quarta-feira, 7 de julho de 2010

TIO PITOMBO E AS COPAS



Capítulo 9

Termina o jogo Holanda e Uruguai e o tio me olha com aquele olhar do tipo “eu já sabia” e arrisca um palpite para a final da copa – Holanda 2 a 1 na Espanha. Relembra que os deuses do futebol são implacáveis e começa, a meu pedido, a falar da copa de 1994 na qual, segundo ele, a Itália foi castigada pelos tais deuses do futebol.

“Esta copa foi uma copa ridícula, que começou com a Diana Ross batendo um pênalti pra fora e terminou com o Roberto Baggio também batendo um pênalti pra fora. Ou seja, não foi o Brasil que ganhou a copa, foi a Itália que perdeu.
Quando falaram em fazer a copa nos Estados Unidos, era de se esperar que fosse um fracasso, pois o futebol, soccer pra eles, não tem nenhuma tradição no país. Mas, pra surpresa de todo mundo, foi um sucesso, o maior recorde de público, não batido até hoje. Dois países foram proibidos de participar: a Iugoslávia, em guerra com a Bósnia, e o Chile por causa da palhaçada feita pelo goleiro Roberto Rojas que, no jogo contra o Brasil nas eliminatórias, fingiu que tinha sido atingido por um foguete que uma torcedora maluca disparou.
Falando em eliminatórias, nós quase fomos eliminados com aquele futebolzinho medíocre da dupla Parreira e Zagallo. Mesmo tendo ganhado a copa, a gente tem que admitir que era um esquema tipo funcionário público, sem emoção, e a retranqueira que já tinha sido aplicada na copa de 88. O que salvou foi a dupla Bebeto e Romário, que fez a diferença.
Ganhamos da Rússia por 2 a 0, de Camarões por 3 a 0 e empatamos com a Suécia em 1 a 1, este jogo foi disputado no famoso estádio coberto, o Pontiac Silverdome em Detroit. Nas oitavas, ganhamos dos Estados Unidos em pleno dia 4 de julho, dia da independência, com um gol do Bebeto.
Nas quartas, fizemos o jogo com a Holanda, que foi vingado agora, porque ganhamos de 3 a 2, mas foi injusto: o gols foram todos no segundo tempo, o Romário marcou aos 8 e o Bebeto aos 18, num lance em que o Romário estava claramente impedido, mas o juiz da Costa Rica não marcou. Neste gol foi que o Bebeto fez o gesto como se embalasse um neném, porque o filho dele Matteus tinha nascido um dia antes. A gente ainda estava gritando gol, quando o Bergkamp diminuiu e, doze minutos depois, o Winter empatou. Aí o Branco cavou uma falta e, mais uma vez, o juiz Rodrigo Badilla nos ajudou: o próprio Branco fez 3 a 2 aos 36 minutos. Fomos para a semifinal com a Suécia e ganhamos com um gol do baixinho Romário, de cabeça.
Na final, contra a Itália, que também fez uma campanhazinha muito fraca, deu o placar merecido para os dois, zero a zero. Na prorrogação, também zero a zero. Baresi bateu o primeiro pênalti e perdeu (Galvão Bueno já urrava ‘vai que é sua, Taffarel!”), mas o Márcio Santos também errou. Até nos pênaltis, dava zero a zero. Aí o Albertini bateu e fez 1 a 0, o Romário empatou, Evani fez 2 a 1 e o Branco empatou de novo, o Massaro bateu e o Taffarel pegou, o Dunga fez 3 a 2 e o craque da Itália Roberto Baggio chutou pra fora. Muita festa pelo tetra, mas pouca emoção.
Emoção mesmo, tristes emoções, aconteceram fora de campo: o jogador Andrés Escobar, da Colômbia, marcou um gol contra na derrota para os Estados Unidos e, quando voltou para Medellin, foi assassinado com 15 tiros num restaurante. Maradona fez exame antidoping depois do jogo com a Nigéria (a Argentina tinha ganhado por 2 a 1) e acharam na urina dele: efedrina, norefedrina, pseudoefedrina, norpseudoefedrina e metaefedrina. Só. Dava pra montar uma farmácia. Como ele já tinha sido punido por 15 meses porque foi pego num exame antidoping quando jogava no Napoli, a FIFA tascou mais 15 meses de suspensão. O Maradona cumpriu a punição de novo, voltou a jogar no Boca Juniors e sabe o que aconteceu? Pegaram ele de novo no antidoping no dia do aniversário dele. Aí não teve jeito: ele parou. Outra ocorrência foi aqui mesmo, quando a seleção desembarcou trazendo 17 toneladas de muamba dos Estados Unidos, inclusive o Ricardo Teixeira, que tinha feito umas comprinhas pro bar dele no Rio. Como a Receita Federal ameaçou tributar as compras, o presidente da CBF ameaçou não desfilar pelas ruas do Rio. A seleção ganhou também a guerra fiscal e entraram no país com seus badulaques.”

E a copa da França, tio?

“Eu já te falei que a copa de 98 foi arranjada para a França ganhar. Esta copa foi a primeira a usar a fórmula atual de 32 seleções em 8 grupos. Foi a que teve mais gols até hoje: 171. Antes de irmos para a França já tivemos a polêmica do Romário, que foi cortado porque ainda não estaria em boas condições físicas, embora, com certeza, estivesse melhor que o Kaká nesta copa. A torcida do Flamengo, onde o Romário jogava, não perdoou o Zico, que era coordenador técnico do Zagallo.
A Argentina também estava com linha dura: o técnico Passarella cortou o Redondo e o Caniggia porque não queria ninguém de cabelo comprido. Já imaginou? Os argentinos de cabelo curto? O Batistuta cortou o cabelo e jogou a copa.
O Brasil veio bem, tinha alguns da copa dos Estados Unidos, como Dunga e o Taffarel e alguns jovens, como o Roberto Carlos, o Rivaldo e o Ronaldo Fenômeno. Apesar de perdermos para a Noruega de 2 a 1, derrotamos a Escócia e o Marrocos e ficamos em primeiro no grupo. A França também começou bem, mandou 3 a 0 na África do Sul, 4 a 0 na Arábia Saudita e 2 a 1 na forte Dinamarca.
Nas oitavas, teve um jogo com muita emoção e muita catimba que foi Argentina e Inglaterra. Com o Mick Jagger na plateia, torcendo para os ingleses, adivinha quem ganhou? Na verdade, ficou 2 a 2, mas a Argentina, lógico, ganhou nos pênaltis por 4 a 3. E o Beckham entrou na pilha do Simeone e ainda foi expulso. O Brasil, como na copa atual, ganhou de presente o Chile e goleamos por 4 a 1. Mas a França passou aperto com o Paraguai e só ganhou na prorrogação com o famoso gol de ouro, que era usado nesta copa, e o Blanc, que é o novo técnico da França, fez 1 a 0.
Pegamos a Dinamarca, uma pedreira, começamos perdendo, mas viramos e ganhamos de 3 a 2. A França pegou outra pedreira, a Itália, empataram em 0 a 0, e, desta vez, nos pênaltis, o Roberto Baggio marcou, mas o Di Biaggio errou e a França ganhou de 4 a 3. A Holanda ganhou da Argentina por 2 a 1 e a Alemanha, veja só, perdeu de 3 a 0 para a Croácia, que era outra sensação da copa.
Nas semifinais, estávamos ganhando da Holanda de 1 a 0 (gol do Ronaldo), mas o Kluivert empatou aos 42 do segundo tempo e, nos pênaltis, o Taffarel defendeu dois, e ganhamos por 4 a 2. Enquanto isto, a França começou perdendo da Croácia, mas acabou virando com dois gols do Thuram que, detalhe, nunca tinha feito um único gol pela França.
Na final, que você deve se lembrar muito bem, aconteceu a famosa convulsão do Ronaldo e o Zagallo, ao invés de escalar o Edmundo, manteve o Fenômeno, que não jogou nada, assim como o resto do time. E a França mandou 3 a 0, com dois gols do Zidane e um do Petit no finalzinho.
A música tema da copa era La Copa de la Vida, cantada pelo menudo Ricky Martin que, na época, era homem.”

O tio dá uma risadinha e começamos a assistir Alemanha e Espanha. O tio fala que vai dar Espanha.

(Artigo - Jorge Marin)

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