sexta-feira, 30 de julho de 2010

NELY GONÇALVES: LENDA VIVA DA CULTURA SANJOANENSE



Capítulo 3 – Pobremas com a pareiage

Não falamos ainda da terrível tarefa chamada “descarregar a aparelhagem”. Fico só lembrando como ralávamos para fazer aquilo de que mais gostávamos. Antigamente, tudo era muito difícil e trabalhoso.
Chegávamos à sede do Operário por volta das cinco da tarde. Subíamos e descíamos aquela escadaria pelo menos umas vinte vezes, carregando sobre os ombros nossa aparelhagem que, milimetricamente, era ajeitada numa Kombi. Devido ao pouco espaço que havia no veiculo, nem todos tinham a sorte de ir sentados; sendo assim, enquanto alguns iam confortavelmente ajeitados na poltrona, outros simplesmente tinham mesmo que se sujeitar a ir espremidos no meio daquela parafernália. Uma performance de causar inveja a muito faquir!
Nesta época, algumas estradas ainda não eram asfaltadas e isso nos maltratava pra caramba. Eram buracos, e poeira que não acabava mais. Ao chegarmos ao destino, ainda tínhamos que descarregar tudo, fazer a montagem no palco, afinar os instrumentos e sapecar aquele baile.
E assim, lá pelas cinco da manhã, quando já estávamos no bagaço, ao terminar o baile, ainda tínhamos que fazer todo o processo de volta. Nossas últimas energias se esgotavam naquele sobes e desces, ao descarregarmos a aparelhagem de volta no Operário.
Finalmente, fumávamos o último cigarrinho, comentávamos algum fato interessante e nos despedíamos. Já no outro dia, com certeza, haveria ensaio.
Quantas e quantas vezes chegamos a esconder Nely na oficina, por causa de algumas pessoas “inconvenientes”, que vinham até mesmo de outras cidades à sua procura.
Teve um sábado que, devido ao conserto de um aparelho, ficamos quase que um dia inteiro, nos divertindo com ela na oficina do Silvio Heleno. Quando, já escurecendo, eu me dirigia tranquilamente para casa, fui interceptados por dois sujeitos, ao passar em frente o portão dos fundos do Mangueira, e estes dois “malas”, ao me reconhecerem, queriam a todo custo saber o paradeiro da Nely. Em um tom um tanto quanto ameaçador, me perguntaram:
- Tem visto a Nely? Já procuramos ela por toda a cidade e não encontramos! ..
Eu, de antemão, já sabendo do que se tratava, fui também logo questionando:
- A Nely? – E, a seguir, dando uma breve olhada para o horizonte, coloquei a mão no queixo, fiquei pensando por alguns segundos e respondi: Não! E sabem de uma coisa? Também não a tenho visto já faz um bom tempo! Desconfio até que tenha se mudado da cidade! - concluí.
Final da história: decepcionados e irritados, entraram no carro e partiram.
Esta história ainda chegou a se repetir por várias outras vezes, mas se diferenciou das anteriores pelo fato de que o esconderijo, desta feita, teria sido no guarda-roupa de seu quarto. Lembram daquele ditado: “DEVO NÃO NEGO PAGO QUANDO PUDER”? Pois é...

A compra de nossa tumbadora também deu o que falar.
Ainda não tínhamos uma, mas o Serginho sim. “E nois tava de ôio nela!”
Nesta época, o conjunto Som Livre, se não estou enganado, havia terminado e, como íamos fazer um grande baile no Operário, resolvemos pedir a ele o instrumento emprestado. Como não poderia deixar de ser, eu, juntamente com o Zé, teríamos sido escalados para ir a sua casa, com a missão de pedir a ele a dita cuja emprestada. Serginho sempre foi famoso pelo zelo com seus instrumentos; sendo assim, tanto eu como o Zé, partiríamos para esta difícil empreitada, com as pernas tremendo.
Zé havia me jurado que era somente pra eu começar a fazer o pedido pois, em seguida, ele resolveria o resto. E o bobo aqui acreditou.
E fomos nós!
Assim como combinado, ao chegarmos na casa do Serginho, comecei de imediato a engabelar com aquelas manjadas preliminares. Minha intenção era dar um tempo a mais para que o Zé, pelo fato de conhecê-lo melhor, se manifestasse logo e ditasse o ritmo do pedido. Sabem como é, papo de percussionistas tem que ter ritmo.
Enquanto isso, eu ficava somente me apoiando naquele argumento fajuto de que, se me adaptasse ao instrumento, iríamos comprá-lo. Mentirinha cabeluda! Idéia da Nely!
À medida que eu ia me enrolando, o Zé mais calado ficava. Parecia que havia tomado um choque de 2.000 mil volts. Eu já nem tinha mais o que falar e o Zé, cada vez mais mudo e assustado, não mexia um fio de cabelo. Pra falar a verdade, aquele cabelo não mexia nunca. Enfim, depois de muito pensar e mesmo que ainda mostrando certa insatisfação, Serginho, resolveu nos emprestar a tal tumbadora. Seu único pedido seria que, incondicionalmente, a trouxéssemos de volta logo após o termino do baile.
E assim não foi! Ficamos com ela quase um mês, e ainda de sobra, a levaríamos em três cidades. Tudo escondido.
Mas um final feliz veio acontecer pois, por incrível que pareça, compramos a danada alguns dias depois.
NA PRÓXIMA SEMANA: Mar de Espanha, o Remake.

(Crônica - Serjão Missiaggia)

quinta-feira, 29 de julho de 2010

PRESIDENTE, EU QUERO DAR UMA PALMADA!



Frequentemente aqui no blog, sentimos uma certa mágoa, ou desconforto, pois a geração Pytomba, ou seja, aqueles que nasceram no final dos anos 50, início de 60, viveram a parte melhor de suas vidas em um grande hiato, isto é, entre o nada e o tudo, entre a ditadura e a liberalidade desenfreada, entre a virgindade e a pílula grátis, entre o flower power e o politicamente correto. A sensação é de que entramos numa fila, para ir num show gratuito do Jimmy Hendrix mas, na hora de entrar, descobrimos que, na verdade, trata-se de um comício do José Serra.
E, para mostrar que a decepção não é apenas com tucanos, vou falar de um projeto do Presidente Lula, enviado no início do mês ao Congresso que, mediante alteração do Estatuto da Criança e do Adolescente, introduz a proibição do castigo físico em crianças. Na verdade, estabelece que pais, professores e demais cuidadores de crianças (que hoje são muitos) ficam proibidos de beliscar, empurrar ou mesmo aplicar as chamadas palmadas pedagógicas em menores de idade.
Para nós, da geração Pytomba, a coisa ainda fica meio tranqüila, porque a maioria de nós tem filhos já na adolescência, no mínimo. Mas, a lei se aplica também aos adolescentes, e certamente aos nossos netos. Aí, nos perguntamos:
- Poxa, mas eu apanhei pra caramba, e agora, que é minha vez de bater, é crime?
Na verdade, nem uma coisa, nem outra: a maioria dos brasileiros já apanhou dos pais quando criança (72% segundo a Folha de São Paulo) mas não foi esta tragédia que o Lula pode pensar e, da mesma forma, não estamos pleiteando o direito de espancar nossos filhos. O que não devemos admitir é a interferência do estado num assunto tão particular porque, se é verdade que há excessos, e eles existem mesmo, já temos um Código Penal, que prevê penas de 1 a 4 anos para quem “abusa dos meios de correção ou disciplina”. Se as pessoas cometem barbáries contra seus filhos, apesar desta criminalização existente, não será uma nova lei, com características invasivas, que vai impedi-los.
No entanto, aprovada o projeto presidencial, o que vai se ver é um batalhão de “fiscais do Lula” iniciando uma caça às bruxas (afinal, as mães batem mais que os pais) e um denuncismo irresponsável. E, com a polícia preparada que temos, fico imaginando uma guarnição investigando minha casa e reportando-se ao superior:
- Alô, tenente! O meliante (eu) evadiu-se em direção à padaria do bairro e a vítima está trocando a fraldinha para se submeter ao exame de corpo de delito no IML.
Já imaginaram também o que farão as crianças? Porque, queiram ou não, as crianças não têm a capacidade de aprender o que nós ensinamos assim de primeira, e mais: elas adoram desafiar e provocar. As pestinhas vão ligar pro 190 o dia inteiro:
- Puliça, ó: meu pai me bateu no bumbum. Vem depressa, e traz pra mim um babalu de morango, tá?
Esta questão da intervenção do estado numa dinâmica familiar é um assunto muito complexo e delicado, para ser decidido assim, só na forma da lei. Cito o exemplo do agricultor preso, no início desta semana, na cidade de Pinheiro no Maranhão, sob a acusação de estupro de suas filhas, com as quais teve oito filhos-netos. A princípio, não há o que se questionar, afinal o próprio perpetrador confessou o crime. Mas somos obrigados a perguntar: por que só agora, quando ele expulsou sua esposa de casa, e quinze anos depois, o caso foi denunciado à polícia? Uma das filhas, grávida de dois meses, tem 29 anos! Ou seja, embora o abuso de menores, filhos ou não, seja crime, o incesto não é. Tínhamos, desta forma, um acordo familiar, uma dinâmica na qual os fatos ocorriam com a concordância, ou pelo menos a omissão, da família inteira, já que estamos falando de, pelo menos, doze pessoas coabitando numa casa, num lar se é que podemos chamá-lo assim, mas todos livres para ir e vir.
Portanto, meus amigos, cuidado com a bocarra do estado, pois, continuando nesta linha de raciocínio, uma possível presidenta petista poderá encaminhar um projeto de lei, determinando que, no ato sexual, as mulheres deverão ficar sempre por cima. Já pensaram o trabalho da fiscalização?
E, já que não podemos deixar o estado totalmente alheio e ocioso, que tal nos proibirem de pagar mensalidades escolares, fornecendo aos nossos filhos, boas escolas com ensino de qualidade? Que tal o presidente nos proibir de pagar planos de saúde, oferecendo atendimento médico eficiente aos nossos filhos?
Um bom começo, presidente, seria mandar a Receita Federal aceitar deduções com a escola de nossos filhos, que ultrapassarem o atual limite de R$ 225,75!

(Crônica - Jorge Marin)

sábado, 24 de julho de 2010

NELY GONÇALVES: LENDA VIVA DA CULTURA SANJOANENSE



Capítulo 2 – De Cobrinhas a Pop Som

Dias depois, por incrível que pareça, a Nely veio a se mudar para quase em frente minha casa. Mais precisamente, na Rua Cavalheiro Verardo, no primeiro andar daquele prédio dos Guazes. Eu e Zé, seu irmão, já começávamos uma bela amizade. Nesta época, eu “estudava” pela manha e Zé trabalhava na fábrica de tampinhas. Muitas vezes, sentados no murinho do córrego (não sei se ainda conseguem se lembrar dele) ficávamos, juntamente com a Nely e seu violão, escutando a Rádio Mundial AM em um radinho alaranjado de marca Philips. Ali, muitas vezes, enquanto rolava aquele divertido papo, aproveitávamos e montávamos o repertório, ensaiávamos algumas passagens, além, é claro, de não deixarmos de “meter o pau” em alguma coisa.
Como já dizia o Silveleno: “O negócio é meter o pau! Num quero nem saber em quê!”
Para nossa felicidade, a Nely, ainda hoje, continua com seu peculiar alto astral que, por sinal, parece coisa de outro mundo. Para se tere uma ideia, dias atrás, quando conversava com ela e falava sobre esta possível postagem, ao lhe perguntar qual nome iria me sugerir, simplesmente respondeu:
- Coloca aí Serjão: “NEGA PRETA DO “SUBACO” FEDORENTO RASPA A BUNDA NO CIMENTO PRA GANHAR MILIQUINHENTO”. Só sei que, desta vez, preferi não atendê-la e, mesmo a seu contra gosto, achei melhor colocar:
NELY GONÇALVES.
“LENDA VIVA DA CULTURA SANJOANENSE”.

Mas, voltando aos Cobrinhas, nesta época, já com a presença do Oberon, começaria o troca-troca de nomes do conjunto devido à entrada de alguns componentes do Pytomba. Um a um, íamos sendo convidado pela Nely e passaríamos também, com muito orgulho, paralelamente ao Pytomba, a fazer parte do grupo. Dalminho foi o primeiro a ser convidado e o conjunto começou a se chamar N5. A seguir, foi minha vez passando então para N6. Finalmente, nos teclados, veio Silveleno e o conjunto passou então a se chamar N7. Modéstia à parte, esta mesclada de componentes encaixou como uma luva. Grandes e memoráveis bailes aconteceriam na cidade, e mesmo fora dela. Foram adquiridos novos instrumentos, nova iluminação, um novo repertório, além da mudança definitiva do nome, que finalmente passou a se chamar Pop Som.
Entre esses bailes, não poderia deixar de citar: Festa do Grilo, Transete e Namorados e algumas apresentações na Expo 72 que, por coincidência, foi recentemente citada no blog.
Foram realmente bailes inesquecíveis dos quais, tenho certeza, muitos ainda se lembrarão.

Quanto ao repertório, talvez pela presença de alguns componentes do Pytomba, eram muito parecidos. Uma das músicas que teria marcado mais foi “It's All Right”. A galera pulava sem cansar, enquanto a música durava uma eternidade.
Também, devido ao Pop Som ter sido um conjunto exclusivamente voltado para bailes, tinha como carro chefe uma gostosa rodada de samba que sempre acontecia já na metade do baile. Entre alguns desses sambas lembro-me muito de “Regra Três”.
Também algumas músicas do Santana marcaram muito e, entre elas, citarei: Guajira e Everything Coming Our Way. Modéstia à parte, a percussão, nesta hora, “corria solta”.
Como introdução, iniciávamos o Baile fazendo um som em Lá menor, som este elaborado pelo conjunto, e que também fazia muito sucesso.

A escalação oficial do conjunto, que por sinal, veio a permanecer até seu termino, ficou assim: Nely (voz), Dalminho (voz e guitarra base), Oberon (guitarra base), Antônio (guitarra solo), Silveleno (teclados), Zé (bateria), Márcio (contrabaixo), Serjão (tumbadora) e Macu (técnico em transporte – eita nome chique este!).
Dificilmente passava um sábado em que não fôssemos tocar em outra cidade. Quando isso não acontecia, fazíamos nossos bailes na antiga sede do Operário, no andar de cima, onde hoje se encontra a Confecção Convés.

Mesmo sendo a maioria de nós menor de idade, nossos pais confiavam plenamente na Nely. Se estivéssemos com ela em função de música, eles ficavam tranquilos.
Numa dessas saídas para tocar em outra cidade, esqueci de avisar que iríamos a Pequeri. Quando, de madrugada, o velho Tuninho observou que eu ainda não havia chegado, saiu de pijama, pela rua, indo até à casa da Nely para saber informações. Deveriam ser umas quatro da madruga e ele, ao bater na porta, foi acordar a dona Hermínia que, assustada, informou que teríamos ido a Pequerí. Que alivio! E assim, voltou sossegado pra casa.
Mas ainda bem que ele teve esta iniciativa, pois teria sido justamente neste final de noite, após chegarmos lá pelas 6 da matina que, ao descarregarmos toda aparelhagem, resolvemos de repente tocar em uma missa com a Nely. Ai você já viu: papo vai, papo vem, e fomos chegar em casa quase na hora do almoço!
Na próxima semana: Pobremas com a Pareiage.

(Crônica – Serjão Missiaggia)

PESQUISA: UM GAMBÁ CHEIRA O OUTRO?



Na semana passada, no post da Nely, o Serjão pediu que eu conduzisse uma reflexão sobre o motivo pelo qual um gambá cheira o outro. Pensei em partir de uma pesquisa zoológica, mas cheguei à conclusão que isto não se trata da vida dos bichos, já que os tais marsupiais de fragrância incomum NÃO ficam se cheirando. Na verdade, os gambás são animais solitários: é muito comum vê-los atropelados, devido à sua lerdeza longe das árvores. É verdade que eles se cheiram na época do acasalamento, mas este ocorre apenas umas três ou quatro vezes por ano. Portanto, é melhor analisar a frase original, comparando os humanos aos gambás, o que, temos que reconhecer, vai se mostrar muito humilhante... para os gambás.
Pra começo de conversa, gambá bebe, assim como a maioria de nós, humanos. Mas, enquanto o gambá cheira mal, os humanos cheiram bem. E como cheiram! Vai daí que, bebendo e cheirando, acabam por achar que a vida deles só tem sentido se alguém, um outro, reconhecer isso. Vejam que chegamos aqui à uma conclusão muito importante: enquanto o gambá é um indivíduo solitário, vivendo a vida dele, o ser humano é um sujeito e, como sujeito, dependente do que os outros pensam dele.
Há alguns anos, esta dependência era uma coisa que poderia ser classificada de normal: afinal, os filhos se esforçavam para que os pais os reconhecessem como bons, os maridos também se esforçavam para que as esposas os considerassem homens de bem, assim como elas próprias buscavam ser classificadas como virtuosas e boas mães. Mas, da mesma forma que os gambás na estrada, o tempo passa e, com a evolução (será?) dos costumes, já não há mais aquela necessidade de significação paterna, ou seja, não importa muito se, para meus pais, eu sou bom ou não. No entanto, o bicho homem continua dependente de reconhecimento: ele, agora, tem de ser reconhecido como um winner, um grande vencedor, mas também como ético, politicamente correto, magro, jovem e esperto.
Para receber todos estes elogios, o homem necessita estar rodeado de pessoas que façam aquele papel da mãezinha, dizendo que ele é gostosão, cute cute, coisa linda, fofolete e estas coisas de mãe. E, geralmente, arrumam uma mulher (que, por sua vez, também tem que ser vencedora, ética, correta, magra, jovem e esperta) para ficar, sempre que o bonitão quiser, recitando aquela ladainha que, vamos combinar, fora dos cueiros, é uma tremenda chateação.
Mas, também conforme os gambás, a coisa começa a não cheirar bem, no momento em que a pessoa descobre que este outro começa a dar sinais de cansaço, pois ficar enchendo ego é pior do que torcer pra seleção que tem técnico burro: é unir o inútil ao desagradável. Aí a coisa pega porque, antigamente, como diziam as nossas avós, este papel de “levantador” era uma função eminentemente feminina, e as mulheres se compraziam em encerar, com suor, o assoalho onde os maridos iriam passar. Mas hoje a coisa não é mais desse jeito e as mulheres começam a querer, vejam que petulância, a ser tratadas e significadas como fantásticas, absolutas, jolie (angelina) e, claro, magérrimas.
Gambá vai, gambá vem, e todo este ti-ti-ti desemboca num conflito de egos que pode parecer engraçado, quando colocamos desta forma, mas, na dura realidade do dia a dia, tem culminado com uma verdadeira caça às mulheres. É um desportista que mata a amante, é o advogado que mata a ex-namorada, além do adolescente que, rejeitado por uma ficante de dez dias, vai lá e dá um tiro na cara da garota.
Tudo isto é muito preocupante, porque parece que as relações estão sendo pontuadas, nos dias atuais, por uma necessidade cada vez maior, de reconhecimento, mas, ao mesmo tempo, por um antagonismo que beira a esquizofrenia: é muito comum estes perpetradores afirmarem a frase “se ela não ficar comigo, também não vai ficar com mais ninguém”.
Vamos nos tratar, gente! Porque, se nos escandalizamos com tudo isto, é bom saber que esta pessoa que está ao nosso lado não tem, absolutamente, a obrigação de nos esperar, de nos olhar, de nos desejar, ou de se deixar seduzir, ou servir de guia, ou nada. Porque esta pessoa que nos ouve, ou fala conosco, é somente uma pessoa: não uma escada, ou um altar, ou um pódio. No fundo, no fundo, sempre estivemos, e estaremos, sós. Assim como nosso querido amigo gambá, vivemos sós. É lógico que podemos nos reunir para interesses comuns, como acasalamento, por exemplo, que pode até ser uma excelente oportunidade para exercer a arte da convivência. E mesmo o estabelecimento das bases para um amor verdadeiro.
Enquanto isto não acontece, vamos ficar atentos. Não somos tudo isto que pensamos, mas também não somos pouca coisa. Além disso, dizem, há um Deus do nosso lado, mesmo para os que têm fé de menos, ou até para o gambá, que fede mais.

(Crônica – Jorge Marin)

sexta-feira, 16 de julho de 2010

NELY GONÇALVES: LENDA VIVA DA CULTURA SANJOANENSE



Capítulo 1 - Os gambás

Interessante como um gambá cheira o outro. Diria até que, mais interessante ainda, é como vários gambás também acabam se cheirando, ou melhor, se achando...
Este fenômeno pode ser individual ou mesmo coletivo. Na verdade se trata de uma forte força de atração meio que assim... Bem: deixarei para meu amigo Jorge explicar melhor numa outra oportunidade. Só sei que, como não poderia deixar de ser, mais uma vez, este enigmático provérbio popular veio a se tornar realidade.
E vamos então aos fatos:
Mas pra isto teremos que voltar novamente ao inicio do blog entre 1971 e 1972 numa época em que, paralelamente ao Pytomba o conjunto Cobrinhas de Nely Gonçalves também aprontava “todas”. Se bem que a similaridade entre ambos se restringiria apenas aos causos engraçados, pois musicalmente falando, reconheço que estávamos ainda engatinhando. Bons músicos, já compunham os Cobrinhas: Nely, Zé seu irmão, Daniel, Marcio, Antonio, Paulinho e Wilson Ramiro.
Nely, nesta época, morava no inicio da Rua do Descoberto onde também dava suas aulas de violão. Por sinal, foi exatamente neste período que, começaríamos a conhecê-la.
Dia sim e outro também e la estávamos nós, Silveleno e eu, chegando pra fazer uma visita. Sentávamos na varanda e, em um banco de madeira, ficávamos esperando apenas que as aulas terminassem para que assim pudéssemos nos divertir com aqueles descontraídos papos que, rolariam com certeza. Muitas vezes juntava-se a nós sua simpática e não menos divertida mãe, dona Hermínia, alem é claro, de seu irmão e já baterista Zé. E como riamos!
Da mesma forma também, vez ou outra, lá estava ela vindo fazer suas primeiras incursões na oficina do Silvio Heleno. Chegava quase sempre acompanhada por um ou outro componente trazendo consigo algum aparelho para consertar. É ruim de pagar taxi principalmente naquela época de vacas magras. Se bem que os aparelhos ficavam guardados bem ali no Mangueira e eram pequenos e fáceis de carregar. Alias era só sair do Rubro Bar, pegar um atalho pela quadra e passar pelo portão dos fundos até a oficina. E assim dessa forma, carregando pela alça, aquelas malas digo, aqueles pequenos aparelhos a válvula de marca Ipame ou Phelpa, lá chegava ela, nossa futura madrinha, à procura do Picorone. Forma carinhosa como ela o trata até hoje. Ah, já ia me esquecendo que, juntamente com o aparelho de som, vinha também, a nosso pedido, uma guitarra Giannini Supersonic. E ficávamos fascinados com estes instrumentos, pois tudo era novidade. Ainda mais para nós que éramos acostumados apenas com violão adaptado com cristal e um alto falante que ficava passeando pelo chão. Imaginem a curtição ao fazer barulho numa guitarra que possuía alavanca e que era ligado num aparelho que possuía vibrato, pedal de auá. Silvio Heleno procurava enrolar o maximo a entrega do serviço para que assim pudéssemos ficar brincando com os aparelhos até tarde da noite.

Nesta ocasião, os Cobrinhas, era a coqueluche dos bailes, principalmente aqueles que eram realizados no Rubro Bar. E falando em Rubro Bar, não poderia esquecer que foi exatamente em sua galeria, recentemente inaugurada, que naquele famoso barzinho Zoom Frutas, Silvio Heleno e eu, ao aceitarmos um convite da Nely para saborearmos uma deliciosa batida de Coco que, iríamos tomar nosso primeiro pileque. E que fugaré!!! Isso pra não falar que, pra piorar ainda mais a situação, exatamente no auge de nosso entusiasmo, começou a sair da quadra em direção a galeria, uma banda que, estava tocando no festival de chope. Ao darmos por nós, já estávamos em plena Rua do Sarmento de mãos erguidas para o alto, acompanhando a banda e cantando aquela famosa musica de carnaval: “Mamãe eu quero”
Mas na verdade, enquanto acompanhávamos a banda, ficávamos era de olho nos instrumentos e mesmo não entendendo “patavina” de metais nosso desejo, era a qualquer custo, dar aquele “pega”. Por muito pouco, quase que teríamos conseguido realizar nosso grande sonho, ou seja: poder um dia, encaixar uma boa embocadura naquela tuba e no trombone de vara.
Os músicos, já estavam de “saco cheio” da gente e um pouco mais não sei o que seriam capazes. Foi triste! Mas acho que foi justamente aí que começou nascer o tal de “Pega”

Mas ainda falando sobre o Rubro Bar, recordo bem de como era difícil conseguir chegar num daqueles sábados à noite até lá em cima. Uma aventura que muitos até desistiam sendo que outros nem mesmo tentavam. Era gente que não acabava mais e que ficavam se espremendo naquela escadinha que mal deveria ter meio metro de largura. Mas tudo fazia parte da festa e subir então espremido entre paqueras era ainda melhor.

Numa dessas vezes, após conseguir com muito sacrifício vencer aqueles degraus, ao chegar ao Rubro Bar, ficamos impressionados ao ver que a Nely estava cantando varias musicas
internacionais. Digo impressionado porque dias atrás ela já havia nos confessado que não sabia dizer uma santa palavra em inglês. Mas como? Como teria aprendido tão rápido? E era um repertório inteiro. Uma resposta que só ficaríamos sabendo no outro dia: Imaginem vocês que momentos antes de iniciar o baile a danada sentou-se em uma daquelas mesinhas do Rubro Bar e simplesmente começou a juntar todos os nomes de musicas internacionais que conhecia. Conseguiu compor varias letras invertendo apenas a ordem das palavras.
E o pior que enganava a maioria das pessoas inclusive a nós. Os bebuns então nem se fala!
Juntamente com o Botachop aquele varandão do Rubro Bar era tudo de bom.

Na próxima semana: De Cobrinhas a Pop Som

(Crônica - Serjão Missiaggia)

sexta-feira, 9 de julho de 2010

E QUE VENHA MAIS UMA COPA



Capítulo 5 – Alemanha 2006 e África do Sul 2010

Em 2006, desembarcamos, mais uma vez, na Alemanha, para mais uma copa. Nosso técnico novamente foi Parreira, tendo como auxiliar direto seu fiel escudeiro Zagallo.
E lá estaria novamente, em nosso caminho, a “urucubaca” da França. Perdemos de 1x0 e voltaríamos, mais uma vez, precocemente, por causa deles.
Por incrível que pareça, justamente desta copa, por sinal a mais recente, quase nada me recordo. Só sei que fiquei em casa acompanhando os jogos com a família, comendo pipoca.
A Itália faturou o titulo, derrotando a frança na final. Mama mia!

Agora foi a vez da África do Sul sediar um campeonato mundial de futebol.
A primeira em um continente africano. Dunga, nosso capitão da copa de 1994, agora como técnico, teve a difícil missão de tentar trazer pro Brasil o Hexa Campeonato.
O fato é que, mesmo antes daquele desfecho melancólico, não tive nenhuma motivação com esta copa, dá para acreditar? Não teve jeito de pintar aquela química gostosa. É como se já estivesse em 2014.
Olha só que coisa mais inusitada: na hora do jogo com o Chile, eu estava, juntamente com Dorinha e Matheus, tomando café enquanto assistíamos a TV. Quem diria!

Apenas uma nota:
Por ironia do destino, justamente na década de 40, quando um dos maiores fenômenos do futebol mundial, Heleno de Freitas, se encontrava no auge de sua forma, infelizmente, não houve copa do mundo por causa da segunda grande guerra.
Seriam as Copas de 1942 e 1946. Lamentável!

(Crônica – Serjão Missiaggia)

A observação final do Serjão denota um sentimento que é comum à maioria dos brasileiros: é a sensação de pertencimento. Quando ele fala com pesar dos feitos que o Heleno de Freitas deixou de realizar, fica claro que ele está falando do NOSSO Heleno que, se tivesse continuado conosco, estaria completando seus noventa anos, um garoto, se comparado ao Oscar Niemeyer, por exemplo.
O mesmo aconteceu com a Seleção Brasileira: em 70 sabíamos e, mais importante, sentíamos que era a NOSSA seleção. Torcíamos como se fosse NOSSO time do coração. Em 74, o que se viu foi a seleção do Zagallo, em 78, a do Coutinho até culminar com a atual seleção, do Dunga. Exceção talvez para aquele time de 82, que, mais uma vez, era a NOSSA seleção.
Brasileiro não é bobo, sabe sentir e exprimir seus sentimentos como ninguém. O que temos visto, nestas últimas copas, é um comportamento igual ao do carnaval:
- Deixa eu tomar umas três cervejas pra torcer pelo Brasil!
- Aumenta o som desta música baiana aí, pra gente torcer!
Não tenho nada contra cerveja ou música baiana, mas torcer para o Brasil, em 70, não exigia nenhum tipo de estimulante químico ou acústico, pois, na hora do Hino Nacional, o coração já estava disparado. Quando o Brasil ganhava, e ganhou todas, a voz quase não saía de tão roucos que estávamos. E as lágrimas escorriam, enquanto um riso tranquilo ficava em nossas faces. Era o Brasil dos nossos corações.
Não se trata de saudosismo, porque isto é possível ainda hoje, e em 2014, com certeza. Com o talento de cada jogador, com organização, disciplina, competência e humildade.
E que venha mais uma Copa!

(Comentário - Jorge Marin)

quinta-feira, 8 de julho de 2010

TIO PITOMBO E AS COPAS



Capítulo 10

“Aqui, meu filho – pergunta o tio – se você foi testemunha das copas mais recentes, por que continua me pedindo para contar?”

Explico que eu vi apenas o que eu pude perceber, mas que a visão do tio é diferente: ele não só vê, como percebe coincidências, que ele chama de intervenção dos deuses do futebol. Além disso, o tio prevê (já deu o resultado da copa) e, até o momento, suas previsões estão se cumprindo.

“Em primeiro lugar, eu quero te dizer que, quando eu falo em deuses do futebol, não estou falando de nada esotérico: são simplesmente probabilidades. Por exemplo, estou dizendo que a Holanda vai ganhar a copa. Por que? Vamos lá: olha, a Espanha perdeu na estreia para a Suiça e, até hoje, nenhum time foi campeão tendo perdido o primeiro jogo (a Argentina queria ser bi em 82, perdeu o primeiro jogo para a Bélgica e dançou; a mesma coisa aconteceu em 90, quando os hermanos perderam para Camarões). Além disso, nenhum campeão europeu, que é o caso da Espanha, ganha a copa também. Aconteceu uma única vez, com a Alemanha que ganhou a Eurocopa em 72 e a copa em 74, mas a copa foi lá. Depois, veja a França, foi campeã do mundo em 98, ganhou a Eurocopa em 2000, mas na copa de 2002, que eu vou contar daqui a pouco, saiu com o rabo entre as pernas, sem marcar um único gol. A própria Alemanha foi campeã da Eurocopa em 96 e perdeu da Croácia por 3 a 0 na semifinal da copa da França em 98. Outra indicação de ganhar copa é a invencibilidade: quase todos os campeões vinham de longa invencibilidade, como é o caso da Holanda agora, que não perde há 25 jogos. Sem contar que a Holanda não perde para time grande (ela só perdeu para Austrália, Rússia, Belarus, Romênia e Suíça). Outra coisa fundamental, é que, diferente do Botafogo, não há seleção mundial tri-vice que não tenha ganhado o título: a Alemanha, por exemplo, já foi vice quatro vezes, mas ganhou três copas. Agora, o que é mais importante de tudo, tenho certeza de que a Holanda vai ganhar porque o Pelé disse que a campeã vai ser a Espanha e o Pelé sempre erra.
Mas vamos à copa de 2002. Como você sabe, foi uma copinha chatinha, disputada meio a meio entre Japão e Coreia do Sul. Brasil e Alemanha foram os destaques, principalmente porque os outros grandes decepcionaram: a França, como eu falei, foi ridícula: perdeu para o Senegal, empatou com o Uruguai e perdeu para a Dinamarca, não marcou nenhum gol e ficou em 28º lugar. A Argentina também dançou feio, pois perdeu para a Nigéria, para a Inglaterra e empatou com a Suécia. Neste jogo contra a Suécia, o Caniggia, nosso carrasco em 90, foi expulso no banco de reservas. A Itália, por sua vez, conseguiu se classificar para as oitavas, mesmo perdendo para a Croácia, mas foi eliminada pela Coreia do Sul, por 2 a 1, no tal gol de ouro, que a FIFA parou de usar depois desta copa. Aliás, quem marcou primeiro, neste jogo, foi a Itália com o Tommasi, mas o juiz Byron Moreno anulou e, só depois, o Ahn marcou para a Coreia. A Itália teve simplesmente cinco gols anulados na copa, e foram todos gols legais. Este jogador coreano, Ahn Jung-Hwan, jogava na Itália, e o clube dele, o Peruggia, demitiu o carrasco na hora. Hoje ele joga na Coreia do Sul mesmo.
A Coreia do Sul e a Turquia foram as grandes surpresas da copa, chegaram até as semifinais, mas perderam: a Coreia para a Alemanha e a Turquia pra nós, os dois jogos por 1 a 0. Por falar nisto, neste jogo contra a Turquia o juiz da Coreia do Sul deu um pênalti a nosso favor, mas a falta, sobre o Luizão, foi claramente fora da área. Aí, quando a Turquia reagiu e partiu pra cima, o Alpay chutou uma bola nas pernas do Rivaldo, mas ele caiu, fingindo que tinha sido atingido no rosto. O juiz Kim, de novo, nos favoreceu e expulsou o turco. Nesta copa, nós não podemos reclamar, pois os juízes foram sempre a nosso favor: no jogo contra a Bélgica, por exemplo, o juiz jamaicano Peter Predergast, que usava um apito verde e amarelo, anulou um gol do Wilmots dizendo que ele tinha empurrado o Roque Júnior, mas não aconteceu nada.
Na final, no dia 30 de junho, a Família Scolari, comandada pelos 3 Rs, Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho e Rivaldo, detonou a Alemanha por 2 a 0, com dois gols do Fenômeno e um frango da ‘muralha’ Oliver Kahn, que ganhou o troféu bola de ouro como o melhor jogador da copa, mas o Ronaldo ganhou a chuteira de outro da FIFA. E nós nos sagramos pentacampeões do mundo.

A copa de 2006 aconteceu só para que a Itália se vingasse da Alemanha. Você lembra: em 90, a copa foi na Itália e a Alemanha ganhou. Agora teve a revanche. Foi a primeira copa em que o campeão anterior, no caso nós, teve que disputar as eliminatórias. Esta copa já era para ter sido jogada na África do Sul e a FIFA afirmou que pretende rotacionar as copas entre as suas federações.
Tirando eu, ninguém acreditava que a Itália seria a campeã, porque, um mês antes, estourou aquele escândalo da maracutaia dos juízes no campeonato italiano, envolvendo até o Marcello Lippi que, mesmo assim, continuou treinando a seleção.
O grande nome desta copa foi o Zidane, que foi escolhido o melhor jogador da copa, mas ficou lembrado mesmo por causa da cabeçada que deu no peito do Materazzi, que teria xingado a irmã dele. Teve também o Ronaldo que, nesta copa, completou 15 gols e se tornou o maior artilheiro das copas. O Klose, da Alemanha, atingiu 14 nesta copa e pode se igualar ao Ronaldo sábado que vem, na disputa pelo terceiro lugar com o Uruguai. Outro recorde foi a quantidade de partidas sem gol, sete, número que foi alcançado, infelizmente, também nesta copa. Mais um recorde também, este até engraçado, é que foi a primeira vez em que um jogador recebeu três cartões amarelos: foi um tal de Josip Simunic da Croácia; o juiz, o inglês Graham Poll nunca mais apitou pela FIFA. Ah, por falar em arbitragem, a copa de 2006 também foi recorde de cartões vermelhos, com 28 expulsões. Na África do Sul, tivemos até agora só 16.
A Itália, pra ir à final, ganhou de Gana e da República Tcheca por 2 a 0 e empatou com os Estados Unidos em 1 a 1. Depois, ganhou da Austrália, com um gol de Totti, de pênalti, aos 50 do segundo tempo. Na semifinal, que foi o jogo da vingança, ganhou da Alemanha, no segundo tempo da prorrogação por 2 a 0.
A França, por sua vez, tinha feito uma campanha chinfrim, empatou com a Suíça em 0 a 0, e com a Coreia do Sul em 1 a 1, e ganhou de Togo por 2 a 0. Nas oitavas, ganhou da Espanha, de virada, por 3 a 1 e, nas quartas, você deve se lembrar bem, jogou com o Brasil e, aos 12 minutos do segundo tempo, enquanto Roberto Carlos ajeitava seu belo meião, Thierry Henry, com o pé, veja bem, com o pé, marcou o gol da vitória.
O resto, você também deve se lembrar bem, no dia 9 de julho, no Olympiastadion, em Berlim, o Zidane fez 1 a 0 aos 7 minutos, num gol de pênalti. O mesmo Zidane deu a tal cabeçada no Materazzi, e foi expulso pelo Elisondo do Uruguai. O Materazzi empatou pra Itália aos 19. Na prorrogação, todos os italianos marcaram, mas o Trezeguet errou. E a Itália se tornou tetra.”

Obrigado, tio. Eu venho aqui no sábado, torcer pelo Uruguai, e, no domingo, para conferir sua previsão. Mas só se tiver macarronada, e aquele borgonha!

(Artigo - Jorge Marin)

quarta-feira, 7 de julho de 2010

TIO PITOMBO E AS COPAS



Capítulo 9

Termina o jogo Holanda e Uruguai e o tio me olha com aquele olhar do tipo “eu já sabia” e arrisca um palpite para a final da copa – Holanda 2 a 1 na Espanha. Relembra que os deuses do futebol são implacáveis e começa, a meu pedido, a falar da copa de 1994 na qual, segundo ele, a Itália foi castigada pelos tais deuses do futebol.

“Esta copa foi uma copa ridícula, que começou com a Diana Ross batendo um pênalti pra fora e terminou com o Roberto Baggio também batendo um pênalti pra fora. Ou seja, não foi o Brasil que ganhou a copa, foi a Itália que perdeu.
Quando falaram em fazer a copa nos Estados Unidos, era de se esperar que fosse um fracasso, pois o futebol, soccer pra eles, não tem nenhuma tradição no país. Mas, pra surpresa de todo mundo, foi um sucesso, o maior recorde de público, não batido até hoje. Dois países foram proibidos de participar: a Iugoslávia, em guerra com a Bósnia, e o Chile por causa da palhaçada feita pelo goleiro Roberto Rojas que, no jogo contra o Brasil nas eliminatórias, fingiu que tinha sido atingido por um foguete que uma torcedora maluca disparou.
Falando em eliminatórias, nós quase fomos eliminados com aquele futebolzinho medíocre da dupla Parreira e Zagallo. Mesmo tendo ganhado a copa, a gente tem que admitir que era um esquema tipo funcionário público, sem emoção, e a retranqueira que já tinha sido aplicada na copa de 88. O que salvou foi a dupla Bebeto e Romário, que fez a diferença.
Ganhamos da Rússia por 2 a 0, de Camarões por 3 a 0 e empatamos com a Suécia em 1 a 1, este jogo foi disputado no famoso estádio coberto, o Pontiac Silverdome em Detroit. Nas oitavas, ganhamos dos Estados Unidos em pleno dia 4 de julho, dia da independência, com um gol do Bebeto.
Nas quartas, fizemos o jogo com a Holanda, que foi vingado agora, porque ganhamos de 3 a 2, mas foi injusto: o gols foram todos no segundo tempo, o Romário marcou aos 8 e o Bebeto aos 18, num lance em que o Romário estava claramente impedido, mas o juiz da Costa Rica não marcou. Neste gol foi que o Bebeto fez o gesto como se embalasse um neném, porque o filho dele Matteus tinha nascido um dia antes. A gente ainda estava gritando gol, quando o Bergkamp diminuiu e, doze minutos depois, o Winter empatou. Aí o Branco cavou uma falta e, mais uma vez, o juiz Rodrigo Badilla nos ajudou: o próprio Branco fez 3 a 2 aos 36 minutos. Fomos para a semifinal com a Suécia e ganhamos com um gol do baixinho Romário, de cabeça.
Na final, contra a Itália, que também fez uma campanhazinha muito fraca, deu o placar merecido para os dois, zero a zero. Na prorrogação, também zero a zero. Baresi bateu o primeiro pênalti e perdeu (Galvão Bueno já urrava ‘vai que é sua, Taffarel!”), mas o Márcio Santos também errou. Até nos pênaltis, dava zero a zero. Aí o Albertini bateu e fez 1 a 0, o Romário empatou, Evani fez 2 a 1 e o Branco empatou de novo, o Massaro bateu e o Taffarel pegou, o Dunga fez 3 a 2 e o craque da Itália Roberto Baggio chutou pra fora. Muita festa pelo tetra, mas pouca emoção.
Emoção mesmo, tristes emoções, aconteceram fora de campo: o jogador Andrés Escobar, da Colômbia, marcou um gol contra na derrota para os Estados Unidos e, quando voltou para Medellin, foi assassinado com 15 tiros num restaurante. Maradona fez exame antidoping depois do jogo com a Nigéria (a Argentina tinha ganhado por 2 a 1) e acharam na urina dele: efedrina, norefedrina, pseudoefedrina, norpseudoefedrina e metaefedrina. Só. Dava pra montar uma farmácia. Como ele já tinha sido punido por 15 meses porque foi pego num exame antidoping quando jogava no Napoli, a FIFA tascou mais 15 meses de suspensão. O Maradona cumpriu a punição de novo, voltou a jogar no Boca Juniors e sabe o que aconteceu? Pegaram ele de novo no antidoping no dia do aniversário dele. Aí não teve jeito: ele parou. Outra ocorrência foi aqui mesmo, quando a seleção desembarcou trazendo 17 toneladas de muamba dos Estados Unidos, inclusive o Ricardo Teixeira, que tinha feito umas comprinhas pro bar dele no Rio. Como a Receita Federal ameaçou tributar as compras, o presidente da CBF ameaçou não desfilar pelas ruas do Rio. A seleção ganhou também a guerra fiscal e entraram no país com seus badulaques.”

E a copa da França, tio?

“Eu já te falei que a copa de 98 foi arranjada para a França ganhar. Esta copa foi a primeira a usar a fórmula atual de 32 seleções em 8 grupos. Foi a que teve mais gols até hoje: 171. Antes de irmos para a França já tivemos a polêmica do Romário, que foi cortado porque ainda não estaria em boas condições físicas, embora, com certeza, estivesse melhor que o Kaká nesta copa. A torcida do Flamengo, onde o Romário jogava, não perdoou o Zico, que era coordenador técnico do Zagallo.
A Argentina também estava com linha dura: o técnico Passarella cortou o Redondo e o Caniggia porque não queria ninguém de cabelo comprido. Já imaginou? Os argentinos de cabelo curto? O Batistuta cortou o cabelo e jogou a copa.
O Brasil veio bem, tinha alguns da copa dos Estados Unidos, como Dunga e o Taffarel e alguns jovens, como o Roberto Carlos, o Rivaldo e o Ronaldo Fenômeno. Apesar de perdermos para a Noruega de 2 a 1, derrotamos a Escócia e o Marrocos e ficamos em primeiro no grupo. A França também começou bem, mandou 3 a 0 na África do Sul, 4 a 0 na Arábia Saudita e 2 a 1 na forte Dinamarca.
Nas oitavas, teve um jogo com muita emoção e muita catimba que foi Argentina e Inglaterra. Com o Mick Jagger na plateia, torcendo para os ingleses, adivinha quem ganhou? Na verdade, ficou 2 a 2, mas a Argentina, lógico, ganhou nos pênaltis por 4 a 3. E o Beckham entrou na pilha do Simeone e ainda foi expulso. O Brasil, como na copa atual, ganhou de presente o Chile e goleamos por 4 a 1. Mas a França passou aperto com o Paraguai e só ganhou na prorrogação com o famoso gol de ouro, que era usado nesta copa, e o Blanc, que é o novo técnico da França, fez 1 a 0.
Pegamos a Dinamarca, uma pedreira, começamos perdendo, mas viramos e ganhamos de 3 a 2. A França pegou outra pedreira, a Itália, empataram em 0 a 0, e, desta vez, nos pênaltis, o Roberto Baggio marcou, mas o Di Biaggio errou e a França ganhou de 4 a 3. A Holanda ganhou da Argentina por 2 a 1 e a Alemanha, veja só, perdeu de 3 a 0 para a Croácia, que era outra sensação da copa.
Nas semifinais, estávamos ganhando da Holanda de 1 a 0 (gol do Ronaldo), mas o Kluivert empatou aos 42 do segundo tempo e, nos pênaltis, o Taffarel defendeu dois, e ganhamos por 4 a 2. Enquanto isto, a França começou perdendo da Croácia, mas acabou virando com dois gols do Thuram que, detalhe, nunca tinha feito um único gol pela França.
Na final, que você deve se lembrar muito bem, aconteceu a famosa convulsão do Ronaldo e o Zagallo, ao invés de escalar o Edmundo, manteve o Fenômeno, que não jogou nada, assim como o resto do time. E a França mandou 3 a 0, com dois gols do Zidane e um do Petit no finalzinho.
A música tema da copa era La Copa de la Vida, cantada pelo menudo Ricky Martin que, na época, era homem.”

O tio dá uma risadinha e começamos a assistir Alemanha e Espanha. O tio fala que vai dar Espanha.

(Artigo - Jorge Marin)

terça-feira, 6 de julho de 2010

TIO PITOMBO E AS COPAS



Capítulo 8

Estamos sentados na ampla sala da casa do Tio Pitombo, aguardando o início da partida entre Holanda e Uruguai. O tio está inquieto: afirma que vai torcer para o Uruguai “por causa do Loco Abreu”, mas insiste que, de acordo com os deuses do futebol, a Holanda será a campeã da copa. Peço para ele continuar falando das copas e ele começa a fazer graça com a copa de 1986, no México.

“Nesta copa aí que você está falando, o Brasil foi mais uma vez à final.”

E, antes que eu começasse a duvidar da memória enciclopédica do tio, este emendou, dando uma gargalhada.

“Uai, quem apitou a final não foi o Romualdo Arppi Filho? Então. Ele deu até um cartão amarelo para o Maradona! Mas esta foi uma copa chinfrim, era pra ser na Colômbia, mas a Colômbia estava quebrada e não deu conta. Aí ofereceram pra nós, mas o Sarney não quis. Aí o México acabou aceitando, mesmo tendo passado por um grande terremoto em 1985. Foi a copa do Maradona, que tinha sido barrado pelo Dr. Bilardo em 82, e agora voltava, com novos nomes, como Valdano, Burruchaga, Pumpido e até o Passarela na reserva, já pensou?
O Brasil começou com um pouquinho de tumulto, mas o Telê, que não era bobo, deu a volta por cima: no dia do embarque para o México, o Leandro do Flamengo disse que não ia mais, porque o amiguinho dele, o Renato Gaúcho tinha sido cortado porque saiu da concentração sem permissão. O Telê promoveu o Edson do Palmeiras e convocou o Josimar do Botafogo, mas, já no segundo jogo, o Telê botou o Josimar como titular e ele jogou muito, marcou dois golaços, um contra a Irlanda e outro contra a Polônia.
Nós estreamos contra a Espanha no Estádio Jalisco, na hora do hino, em vez do nosso ‘ouviram do Ipiranga’, tocaram, não sei por quê, o “salve lindo”, o Hino à Bandeira, mas ganhamos de 1 a 0, gol do Sócrates; a Espanha empatou com um gol autêntico do Michel, mas o juiz, um australiano, anulou dizendo que a bola não havia entrado. Aliás, nós só levamos um gol na copa, e foi justamente naquela partida sinistra contra a França. Foi ali, no México, que os deuses do futebol botaram a França pra assombrar a gente.
Eu lembro bem, porque foi num dia 21 de junho, aniversário da conquista da copa de 1970, ali mesmo no México, e também aniversário do Michel Platini, que era o melhor jogador da França e estava completando 31 anos. O Platini ganhou um presente e nos deu um presente: fez o gol do empate, aos 40 do primeiro tempo (o Careca tinha feito 1 a 0) e depois errou o pênalti. Mas, por falar em errar pênalti, o Zico, aos 30 do segundo tempo, bateu e o Bats pegou. E o Bats pegou de novo, quando o Sócrates bateu o primeiro da disputa de pênaltis, Stopyra fez 1 a 0, Alemão empatou, Amoros fez 2 a 1 e o Zico, desta vez, marcou e empatou de novo, aí o Bellone chutou, a bola bateu no travessão, bateu nas costas do Carlos e... entrou, 3 a 2, o Branco empatou de novo e aí, o aniversariante Platini chutou pra fora (3 a 3). Aí veio o nosso zagueirão Júlio César, do Guarani, e mandou aquela bomba... na trave. O Fernandez marcou e voltamos pra casa.
Daí pra frente, só deu Argentina: eles tinham ganhado da Coreia do Sul por 3 a 1, empataram em 1 a 1 com a Itália e mandaram 2 a 0 na Bulgária. Nas oitavas, ganharam do Uruguai por 1 a 0 e, nas quarta, da Inglaterra por 2 a 1, com aquele gol em que o Maradona driblou seis ingleses e, depois, aquele outro de mão, a mão de Deus. Curioso é que, como o técnico da Inglaterra tinha morrido de ataque cardíaco no jogo das eliminatórias contra o País de Gales, chamaram para técnico um tal de Alex Ferguson que, depois da copa, foi chamado para treinar o Manchester United e, até hoje, 24 anos depois, continua lá.
Na semifinal, mais dois gols do Maradona, e lá se foi a Bélgica que era uma das surpresas da copa e, finalmente, no dia 29 de junho, aconteceu a final com a Alemanha. Brown fez 1 a 0 para Argentina aos 23 minutos do primeiro tempo, Valdano fez 2 a 0 aos 10 minutos do segundo tempo. Parecia que ia dar Argentina fácil, mas, de tanto a gente secar, a Alemanha empatou, com um gol do Rummenigge aos 29 e do Voller aos 35. Mas, eu falei, era a copa do Maradona, e o danado achou o Burruchaga ao 38, e deixou ele na cara do Schumacher: 3 a 2, Argentina bicampeã do mundo.
Eu me lembro que, depois do jogo Brasil e França, o Fernando Vanucci, que era da TV Globo, leu uma poesia do Affonso Romano de Sant’Anna, que deixou a gente arrepiado. Eu não lembro mais, mas era muito bonita.”

Desta vez, eu é que surpreendo o Tio Pitombo, pois o Affonso publicou esta tal poesia anteontem, no seu blog. E eu trouxe pra ler pro tio:

“A bola não é um mero artefato de couro. É um ser alado, de ouro, ave sagrada, que rompe as traves da gaiola, isto quando não é flor que ao abrir-se em gols nos mostra a luz de sua corola.
A bola difere do diamante. Não tem arestas. E, no entanto, arisca, risca a pele em ritmo de festa. Não tem arestas porque é polida, não pela mão, mas pelo pé do ourives, caso se chame Garrincha ou Pelé.
Se na Espanha a bola fosse um touro, no gol, um toureiro faria da rede a capa ou estola. Mas, sendo no Brasil, ela é samba que o sambista cantarola, é toque na cuíca e caçarola, e a bandeira que o passista na avenida desenrola.
O jogador não é só mestre. É aluno que carrega consigo a escola. E para ele o mundo é a bola. E sendo a bola seu coração, ele sabe a lição de cor, não cola.
O jogador é um ator. Ele joga, encena a paixão no estádio tornando público o seu caso de amor com a bola. Mas pode ser ator dramático ou histrião. Neste caso, o ‘ser ou não ser’ é um chavão.
A bola é um raio que, quando cai no gol, vira trovão de bombas, gritos e alaridos da multidão.
A bola também tem uma contradição: pede que a persigam e ri da perseguição.
O bom jogador é como o cantor: não sabe mais o limite entre sua voz e a canção.
Ao mau jogador a bola parece um cactus roliço, um porco-espinho que a canela ou alma esfola. Ataca como um pivete que quando passa não se consegue pegar pelo pescoço ou gola.
A bola é como o tigre no zoológico da grama. E o jogador é o domador do fero instante sem usar o chicote ou chama.
Mais que amante que no campo da cama joga o jogo inaugural, o jogador é a cartomante e sua bola de cristal, jogando com o nosso ser, a nos trazer o bem e o mal.
Se a bola é bala, o corpo do jogador é a pistola, e, quando atira furioso, o adversário cai e sai de padiola.
A bola é bela? A bola é a fera que nos abala e desespera? Ou a bola é como a bula, ambígua, veneno e remédio, que nos mata e consola, mulher fatal que nos ama e desola?
Não, a bola não é a Lua, pálida quimera. Mais que a solitária esfera, a bola é um cometa, que de quatro em quatro anos nos assola.
Pensamos olhar a bola, mas a bola com seu olho é que nos olha.
A bola é como a Terra: redonda e humana. É como o homem: cheia de ar, inflada ânsia. A bola é nossa errância.
A bola não é coisa de adulto. É o que sobrou da infância.
Se o campo é um labirinto de pernas, a bola é um fio de novelo que desenrola. Nos foi dado por Ariadne, contra o Minotauro e a degola.
O jogador é um prestidigitador, que na última hora ante a torcida aflita tira um gol da cartola.
Também um ilusionista, coisa de artista de circo, que faz da bola argola, causando no estádio espanto, e sobre a cabeça do atleta a bola se faz de auréola fazendo do homem um santo.
O jogador, enfim, é um escritor. Ele joga com o instante e a glória. Tem os pés no chão e a cabeça nas nuvens, para cabecear a história.
O jogador é um poeta. – E como poeta, um fingidor. E joga tão perfeitamente que nos faz pensar que é poesia o que é jogo simplesmente.”

(Artigo – Jorge Marin)

TIO PITOMBO E AS COPAS



Capítulo 7

“Como eu disse, foi tudo arranjado para que a Argentina vencesse a copa de 1978. Os militares fizeram mais ou menos a mesma coisa que Mussolini e o Hitler, ou seja, mexeram seus pauzinhos para popularizar o seu regime. Sem contar que, durante as comemorações em frente à Casa Rosada, as Mães da Praça de Mayo tiveram que sair de cena. O Cruyff, da Holanda, se recusou a jogar a copa em protesto. A seleção argentina só jogava em Buenos Aires, enquanto as outras eram obrigadas a viajar pelo país: nós, por exemplo, jogamos em Mar Del Plata, Mendoza e Rosario.
O Brasil vivia a era Cláudio Coutinho, era uma retranca danada. Empatamos em 1 a 1 com a Suécia e, neste jogo, que aconteceu aquele lance do Zico em que ele fez um gol de uma bola vinda de um corner, mas o juiz, um tal de Clive Thomas, que depois foi suspenso pela FIFA, encerrou o jogo com a bola no ar. Depois, empatamos com a Espanha por 0 a 0 e, como tínhamos que ganhar da Áustria, ganhamos pelo maior placar possível naquele time, 1 a 0, gol do Roberto Dinamite.
O primeiro finalista foi a Holanda que, depois de uns perrengues na primeira fase, goleou a Áustria por 5 a 1, empatou com a Alemanha em 2 a 2 e derrotou a Itália, que já tinha o Paolo Rossi, por 2 a 1.
Aí que aconteceu a vergonha: ganhamos do Peru por 3 a 1, um placar gigante para uma seleção dirigida pelo Coutinho, mas foi uma vantagem pois o Peru tinha sido primeiro colocado na primeira fase, inclusive empatando com a Holanda, que ficou em segundo lugar no grupo. Empatamos em 0 a 0 com a Argentina (o Coutinho colocou o Chicão do São Paulo em campo só para dar pancada nos argentinos). E detonamos a Polônia por 3 a 1. Como a Argentina só tinha ganhado dos poloneses por 2 a 0, teria que ganhar do Peru por 4 a 0 ou estaria fora. Mas, por uma estranha coincidência, o goleiro peruano Quiroga, que era argentino, deixou passar gols incríveis e a Argentina ganhou por 6 a 0.
Aconteceram muitas denúncias: o jornal inglês Sunday Times noticiou que os argentinos fraudaram o exame antidoping, pois tinha um camarada escondido no vestiário só para fornecer a urina em lugar dos jogadores. Teve uma reportagem de uma rádio da Colômbia em que um tal de Fernando Rodrigues Mondragón, filho de um chefão do tráfico, falou, com todas as letras, que o cartel de Cáli pagou aos peruanos para perder.
Na final, num Estádio Monumental lotado, Kempes fez 1 a 0 para a Argentina e Nanninga empatou aos 37 do segundo tempo num golaço. Depois ainda teve uma bola na trave da Argentina, mas, na prorrogação os argentinos mandaram 3 a 1. Na festa da premiação, os holandeses fizeram questão de ficar de costas para o ditador argentino Jorge Rafael Videla. Nós também estávamos lá, pois ganhamos da Itália na disputa do terceiro lugar e o Nelinho fez um golaço com uma curva igual à da atual Jabulani. Como não perdemos, saímos dizendo que éramos campeões morais, veja só!”

“Esta história de campeão só moral pegou mal, mas parece que ia acabar na Espanha, pois o nosso comandante era o maior técnico brasileiro, o Telê Santana, mineiro de Itabirito, falecido em 2006, no dia de Tiradentes. Mas a nossa seleção também era uma das melhores de todos os tempos: tinha Zico, Sócrates, Falcão, Júnior, Toninho Cerezo, Éder Aleixo e o mais importante é que o time jogava pra frente, acabou aquela mania de jogar na retranca.
Marcamos dez gols na primeira fase e, na segunda, começamos mandando 3 a 1 na Argentina, que já tinha o Maradona, com gols de Zico, Serginho Chulapa e Júnior. Como a outra seleção do grupo, a Itália, tinha ganhado da Argentina por 2 a 1, pegamos a Itália e jogávamos pelo empate.
A Itália fez uma primeira fase péssima, empatou os três jogos e a imprensa de lá caiu de pau em cima deles. Resultado: fizeram greve de silêncio. Além disso, a esperança de gol deles era um tal de Paolo Rossi, que tinha sido suspenso por causa de uma armação quando jogava no Peruggia e acabou suspenso por dois anos, ele estava acabando do voltar ao futebol.
Com este retrospecto, era de se esperar até uma goleada do Brasil. Mas aquela história do Imponderável Futebol Clube acabou acontecendo. Logo aos cinco minutos, os italianos cruzaram uma bola da esquerda, a nossa defesa parou e o Paolo Rossi, baixinho cabeceou: 1 a 0 para a Itália. Mas o Brasil nem ligou e partiu pra cima: ali pelos doze minutos, Zico se livrou de Gentile e tocou pro Sócrates, o Doutor entrou na área e chutou forte, cruzado, 1 a 1. Aos 25 minutos, o jogo estava equilibrado e a Itália começou a marcar nossa saída de bola, aí o Cerezo rolou uma bola pro lado, o Falcão deixou pro Luisinho, o Luisinho deixou pro Falcão, e o diabo do Rossi entrou e mandou bala: Itália 2 a 1.
Mas a nossa arma secreta era o segundo tempo onde sempre fazíamos mais gols, e a coisa quase que funcionou pois, ali pelos 23 do segundo tempo, Júnior tocou para o Falcão na entrada da área italiana, Cerezo fez um corta-luz, e o Falcão, livre, soltou uma bomba: 2 a 2. Todo mundo respirou aliviado: estávamos classificados, até que, aos 29, o juiz, o famoso (e velho) Abraham Klein inventa um escanteio para a Itália: com vinte e dois jogadores dentro da área, a bola sobrou pra quem? Pro maledetto Rossi que deu um toquinho e enganou o Waldir Peres, Itália 3 a 2. No último minuto, o Oscar ainda deu uma cabeçada certeira, mas o goleiro Dino Zoff, com seus quarenta anos, fez a defesa. Nosso ódio foi tanto contra este estádio, o Sarriá, que dizem que o local ficou amaldiçoado e acabou leiloado para pagar as dívidas do seu clube, o Espanyol. O estádio foi demolido e, no local, foi construído um conjunto residencial de luxo.
A outra finalista foi a Alemanha que arrancou um empate com a França, depois de estar perdendo por 3 a 1. Mas os alemães estavam encapetados: o goleiro Schumacher pulou em cima do Battiston, que ficou desacordado em campo, e o juiz holandês Corver não marcou nada. Depois, arrependido, o Schumacher pagou o conserto do dente do Battiston, que quebrou, acabaram amigos, e o goleiro alemão foi até padrinho de casamento do francês. Nos pênaltis, deu 5 a 4 para a Alemanha.
A final da copa foi no Estádio Santiago Bernabéu em Madri, e a Azurra humilhou: fez 3 a 1 e o danado do Rossi fez um dos gols. A Itália empatava com a gente e era tri-campeã também. O único brasileiro na final foi o juiz Arnaldo César Coelho, que apitou o jogo.
Mas a maldição do Paolo Rossi não acabou: em 87, ele veio aqui no Brasil para jogar um torneio de veteranos, a Copa Pelé, acabou expulso de um táxi e maltratado pela torcida em São Paulo, que jogava um monte de objetos nele. Aí, ele voltou para a Itália e escreveu um livro de memórias: Fiz o Brasil Chorar.”

(Artigo – Jorge Marin)

sexta-feira, 2 de julho de 2010

E QUE VENHA MAIS UMA COPA...



Capítulo 4 – França 1998 e Coreia/Japão 2002

Em 1998, lá estava a “urucubaca” da França novamente em nosso caminho.
Mais uma vez, super-favoritos, sob o comando agora somente de Zagallo, chegaríamos à terra de Napoleão pra faturar mais uma. Como duvidar de um time tetracampeão que tinha em seu elenco Ronaldo fenômeno, Roberto Carlos, Rivaldo e outros? Mas chegaríamos à final contra a França.
Zidane só faltou fazer gol de bumbum, tal a facilidade de penetrar em nossa defesa. Como se não bastasse, ainda teríamos um grande susto minutos antes da grande final: segundo a imprensa, Ronaldo Fenômeno andou tendo uns desmaios no vestiário. Muito mistério. Falaram até em convulsão.
Só sei que levamos de 3x0. Eu, nesta hora, talvez premeditando o iminente desastre, estava fingindo que passeava pela rua. O negócio era ficar observando a reação das pessoas em suas casas. Não teve outro jeito e a França, pela primeira vez, faturava um campeonato.

Já em 2002, fomos para Coréia/Japão bem mais de pés no chão. Sob o comando de Felipe Scolari, tínhamos um time ainda mais recheado de estrelas. Só o ataque já bastava: A dupla RORO (Ronaldo Fenômeno e Ronaldinho Gaúcho) literalmente “matou a pau”.
Ainda bem que, na época, havia acabado de adquirir meu vídeo-cassete e assim pude programá-lo para gravar quase todos os jogos. Partida de futebol de madrugada é barra.
Mas fomos Penta-Campeões do mundo. Só achei que, misturar aquele foguetório com a madrugada, não combinou. Não tem nada a ver!
Na final, o Brasil sapecou 2x0 na Alemanha com direito a show de Ronaldinho Gaúcho.

(Crônica – Serjão Missiaggia)

Curioso publicar esta foto tão marcante, do penta-campeonato justamente hoje, num dia tão triste para o futebol brasileiro, quando acabamos de ser eliminados pela Holanda. Mas é este o grande significado do esporte: são nestes momentos de glória, e também nestes momentos de frustração, que projetamos nossos arquétipos de heróis numa arena comum, e sofremos, sentimos cada dor, cada decepção e muito desespero. Mas, sentimos também a alegria incontida da vitória, e a vivência suprema do heroísmo.
Acabamos de chegar, com esta postagem, à marca de 15.000 visitas. Saber de vocês, leitores, nos significando, e nos honrando com sua atenção, é como conquistar uma taça, é ouvir o hino no pódio, e agradecer pela confiança depositada.

(Comentário – Jorge Marin)

TIO PITOMBO E AS COPAS



Capítulo 6

Acho fantástica esta habilidade que têm as pessoas idosas, como o Tio Pitombo, de lembrar de fatos antigos como se tivessem ocorrido ontem, ao passo que ele próprio não é capaz de se lembrar o placar do jogo Brasil e Chile, ocorrido na segunda-feira passada. Os neurologistas afirmam que a memória recente e a memória antiga ocupam porções diferentes do cérebro e coisas do gênero mas, ainda assim, acho fascinante uma pessoa de mais de noventa anos se lembrar, por exemplo, o nome do juiz do jogo entre Brasil e Uruguai em 1950. Tio Pitombo já me corta.

“O juiz de 1950 era um inglês e chamava Reader, George Reader. Mas eu quero falar das mudanças ocorridas, depois daquelas copas violentas: quebraram o Pelé em 62, e de novo em 66. Esta copa, que a Inglaterra venceu no grito, teve um monte de jogadores lesionados. Quando foi em 70, a FIFA tinha como meta diminuir a violência dentro de campo, criaram os cartões amarelo e vermelho e passaram a permitir duas substituições, pois antes, quem levasse botinada, ou ficava em campo mancando, ou o time ficava com dez.
Esta copa também foi a primeira a ser televisionada em cores mas, para se adequar ao horário nobre na Europa, os jogos tinham que começar ao meio-dia, o que gerou uma reclamação geral entre os jogadores que tinham que jogar com aquele sol forte do México no lombo.
Teve um fato curioso que aconteceu antes da copa: nós, latinos, somos sempre acusados pelos europeus de incivilizados e coisa e tal. Pois bem, a seleção da Inglaterra veio aqui na Colômbia fazer um amistoso e o capitão inglês, Bobby Moore, simplesmente roubou uma joalheria e foi preso. A FIFA acabou dando um jeitinho, instituição que, como se viu, não é só nossa, e ele acabou jogando na copa, inclusive dando uma pancada no Pelé.
Aliás, o Pelé ficou famoso na copa, não pelos gols que fez, mas pelos que ele não fez: contra a Tchecoslováquia, tentou encobrir o goleiro Viktor, do meio de campo, mas a bola raspou a trave e saiu. Depois, contra a Inglaterra, Pelé deu uma cabeçada para o chão, mas o goleiro Banks mergulhou e tirou a bola de dentro do gol. Contra o Uruguai, ele deu o drible da vaca no Mazurkiewicz e a bola saiu. Depois, no mesmo jogo, esse goleiro do Uruguai cobrou mal um tiro de meta e o Pelé rebateu de primeira, mas o goleiro pegou. Mesmo na final, contra a Itália, no final do primeiro tempo, ele pegou uma bola de uma cobrança de falta e mandou para o gol, a bola entrou mas o juiz já havia apitado e o gol não valeu. Isto aconteceu com o Zico também, na copa da Argentina.
Agora, cá pra nós, este time de 70 era maravilhoso: Félix; Carlos Alberto, Brito, Piazza e Everaldo; Clodoaldo, Gerson e Rivellino; Jairzinho, Tostão e Pelé.”

Para e fica olhando para o nada, como se estivesse assistindo um daqueles gols. E emenda.

“Não foi como as duas copa seguintes, que foram feitas de encomenda, tanto para a Alemanha, como para a Argentina. Você sabe: às vezes, os países, por motivos políticos, ou mesmo sociais, resolvem sediar a copa para ganhar: isto aconteceu em 1930, no Uruguai, em 34 na Itália, por que não, em 1950, aqui no Brasil (mas perdemos), em 66 na Inglaterra, nestas duas que eu falei, e depois em 98, na França.
Em 74, a sensação da copa era a Holanda, que tinha um timaço, com Cruyff e Neeskens, treinado pelo Rinus Michels, que não tinha posição fixa, por isso que era chamado de carrossel holandês. Mas não adiantou nada disto, pois, como eu falei, estava tudo sob medido para dar o títulos aos donos da casa. Tanto é que os alemães fizeram uma maracutaia só pra não cair no grupo do Brasil e da Holanda. Sabe o que eles fizeram? Perderam da Alemanha Oriental por 1 a 0! Aí esta Alemanha caiu no nosso grupo e ganhamos deles por 1 a 0 e da Argentina por 2 a 1. Como a Holanda ganhou da Alemanha Oriental por 2 a 0 e goleou a Argentina por 4 a 0, jogou conosco pelo empate, mas nos tascou 2 a 0. Espero que hoje não faça o mesmo. (Esta conversa foi antes da nossa derrota por 2 a 1)
Na final, a Holanda conseguiu marcar o primeiro gol, de pênalti, logo no iniciozinho da partida, e os alemães não tinham nem pegado na bola ainda. O Breitner empatou para a Alemanha, também de pênalti, aos 25 minutos e o famoso Gerd Muller, que foi o artilheiro da copa, virou aos 43 minutos. No segundo tempo, e até o final, só deu Holanda, mas o goleiro da Alemanha, o Sepp Maier, que eles chamavam de Gato, fechou o gol. E deu o que tinha que dar: Alemanha.”

Paramos para ver o jogo do Brasil com a Holanda, e o tio não ficou muito surpreso com a derrota do Brasil, mas disse que não queria mais falar de copa. Eu já ia saindo e ele me chamou para assistir o outro jogo, “só para torcer pelo Loco Abreu”, segundo ele.

(Artigo - Jorge Marin)

BRIGADU, GENTE!

BRIGADU, GENTE!
VOLTEM SEMPRE, ESTAMOS ESPERANDO... NO MURINHO DO ADIL