sexta-feira, 1 de janeiro de 2010
CAUSOS INACREDITÁVEIS
O MITO
(Roteiro original - Serjão Missiaggia / Adaptação - Jorge Marin)
Sabem de uma coisa? Confesso a vocês que, por várias vezes, viajei com o pensamento no tempo, só pra tentar reviver e reconstituir esta famosa história.
Segundo me consta, tudo teria acontecido numa memorável partida de futebol onde nosso saudoso Pimentinha teria se tornado o grande protagonista.
Acredite quem quiser, mas, na oportunidade, o referido conterrâneo, ao tentar bater uma penalidade, teria bisonhamente perdido a cobrança. Até ai nada demais, se não fosse pelo mero detalhe, de também ter errado o chute e, consequentemente, cavado um imenso buraco no gramado. E, o que ainda pior: depois de simplesmente ter errado a bola e... destroncado o dedão do pé.
Reza a lenda que este folclórico episódio veio acontecer na cidade de Rio Novo lá pelos idos da década de 40. Na oportunidade, jogavam 15 de Novembro e o Botafogo de São João, então um clube jovem (pois foi fundado em 1937).
A narração de um jogo de futebol, naquele tempo, mais parecia uma aula de inglês, pois, além do goquipa (goal keeper, o goleiro), tínhamos os beques (backs, chamados depois de zagueiros), os alfes, direito e esquerdo, o centeralfe, mais o centerfor (centerforward, ou centro-avante). Durante os matches (partidas), aconteciam os fisaides (offsides, ou impedimentos), e também os corni (corners, ou escanteios).
Naquele tempo, era comum os times jogarem sem uniforme (fardamento) apropriado e descalços ou com botinas. Quando existiam uniformes, estes eram grossos e incômodos, com calções enormes, camisas de mangas compridas, gorros e caneleiras. Imaginem que São João já era uma cidade quente naquele tempo. Na maioria das traves ainda não havia rede, o que causava grande polêmica entre jogadores e árbitros. A bola do jogo era conhecida como “capotão”, com “câmara de ar” que, depois de cheia, era costurada com tiras de couro e nem sempre era rigorosamente redonda. Já pensaram o que era dar uma cabeçada num daqueles “tentos” (costuras) da bola?
Era este o cenário da nossa estória: os jogos de futebol, chamados apropriadamente de “combates” pareciam uma verdadeira guerra, com prevalência da força física e sem técnica alguma. Era o chamado jogo viril, onde eram válidas as caneladas, as trombadas, os carrinhos e várias botinadas, onde sobrava pancada até para o juiz.
O craque da hora era Heleno de Freitas, nosso conterrâneo que jogava no Botafogo do Rio, considerado um dos craques mais elegantes, e também um dos mais temperamentais de todos os tempos.
Em Rio Novo, a semana antecedia a final do campeonato regional e o pequeno estádio do 15 de Novembro acolhia quase toda população rionovense.
A grande verdade, e que poucos ficariam sabendo, era que toda esta confusão, sorrateiramente, já vinha sendo detonada alguns dias antes da decisão. Por sinal, motivo principal de ter o moral dos torcedores locais se abatido tanto.
Segundo alguns historiadores, tudo teria começado quando, na ocasião, espalhou-se uma notícia em Rio Novo, dando conta de que o referido clube de nossa cidade havia contratado um baita jogador. Seria, nada mais nada menos, que um famoso profissional pertencente a uma das quatro grandes equipes de futebol do Rio de Janeiro.
Na realidade, tudo não passava de um blefe, pois o que teria verdadeiramente acontecido seria a grave contusão do melhor atacante do time sanjoanense. E o que é pior: juntamente com seu reserva. Ainda pior ainda: o jogador da regra três, por incrível que pareça, teria sido flagrado como réu confesso, em várias ocasiões, dizendo em alto e bom som que não era lá muito chegado a essas coisas de futebol; vivia era mesmo sonhando com a possibilidade de um dia se tornar um grande jogador de basquete.
A notícia desta mega-contratação que, propositadamente, havia sido divulgada em Rio Novo, teria sido a mando de um dirigente sanjoanense. Tudo com intuito de intimidar e desestabilizar psicologicamente a equipe do 15 de Novembro. E foi o que aconteceu.
Segundo relatos de pessoas da época, este suposto e simulado vazamento de informação veio cair como uma bomba sobre os rionovenses. Para eles, era tudo ou nada. O grande jogo da década e da vida deles.
Voltemos então, mais um pouco, com minha viagem no tempo:
De imediato, pude sentir toda a ansiedade daquele povo ante a aparição do super-craque, pois, como todo imortal que se preze, sua chegada foi antecedida por uma terrível expectativa. Sua recepção de boas-vindas, como não poderia deixar de ser, estava recheada de incógnitas e pavor. Afinal de contas, estaria logo ali, de carne e osso, a tão esperada e decantada arma secreta da cidade vizinha.
Coitado do Pimentinha! Também fico sempre a imaginar como teria sido sua entrada em campo: passadas largas, porte elegante, pinta de superior e ares de campeão. O mais temido dos adversários. Uma verdadeira máquina de fazer gols. Um autêntico guerreiro, trazendo para si a responsabilidade da grande decisão.
Por outro lado: persona non grata. Figura extremamente temida. Um algoz nato.
Como uma pessoa tão odiada e, ao mesmo tempo, tão temida, iria se portar em campo?
Não percam, na próxima semana, a batalha tão esperada, e o famoso pênalti.
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Assim como foi a recepção na entrada em campo do Pimentinha, este causo, está recheado de incógnita e expectativa.
ResponderExcluirParabéns ao autor que continua contando casos incríveis da história,agora se estendendo a diversos outros temas também muito interessantes.
ResponderExcluirDou a maior força porque vi despertar nele um grande narrador/escritor.Fiquei feliz !!
Vamos lá, Serjão! Este caso promete.
ResponderExcluirAs preliminares estão ótimas.
Beijos da Mika