Em São João Nepomuceno, perdurou por muito tempo a política
do mimimi. Insatisfeitos com os atos dos administradores, as pessoas,
geralmente, ficavam choramingando, reclamando, cochichando e, no momento de se
manifestar, todos tinham uma coisa mais importante pra fazer: uma novela para assistir,
uma roupa pra passar, uma cerveja pra tomar e por aí.
Lembro-me que, nos idos de 1970 e poucos, tentávamos, uns
poucos gatos pingados, fazer decolar a candidatura de um pedreiro para
prefeito. Mas, o medo, a repressão e, o pior de tudo, a acomodação, fazia com
que a situação continuasse sempre a mesma, e o território político ocupado
pelas mesmas pessoas de sempre.
Com a abertura política, o sanjoanense, historicamente,
sempre foi um cidadão conservador, preferindo manter as coisas tal como
estavam, do que arriscar a voos mais aventureiros.
No cenário local, no entanto, as eleições do final do
século XX revestiram-se de um “calor” especial, marcadas por uma dicotomia que,
durante as campanhas, dividiam a cidade em dois blocos aguerridos e fortes
defensores dos seus candidatos.
Passadas as eleições, no entanto, a apatia voltava a
reinar: os “vencedores” tratavam de descansar pensando estar a cidade “entregue”
em boas mãos, enquanto os “perdedores” ensaiavam um breve chororô e ficavam “de
bico”, por um tempo, com os adversários.
Grandes questões populares, como educação, transporte, saúde,
mobilidade urbana e gestão da qualidade ambiental, sempre foram consideradas um
problema DELES. Do prefeito, dos secretários e, em menor escala, dos
vereadores.
Por isso, a polêmica em torno da manutenção ou retirada da
Copasa pode se constituir num divisor de águas (sem trocadilho) para a nossa
sempre acomodada cidadania.
Independentemente da justeza dos argumentos dos órgãos
públicos e da população, a participação ativa, e apaixonada, do povo sanjoanense
num assunto que lhe é, literalmente, vital, revela um amadurecimento político e
um alto grau de conscientização.
Lógico que que surgirão pessoas para capitalizar a
efervescência do momento para defender seus próprios interesses, e é igualmente
lógico que lideranças legítimas irão surgir.
Mas, o que é mais importante, de um povo meio
desesperançado, e até um pouco derrotista, surge a esperança de uma
participação política mais ativa, não apenas nas episódicas acusações mútuas das campanhas
eleitorais, mas na vigilância diária, na denúncia dos abusos, da violência
urbana, contra toda forma de poluição, na exaltação de nossas belezas naturais,
no resgate de nossa alegria de ser sanjoanenses.
Crônica: Jorge Marin
Foto : Marcus
Martins, disponível em http://galeriamm.blogspot.com.br/2009/05/cachoeira-da-fumaca-sao-joao-nepomuceno.html