sexta-feira, 24 de abril de 2015

EU AMO GENTE QUE NÃO EXISTE


Vendo essa foto maravilhosa da família Verardo que o Serjão publicou na quarta-feira e, depois, passeando junto com ele pelas ruas da nossa Garbosa, fica, às vezes, uma sensação assim de desamparo: onde foram parar aqueles senhores respeitáveis com seus ternos de domingo, seus fraques e cartolas, e as senhoras com seus vaporosos vestidos, anáguas e combinações?

 E as casas com jardins? Há quarenta anos, passeando pelas ruas de São João, eram poucas as casas sem, pelo menos, um jardim, uma roseira que fosse, ou um mero vaso de antúrios. Isso sem falar nas árvores, com as quais costumávamos dar encontrões. Por causa delas, à noitinha, as pessoas colocavam as cadeiras nas calçadas para “tomar a fresca”.

E afinal, para que tanta dignidade, beleza, classe e harmonia, para depois terminarmos assim, numa esculhambação geral, onde uma massa de pessoas atordoadas vaga, sem rumo, em uma paisagem urbana caótica, violenta e desorganizada?

É lógico que isso não é “privilégio” apenas de São João Nepomuceno: vivemos um daqueles momentos de crise, onde o sagrado se torna ridículo; a ordem, caos; e a lei, um empecilho a ser contornado.

Vejam bem: se examinarmos bem atentamente aquela foto de família, notamos que há uma unidade em torno do patriarca, que é o centro da foto, e todos os homens se vestem de maneira mais ou menos igual. As senhoras, moças e meninas, embora usem cores variadas, seguem o modelo de saia rodada e blusas com mangas, e golas fechadas.

Ora, e o que isso tem a ver com as confusões do mundo atual? Entendo que, com um grau maior de liberdade, as diferenças aumentaram e, como todos sabem, é muito difícil conviver com as diferenças, embora esse seja um problema que já existe desde que o mundo é mundo.

Mas, por que tem sido tão difícil a convivência entre as pessoas? Em primeiro lugar, ninguém hoje em dia tem muita paciência ou boa vontade para lidar com as diferenças. Assim a maioria das pessoas, baseadas numa lógica moderna do “eu me amo primeiro”, simplesmente NÃO SE IMPLICAM nessa história de diferenças.

Assim, idealizam o campo do outro: um parceiro ou parceira ideais, um filho ideal, um pai ideal, um chefe ideal. Só que a RELAÇÃO com uma pessoa ideal É IMPOSSÍVEL. E isto porque a pessoa ideal não existe! É óbvio que gostaríamos muito que as pessoas de nossas relações fossem iguais àqueles modelos que temos em mente. Só que, se orientarmos as nossas vidas para a obtenção de uma “relação ideal” estaremos (já estamos?) condenados à ETERNA INSATISFAÇÃO.

E, desta maneira torta, vamos que vamos, criticando e reclamando, pensando ser o que não somos, e achando que vamos ser felizes para sempre com quem jamais será da maneira que sonhamos.

Crônica: Jorge Marin
Foto     : Anas ELQ, disponível em https://www.flickr.com/photos/anaselq/6986570356/in/photostream/



2 comentários:

  1. Caro Jorge,
    Estando depois de muitos anos em minha terra natal, fiquei perplexo quanto ao barulho (poluição sonora) numa total falta de respeito aos cidadãos que aqui residem, Desculpe o desabafo.

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  2. Difícil (con)viver com muita gente e pouca noção!
    Por ser uma descrição irretocavelmente perfeita da situação em que vivemos, faço minhas as suas palavras: "E, desta maneira torta, vamos que vamos, criticando e reclamando, pensando ser o que não somos, e achando que vamos ser felizes para sempre com quem jamais será da maneira que sonhamos."
    PS: A imagem escolhida para esta postagem também está perfeita para o contexto. Um bom exemplo do 'garimpo virtual' no qual se especializou meu amigo Jorge.

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