quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

DO SONHO AO PESADELO


Acompanhando estarrecido e, de certa forma, incrédulo este delicado e difícil momento de violência que vem assolando nossa terrinha, é que me lembrei desta croniqueta já publicada aqui mesmo no Blog. Será apenas uma sinopse do texto original, e qualquer contraste não será mero detalhe.                  
     
NUMA SEXTA QUALQUER DO PASSADO
  
Ao folhear meus escritos, intriguei-me ao observar que três poesias, coincidentemente minhas preferidas, tinham como tema principal “A NOITE”. Uma excelente oportunidade para relembrar e reviver momentos tão felizes e românticos de uma época que, com suas noites mágicas, teriam fixado em meu inconsciente inúmeras e belas recordações.

Então, aproveitando o momento, lá fui eu a viajar com a lembrança numa das inúmeras sextas-feiras de um dia qualquer entre 1971 a 1977.

De imediato, visualizei-me caminhando solitariamente pela rua após uma noite de namoro. Seguindo em passos rápidos, procurava dar uma chegada o mais rápido possível até em casa. Minha intenção seria fazer um lanche, pegar agasalhos, violão e avisar pai e mãe para que deixassem a porta encostada com uma cadeira, pois iria fazer serenata.

Deveriam ser, mais ou menos, pouco mais de 22 horas. E que noite gelada!
Um frio diferente, sem vento, sem chuva, extremamente agradável e de um céu incrivelmente estrelado e inspirador.

Uma espessa serração começava a dar-me seus primeiros ensaios de boas vindas, enquanto, seguindo relaxadamente pela rua com o violão sobre os ombros, buscava chegar o quanto antes à casa de meus queridos tios. Casa esta ali próxima ao hospital.

Assim, após um pequeno ensaio, entre 11 horas e meia-noite, começávamos a fazer os preparativos para sair e abraçar aquela fria madrugada. As coisas antes eram bem diferentes sendo que aquele horário equivaleria hoje a umas duas da manhã. 

Luvas, cachecóis, cobertores eram alguns de nossos aparatos e que sempre carregávamos para amenizar o frio. Por sinal, não se faz frio como antigamente, época em que nossas mãos só faltavam congelar.

Naquela hora, uma paz absoluta já tomava conta de toda cidade.  As poucas pessoas que ainda se encontravam perdidas na madrugada, quando nos viam, geralmente nos seguiam. Sentavam na beira da calçada, cantavam conosco e, na maior paz, nos faziam companhia.
  
O silêncio era tanto, que, dependendo de onde estávamos e mesmo um pouco distantes, ficávamos a escutar o clicar das bolas de bilhar da sinuca do Cida. Naquela época, era o único ponto da cidade que permanecia aberto até essas horas.

No final da serenata, e antes que fôssemos para casa, uma breve visita era feita ao forno de alguma padaria, pois, naquela hora da noite, a fome já começava a bater mais forte. E como era gostoso aquele pão quentinho que mal havia saído do forno!  Os padeiros até nos conheciam e, vez ou outra, nos forneciam uma manteiguinha.

A noite, literalmente, virava uma criança, e nós, mais crianças ainda, nem víamos o tempo passar.

E UM MANTO NEGRO, ENVOLVEU A NOITE FRIA,
JÁ NAÕ FAÇO MELODIAS, POESIAS DE AMOR,
E NO LAMENTO QUE O TEMPO IGNORA, VOU GUARDANDO MINHA VIOLA,
DEIXO AURORA SEM CANTOR.
                      (Extraído da letra NA SOMBRA DO AMANHÃ - Sergio Missiaggia)

Crônica e foto: Serjão Missiaggia

Um comentário:

  1. Tomando emprestado um pouco do otimismo consciente do Jorge afirmo que cada tempo tem suas vantagens e desvantagens, mas uma época como a belamente descrita pelo Serjão tem um charme difícil de não deixar saudade e inveja...

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