Vendo
essa foto maravilhosa da família Verardo que o Serjão publicou na quarta-feira
e, depois, passeando junto com ele pelas ruas da nossa Garbosa, fica, às vezes,
uma sensação assim de desamparo: onde foram parar aqueles senhores respeitáveis
com seus ternos de domingo, seus fraques e cartolas, e as senhoras com seus vaporosos
vestidos, anáguas e combinações?
E as casas com jardins? Há quarenta anos,
passeando pelas ruas de São João, eram poucas as casas sem, pelo menos, um
jardim, uma roseira que fosse, ou um mero vaso de antúrios. Isso sem falar nas
árvores, com as quais costumávamos dar encontrões. Por causa delas, à noitinha,
as pessoas colocavam as cadeiras nas calçadas para “tomar a fresca”.
E afinal,
para que tanta dignidade, beleza, classe e harmonia, para depois terminarmos
assim, numa esculhambação geral, onde uma massa de pessoas atordoadas vaga, sem
rumo, em uma paisagem urbana caótica, violenta e desorganizada?
É lógico
que isso não é “privilégio” apenas de São João Nepomuceno: vivemos um daqueles
momentos de crise, onde o sagrado se torna ridículo; a ordem, caos; e a lei, um
empecilho a ser contornado.
Vejam
bem: se examinarmos bem atentamente aquela foto de família, notamos que há uma
unidade em torno do patriarca, que é o centro da foto, e todos os homens se
vestem de maneira mais ou menos igual. As senhoras, moças e meninas, embora
usem cores variadas, seguem o modelo de saia rodada e blusas com mangas, e
golas fechadas.
Ora, e o
que isso tem a ver com as confusões do mundo atual? Entendo que, com um grau
maior de liberdade, as diferenças aumentaram e, como todos sabem, é muito difícil
conviver com as diferenças, embora esse seja um problema que já existe desde
que o mundo é mundo.
Mas, por
que tem sido tão difícil a convivência entre as pessoas? Em primeiro lugar,
ninguém hoje em dia tem muita paciência ou boa vontade para lidar com as
diferenças. Assim a maioria das pessoas, baseadas numa lógica moderna do “eu me
amo primeiro”, simplesmente NÃO SE IMPLICAM nessa história de diferenças.
Assim,
idealizam o campo do outro: um parceiro ou parceira ideais, um filho ideal, um
pai ideal, um chefe ideal. Só que a RELAÇÃO com uma pessoa ideal É IMPOSSÍVEL.
E isto porque a pessoa ideal não existe! É óbvio que gostaríamos muito que as
pessoas de nossas relações fossem iguais àqueles modelos que temos em mente. Só
que, se orientarmos as nossas vidas para a obtenção de uma “relação ideal”
estaremos (já estamos?) condenados à ETERNA INSATISFAÇÃO.
E, desta
maneira torta, vamos que vamos, criticando e reclamando, pensando ser o que não
somos, e achando que vamos ser felizes para sempre com quem jamais será da
maneira que sonhamos.
Crônica:
Jorge Marin
Foto : Anas ELQ, disponível em https://www.flickr.com/photos/anaselq/6986570356/in/photostream/
Caro Jorge,
ResponderExcluirEstando depois de muitos anos em minha terra natal, fiquei perplexo quanto ao barulho (poluição sonora) numa total falta de respeito aos cidadãos que aqui residem, Desculpe o desabafo.
Difícil (con)viver com muita gente e pouca noção!
ResponderExcluirPor ser uma descrição irretocavelmente perfeita da situação em que vivemos, faço minhas as suas palavras: "E, desta maneira torta, vamos que vamos, criticando e reclamando, pensando ser o que não somos, e achando que vamos ser felizes para sempre com quem jamais será da maneira que sonhamos."
PS: A imagem escolhida para esta postagem também está perfeita para o contexto. Um bom exemplo do 'garimpo virtual' no qual se especializou meu amigo Jorge.