Acompanhando
estarrecido e, de certa forma, incrédulo este delicado e difícil momento de
violência que vem assolando nossa terrinha, é que me lembrei desta croniqueta
já publicada aqui mesmo no Blog. Será apenas uma sinopse do texto original, e
qualquer contraste não será mero detalhe.
NUMA SEXTA QUALQUER DO
PASSADO
Ao
folhear meus escritos, intriguei-me ao observar que três poesias, coincidentemente
minhas preferidas, tinham como tema principal “A NOITE”. Uma
excelente oportunidade para relembrar e reviver momentos tão felizes e
românticos de uma época que, com suas noites mágicas, teriam fixado em meu
inconsciente inúmeras e belas recordações.
Então,
aproveitando o momento, lá fui eu a viajar com a lembrança numa das inúmeras
sextas-feiras de um dia qualquer entre 1971 a 1977.
De
imediato, visualizei-me caminhando solitariamente pela rua após uma noite de
namoro. Seguindo em passos rápidos, procurava dar uma chegada o mais rápido
possível até em casa. Minha intenção seria fazer um lanche, pegar agasalhos,
violão e avisar pai e mãe para que deixassem a porta encostada com uma cadeira,
pois iria fazer serenata.
Deveriam
ser, mais ou menos, pouco mais de 22 horas. E que noite gelada!
Um
frio diferente, sem vento, sem chuva, extremamente agradável e de um céu
incrivelmente estrelado e inspirador.
Uma
espessa serração começava a dar-me seus primeiros ensaios de boas vindas,
enquanto, seguindo relaxadamente pela rua com o violão sobre os ombros, buscava
chegar o quanto antes à casa de meus queridos tios. Casa esta ali próxima ao
hospital.
Assim,
após um pequeno ensaio, entre 11 horas e meia-noite, começávamos a fazer os
preparativos para sair e abraçar aquela fria madrugada. As coisas antes eram
bem diferentes sendo que aquele horário equivaleria hoje a umas duas da
manhã.
Luvas,
cachecóis, cobertores eram alguns de nossos aparatos e que sempre carregávamos
para amenizar o frio. Por sinal, não se faz frio como antigamente, época em que
nossas mãos só faltavam congelar.
Naquela
hora, uma paz absoluta já tomava conta de toda cidade. As poucas pessoas que ainda se encontravam perdidas
na madrugada, quando nos viam, geralmente nos seguiam. Sentavam na beira da
calçada, cantavam conosco e, na maior paz, nos faziam companhia.
O
silêncio era tanto, que, dependendo de onde estávamos e mesmo um pouco distantes,
ficávamos a escutar o clicar das bolas de bilhar da sinuca do Cida. Naquela
época, era o único ponto da cidade que permanecia aberto até essas horas.
No
final da serenata, e antes que fôssemos para casa, uma breve visita era feita
ao forno de alguma padaria, pois, naquela hora da noite, a fome já começava a
bater mais forte. E como era gostoso aquele pão quentinho que mal havia saído
do forno! Os padeiros até nos conheciam
e, vez ou outra, nos forneciam uma manteiguinha.
A
noite, literalmente, virava uma criança, e nós, mais crianças ainda, nem víamos
o tempo passar.
E
UM MANTO NEGRO, ENVOLVEU A NOITE FRIA,
JÁ
NAÕ FAÇO MELODIAS, POESIAS DE AMOR,
E
NO LAMENTO QUE O TEMPO IGNORA, VOU GUARDANDO MINHA VIOLA,
DEIXO AURORA SEM CANTOR.
(Extraído
da letra NA SOMBRA DO AMANHÃ - Sergio Missiaggia)
Crônica
e foto: Serjão Missiaggia
Tomando emprestado um pouco do otimismo consciente do Jorge afirmo que cada tempo tem suas vantagens e desvantagens, mas uma época como a belamente descrita pelo Serjão tem um charme difícil de não deixar saudade e inveja...
ResponderExcluir