Até que
ponto os nossos atos têm algum peso sobre o que ocorre no mundo, a não ser
tornar as nossas vidas miseráveis ainda mais miseráveis?
Desculpem
o tom pessimista, mas, relendo algumas observações do filósofo Sartre, fiquei
aqui me questionando, em voz alta, sobre a inutilidade das ações humanas no
contexto cósmico.
Minha
esposa, que não é boba nem nada, além de totalmente avessa a essas indagações
metafísicas, logo decretou: “deixe essas besteiras e vem me ajudar, pois um
imbecil que disse uma barbaridade dessas certamente não conheceu Madre Teresa
de Calcutá”. “Ou Hitler”, completou.
A verdade
é que aquela afirmativa de Sartre faz sentido para um homem que existisse
sozinho no planeta, sem conviver com nenhum outro ser vivente.
Impossível?
Pois essa realidade pode ser visualizada num cenário de ficção criado pelo
diretor Ridley Scott no seu filme “Perdido em Marte”, disponibilizado nas
locadoras no final de ano.
Um
astronauta chamado Mark Watney (Matt Damon) é separado do restante da
tripulação de uma (cada vez mais possível) expedição ao planeta vermelho por
uma tempestade de areia e, dado como morto, deixado para trás quando os demais
colegas retornam à Terra.
Separado
do seu planeta numa distância que, nas órbitas mais propícias, chega a quase 56
milhões de quilômetros, com oxigênio em declínio e uma provisão de alimentos
para um mês, Mark se vê, aí sim, condenado ao que Sartre chamou de total
liberdade.
Ou seja,
num cenário de absoluta solidão planetária, o que você fizer, não importa o
quê, não vai ter grandes consequências. No entanto, mais uma vez a liberdade
para se ferrar é posta em xeque, quando o personagem, mesmo contra todas as
adversidades, resolve sobreviver.
O que se
vê, daí em diante, é um ser adotando uma série de atitudes que, mesmo amparadas
pela lógica científica, soam meio absurdas e francamente perigosas, embora o simples ato de viver, mesmo aqui na Terra, seja perigoso para a nossa saúde, já dizia outro autor
famoso, o economista Milton Friedman.
No fim
das contas, para não dar spoilers
sobre o filme, vou resumir com uma outra frase sartriana, dizendo que, se, na
vida, o inferno são os outros, pode ser que (como prova o filme) quem nos leva
ao céu são os outros também.
Portanto,
mantenham-se conectados, porém com os pés no chão... da Terra!
Crônica:
Jorge Marin
Foto : facebook do filme "Perdido em Marte"
Ótimas reflexões e boa indicação de filme!
ResponderExcluirVou assisti-lo.