quinta-feira, 8 de julho de 2010

TIO PITOMBO E AS COPAS



Capítulo 10

“Aqui, meu filho – pergunta o tio – se você foi testemunha das copas mais recentes, por que continua me pedindo para contar?”

Explico que eu vi apenas o que eu pude perceber, mas que a visão do tio é diferente: ele não só vê, como percebe coincidências, que ele chama de intervenção dos deuses do futebol. Além disso, o tio prevê (já deu o resultado da copa) e, até o momento, suas previsões estão se cumprindo.

“Em primeiro lugar, eu quero te dizer que, quando eu falo em deuses do futebol, não estou falando de nada esotérico: são simplesmente probabilidades. Por exemplo, estou dizendo que a Holanda vai ganhar a copa. Por que? Vamos lá: olha, a Espanha perdeu na estreia para a Suiça e, até hoje, nenhum time foi campeão tendo perdido o primeiro jogo (a Argentina queria ser bi em 82, perdeu o primeiro jogo para a Bélgica e dançou; a mesma coisa aconteceu em 90, quando os hermanos perderam para Camarões). Além disso, nenhum campeão europeu, que é o caso da Espanha, ganha a copa também. Aconteceu uma única vez, com a Alemanha que ganhou a Eurocopa em 72 e a copa em 74, mas a copa foi lá. Depois, veja a França, foi campeã do mundo em 98, ganhou a Eurocopa em 2000, mas na copa de 2002, que eu vou contar daqui a pouco, saiu com o rabo entre as pernas, sem marcar um único gol. A própria Alemanha foi campeã da Eurocopa em 96 e perdeu da Croácia por 3 a 0 na semifinal da copa da França em 98. Outra indicação de ganhar copa é a invencibilidade: quase todos os campeões vinham de longa invencibilidade, como é o caso da Holanda agora, que não perde há 25 jogos. Sem contar que a Holanda não perde para time grande (ela só perdeu para Austrália, Rússia, Belarus, Romênia e Suíça). Outra coisa fundamental, é que, diferente do Botafogo, não há seleção mundial tri-vice que não tenha ganhado o título: a Alemanha, por exemplo, já foi vice quatro vezes, mas ganhou três copas. Agora, o que é mais importante de tudo, tenho certeza de que a Holanda vai ganhar porque o Pelé disse que a campeã vai ser a Espanha e o Pelé sempre erra.
Mas vamos à copa de 2002. Como você sabe, foi uma copinha chatinha, disputada meio a meio entre Japão e Coreia do Sul. Brasil e Alemanha foram os destaques, principalmente porque os outros grandes decepcionaram: a França, como eu falei, foi ridícula: perdeu para o Senegal, empatou com o Uruguai e perdeu para a Dinamarca, não marcou nenhum gol e ficou em 28º lugar. A Argentina também dançou feio, pois perdeu para a Nigéria, para a Inglaterra e empatou com a Suécia. Neste jogo contra a Suécia, o Caniggia, nosso carrasco em 90, foi expulso no banco de reservas. A Itália, por sua vez, conseguiu se classificar para as oitavas, mesmo perdendo para a Croácia, mas foi eliminada pela Coreia do Sul, por 2 a 1, no tal gol de ouro, que a FIFA parou de usar depois desta copa. Aliás, quem marcou primeiro, neste jogo, foi a Itália com o Tommasi, mas o juiz Byron Moreno anulou e, só depois, o Ahn marcou para a Coreia. A Itália teve simplesmente cinco gols anulados na copa, e foram todos gols legais. Este jogador coreano, Ahn Jung-Hwan, jogava na Itália, e o clube dele, o Peruggia, demitiu o carrasco na hora. Hoje ele joga na Coreia do Sul mesmo.
A Coreia do Sul e a Turquia foram as grandes surpresas da copa, chegaram até as semifinais, mas perderam: a Coreia para a Alemanha e a Turquia pra nós, os dois jogos por 1 a 0. Por falar nisto, neste jogo contra a Turquia o juiz da Coreia do Sul deu um pênalti a nosso favor, mas a falta, sobre o Luizão, foi claramente fora da área. Aí, quando a Turquia reagiu e partiu pra cima, o Alpay chutou uma bola nas pernas do Rivaldo, mas ele caiu, fingindo que tinha sido atingido no rosto. O juiz Kim, de novo, nos favoreceu e expulsou o turco. Nesta copa, nós não podemos reclamar, pois os juízes foram sempre a nosso favor: no jogo contra a Bélgica, por exemplo, o juiz jamaicano Peter Predergast, que usava um apito verde e amarelo, anulou um gol do Wilmots dizendo que ele tinha empurrado o Roque Júnior, mas não aconteceu nada.
Na final, no dia 30 de junho, a Família Scolari, comandada pelos 3 Rs, Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho e Rivaldo, detonou a Alemanha por 2 a 0, com dois gols do Fenômeno e um frango da ‘muralha’ Oliver Kahn, que ganhou o troféu bola de ouro como o melhor jogador da copa, mas o Ronaldo ganhou a chuteira de outro da FIFA. E nós nos sagramos pentacampeões do mundo.

A copa de 2006 aconteceu só para que a Itália se vingasse da Alemanha. Você lembra: em 90, a copa foi na Itália e a Alemanha ganhou. Agora teve a revanche. Foi a primeira copa em que o campeão anterior, no caso nós, teve que disputar as eliminatórias. Esta copa já era para ter sido jogada na África do Sul e a FIFA afirmou que pretende rotacionar as copas entre as suas federações.
Tirando eu, ninguém acreditava que a Itália seria a campeã, porque, um mês antes, estourou aquele escândalo da maracutaia dos juízes no campeonato italiano, envolvendo até o Marcello Lippi que, mesmo assim, continuou treinando a seleção.
O grande nome desta copa foi o Zidane, que foi escolhido o melhor jogador da copa, mas ficou lembrado mesmo por causa da cabeçada que deu no peito do Materazzi, que teria xingado a irmã dele. Teve também o Ronaldo que, nesta copa, completou 15 gols e se tornou o maior artilheiro das copas. O Klose, da Alemanha, atingiu 14 nesta copa e pode se igualar ao Ronaldo sábado que vem, na disputa pelo terceiro lugar com o Uruguai. Outro recorde foi a quantidade de partidas sem gol, sete, número que foi alcançado, infelizmente, também nesta copa. Mais um recorde também, este até engraçado, é que foi a primeira vez em que um jogador recebeu três cartões amarelos: foi um tal de Josip Simunic da Croácia; o juiz, o inglês Graham Poll nunca mais apitou pela FIFA. Ah, por falar em arbitragem, a copa de 2006 também foi recorde de cartões vermelhos, com 28 expulsões. Na África do Sul, tivemos até agora só 16.
A Itália, pra ir à final, ganhou de Gana e da República Tcheca por 2 a 0 e empatou com os Estados Unidos em 1 a 1. Depois, ganhou da Austrália, com um gol de Totti, de pênalti, aos 50 do segundo tempo. Na semifinal, que foi o jogo da vingança, ganhou da Alemanha, no segundo tempo da prorrogação por 2 a 0.
A França, por sua vez, tinha feito uma campanha chinfrim, empatou com a Suíça em 0 a 0, e com a Coreia do Sul em 1 a 1, e ganhou de Togo por 2 a 0. Nas oitavas, ganhou da Espanha, de virada, por 3 a 1 e, nas quartas, você deve se lembrar bem, jogou com o Brasil e, aos 12 minutos do segundo tempo, enquanto Roberto Carlos ajeitava seu belo meião, Thierry Henry, com o pé, veja bem, com o pé, marcou o gol da vitória.
O resto, você também deve se lembrar bem, no dia 9 de julho, no Olympiastadion, em Berlim, o Zidane fez 1 a 0 aos 7 minutos, num gol de pênalti. O mesmo Zidane deu a tal cabeçada no Materazzi, e foi expulso pelo Elisondo do Uruguai. O Materazzi empatou pra Itália aos 19. Na prorrogação, todos os italianos marcaram, mas o Trezeguet errou. E a Itália se tornou tetra.”

Obrigado, tio. Eu venho aqui no sábado, torcer pelo Uruguai, e, no domingo, para conferir sua previsão. Mas só se tiver macarronada, e aquele borgonha!

(Artigo - Jorge Marin)

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