terça-feira, 28 de abril de 2015

E ASSIM TUDO COMEÇOU... HÁ 6 ANOS ATRÁS!


O PRINCÍPIO DO INÍCIO (PRIMEIRA CRÔNICA DO BLOG)

Era uma vez, numa pacata cidade do interior de Minas Gerais...

Os habitantes de São João Nepomuceno, nos anos 70, não ficavam apenas em casa assistindo O Cafona (da líder de audiência TV Tupi) ou O Homem que Deve Morrer (da jovem TV Globo). As pessoas preferiam passear na Rua do Sarmento.

Além disso, havia o cinema: o Cine Brasil que, às vezes, arrastava multidões, principalmente nas quartas-feiras, quando ocorria a sessão do troco e todo mundo pagava meia. Naquele dia, estava passando A Quadrilha da Fronteira, com Lee Van Cleef.

A sinuca do Cida era parada obrigatória para todos os rapazes que fingiam estar se concentrando no jogo, mas ficavam de olho nas meninas (chamavam-se cocotinhas) que passavam. Enquanto as cocotinhas pareciam interessadas nos rapazes, mas se encantavam mesmo com o ritual daquele jogo, na época só para homens. Ao longe, o barulho do semáforo da linha férrea anunciava a passagem do trem em frente ao Bar Central.

A cidade, meio agitada, já preparava a organização de sua primeira Exposição Agropecuária e Industrial!

No murinho do Adil, muitas fofocas rolavam enquanto, entre uma paquera e outra, o tempo passava lentamente, como se não existisse. No Bar do Bode, encontros e desencontros aconteciam e, no auge do sucesso, Rubro Bar, Zoom Frutas e Botachopp faziam a cabeça e os passos da moçada.

As fábricas Sarmento, Dragão e Sylder, mais as de ferraduras, tampinhas, vassouras e outras, ditavam o progresso do município a todo vapor. O Ginásio do Sr. Ubi era referência para todos, pois lá pulsavam os corações de uma juventude que sonhava, acordada, com um mundo mais justo e melhor. Ideias e energias eram canalizadas em competições esportivas e culturais, além da inesquecível fanfarra, sob a batuta do Beto Vampiro.

O novíssimo Clube Campestre era a nova opção de lazer oferecida pelo Clube Democráticos que, na sede, e juntamente com Trombeteiros e Operários, realizavam os inesquecíveis bailes de Carnaval, ocasião em que a Rua do Sarmento se enchia de foliões e curiosos, ávidos pelos desfiles das escolas de samba Esplendor do Morro, Avenida e Caxangá.

A cena urbana mesclava lojas (como: A Brasileira, Tipografia, O Guri, Americana, Casa Leite) e os bares Dia e Noite e Floriano, onde todos se cumprimentavam e tomavam um café, ou uma cerveja.

O futebol vivia de saudades: as torcidas de Mangueira, Botafogo e Operário lembravam os clássicos inesquecíveis, e torciam pelos times do Rio: o Botafogo era a base da Seleção Brasileira, mas perdeu o título carioca, com um gol roubado no último minuto.

A Rádio Mundial AM era a onda do momento, e o grande sucesso eram as músicas internacionais. O LP (alguém se lembra do vinil?) Explosão Mundial era um grande hit com músicas como Summer Holliday, Imagine e You’ve Got a Friend.

Os grupos musicais, presentes em todos os bailes de formatura e debutantes, eram os Solfas, TNT e CBV, enquanto a prata da casa, os grupos locais, eram Os Cobrinhas e Som Livre, comandados, respectivamente, pela Neli Gonçalves e pelo Sebastião Cri-Cri.

O prefeito – Bolote – inaugurou as novas lâmpadas de vapor de mercúrio, que deixariam a cidade iluminada como nunca. O padre Vicente abriu a Igreja para os jovens, e os violões animavam as missas, os encontros, as gincanas e as campanhas de Natal e inverno.

O grande barato era a luz negra e as bebidas da moda eram Gin Tônica, Cuba Libre, Campari, sem esquecer a Batida de limão e o Rabo de Galo.

Pois bem: foi nesse cenário, ao mesmo tempo ingênuo e vibrante, conservador e psicodélico, mais precisamente em 1971, que um grupo de rapazes se uniu, imaginando estar um dia num grande palco, com suas músicas reconhecidas e cantadas por todos.

Ali começava a nascer, mais do que o simples sucesso – que é efêmero – um sonho que jamais iria morrer, pois este é o lema do grupo: O QUE SEMPRE FOI SEM NUNCA TER SIDO. Habemus Pytomba!

Crônica      - Serjão Missiaggia
Adaptação - Jorge Marin
Foto           - a última viagem de trem em São João (Facebook)

segunda-feira, 27 de abril de 2015

BELEZAS DA TERRINHA


ENTRE AS IGREJAS DE SÃO JOÃO

Foto: Serjão Missiaggia

CASOS CASARÕES & seus detalhes misteriosos


QUEM CONHECE ESSE CASARÃO ABENÇOADO ???

CASARÃO DA SEMANA PASSADA - o reconhecimento do belo casarão da Rua Domingos Henriques de Gusmão foi rápido. Assim que publicamos, a D. Renée Cruz já identificou: "casa do sr. Ari Barroso, antes, e da dona Amélia Lacava". Logo a Roseanne Niemeyer de Mendonça confirmou: "casa mais linda do Sr. Ari!!! Passei muitas tardes com eles escutando histórias do meu avô Horácio".

O Marcelo S. Barroso (neto do sr. Ari) também reconheceu a casa, juntamente com a Sônia Maria Itaborahy. A Eliane Fajardo e a Edna Ferraiolo lembraram um dado importante: "fica ao lado da casa da Dione". E esta encerrou, de forma brilhante e emocionada, os comentários:
"Sim. Nesta casa, eu vivi momento de alegria ao lado da querida e saudosa D. Ângela Lacava, italiana brava mas adorável de conviver. Ela era a matriarca da família. Nos seus aniversários em 2 de junho, era uma festa só, regada a vinho e, principalmente, aquele macarronada italiana cuja massa, se não me engano, era feita pelo neto Dr. Rui Barroso. Quando os filhos de D. Ângela chegavam para o aniversário, pois moravam longe, a festa aumentava. Até foguetes os sobrinhos soltavam! Imagem vcs a barulhada que a italianada fazia qdo se juntava! Era muito divertido! Tenho muita saudade daquele tempo, heim Hélio Roberto Barroso Silva?

Foto: Serjão Missiaggia

CASOS CASAS & mistério ???


QUEM SABE ONDE FICA ESSE LOCAL?

ACERTADORES DA SEMANA PASSADA - muita gente reconheceu a foto (ótima) dos trilhos internos da antiga Fábrica de Tecidos Santa Martha: Marcello Mendonça Lima, Jorge Vitor Honório, Maninho Sanábio, Luiz Carlos Sachetto Mendonça, Nilson Magno Baptista, Antônio José Calegaro, Josiani Passi de Freitas, Anderson Badoco, Graça Lima, Luiz Carlos Moura, Vanda Santiago, Ubirajara Gentil Lima, Marco Aurélio dos Santos, Itamar Bovoy e Maria Graças F. Ribeiro.

Porém deixamos para o final, a resposta do Tony Navarro que, realmente, mereceu a nota 10: "estes famosos trilhos são provas contundentes de histórias vividas por trabalhadores da extinta Fáb. Tec. Sarmento, posteriormente Fáb. Tec. Sta. Marta, e hoje Lav. Qualitylave, onde pude provar da experiência e alegria de trabalhar onde meu estimado Avô e meu querido Pai trabalharam. Eles levam aonde você quiser, não precisa de bilhete ou passagem, precisa somente encontrar a pessoa certa que possa contar as aventuras de uma São João mais GARBOSA do que a que conhecemos hoje".

Foto: Serjão Missiaggia

sexta-feira, 24 de abril de 2015

EU AMO GENTE QUE NÃO EXISTE


Vendo essa foto maravilhosa da família Verardo que o Serjão publicou na quarta-feira e, depois, passeando junto com ele pelas ruas da nossa Garbosa, fica, às vezes, uma sensação assim de desamparo: onde foram parar aqueles senhores respeitáveis com seus ternos de domingo, seus fraques e cartolas, e as senhoras com seus vaporosos vestidos, anáguas e combinações?

 E as casas com jardins? Há quarenta anos, passeando pelas ruas de São João, eram poucas as casas sem, pelo menos, um jardim, uma roseira que fosse, ou um mero vaso de antúrios. Isso sem falar nas árvores, com as quais costumávamos dar encontrões. Por causa delas, à noitinha, as pessoas colocavam as cadeiras nas calçadas para “tomar a fresca”.

E afinal, para que tanta dignidade, beleza, classe e harmonia, para depois terminarmos assim, numa esculhambação geral, onde uma massa de pessoas atordoadas vaga, sem rumo, em uma paisagem urbana caótica, violenta e desorganizada?

É lógico que isso não é “privilégio” apenas de São João Nepomuceno: vivemos um daqueles momentos de crise, onde o sagrado se torna ridículo; a ordem, caos; e a lei, um empecilho a ser contornado.

Vejam bem: se examinarmos bem atentamente aquela foto de família, notamos que há uma unidade em torno do patriarca, que é o centro da foto, e todos os homens se vestem de maneira mais ou menos igual. As senhoras, moças e meninas, embora usem cores variadas, seguem o modelo de saia rodada e blusas com mangas, e golas fechadas.

Ora, e o que isso tem a ver com as confusões do mundo atual? Entendo que, com um grau maior de liberdade, as diferenças aumentaram e, como todos sabem, é muito difícil conviver com as diferenças, embora esse seja um problema que já existe desde que o mundo é mundo.

Mas, por que tem sido tão difícil a convivência entre as pessoas? Em primeiro lugar, ninguém hoje em dia tem muita paciência ou boa vontade para lidar com as diferenças. Assim a maioria das pessoas, baseadas numa lógica moderna do “eu me amo primeiro”, simplesmente NÃO SE IMPLICAM nessa história de diferenças.

Assim, idealizam o campo do outro: um parceiro ou parceira ideais, um filho ideal, um pai ideal, um chefe ideal. Só que a RELAÇÃO com uma pessoa ideal É IMPOSSÍVEL. E isto porque a pessoa ideal não existe! É óbvio que gostaríamos muito que as pessoas de nossas relações fossem iguais àqueles modelos que temos em mente. Só que, se orientarmos as nossas vidas para a obtenção de uma “relação ideal” estaremos (já estamos?) condenados à ETERNA INSATISFAÇÃO.

E, desta maneira torta, vamos que vamos, criticando e reclamando, pensando ser o que não somos, e achando que vamos ser felizes para sempre com quem jamais será da maneira que sonhamos.

Crônica: Jorge Marin
Foto     : Anas ELQ, disponível em https://www.flickr.com/photos/anaselq/6986570356/in/photostream/



quarta-feira, 22 de abril de 2015

O TEMPO


PRA PENSAR:

O TEMPO É INCRIVELMENTE RÁPIDO.
O SIMPLES ATO DE PENSAR JÁ FAZ PARTE DO PASSADO.
HABITAMOS UM PRESENTE QUE NÃO É MAIS PRESENTE, APENAS LEMBRANÇAS.
COM SAUDADE, RECORDO AGORA QUANDO HÁ POUCO, BEM HÁ POUCO,
NUM PASSADO NÃO MUITO DISTANTE, 
PENSEI ESCREVER "PRA PENSAR". 

Foi fazendo uma geral em minha gaveta, que deparei, dentro de uma velha pasta, com esse pensamento datado de 2002 e essa relíquia de fotografia de família. Na oportunidade, senti o quão rápido é o tempo, e que nossos VALORES serão eternos ao contrário do que seremos nós.

Crônica: Serjão Missiaggia
Foto     : acervo do autor

segunda-feira, 20 de abril de 2015

BELEZAS DA TERRINHA


OLHAR SOBRE A CIDADE.

Foto: Serjão Missiaggia

CASOS CASARÕES & seus detalhes misteriosos


ONDE FICA ESSE CASARÃO IMPONENTE ???

CASARÃO DA SEMANA PASSADA - A casa na Praça da Bandeira, publicada na semana passada, foi reconhecida por muita gente. Primeiramente, a Dorinha Barroso Missiaggia revelou: "casa que nasceu o Serjão". A Graça Lima confirmou e a Cristina Velasco Itaborahy lembrou-se dos bons momentos.

Renée Cruz, "dona" do Largo da Matriz disse que a casa hoje é do Otávio Lourenço e fica ao lado da casa da sua filha Cylla. A Márcia Maria Rodrigues disse que o Bairral já morou ali.

Finalmente, Marcelo Oliveira disse que é a casa onde morou o sr. Wilson, pai do Badeco (Luiz Renato Gomes). Esta informação foi imediatamente confirmada por dois antigos moradores da casa, o José Raimundo Soares Gomes e o Wilson Soares Gomes, que reconhece: "passei a vida aí, se a gente pensar que a infância e a adolescência são a vida de verdade..."

Foto: Serjão Missiaggia
 

CASOS CASAS & mistério ???


PARA ONDE VÃO ESSES TRILHOS EM SÃO JOÃO ???

ACERTADORES DA SEMANA PASSADA - muitas pessoas reconheceram a "zona", antigo prostíbulo de São João, localizada na Rua São Bento, no Caxangá: Nilson Magno Baptista, Graça Lima, Márcio Velasco, Celso Theodoro, Camilo Pontes, Maninho Sanábio, Antônio José Capanga, Ronaldo Magg, Eleomar Santos Antunes, Marcelo Oliveira, Eliane Fajardo, Anderson Badoco, Luiz Carlos Cestaro, Maria Graças F. Ribeiro. O detalhe curioso foi contado pela nossa querida Nely Gonçalves que, devido à força negativa do nome "Maracangalha", teve que tirar o samba homônimo de Dorival Caymmi do seu repertório. Enfim, depois de tantas controvérsias, resume o Nilson: ali é hoje "uma rua como qualquer outra, onde funciona uma empresa e residem algumas famílias".

Foto: Serjão Missiaggia

sexta-feira, 17 de abril de 2015

O SEXO (COMPLICADO) NOS ANOS DE CHUMBO


Achei muito oportuna a publicação da foto da “zona do baixo meretrício” aqui no Blog no início da semana. Ou, simplesmente “zona” para os íntimos.

Carinhosamente apelidada de Maracangalha, ou apenas Maraca, a casa da luz vermelha de São João Nepomuceno, assim como suas congêneres espalhadas pelo Brasil afora, também cumpriu a sua importante função social de fornecer aquilo que, nos dias atuais, poderíamos chamar de assessoria para assuntos sexuais, ou Personal Sex Trainer.

Explico: naquela época, o sexo não era livremente praticado. Aliás, não era nem comentado: a Neli Gonçalves escreveu, no Face do Blog, que muitas vezes teve que retirar o clássico “Maracangalha” de Dorival Caymmi, do repertório dos shows, apenas porque, em São João, aquela palavra significava “zona”.

Pode parecer incrível que tudo isso tenha ocorrido apenas há uns quarenta e poucos anos atrás, mas a repressão sexual já começava na primeira comunhão. Quando, ainda moleques, íamos ao confessionário, logo vinha o Padre Oswaldo e perguntava na lata:
- Quantas ... você tocou esta semana? – e olhem que ele falava o nome da coisa mesmo.

Morro de curiosidade para saber se ele fazia o mesmo com as meninas. Acho que não, pois, naquele tempo, as meninas eram umas panguás. As mulheres, em geral, eram umas panguás, umas retardadas. E, antes que alguma feminista me acerte um soco, vou logo explicando: mulher não podia transar (pelo menos, não devia), pois tinha que casar virgem. E, se alguma delas, dentro daquelas minissaias inesquecíveis, resolvesse deixar o namorado “navegar” pelo corpo, mesmo que na superfície, era o bastante para a menina ser rotulada de “safada”, ou, em voz bem sussurrada, “galinha”.

Lembro-me que, certa vez, me apaixonei por uma dessas “galinhas”, aliás estava mais para “gatinha” porque era uma moça linda, inteligentíssima e super gente boa. Mas, logo disseram: “você não pode namorar, pois essa menina já transou”. Eu disse: “não me importo, eu também quero transar, e acho que vai ser bom, porque ela pode até me ensinar algumas técnicas”.

No entanto, percebi logo que a coisa era bem mais complicada: pela cultura vigente, eu deveria ir aprender a transar lá na Maracangalha, com a Cearense, que tinha paciência com os moços. E, com a tal moça, eu poderia até namorar, mas correria o sério risco de casar com uma não-virgem, um dos seres mais abomináveis da época. Aí, chegou a minha vez de ser panguá e retardado; vocês acreditam que marquei um cinema e dei “bolo” na moça?

Ah, e hoje, quarenta anos depois, descobri no Google que “baixo” meretrício, é a comercialização da arte da meretriz a preços módicos. Vivendo e aprendendo.

Crônica: Jorge Marin
Foto     : disponível em http://www.overmundo.com.br/banco/vila-mimosa

quarta-feira, 15 de abril de 2015

UM CAMUNDONGO EM MINHA VIDA


Jamais imaginaria que um ratinho iria mexer tanto comigo. Mas mexeu!

Tudo começou quando fui obrigado a armar uma ratoeira no terreiro, em função de alguns pequenos objetos estranhos que começaram aparecer espalhados na prateleira junto à ração do garnisé. Foram quase três semanas empregando as mais diversas e exaustivas táticas de guerra, para se tentar pegar o bichinho. Essa coisa de queijo já não cola mais, e até uma linguicinha (pura) tentei, mas tudo em vão.

Na verdade, meu erro já começou na escolha da ratoeira, pois, ao achar que aquelas em que uma simples cacetada ao estilo guilhotina seriam muito nojentas, é que resolvi armar uma que somente o aprisionaria. E foi justamente aí que me estrepei, ou seja, se já não estava fácil pegá-lo, imaginem então descobrir o que fazer com ele depois. Realmente, não imaginava que mandar o roedor dessa pra melhor seria tão complicado.

E lá estava o nosso invasor, coitado, aprisionado na velha ratoeira. E agora, como dar fim nessa criatura de Deus? Afogar o bichinho, como se fazia antigamente, nem pensar. Tiro de chumbinho ou cacetada então, fora de cogitação. O que fazer?

Pensando numa morte rápida e sem sofrimento, resolvi, de imediato, colocar em doses homeopáticas aqueles venenos esverdeados em forma de granulados dentro da ratoeira. Minha esperança seria de que, já na manhã seguinte, o encontraria descansando em paz. Puro engano.

Chegando ao terreiro, após ter-me preparado psicologicamente pra fazer o translado e sepultamento, eis que, para minha surpresa, lá se encontrava ele cabisbaixo e de semblante triste olhando pra mim (e isso em nada me agradou). Mantive-me durão e, após consultar um profissional do ramo, resolvi mudar o veneno para os famosos granulados rosas. Ainda por conta e risco, misturei algumas pitadas de semente de girassol envenenada. Seria tiro e queda, segundo o atendente da loja. Mas não foi.

E essa tortura foi se estendendo por vários dias, e sempre da mesma forma. A cada novo amanhecer, lá está ele, de olhar cada vez mais tristonho pro meu lado, e, o que é pior, parecendo suplicar por clemência e liberdade. Foi quando, no décimo dia, pude começar perceber que uma estranha prostração em seus movimentos, acompanhada de pálpebras caídas, sugeria que o coitadinho estaria começando e entrar num processo agudo de desidratação. Só faltava essa! Sofrimento era tudo que eu não queria.

Transferi imediatamente a ratoeira para uma sombra, joguei um pouco de areia em seu fundo e coloquei num pequeno recipiente bastante água. E dava gosto ver como bebia.

Tirei os venenos e comecei a colocar algumas migalhas de pão, pedaços de banana e até restos de frutas. Tive o cuidado, daí em diante, de deixá-lo exposto apenas ao sol da manha. E o bichinho aprumou novamente e tomou vida nova. Camundogozinho simpático ele.

Pensei em comprar uma daquela gaiolinhas de hamster, pra melhorar a qualidade de vida do amigo Dongo, mas, infelizmente, para minha surpresa, no dia seguinte, veio a entrar em óbito.

Melhor que tenha sido assim!

Crônica: Serjão Missiaggia

segunda-feira, 13 de abril de 2015

BELEZAS DA TERRINHA


QUINTAIS DE SÃO JOÃO NEPOMUCENO.

Foto: Serjão Missiaggia

CASOS CASARÕES & seus detalhes misteriosos


QUE CASA É ESSA AÍ NA SOMBRINHA DAS ÁRVORES ???

CASARÃO DA SEMANA PASSADA - O primeiro a se manifestar sobre a casa foi o Nilson Magno Baptista que matou a charada: "Esta é a casa do Sr. Nilton Vitói e família. Olha ele ali, sentado no portão da varanda! A casa fica na rua Barão de São João". O comentário foi logo confirmado pelo Luiz Carlos Moura (que deu o endereço, Rua Barão de São João 33), Lucimar Soares de Mendonça, Finéias Rodrigues (afilhado do sr. Nilton e da dona Clarinha) e, finalmente, um questionamento da Maria Graças R. Ribeiro se, por acaso, antes do sr. Nilton, o farmacêutico Sr. Devolde morou naquele local. Deixamos a palavra com nossos experts.

Foto: Serjão Missiaggia

CASOS CASAS & mistério ???


QUE LUGAR É ESSE ???

ACERTADORES DA SEMANA PASSADA - Maninho Sanábio e Luiz Carlos Sachetto Mendonça reconheceram a casa na subida do morro do São José.

Foto: Google Earth

sexta-feira, 10 de abril de 2015

A INUTILIDADE DO PENSAMENTO POSITIVO


Todas as vezes em que retorno à casa onde passei minha infância em São João, passo horas olhando o velho portão. É um portão como os outros, antigo, descascado, mas, para nossa mãe, que o trancava e nos deixava do lado de dentro, aquele portão era uma proteção do mundo.

Fechados em nosso quintal, eu e meu irmão não tínhamos contato com a poeira, a sujeira e a violência das brincadeiras que poderiam nos causar algum dano ou mesmo piorar a nossa saúde que, acreditava ela, era mais frágil do que a das outras crianças da rua. O portão também funcionava como uma barreira contra palavrões, maus hábitos, bebidas alcoólicas e ideias negativas.

Simples, porém antenada com as tendências modernas do seu tempo, minha mãe acreditava piamente na importância do “pensamento positivo”. Era moda achar que pensar coisas positivas atraía coisas positivas.

Ainda hoje vejo muita gente comprando livros com esse tipo de pensamento. Mas, depois de quase seis dezenas de anos, e muitas pancadas e tombos na vida, a gente sabe muito bem que o fato de ficar repetindo que “tudo é bom, tudo é legal e tudo vai dar certo” vai criando uma região de sombra, inconsciente, que nos toma de assalto, feito um tsunami, e nos arrasa.

E nos arrasa, justamente, porque sobre aquilo que a gente não tem consciência, a gente não tem nenhum tipo de controle. Assim, deixando de lado a ilusão de que tudo está sempre bem, podemos entrar em contato direto com nossas dores, frustrações, lutos e perdas. Tendo consciência desse nosso lado negro, podemos ter algum nível (baixo) de controle.

Saber que estamos na Terra, um planeta com uma gravidade que nos faz cair, uma topologia áspera e um meio-ambiente hostil, onde a sobrevivência depende de devorar outras espécies o tempo todo, é um convite a não esperar amenidades, paraísos ou felicidades perpétuas.

Quanto menos expectativas sobre a vida terrena, maiores as chances de nos encantar com coisas simples, com dádivas que a natureza nos apresenta e muitas vezes passam despercebidas. Por outro lado, quanto mais positivos os pensamentos, quanto mais mantras sobre beleza, perfeição e justiça dos homens, maior o tombo, maior a decepção.

Assim, quando resolvemos assumir a consciência das dores e dos sentimentos que tentamos esconder, obtemos um melhor nível de autoconhecimento e até mesmo um certo autocontrole, essencial na relação com os outros. E de certeza, uma só: a de que, no final das contas, jamais seremos capazes de nos conhecer totalmente, não importa o lado do portão no qual nos coloquemos.

Crônica: Jorge Marin
Foto     :  Oliver, disponível em http://www.deviantart.com/art/cure-for-optimism-84518488

quarta-feira, 8 de abril de 2015

FACES DE MIM


Tenho as mãos que abrandam a graxa e surram o martelo,
Que sovam a massa e servem à mesa,
Impelem a viola, deslizam a vassoura... 
No tambor fazem ferir a madeira.

Mãos... Que em silêncio outras mãos perdoam,
Outras mãos... Humildemente pede perdão.
Alisa seu corpo, acaricia a prole,
Reprime, aplaude e acena.

Mãos que suam, aquecem e oram,
Que despem a caneta reveste o papel.                                                                     Acolhe no peito a bola que rola,
Empurram as águas que a pele enamora,

Com orgulho trás, o fardo que carrega,
A casa retorna troféu que alimenta,
Longas filas ferozes sangram,
O ganho que pouco germina e tanto tardia.

No trato diário, inocentes criaturas,
Tão frágeis empresto, as mãos que as saciam,
Pertinho do chão, peso que alivia,
Amigo de menino, nas costas um cavaleiro.

Ator incansável, pequenina plateia,
Palhaço preferido dos que prefiro,
Sou pai, esposo, irmão, companheiro,
Professor, aluno, eletricista, cozinheiro e faxineiro.

Também sei chorar, sorrir, agradecer, amar... Por que não sonhar!
Sou um pouco de tudo e de tudo quase pouco.
Me visto de criança, fotógrafo, atleta...brinco de contar causo, até finjo ser poeta,
Mas é mergulhando na simplicidade de infinitos pensamentos e canções,
Que vou me expressando,
Ao deixar voar com o coração,
Sensibilidades... Sentimentos... E emoções...

Poesia: Serjão Missiaggia
Foto (sr. Tunin Missiaggia): acervo do autor

segunda-feira, 6 de abril de 2015

BELEZAS DA TERRINHA


BRAÇOS ABERTOS SOBRE SÃO JOÃO NEPOMUCENO

Foto: Serjão Missiaggia

CASOS CASARÕES & seus detalhes misteriosos ???


QUEM SABE ALGUMA HISTÓRIA DESSA CASA AÍ???

CASARÃO DA SEMANA PASSADA: poucos reconheceram a casa na esquina da Travessa Padre Condé com a Rua do Descoberto: apenas Marcelo Oliveira, Luiz Carlos Moura (que ainda fornece o endereço completo) e o Jorge Vítor Honório que informa que aquela é a casa do Sr. Miudinho. Outros que reconhecerem o local e desejarem contar algum causo, o espaço vai continuar aberto aos comentários.

Foto: Serjão Missiaggia

CASOS CASAS & mistério ???


QUE LUGAR É ESSE???

ACERTADORES DA SEMANA PASSADA: várias pessoas reconheceram a placa comemorativa localizada na entradinha do prédio onde funcionou o nosso inesquecível Instituto Barroso: Carlos Antônio Zampa, Sílvia Maria Silva, Márcia Maria Rodrigues, Sonira Moraes de Araújo Laroca, Vanda Santiago, Maninho Sanábio, Lucimar Torres de Oliveira, e a Maria das Graças F. Ribeiro que, de quebra, ainda nos deu uma verdadeira aula de história, contando que o ginásio, originalmente Ginásio São Salvador, "foi doado à população de São João por Dona Prudenciana Faustina de São José. Conta-se que ela ficava na sacada do sobrado onde morava (no Largo da Matriz), acompanhando as obras de binóculos. Posteriormente, Escola Normal Dona Prudenciana e Instituto Ubi Barroso. A fachada foi desenhada por Dr. Augusto Glória. Por sinal é belíssima."

Foto: Serjão Missiaggia

sexta-feira, 3 de abril de 2015

UMA SEXTA-FEIRA DA PAIXÃO EM SÃO JOÃO


Mais uma Sexta-Feira da Paixão e, já distante daquelas semanas santas da minha infância, a vontade que dá é de cair no lugar comum e dizer: já não se fazem mais quaresmas como no meu tempo.

Menino, me lembro do fuzuê das pessoas logo após a Quarta-Feira de Cinzas. O estoque de panos roxos das Casas Pernambucanas acabava logo, pois todo mundo acorria a todos os cômodos da casa, embrulhando, ou ensacando, imagens de santos (e eram muitas naquele tempo) e os espelhos.

Além de, logicamente, não se comer carne, naqueles quarenta dias sagrados, não se varriam as casas, muita gente não lavava a cabeça, os homens não se barbeavam e o rádio, quando muito, era ligado baixinho, mesmo assim apenas às três da tarde, para ouvir a Consagração a Nossa Senhora Aparecida, pelo Padre Vítor Coelho de Almeida.

Na quarta-feira que antecedia a Paixão, uma procissão imensa saía da Igreja do Rosário, e outra, igualmente numerosa de uma das outras igrejas, para se juntarem na Procissão do Encontro, e caminharem, em silêncio sepulcral, para a Igreja Matriz.

A Procissão do Enterro, na sexta-feira de São João Nepomuceno, era um espetáculo que vou guardar para sempre em minha memória, independente do que eu acredite ou não. Sentados no passeinho do Correio, víamos passar as pessoas com suas velas, algumas choravam, outras caminhavam de olhos fechados.

Moleques que éramos, dávamos um sorrisinho maroto quando víamos passar, na fila dos contritos, algumas “meninas” que conhecíamos de locais bem menos santos: a Cearense, a Glória e uma gordona cujo nome não lembro e ficava no caixa.

Terminado o cortejo, seguíamos em silencioso respeito no final da fila, com as mãos para trás, porém atentos a qualquer sinal de um bar aberto. A procissão já ia bem adiantada, quando encontramos uma biboca meio aberta na esquina da Duque de Caxias com a Barão de São João.

Um tanto envergonhados, pois todas as mesinhas de lata estavam vazias, sentamo-nos e, baixinho, pedimos duas bramas. O garçom veio rapidamente, colocou as duas garrafas geladas sobre a mesa, mas a culpa bateu. Um dos presentes, acho que foi o Nilson, questionou se ainda era sexta-feira. Faltam dois minutos para a meia-noite, respondeu o Júlio.

Em silêncio, esperamos, ansiosos, a chegada do Sábado de Aleluia. Foram os dois minutos mais longos da minha vida!

Crônica: Jorge Marin
Foto     : Marcus Martins, disponível em http://www.galeriamm.com/index.php

quinta-feira, 2 de abril de 2015

UMA ESTRANHA VISITA NA MADRUGADA - Final


Se, no capítulo anterior, as pernas já estavam tremendo e o coração mais que disparado, imaginem então quando você percebe que algo parecido com a imagem de uma velha senhora, vestida de um longo vestido branco, se aproxima de sua cabeceira e desaparece a seguir em direção ao portal?

Naquele instante, meio que congelado e sem mexer um fio de cabelo sequer, comecei a rezar para as almas e a torcer pra que o dia clareasse o mais breve possível. E o pior é que eram apenas duas da madrugada. Foi aí que, com um pouco mais de lucidez, ainda com os olhos entreabertos, comecei a perceber que aqueles barulhos estranhos, até então vindos somente dos tacos, também eram acompanhados por alguns pequenos estalos provenientes da parte superior do portal.

O mistério e o pavor iam aumentando a cada segundo e, para meu desespero, prometendo, quem sabe, terminar somente quando o dia clareasse. Cheguei a pensar em saltar de repente da cama e sair em disparada para pular a janela, mas, com certeza, até abri-la, seria alcançado por aquela coisa de branco.

Gritar por socorro até que não foi uma possibilidade totalmente descartada, mas, naquela altura do campeonato, nem sei se teria voz pra isso ou mesmo se alguém iria me escutar.

Um mistério, que iria noite adentro se não fosse, imaginem vocês, pelo meu intenso suor que, por sinal, escorria em profusão, da testa até o dedão do pé. Interagindo em minha pele com uma suave brisa que penetrava no quarto, fez-me, naquele momento perceber que, estranhamente, esse fenômeno sempre acontecia nos momentos de aproximação do sobrenatural.

E foi assim que, em meu quase leito de morte, consegui decifrar o tão misterioso enigma: havia uma cortina de quase três metros de altura, que ficava no portal entre a sala e os demais cômodos da casa. Uma forte corrente de ar, que se estendia desde as venezianas de minha janela até o jardim de inverno, fazia com que ela entrasse pelo quarto e, já bem próxima à minha cabeceira, permanecia por segundos, até que cessasse a brisa novamente e ela retornasse ao portal.                    

Confesso que a pouca visibilidade, aliada ao cansaço, imaginação fértil e um pouquinho só de medo, fizeram com que eu tornasse refém de mim mesmo, ou melhor, de uma cortina.

E que alivio e relaxamento! Afinal de contas, já haviam se passado quase duas horas de pura adrenalina e terror. Fui até a geladeira e, após comer um delicioso pedaço de queijo caseiro fabricado pela dona Venina, voltei rapidinho pra cama. Só que desta feita pra dormir com os anjos.

Os barulhos? Nada mais eram do que o peso das cortinas que, agindo sobre as roldanas em contatos com o suporte de madeira, produzia estranhos estalos e rangidos quando em movimento. Triste, não?

Crônica: Serjão Missiaggia
Foto     : Nicolett Hovári disponível em http://www.deviantart.com/art/The-fear-under-your-bed-477323611, adaptada em Photoshop

quarta-feira, 1 de abril de 2015

UMA ESTRANHA VISITA NA MADRUGADA - Primeiro capítulo


Antes de tudo, gostaria de dizer que este sinistro episódio realmente aconteceu.

Era uma daquelas chuvosas noites de verão de 1973, quando, ao chegar em casa um pouco mais tarde e sem mesmo fazer um lanche, fui direto pra cama. Lembro-me apenas de estar muito cansado, pois havíamos tocado num baile naquela noite.

Assim, após fazer minhas orações, procurei, ainda antes de dormir, ligar meu velho rádio que, estrategicamente posicionado sobre uma cantoneira, ficava bem ao lado de minha cama. A intenção seria de segurar o sono um pouco mais, para tentar escutar as últimas resenhas esportivas com as notícias do Fogão.

Meus pais haviam viajado, e eu me encontrava sozinho naquela noite. Relâmpagos penetravam fulminantes pelos vitrais das imensas janelas de meu quarto, enquanto o velho rádio a válvulas era uma explosão a cada descarga elétrica que acontecia lá fora. Resolvi desligá-lo. 

A forte chuva foi aos poucos dando uma pequena trégua, enquanto ainda se podiam escutar alguns poucos pingos rebatendo na janela. O silêncio tomou conta da noite.  Percebi pelas venezianas de madeira, que a energia elétrica havia acabado, fazendo com que os clarões dos relâmpagos penetrassem ainda mais dentro do quarto.

Silêncio total e, quando já começava me entregar ao sono, eis que um barulho muito estranho começou a se aproximar de mim, para, em seguida, retornar. Algo assim como o ruído do estalar de tacos soltos quando pisados por alguém.

A cabeceira de minha cama ficava de costas para o portal de entrada do quarto, que, por sinal, encontrava-se aberto naquela noite. Já tomado de certo pavor, e pensando nas tantas e sinistras possibilidades, não me restou outra alternativa do que trancar os olhos e entregar pra Deus.  

Suando frio, permaneci por um longo período, apenas escutando aquele estranho movimento de acercamento. Sentia que algo esquisito se aproximava da cabeceira da cama e, quase já tocando minha cabeça, novamente retornava.

Já havia se passado quase uma hora e, diante daquela terrível e angustiante sensação em não saber realmente do que se travava, resolvi, num daqueles raros surtos de coragem, ir aos pouquinhos abrindo os olhos. Nesse momento, percebi que a energia havia voltado e que, diante de uma pequena luminosidade oriunda dos postes da rua, poderia com certeza identificar o misterioso barulho.

Meu Deus, o que é isso? Sinceramente, não sei como não desmaiei. À MEIA-NOITE EM PONTO, eu conto o resto. Mas, se estiver chovendo, não leiam!

Crônica: Serjão Missiaggia
Foto     : disponível em http://picslist.com/image/35850034617

BRIGADU, GENTE!

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VOLTEM SEMPRE, ESTAMOS ESPERANDO... NO MURINHO DO ADIL