rascante de Brian May. A música – Death on two legs (Mercury) apresenta o cantor Freddie Mercury ao piano, num fantástico diálogo vocal com May e Taylor, onde as vozes, sobrepostas, num recursos chamado overdub, se assemelham a um coral. A música é uma crítica ao empresário do grupo na época, afastado pelo que os britânicos chamam de “conduta financeira condenável”, o nosso popular 171.
Lazing on a Sunday afternoon (também de Mercury) começa num clima retrô, meio vaudevile, onde o autor canta com uma voz modificada, como se fosse um antigo disco de 78 r.p.m. A música é curtinha, quase uma vinheta, e emenda com I’m love with my car (Taylor), cantada pelo próprio autor, e enriquecida pelo som de guitarras em overdrive com uma letra não muito politicamente correta (“Falei com minha garota que eu já esqueci dela, é melhor comprar um carburador novo.”).
O baixista John Deacon canta a próxima música, You’re my best friend, de sua autoria, iniciada com um piano elétrico também tocado por ele, e com uma letra apaixonada, culminando com a guitarra Guild de Brian May. Este é o autor e canta também a música seguinte, “39”, além de tocar violão, acompanhado por um grande contrabaixo de orquestra tocado por Deacon e a percussão feita apenas com bumbo e pandeiro por Taylor. Aqui os backing vocals são mais simples, combinando com a letra cujo melhor adjetivo para caracterizá-la talvez fosse singela, contando a história de voluntários que partiram num navio “em direção à manhã azul e ensolarada”.
As duas músicas finais do lado A são cantadas por Mercury: a primeira (de May), Sweet Lady, é um rock clássico com guitarra, baixo e bateria compondo com o vocal, e a segunda música Seaside rendezvous, também pequena, de autoria de Mercury, onde um piano se destaca em meio a arranjos vocais de Taylor e Mercury, imitando instrumentos de sopro, seguindo a linha de Lazing on a Sunday afternoon.
A primeira música do lado B, The prophet’s song tem início com silêncio e ruídos de vento, até que surge o som de um instrumento japonês de brinquedo, o koto, tocado por May. Este também é o autor da música, que tem uma letra fantástica, meio apocalíptica. Aqui, de novo, durante os 8 minutos da canção, voltam os vocais em overdub, preparando o ouvinte, “profeticamente”, para o grande final do disco.
Em seguida, uma música que se tornou campeã no Brasil, Love of my life (Mercury), cantada pelo mesmo, com uma letra melosa, e a gente nem imaginava que a pessoa para a qual ele dedicava tanto amor se chamava Jim Hutton, um bigodudo tranquilo que faleceu no início deste ano. Depois, composta e cantada por May, vem Good Company, onde este excelente músico imita uma jazz band na guitarra e ainda toca o ukelele havaiano, um primo do nosso cavaquinho.
O disco se encerra com, nada mais nada menos, do que aquela que é considerada a melhor música do século, Bohemian Rhapsody. A música é show do princípio ao fim, começando com o piano característico e culminando com a ópera cantada por Mercury, May e Taylor. O curioso é que nos deliciávamos com a música, e a maioria de nós não sabia Inglês, achando muito tocante os versos: “Mamãe, acabei de matar um homem, pus a arma na cabeça dele, puxei o gatilho e ele agora está morto”. Apesar disto, esta tragédia é cercada de brincadeiras e firulas vocais, onde os instrumentos são precisos e o resultado incomparável.
Há ainda uma vinheta final, com o hino inglês, God save the Queen, nos convidando a ficar de pé. E aplaudir.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

CAUSOS INACREDITÁVEIS



O MITO - CAPÍTULO FINAL
(Roteiro original - Sérgio Missiaggia / Adaptação - Jorge Marin)

Na semana passada, em Rio Novo, um cenário de circo romano: Pimentinha, o gladiador, estava frente a frente com o goleiro do time local. Era como se o próprio imperador tivesse feito aquele gesto característico, com o polegar para baixo, ordenando a execução do sujeito. A torcida vaiava, mas sabia que não tinha mais jeito: ali estava o temido matador, importado diretamente do Rio de Janeiro. Até que um silêncio sepulcral se abateu sobre todo o estádio. Nuvens encobriram o céu. Era chegada a hora.
Contam os mais antigos que, momentos antes da cobrança da penalidade, ninguém se mexia e muito menos piscava um único olho. Todos estáticos e ansiosos aguardavam pelo petardo fulminante que, com certeza, logo viria. “Possivelmente um verdadeiro V-2”, diziam, referindo-se ao famoso míssil balístico alemão utilizado contra alvos britânicos e belgas, naqueles tempos de guerra.
Muitos torcedores e amigos do acuado, e não menos assustado goleiro, chegaram, até mesmo, a temer pela sua integridade física. Teve até membro de sua família que, após se posicionar despistadamente atrás do gol, ficava a suplicar-lhe insistentemente que simulasse uma contusão e se mandasse dali. E o mais rápido possível! Segundo laudos de arquivos, suas pernas tremiam mais que vara verde. (Antes e depois da cobrança).
Por fim, e merecidamente, se tornaria também ele, uma celebridade. Entrou na história por ter sido o único goleiro do mundo a defender uma penalidade sem mesmo precisar da bola.

Mas, voltando à fatalidade, digo... à penalidade, quem em sã consciência, ou mesmo o mais vidente dos videntes, poderia pressupor que este ser do outro planeta entraria andando em campo para, em segundos, sair carregado? E o que é pior: jogado nas costas igual a um saco de batatas. E, ainda mais triste: deixando para trás uma imensa nuvem de cal e sem pelo menos ter encostado uma única trava da chuteira na bola. (Há controvérsias!) Para os mais místicos, simplesmente: fenomenal, mágico, iluminado ou mesmo sobrenatural. Para outros, tudo não teria passado de uma discreta fatalidade. Para alguns poucos, entre os quais eu me incluo, diria: absolutamente fantástico! Isso pra não dizer: estupidamente engraçado! De qualquer forma, há sempre males que vem pra bem, pois foi a partir deste episódio, que São João Nepomuceno, berço natal do glorioso Heleno de Freitas, pôde, mais uma vez, entregar ao mundo mais um fenômeno.
Acho até que, na época, deveriam ter colocado na marca do pênalti uma placa alusiva ao grande feito. Seria com os seguintes dizeres e, de preferência, bem ao lado da suposta cratera:
“AQUI PISOU PIMENTA”.
Também acharia muito válido que se erguesse um enorme busto em alguma praça central da cidade, com alguns dizeres tipo assim:
“PIMENTINHA, JÁ NÃO MAIS SE ENCONTRA ENTRE NÓS, MAS O SEU LEGADO CONTINUA LÁ”. O buraco.
Pelo menos, o pobre coitado ficaria eternizado pelas gerações futuras!
Uma história como esta seria impensável nos dias de hoje, quando a mídia constroi a fama de jogadores (“enche a bola”, como se diz) para, em seguida, eles próprios se encarregarem de ter revelada sua mediocridade. Há casos também de verdadeiros artistas da bola que, negociados com clubes do exterior, acabam tremendo nas bases, muitas vezes justificadamente, sob uma nevasca de 10 graus negativos.
Isto é, uma causo como esse seria uma coisa corriqueira nos dias de hoje, mas, naquele tempo, época de honra e de palavra dada, tinha mais é que ficar mesmo, como ficou, nos anais da história do nosso balípodo municipal.

Pra terminar, diria que o tempo e o espaço não foram generosos comigo. Infelizmente, serei mais um daqueles a dizer: “Eu não estava lá”.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

OS FILMES QUE EU (NÃO) VI NO CINE BRASIL


AVATAR
(Comentário - Jorge Marin)

Ao assistir Avatar, a primeira impressão que se tem é de estar diante de uma experiência nova. Embora a cópia que vi não estivesse em 3D, percebe-se que nunca antes se foi tão longe em termo de computação gráfica. Aquela preocupação que muita gente teve no final do ano (“e se eu ganhar na Mega-sena da virada?”), não é problema para o diretor James Cameron que gastou, nesta produção, quase quatro vezes o valor do milionário prêmio. O resultado compensou, já que o filme já arrecadou cerca de um bilhão de dólares desde o seu lançamento.
É um filme que está destinado a se transformar num cult, com toda a parafernália que, nos dias atuais, este tipo de filme gera: brinquedos, games, dialetos, novos superstars, indicações ao Oscar e tantos outros.
A estória começa no ano de 2154 e relata uma missão das Forças Armadas americanas a uma lua do tamanho de nosso planeta – chamada de Pandora – em busca de um minério que a Terra precisa com muita urgência. O nome não é por acaso: Pandora, para quem se esqueceu das lições de mitologia grega, é a primeira mulher, criada em nome de Zeus, cuja tradução significa “a que tudo dá” ou “a que possui tudo”.
Outro nome curioso é o do minério do qual a Terra tão desesperadamente necessita – unobtenium. Será que, no futuro, nossa busca desenfreada por bens materiais nos levará ao infinito para buscar, literalmente, aquilo que não se pode obter?
Pandora é um grande ecossistema, formado por uma gigantesca floresta tropical, habitada pelos pacíficos Navis, uma tribo de gigantes esguios, de pele azul e olhos dourados, com cerca de 4 metros de altura. Para interagir com o meio-ambiente, onde a própria atmosfera é hostil aos humanos, são criados os avatares, réplicas dos nativos, criados organicamente, porém controlados mentalmente pelos humanos em câmaras semelhantes àquelas de bronzeamento artificial.
O herói, Jake Sully (Sam Worthington), um recruta paraplégico, é chamado a operar um desses avatares por puro acaso, já que seu irmão gêmeo, treinado para o cargo, morre na viagem a Pandora, o que torna seu avatar compatível apenas com uma pessoa que tiver o DNA semelhante. A missão, a princípio, não oferece nenhum risco já que, se o avatar for destruído, teoricamente nada ocorre com seu operador.
Jake começa sua missão transitando entre o papel de cientista iniciante e informante dos militares, representados pelo violento Coronel Miles Quaritch (Stephen Lang), que comanda um arsenal digno de uma guerra inter-galática, inexplicável para encarar uma tribo que, apesar da estatura, habita uma árvore gigantesca, e se utiliza de arco e flecha para defesa.
A jornada de Jake é complicada, uma vez que, quando seu avatar dorme, ele acorda dentro da câmara, para cumprir sua verdadeira missão. E a coisa piora ainda mais quando ele é salvo pela princesa Neytiri (Zoe Saldana) e passa a conviver diariamente com os Navis.
Esta tribo, inspirada pelos nativos americanos, tem um comportamento muito semelhante a várias outras já vistas por nós nas sessões da tarde da vida, como no filme Atlantis e tantos outros. Eles conhecem a fundo seu planeta, vivem em harmonia com a natureza e interagem com as demais criaturas viventes, domando alguns animais para carregá-los, inclusive os irascíveis dragões voadores. É lógico que esta também é uma iniciação obrigatória para Jake Sully, e o resultado é uma das cenas mais belas do filme.
Avatar emprega um upgrade, mais um, de efeitos especiais. A computação gráfica se utiliza da chamada “motion capture”, utilizada em filmes como Bewoulf, mas que adquire, neste caso, uma mobilidade e uma leveza nunca vistas. A princesa Neytiri chega até a ser sexy, mesmo com a altura de duas jogadoras chinesas de basquete e sua enorme cauda.
Apesar dos seus 163 minutos de duração, o filme não parece longo, pois, assim como a trama da vegetação, a trama das estórias também é complexa: há um segredo que embala toda a estrutura planetária, com suas formas de vida inverossímeis, e, ainda assim belas, como um curioso cruzamento de dente-de-leão com água-viva.
Há ainda as inevitáveis, mas aqui plenamente justificadas, cenas de ação, quando Jake se junta às tribos para resistir aos violentos avanços dos humanos. Sem esquecer a interpretação sempre convincente de Sigourney Weaver, no papel da Dra. Grace, que procura humanizar a missão humana, mas acaba, também ela, arrastada pelos interesses financeiros e militares.
Uma coisa que fica, depois de assistirmos Avatar é o dilema de Jake, que é o mesmo dilema de cada um de nós, internautas: ao ressurgir num outro ambiente – que, no caso dele, não é totalmente virtual – qual personalidade preferimos adotar, a do recruta aleijado e despreparado ou a do gigante guerreiro amante da filha do rei? Acho que, com a Internet, fomos todos pra Pasárgada, esta “Pandora” criada há tempos por Manoel Bandeira, onde “a vida é uma aventura” e “tenho a mulher que eu quero, na cama que escolherei.”

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

CAUSOS INACREDITÁVEIS



O MITO
(Roteiro original - Serjão Missiaggia / Adaptação - Jorge Marin)

Sabem de uma coisa? Confesso a vocês que, por várias vezes, viajei com o pensamento no tempo, só pra tentar reviver e reconstituir esta famosa história.
Segundo me consta, tudo teria acontecido numa memorável partida de futebol onde nosso saudoso Pimentinha teria se tornado o grande protagonista.
Acredite quem quiser, mas, na oportunidade, o referido conterrâneo, ao tentar bater uma penalidade, teria bisonhamente perdido a cobrança. Até ai nada demais, se não fosse pelo mero detalhe, de também ter errado o chute e, consequentemente, cavado um imenso buraco no gramado. E, o que ainda pior: depois de simplesmente ter errado a bola e... destroncado o dedão do pé.
Reza a lenda que este folclórico episódio veio acontecer na cidade de Rio Novo lá pelos idos da década de 40. Na oportunidade, jogavam 15 de Novembro e o Botafogo de São João, então um clube jovem (pois foi fundado em 1937).
A narração de um jogo de futebol, naquele tempo, mais parecia uma aula de inglês, pois, além do goquipa (goal keeper, o goleiro), tínhamos os beques (backs, chamados depois de zagueiros), os alfes, direito e esquerdo, o centeralfe, mais o centerfor (centerforward, ou centro-avante). Durante os matches (partidas), aconteciam os fisaides (offsides, ou impedimentos), e também os corni (corners, ou escanteios).
Naquele tempo, era comum os times jogarem sem uniforme (fardamento) apropriado e descalços ou com botinas. Quando existiam uniformes, estes eram grossos e incômodos, com calções enormes, camisas de mangas compridas, gorros e caneleiras. Imaginem que São João já era uma cidade quente naquele tempo. Na maioria das traves ainda não havia rede, o que causava grande polêmica entre jogadores e árbitros. A bola do jogo era conhecida como “capotão”, com “câmara de ar” que, depois de cheia, era costurada com tiras de couro e nem sempre era rigorosamente redonda. Já pensaram o que era dar uma cabeçada num daqueles “tentos” (costuras) da bola?
Era este o cenário da nossa estória: os jogos de futebol, chamados apropriadamente de “combates” pareciam uma verdadeira guerra, com prevalência da força física e sem técnica alguma. Era o chamado jogo viril, onde eram válidas as caneladas, as trombadas, os carrinhos e várias botinadas, onde sobrava pancada até para o juiz.
O craque da hora era Heleno de Freitas, nosso conterrâneo que jogava no Botafogo do Rio, considerado um dos craques mais elegantes, e também um dos mais temperamentais de todos os tempos.
Em Rio Novo, a semana antecedia a final do campeonato regional e o pequeno estádio do 15 de Novembro acolhia quase toda população rionovense.
A grande verdade, e que poucos ficariam sabendo, era que toda esta confusão, sorrateiramente, já vinha sendo detonada alguns dias antes da decisão. Por sinal, motivo principal de ter o moral dos torcedores locais se abatido tanto.
Segundo alguns historiadores, tudo teria começado quando, na ocasião, espalhou-se uma notícia em Rio Novo, dando conta de que o referido clube de nossa cidade havia contratado um baita jogador. Seria, nada mais nada menos, que um famoso profissional pertencente a uma das quatro grandes equipes de futebol do Rio de Janeiro.
Na realidade, tudo não passava de um blefe, pois o que teria verdadeiramente acontecido seria a grave contusão do melhor atacante do time sanjoanense. E o que é pior: juntamente com seu reserva. Ainda pior ainda: o jogador da regra três, por incrível que pareça, teria sido flagrado como réu confesso, em várias ocasiões, dizendo em alto e bom som que não era lá muito chegado a essas coisas de futebol; vivia era mesmo sonhando com a possibilidade de um dia se tornar um grande jogador de basquete.
A notícia desta mega-contratação que, propositadamente, havia sido divulgada em Rio Novo, teria sido a mando de um dirigente sanjoanense. Tudo com intuito de intimidar e desestabilizar psicologicamente a equipe do 15 de Novembro. E foi o que aconteceu.
Segundo relatos de pessoas da época, este suposto e simulado vazamento de informação veio cair como uma bomba sobre os rionovenses. Para eles, era tudo ou nada. O grande jogo da década e da vida deles.

Voltemos então, mais um pouco, com minha viagem no tempo:
De imediato, pude sentir toda a ansiedade daquele povo ante a aparição do super-craque, pois, como todo imortal que se preze, sua chegada foi antecedida por uma terrível expectativa. Sua recepção de boas-vindas, como não poderia deixar de ser, estava recheada de incógnitas e pavor. Afinal de contas, estaria logo ali, de carne e osso, a tão esperada e decantada arma secreta da cidade vizinha.
Coitado do Pimentinha! Também fico sempre a imaginar como teria sido sua entrada em campo: passadas largas, porte elegante, pinta de superior e ares de campeão. O mais temido dos adversários. Uma verdadeira máquina de fazer gols. Um autêntico guerreiro, trazendo para si a responsabilidade da grande decisão.
Por outro lado: persona non grata. Figura extremamente temida. Um algoz nato.
Como uma pessoa tão odiada e, ao mesmo tempo, tão temida, iria se portar em campo?
Não percam, na próxima semana, a batalha tão esperada, e o famoso pênalti.

BRIGADU, GENTE!

BRIGADU, GENTE!
VOLTEM SEMPRE, ESTAMOS ESPERANDO... NO MURINHO DO ADIL