sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

RECEITA DE UMA VIDA TRANQUILA


Até que ponto os nossos atos têm algum peso sobre o que ocorre no mundo, a não ser tornar as nossas vidas miseráveis ainda mais miseráveis?

Desculpem o tom pessimista, mas, relendo algumas observações do filósofo Sartre, fiquei aqui me questionando, em voz alta, sobre a inutilidade das ações humanas no contexto cósmico.

Minha esposa, que não é boba nem nada, além de totalmente avessa a essas indagações metafísicas, logo decretou: “deixe essas besteiras e vem me ajudar, pois um imbecil que disse uma barbaridade dessas certamente não conheceu Madre Teresa de Calcutá”. “Ou Hitler”, completou.

A verdade é que aquela afirmativa de Sartre faz sentido para um homem que existisse sozinho no planeta, sem conviver com nenhum outro ser vivente.

Impossível? Pois essa realidade pode ser visualizada num cenário de ficção criado pelo diretor Ridley Scott no seu filme “Perdido em Marte”, disponibilizado nas locadoras no final de ano.

Um astronauta chamado Mark Watney (Matt Damon) é separado do restante da tripulação de uma (cada vez mais possível) expedição ao planeta vermelho por uma tempestade de areia e, dado como morto, deixado para trás quando os demais colegas retornam à Terra.

Separado do seu planeta numa distância que, nas órbitas mais propícias, chega a quase 56 milhões de quilômetros, com oxigênio em declínio e uma provisão de alimentos para um mês, Mark se vê, aí sim, condenado ao que Sartre chamou de total liberdade.

Ou seja, num cenário de absoluta solidão planetária, o que você fizer, não importa o quê, não vai ter grandes consequências. No entanto, mais uma vez a liberdade para se ferrar é posta em xeque, quando o personagem, mesmo contra todas as adversidades, resolve sobreviver.

O que se vê, daí em diante, é um ser adotando uma série de atitudes que, mesmo amparadas pela lógica científica, soam meio absurdas e francamente perigosas, embora o simples ato de viver, mesmo aqui na Terra, seja perigoso para a nossa saúde, já dizia outro autor famoso, o economista Milton Friedman.

No fim das contas, para não dar spoilers sobre o filme, vou resumir com uma outra frase sartriana, dizendo que, se, na vida, o inferno são os outros, pode ser que (como prova o filme) quem nos leva ao céu são os outros também.

Portanto, mantenham-se conectados, porém com os pés no chão... da Terra!

Crônica: Jorge Marin
Foto     : facebook do filme "Perdido em Marte"

Um comentário:

BRIGADU, GENTE!

BRIGADU, GENTE!
VOLTEM SEMPRE, ESTAMOS ESPERANDO... NO MURINHO DO ADIL