quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

PYTOMBA NA OREIA



A NIGHT AT THE OPERA - QUEEN
(Comentário - Jorge Marin)

Era um tempo em que ouvir o último LP da sua banda favorita (a gente chamava de “conjunto”) não era tão fácil quanto hoje. Por isso, era comum que os fanáticos por música se encontrassem, se visitassem, ou até mesmo, tão logo comprassem seus LPs em Juiz de Fora, levassem no Rubro Bar, ou no Bar Xodó, para todos conhecerem aquele novo trabalho.
Numa dessas visitas, fui até a casa do Veroaldinho, que dividia comigo a coluna de crítica de música no jornal “Novidade”, apreciar o trabalho de um conjunto, então desconhecido para nós: era o Queen. O Verô, com todo seu conhecimento musical, ainda destacava que aquele (A Night At The Opera), não era o primeiro trabalho do grupo, que já havia lançado “Queen”, “Queen II” e “Sheer Heart Attack”, mas, naquele tempo, era o ano de 1975, os lançamentos internacionais não ocorriam simultaneamente no mundo inteiro, como ocorrem hoje.
O LP, de capa branca, com o brasão inspirado na Família Real Britânica, tinha um ar imponente, um título inspirado numa comédia dos Irmãos Marx de 1935, e um aviso, que parecia o anúncio de uma grande vantagem: “No Synthesisers”. Sem sintetizadores. Pensamos: ih, se o disco for bom, Rick Wakeman, Keith Emerson e Richard Wright vão ficar desempregados!
Mas foi quando o disco começou a tocar, que o bicho pegou, pois ficamos totalmente fascinados com os arranjos, os efeitos em estéreo, a guitarra de Brian May e a voz inesquecível de Freddie Mercury.
A Night At The Opera tem início com um piano tipo ópera misturado com um som espacial, explodindo na guitarra rascante de Brian May. A música – Death on two legs (Mercury) apresenta o cantor Freddie Mercury ao piano, num fantástico diálogo vocal com May e Taylor, onde as vozes, sobrepostas, num recursos chamado overdub, se assemelham a um coral. A música é uma crítica ao empresário do grupo na época, afastado pelo que os britânicos chamam de “conduta financeira condenável”, o nosso popular 171.
Lazing on a Sunday afternoon (também de Mercury) começa num clima retrô, meio vaudevile, onde o autor canta com uma voz modificada, como se fosse um antigo disco de 78 r.p.m. A música é curtinha, quase uma vinheta, e emenda com I’m love with my car (Taylor), cantada pelo próprio autor, e enriquecida pelo som de guitarras em overdrive com uma letra não muito politicamente correta (“Falei com minha garota que eu já esqueci dela, é melhor comprar um carburador novo.”).
O baixista John Deacon canta a próxima música, You’re my best friend, de sua autoria, iniciada com um piano elétrico também tocado por ele, e com uma letra apaixonada, culminando com a guitarra Guild de Brian May. Este é o autor e canta também a música seguinte, “39”, além de tocar violão, acompanhado por um grande contrabaixo de orquestra tocado por Deacon e a percussão feita apenas com bumbo e pandeiro por Taylor. Aqui os backing vocals são mais simples, combinando com a letra cujo melhor adjetivo para caracterizá-la talvez fosse singela, contando a história de voluntários que partiram num navio “em direção à manhã azul e ensolarada”.
As duas músicas finais do lado A são cantadas por Mercury: a primeira (de May), Sweet Lady, é um rock clássico com guitarra, baixo e bateria compondo com o vocal, e a segunda música Seaside rendezvous, também pequena, de autoria de Mercury, onde um piano se destaca em meio a arranjos vocais de Taylor e Mercury, imitando instrumentos de sopro, seguindo a linha de Lazing on a Sunday afternoon.
A primeira música do lado B, The prophet’s song tem início com silêncio e ruídos de vento, até que surge o som de um instrumento japonês de brinquedo, o koto, tocado por May. Este também é o autor da música, que tem uma letra fantástica, meio apocalíptica. Aqui, de novo, durante os 8 minutos da canção, voltam os vocais em overdub, preparando o ouvinte, “profeticamente”, para o grande final do disco.
Em seguida, uma música que se tornou campeã no Brasil, Love of my life (Mercury), cantada pelo mesmo, com uma letra melosa, e a gente nem imaginava que a pessoa para a qual ele dedicava tanto amor se chamava Jim Hutton, um bigodudo tranquilo que faleceu no início deste ano. Depois, composta e cantada por May, vem Good Company, onde este excelente músico imita uma jazz band na guitarra e ainda toca o ukelele havaiano, um primo do nosso cavaquinho.
O disco se encerra com, nada mais nada menos, do que aquela que é considerada a melhor música do século, Bohemian Rhapsody. A música é show do princípio ao fim, começando com o piano característico e culminando com a ópera cantada por Mercury, May e Taylor. O curioso é que nos deliciávamos com a música, e a maioria de nós não sabia Inglês, achando muito tocante os versos: “Mamãe, acabei de matar um homem, pus a arma na cabeça dele, puxei o gatilho e ele agora está morto”. Apesar disto, esta tragédia é cercada de brincadeiras e firulas vocais, onde os instrumentos são precisos e o resultado incomparável.
Há ainda uma vinheta final, com o hino inglês, God save the Queen, nos convidando a ficar de pé. E aplaudir.

Um comentário:

  1. Sylvio disse...
    Também vivi esta época em que um novo LP de uma banda que gosta era uma ocasião que merecia um pequeno ritual onde separava um tempo e local onde teria certeza de não ser interrompido. Olhava o rótulo do vinil e enquanto ouvia as músicas pela primeira vez apreciava os detalhes da capa, que poderia ser simples, dupla, com ou sem encarte, ou em casos mais chiques com pequenos livretos ou uma capa tripla (no caso do Yes). Depois que ouvia o disco, caso gostasse, já emendava numa segunda sessão, agora deitado na cama, com os olhos fechados e o som alto, sem pressa nenhuma. Aproveitava a hora de levantar para mudar de lado e ia no banheiro, ou bebia água e voltava para o segundo tempo. Dependendo do caso, numa prorrogação (terceiro tempo) colocava a agulha em músicas específicas que gostava mais. No dia e semana seguinte, a capa do disco era destaque na cabeceira da minha cama enquanto eu fazia coisas dentro de casa com o disco rolando “até gastar a agulha” (um exagero, é claro).

    Comentário bem feito (como sempre), que me fez recordar porque ainda tenho algumas dezenas de LPs sobreviventes em casa, nem que seja para pegá-los ocasionalmente e viajar no tempo enquanto escuto suas músicas com estalos.

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