quarta-feira, 15 de abril de 2015

UM CAMUNDONGO EM MINHA VIDA


Jamais imaginaria que um ratinho iria mexer tanto comigo. Mas mexeu!

Tudo começou quando fui obrigado a armar uma ratoeira no terreiro, em função de alguns pequenos objetos estranhos que começaram aparecer espalhados na prateleira junto à ração do garnisé. Foram quase três semanas empregando as mais diversas e exaustivas táticas de guerra, para se tentar pegar o bichinho. Essa coisa de queijo já não cola mais, e até uma linguicinha (pura) tentei, mas tudo em vão.

Na verdade, meu erro já começou na escolha da ratoeira, pois, ao achar que aquelas em que uma simples cacetada ao estilo guilhotina seriam muito nojentas, é que resolvi armar uma que somente o aprisionaria. E foi justamente aí que me estrepei, ou seja, se já não estava fácil pegá-lo, imaginem então descobrir o que fazer com ele depois. Realmente, não imaginava que mandar o roedor dessa pra melhor seria tão complicado.

E lá estava o nosso invasor, coitado, aprisionado na velha ratoeira. E agora, como dar fim nessa criatura de Deus? Afogar o bichinho, como se fazia antigamente, nem pensar. Tiro de chumbinho ou cacetada então, fora de cogitação. O que fazer?

Pensando numa morte rápida e sem sofrimento, resolvi, de imediato, colocar em doses homeopáticas aqueles venenos esverdeados em forma de granulados dentro da ratoeira. Minha esperança seria de que, já na manhã seguinte, o encontraria descansando em paz. Puro engano.

Chegando ao terreiro, após ter-me preparado psicologicamente pra fazer o translado e sepultamento, eis que, para minha surpresa, lá se encontrava ele cabisbaixo e de semblante triste olhando pra mim (e isso em nada me agradou). Mantive-me durão e, após consultar um profissional do ramo, resolvi mudar o veneno para os famosos granulados rosas. Ainda por conta e risco, misturei algumas pitadas de semente de girassol envenenada. Seria tiro e queda, segundo o atendente da loja. Mas não foi.

E essa tortura foi se estendendo por vários dias, e sempre da mesma forma. A cada novo amanhecer, lá está ele, de olhar cada vez mais tristonho pro meu lado, e, o que é pior, parecendo suplicar por clemência e liberdade. Foi quando, no décimo dia, pude começar perceber que uma estranha prostração em seus movimentos, acompanhada de pálpebras caídas, sugeria que o coitadinho estaria começando e entrar num processo agudo de desidratação. Só faltava essa! Sofrimento era tudo que eu não queria.

Transferi imediatamente a ratoeira para uma sombra, joguei um pouco de areia em seu fundo e coloquei num pequeno recipiente bastante água. E dava gosto ver como bebia.

Tirei os venenos e comecei a colocar algumas migalhas de pão, pedaços de banana e até restos de frutas. Tive o cuidado, daí em diante, de deixá-lo exposto apenas ao sol da manha. E o bichinho aprumou novamente e tomou vida nova. Camundogozinho simpático ele.

Pensei em comprar uma daquela gaiolinhas de hamster, pra melhorar a qualidade de vida do amigo Dongo, mas, infelizmente, para minha surpresa, no dia seguinte, veio a entrar em óbito.

Melhor que tenha sido assim!

Crônica: Serjão Missiaggia

Um comentário:

  1. Meu amigo Serjão...
    O carrasco gentil por pouco não adotou sua vítima e viveram felizes para (quase) sempre.

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BRIGADU, GENTE!

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