sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

ONDE CANTA O SABIÁ


Confesso que fiquei bastante surpreso ante as notícias que vêm rondando nossas esquinas, dando conta de um possível sacrifício de árvores na pracinha do Chafariz, em detrimento a revitalização do local. Meu Deus! Será mesmo verdade? E se tal for, seria mesmo necessário? Reconheço que algumas delas já estão bem velhas e que outras são de uma espécie totalmente inadequada pro lugar. Mas, ali elas se encontram há um bom tempo e temos que respeitá-las! Por que pagar um preço tão alto por um "erro" do passado? Se pensarmos com lucidez, iremos observar que a balança se inclinará vertiginosamente para nosso lado no que tange aos inúmeros benefícios que hoje elas nos proporcionam.
Será que uma boa poda, executada por profissionais habilitados, procurando fazer o rebaixamento de suas copas, não seria o suficiente? Ficamos exaustos de tanto acompanhar em jornais, revistas, internet, TV e tudo de direito, o clamor que o mundo vem fazendo a todos nós. Um insistente alerta sugerindo uma necessária mudança de hábitos e consciência.
Queira ou não, estamos diante de uma real e sombria mudança de temperatura no planeta que, se ainda passa despercebida pra muitos, o mesmo não acontecerá com a geração de nossos filhos.
A cada sacrifício de uma árvore, O AQUECIMENTO GLOBAL NOS SERÁ ETERNAMENTE GRATO e os únicos prejudicados com estas atitudes seremos nós.
Muitos não sabem, mas este “Mini-Santuário Ecológico”, por sinal, um dos últimos, literalmente plantado no centro da cidade, vem sendo parada obrigatória de centenas de aves. Algumas para, simplesmente, nos trazer o seu canto, e outras para apenas tentar perpetuar a espécie, fazendo de seus galhos o “asilo inviolável” ou, quem sabe, a esperança final.
O sobrevoo das maritacas que chegam, vez ou outra, ao entardecer, é um show à parte. A meu ver uma pequena prova de que Deus existe e que também se faz habitar neste recanto tão natural e infinitamente seu.
A sombra da árvore é algo insubstituível. Um frescor sem igual que nada será capaz de igualar. Os mais velhos e as crianças que o digam, principalmente se este refúgio se encontra encravado entre prédios, tijolos, pedras, poluição sonora e tudo mais.
Enfim, ainda cético aos boatos, gostaria de convidar a todos para conhecerem o canto do Sabiá Laranjeira e se extasiarem com a majestosa sinfonia que, a cada alvorecer, nos é proporcionada por centenas de Canários da Terra. Um encontro de rara beleza e pura sonoridade parecendo querer nos dizer que o mundo poderá ser bem mais humano, feliz e os seres poderão viver harmoniosamente.
Abençoado seja o verde que, com suas folhas, ainda nos cobre e nos protege. Abençoado seja o interior.
Ainda confiando plenamente nas pessoas de sensibilidade e bom senso, prefiro acreditar que tudo não passou de boatos.

(Crônica: Serjão Missiaggia)

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

VAMOS AOS TROMBETEIROS!


Vocais: Simone (arranjos), Camila, Katia, Jojô, Naiara, Gil, Anny Kelly, edinho e Márcio.
Violão: Emerson.
Teclado:Vagner.
Guitarra: João Pedro.
Baixo: Rodrigo.
Bateria: Fabinho.
Percursão: Alex.
Arranjos instrumentais: Emerson e Vagner.
Composiçôes: Márcio Velasco

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

RELEITURAS: ALGUNS FATOS HISTÓ(É)RICOS III


TOMBO QUE O JACU DEU NO BIP:
Este tombo, que aconteceu em frente à Guarujá, levou o Silvio Heleno à loucura, pois era um aparelho de voz, que estava sendo projetado e montado há meses. O que se viu, foram peças espalhadas pra todo lado. Silvio queria matar o Jacu, mas, mesmo já naquele tempo, nosso instinto ecológico falava mais alto. E a anta se salvou!

VISITAS INDIVIDUALIZADAS NO HOSPITAL.
Foi um sistema elaborado pela Irmã Superiora toda vez que íamos ao hospital, visitar a Nely Gonçalves que estava recém operada. Tendo que acatar ordens superiores (da superiora), nossa entrada teria que ser feita um a um. Obedecemos à risca, exceto pelo detalhe de que aquele que entrava não saía. Juntávamos todos dentro do quarto, para fazer aquela bagunça.
Num desses dias, após sermos pegos escorregando na rampa do corredor, ela nos proibiu, definitivamente, de voltar ao hospital.
Por falar na Nely, nossa madrinha, não poderíamos deixar de registrar que alguns componentes do Pytomba passaram a fazer parte de seu conjunto “Pop Som” (Dalminho na voz, Silvio no teclado e Serjão na tumbadora).
Ainda há casos e causos a serem contados. A casa da Tia Irinéia Velasco e a oficina do Silvio Heleno (na época, ao lado sua casa, beirando o córrego), eram o nosso QG. Ponto de referência, onde tudo acontecia e, principalmente, onde nossas ideias malucas e experiências descabidas eram feitas e articuladas, como:
A BOMBA, A FÁBRICA e O DISCO VOADOR.

Abaixo, um letra, feita pelo Serjão em 1980 em homenagem ao grupo, e que pode, (por que não?) vir a ser o Hino do Pytomba:
PYTOMANIA: Sempre seremos o que nunca fomos / Sempre pensamos ser, o que nunca podemos / Nosso mundo é irreal / Nosso som não é normal.
No mundo de sonhos em que vivemos / Pirados se somos, nem mesmo sabemos / Mas somos um só, onde quer que estejamos / Até o compasso, sempre juntos erramos.
Nascemos mortos, mas... Morremos vivos / Tudo se foi e nem partimos.
Falso ou verdadeiro, quando tocamos, ficamos por inteiro. (refrão)

O grupo encontrou-se pela ultima vez há 20 anos, em novembro de 1992, na chácara Pytomba de Silvio Heleno, quando foram comemorados os 21 anos do primeiro ensaio. O jornal “Voz de São João”, na coluna do Cralves, assim noticiou o evento: Aconteceu um churraveja para reencontro dos rapazes que formavam o Conjunto Pytomba há 21 anos atrás. Renê, Sílvio, Serjão, Márcio, Dalminho, Beline, Renatinho, Jorge e Godelo que, se hoje não tocam mais aquilo, muito menos tocam aquiloutro, deixaram extravasar a saudade dourada.”
(Crônica: Serjão Missiaggia / Adaptação: Jorge Marin)

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

MÁRCIO VELASCO = OÁSIS


Em todos os causos do Pytomba, na fábrica de macarrão, na fazenda ou no disco voador, sempre há muita agitação, muito corre-corre e muita loucura. No entanto, na dele, sempre tranquilo, sorrindo como se dissesse: ai, meu Deus, o que é que eu tô fazendo aqui? – estava sempre ele, Márcio Velasco.
BELASQUEZZZZ! – gritava o Sílvio Heleno, o chão tremia, a caixa de voz tremia, rolava aquela microfonia, e ele lá, tranquilão.
Chegávamos na casa da tia Irineia, fazíamos uma bagunça, revirávamos tudo, chutávamos o cachorro. Márcio, me dá um cigarro! Márcio, eu também quero! E ele, na boa:
- Aí, gente. Pega o maço e, se sobrar algum, vocês me devolvem!
Nos ensaios, era aquele pega-pra-capar. Às vezes, tinha discussão; outras vezes, brigas e, vez ou outra, alguém jogava o violão no chão e saía xingando. Sabem o que acontecia com o Márcio nessas horas? Ficava no palco, tentando “tirar” algum acorde que tinha curtido e, se a confusão continuava, parava de tocar e falava, baixo:
- Ô gente, calma!
Márcio tem essa característica, de ser sempre: um silêncio em meio ao barulho, a calma no meio da confusão, e a generosidade em pessoa. Não por acaso, entre os “atentados”, sempre foi o mais espiritualizado. Não por acaso, seu instrumento era... baixo.
Aqui, no blog, de vez quando, comenta alguma coisa. Tem uma novela dele, um texto fantástico, engraçadíssimo, que está esperando só sua autorização para ser publicada. Mas, adivinhem o que ele pediu pra publicar? Calma!
Por isso, nós, que estamos esperando, calmamente, temos que ir,
TODOS,
AO TROMBETEIROS,
DIA 28 DE JANEIRO DE 2012
ÁS 20 HORAS.
Sabem o que vai rolar?
APRESENTAÇÃO MUSICAL DO MÁRCIO VELASCO:
serão oito músicas dele e duas de compositores conhecidos,
com músicos da igreja onde ele congrega: baixo, bateria, violão, guitarra, teclado, três vozes femininas e duas masculinas. A apresentação vai ser bem eclética: bossa nova, latin rock, funk americano e outras surpresas. E mais:
GRAVAÇÃO DE UM DVD AO VIVO!
O evento vai se chamar:
OÁSIS...

(Perfil por Jorge Marin)

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

RELEITURAS: ALGUNS FATOS HISTÓ(É)RICOS II

Obelix e Asterix, personagens de Uderzo e Goscinny, em foto do site http://frankgerbers.nl/

COMPRA DE UM CONTRABAIXO EM DESCOBERTO:
Este é um dos fatos mais curiosos da história do conjunto: num determinado dia, sem um tostão no bolso, fomos para a cidade de Descoberto comprar um instrumento. Até aí nada demais; só que o referido contrabaixo não estava à venda! E, o que é pior: perdemos, de propósito, o ônibus e voltamos a pé, chegando meio estropiados na Rua do Descoberto.

SACRIFICIO DE TRANSISTORES A MARTELADAS:
Foi um método “espartano” desenvolvido pelo Silvio Heleno, que, aplicando a psicologia comportamental à eletrônica, colocava o transistor queimado em frente aos que estavam funcionando corretamente, e sacrificava-o a marteladas, segundo nosso colega, “para que servisse de lição aos outros para que não queimassem também”.

BERON-BERON, EU VOU MORRER:!!!!!!!!
Também do genial Sílvio Heleno, essa frase fatídica, era entoada por ele, entre gemidos, enquanto era carregado pelo maior (maior mesmo!) fã do Pytomba, o saudoso Oberon, pelas ruas da cidade, em plena madrugada, após ingerir doses generosas de um suspeito rabo-de-galo, em companhia do Serjão.

ESTROBOSCÓPICA:
A nossa própria estroboscópica com lâmpada florescente, construída por nós mesmos, foi um tremendo sucesso. Era tão forte que não deixava ninguém parar em pé. Na casa do Dantinho, uma das senhoras presentes – que não estava no baile e nem bebia - quase rolou escada abaixo de tão tonta.

ALMOÇO DE TAÇAS E VELAS NA CASA DO SÍLVIO:
Era uma constante. Ficávamos completamente à vontade, na ausência dos pais do nosso amigo, quando eles viajavam.
Mas, num belo dia, após chegarem de surpresa, fomos surpreendidos de cuecas na sala. Fazíamos a sesta, após uma bela feijoada. (O que dizer nesta hora? Oi, gente, podem ficar a vontade!... ).

AMEAÇAS DO EL VIZINHO:
Eram feitas nas manhãs de domingo, dia e hora impróprios que escolhíamos para ensaiar no Operários. Impróprios pra ele, que, naturalmente, queria dormir. Nós achávamos a coisa mais natural do mundo fazer aquela barulhada naquela hora. E não nos intimidávamos, pois ficávamos nos ombros daquele obelisco chamado Oberon e atrás de uma porta fechada. Para não sermos totalmente grosseiros, ainda cantávamos a clássica canção “Dorme Neném” o que conseguia deixar o nosso ameaçador vizinho ainda mais furioso. Hoje, quando escutamos esses carros com som alto, xingamos bastante, mas, de vez em quando, ficamos nos perguntando: será que existe karma mesmo?

(Crônica: Serjão Missiaggia / Adaptação: Jorge Marin)

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

O QUE HÁ DE NOVO NO DIVÃ - V

Foto publicada no blog www.saudemedica.com

Normalmente, eu não atendo crianças em meu consultório. Não tem a ver com a “doutrina” psicanalítica ou nada parecido: é tão somente porque não tenho aquele aparato que, normalmente, os consultórios de psicologia para crianças possuem: brinquedos, lápis de cor, bola, espada, essas coisas.
No entanto, atendendo ao pedido de uma colega, recebo a mãe do Lucas para uma entrevista. Eu nunca atendo uma criança sem, primeiramente, ouvir a mãe, por umas duas, ou até três vezes.
É uma mãe bem “mãe” mesmo:
- Gente, desculpa pelo atraso, mas você sabe como anda o trânsito e, antes de vir para cá, tive de deixar a Larinha no balé e o Lucas no kung fu. Olha, não é nada do que você está pensando não. Colocamos ele no kung fu porque o instrutor lá é uma pessoa maravilhosa, ele já esteve no Tibet e obriga as crianças a meditarem antes de lutar. A nossa esperança é que ele pudesse dar um jeito no Lucas.
Eu, que não estava pensando (só ouvindo), começo a pensar que essa pessoa agitada e defensiva pode, ela sim, ter algum tipo de problema. Enquanto ela continua falando, sobre outras aulas – parece que os filhos fazem curso de inglês também – fico imaginando como é que um mestre oriental faz para obrigar as crianças a meditarem.
- Afinal, qual é o problema do Lucas?
- Ah, não te falei não? Ele tem TDAH!
Aqui eu não posso, mas já me irrito, porque não suporto essa história de todo mundo ter uma sigla: é TDAH, é TOC, é DDA, DID, MPD e por aí vai. Meio irritado, coisa que eu não posso estar nesse momento, faço um comentário:
- Ele tem muita atividade, não?
- Não, doutor, ele tem é hiperatividade.
Ih, me chamou de doutor, e eu não tenho nem mestrado. Replico:
- Não, eu não estou falando da doença. Estou falando das coisas que você disse que ele faz. Parece que, além da escola, ele faz kung fu e inglês.
- E está no catecismo também, aos sábados. Eu pensei que você estava falando da doença. Você pensa que ele está hiperativo porque está cheio de atividades?
Devolvo a pergunta:
- Você pensa que é isso?
Mas ela não pensa. Fala, relata os sintomas: ele não fica quieto; mexe o tempo todo; faz um monte de coisas ao mesmo tempo; na escola, gosta mais do recreio; e, ainda por cima, ao invés de se concentrar no seu dever de casa, fica o tempo todo de olho na minha novela. Nada mal, para uma criança de seis anos.
- Ele faz o dever de casa perto da TV? – pergunto.
- É. É porque, enquanto ajudo ele, assisto a novela. Tem algum problema?
Mas ela nem espera minha resposta e continua falando e diz que está sofrendo muito porque foi ao psiquiatra, e este receitou um remédio controlado. Eu não resisto:
- Para ele?
- É lógico, foi o psiquiatra que disse que ele tem o TDAH, mas ele não está convencido de que ele tem H não. Acho que o caso dele é mais leve. O que é que você acha de, mesmo assim, ele ter receitado, rapidinho, o remédio?
- Ângela, psiquiatras são médicos: eles receitam remédios!
Ela parece não ter entendido o que eu disse e fica parada um instante, pela primeira vez em silêncio, com as mãos segurando a cabeça.
Volto com meus pensamentos subversivos: cara, no meu tempo nossos pais matavam a gente só pela enunciação da palavra “droga”. Hoje, aquelas “bolinhas” (anfetaminas) proibidas do nosso tempo, não só são receitadas pelos médicos, como dadas à força para as crianças.
- Gostaria que você voltasse na semana que vem, na mesma hora, ainda sem o Lucas.
- Ah, meu Deus. Não tem outra hora não, porque, nessa hora, eu faço Pilatos.
Eu sei que ela quis dizer Pilates. Mas tenho certeza de que ela falou Pilatos. Vou dar um jeito de remarcar a hora.

(Crônica: Jorge Marin)

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

RELEITURAS: ALGUNS FATOS HISTÓ(É)RICOS I

Pitomba em estado de graça. Digitalização: Badeco.

DIALETO DO GRUPO – citamos, abaixo, alguns termos técnicos, apelidos e locais que todo pytombense legítimo deveria conhecer. Quem se lembrar, pode comentar, corrigir e até mesmo acrescentar mais alguns:
MÃE!!!!!!, SÔ METRÔ, BABY, BIZUNTA, ISQUIRTE DE FON INSTAIN, AURICA, RUPTUM, ARAUNA BIGODE, ARIGODÓ LÓ, BIZÁ BIZÁ, SÔ ISGRIMA, RUBIM PANELA, ÚDSON TAMBORIM, D SUMIDA, BRENORRAGIA, SÔ ARCA, PATETÃO, BEIÇOLA, GORDA, MAGRELO, BELASQUEZ, ISABEL OU BELA, GUDILIM, TÁTIL OU PÊNIS ERECTUS, NEGA PRETA DO SUBACO FEDORENTO, SÔ BUÇANHA, ENXERGA CENTE AQUI FURA, SÔ PROMESSA, IRMÃ LEOPARDA, RUA PEITO ANTULHO, URSO POLAR, PEDESTAL ZEBRA, A CEM NADA, TREMEDOR, ESTRUMBAGUETE, O RUIM, 14/16, MONTANHA, DAR UM PEGA, A TROCO DO LANCHE, BIP, PAREAGE IMPRESTADA, A NÓIS AÍ, HÁ ALGUÉM AÍ, VAI DAR CABULA!

FRASES MARCANTES:
“Cri-Cri, se tocar com ‘nóis’, atrapalha.”
“Somos o único conjunto do mundo que erra o compasso junto.”

A REUNIÃO DA JUNTA:
O que acontece quando você JUNTA: ditadura militar, rock’n roll e assembleia de Deus? Vejam só: num determinado dia em que iríamos tocar, não havia disponível na cidade uma mísera bateria para ser emprestada! Aí alguma pessoa brilhante, que a modéstia nos impede de revelar, tive a feliz ideia de ir pedir para o pastor evangélico.
Dois membros do conjunto foram escalados para fazer o pedido oficial – Serjão e Sílvio Heleno. Foram recebidos pelo pastor em pessoa que, educado, convidou-os para entrar. Eis o relato dos dois heróis:
Ao sentarmos na sala, fizemos, de cara, o nosso pedido. E o pastor, sem demonstrar nenhuma surpresa, mas também sem fazer nenhuma referência àquela bizarra solicitação, iniciou uma pregação que parecia não ter mais fim. Ouvimos do Gênesis ao Apocalipse, passando pelos Provérbios e Evangelhos, numa mistura que parecia não ter fim. Aonde é que o pastor queria chegar? Parece que ele mesmo não sabia!
Enquanto isso, sorríamos e lançávamos olhares dedicados e atenciosos, enquanto, no íntimo, perguntávamos a nós mesmos: e a bateria, sai ou não? Até café nós tomamos, uns trinta...
Alguns discípulos depois, quando o desespero e o arrependimento já começava a nos abater, e estávamos começando que meio escorregar pelo sofá, nosso pregador afirma que, para nos dar a resposta, teria que REUNIR A JUNTA.
- Reunir o quê? - perguntamos, mas, naquela altura do campeonato, qualquer sacrifício era válido. E continuávamos esperançosos. E continuava também o sermão.
Até que, finalmente, após uma homilia que beirou ao exorcismo, saímos, mais de duas horas depois, em completo estado de graça, mas... sem nada.
Quase quarenta anos se passaram e, até hoje, esperamos por uma resposta, que seria dada no mesmo dia, ou seja: logo após, que se fizesse a tal reunião da Junta. Aleluia!

(Crônica: Serjão Missiaggia / Adaptação: Jorge Marin)

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

O QUE HÁ DE NOVO NO DIVÃ - IV

Arte digital por Mariano Leonardi

Reabro o consultório e fico esperando os “bodes” das festas de final de ano. Geralmente esses são de duas ordens: aqueles que não suportam ficar consigo mesmos (ou com os pais, ou com os cônjuges, ou com os filhos) e aqueles que cometeram excessos. Os primeiros têm uma tendência meio depressiva e os últimos, geralmente, chegam mergulhados em culpas. Sem dúvida, o período festivo é um poderoso incremento das neuroses.
A primeira paciente do ano contradiz minhas expectativas, os pacientes sempre nos contradizem, e não traz, nem a aura depressiva dos “em férias”, e nem o olhar arrependido dos ressaqueados. Unhas feitas, aparência de quem vai quase diariamente ao cabeleireiro, sorriso de avatar de Facebook, senta-se e diz:
- Estou com ódio de mim, mas, ao mesmo tempo, acho que fiz a coisa certa. Foi no réveillon, sabe?
Parece não saber bem como começar. Assume ares de adolescente, embora, neste ano, vá se tornar uma balzaquiana, termos sinônimos no século XXI.
- No meio da festa, chegou, de repente, um cara: sabe o Taylor Lautner?
Concordo com o olhar, embora minha cultura cinematográfica não seja assim tão crepuscular.
- Pois é, era exatamente igual ao Jacob! (Fico pensando: quem é Jacob, meu Deus? Mas, em seguida, consigo entender.) Ele veio direto pra mim, pediu licença para sentar e começou uma conversa superagradável.
Ela continua falando e eu, preconceituoso como não devia ser, fico pensando: ele é mais novo, ele é mais novo.
- Aí, do nada, ele chegou aquele rosto maravilhoso, como se fosse falar uma coisa no meu ouvido, e tentou me beijar. E, não sei porquê, eu não deixei.
- Você não sabe? – pergunto, desafiando-a.
- Sei lá, a conversa estava legal. Quer dizer, numa balada, não se pode esperar mesmo grande coisa, porque não é de uma redação do Enem que se trata.
- E-nem, repito. E ela continua:
- Acho que essa história de fazer 30 anos está mexendo com minha cabeça, estou ficando velha. Eu nunca tenho problema algum em ficar com ninguém. Mas, aconteceu uma coisa meio louca: vendo aquele cara chegar e, sem mais nem menos, tentar me beijar na boca, me deu um certo nojo. Você sabe que eu não tenho muita ilusão em relação às pessoas, e entendo que os homens, normalmente, somem no dia seguinte. Também, com a explosão de oferta...
Para, fica pensativa, quase chora. Eu ia dizer “pra não manchar a maquiagem”, mas ela quase não usa, talvez uma base suave e nada mais.
- Onde é que eu parei?
- Você disse que não tem ilusão.
- Ah, é... Mas é mentira: eu tenho, sim, ilusão. Às vezes, acho que é possível encontrar uma pessoa que não esteja só a fim de te pegar. Quer dizer, isso também. Mas, que não chegue e vai botando a mão, como se a gente fosse uma fruta numa gôndola de supermercado. Eu queria um homem que tentasse me conquistar. Acho que o meu lobisomem lá se cansou porque, uns vinte minutos depois, saiu e nem pegou meu telefone. Eu queria um cara que não se importasse de passar o resto da noite comigo. E ligasse no dia seguinte, e postasse uma declaração de amor no meu mural. Será que eu vou encontrar uma pessoa assim algum dia?
- Na balada? – devolvo a pergunta. E ela, mineira:
- Uai, e onde mais?

(Crônica: Jorge Marin)

BRIGADU, GENTE!

BRIGADU, GENTE!
VOLTEM SEMPRE, ESTAMOS ESPERANDO... NO MURINHO DO ADIL