Jamais
imaginaria que um ratinho iria mexer tanto comigo. Mas mexeu!
Tudo
começou quando fui obrigado a armar uma ratoeira no terreiro, em função de
alguns pequenos objetos estranhos que começaram aparecer espalhados na
prateleira junto à ração do garnisé. Foram quase três semanas empregando as
mais diversas e exaustivas táticas de guerra, para se tentar pegar o bichinho. Essa
coisa de queijo já não cola mais, e até uma linguicinha (pura) tentei, mas tudo
em vão.
Na
verdade, meu erro já começou na escolha da ratoeira, pois, ao achar que aquelas
em que uma simples cacetada ao estilo guilhotina seriam muito nojentas, é que resolvi
armar uma que somente o aprisionaria. E foi justamente aí que me estrepei, ou
seja, se já não estava fácil pegá-lo, imaginem então descobrir o que fazer com
ele depois. Realmente, não imaginava que mandar o roedor dessa pra melhor seria
tão complicado.
E lá
estava o nosso invasor, coitado, aprisionado na velha ratoeira. E agora, como
dar fim nessa criatura de Deus? Afogar o bichinho, como se fazia antigamente,
nem pensar. Tiro de chumbinho ou cacetada então, fora de cogitação. O que fazer?
Pensando
numa morte rápida e sem sofrimento, resolvi, de imediato, colocar em doses
homeopáticas aqueles venenos esverdeados em forma de granulados dentro da
ratoeira. Minha esperança seria de que, já na manhã seguinte, o encontraria
descansando em paz. Puro engano.
Chegando
ao terreiro, após ter-me preparado psicologicamente pra fazer o translado e
sepultamento, eis que, para minha surpresa, lá se encontrava ele cabisbaixo e de
semblante triste olhando pra mim (e isso em nada me agradou). Mantive-me durão
e, após consultar um profissional do ramo, resolvi mudar o veneno para os famosos
granulados rosas. Ainda por conta e risco, misturei algumas pitadas de semente
de girassol envenenada. Seria tiro e queda, segundo o atendente da loja. Mas
não foi.
E essa
tortura foi se estendendo por vários dias, e sempre da mesma forma. A cada novo
amanhecer, lá está ele, de olhar cada vez mais tristonho pro meu lado, e, o que
é pior, parecendo suplicar por clemência e liberdade. Foi quando, no décimo dia,
pude começar perceber que uma estranha prostração em seus movimentos,
acompanhada de pálpebras caídas, sugeria que o coitadinho estaria começando e
entrar num processo agudo de desidratação. Só faltava essa! Sofrimento era tudo
que eu não queria.
Transferi
imediatamente a ratoeira para uma sombra, joguei um pouco de areia em seu fundo
e coloquei num pequeno recipiente bastante água. E dava gosto ver como bebia.
Tirei os
venenos e comecei a colocar algumas migalhas de pão, pedaços de banana e até
restos de frutas. Tive o cuidado, daí em diante, de deixá-lo exposto apenas ao
sol da manha. E o bichinho aprumou novamente e tomou vida nova. Camundogozinho
simpático ele.
Pensei em
comprar uma daquela gaiolinhas de hamster, pra melhorar a qualidade de vida do
amigo Dongo, mas, infelizmente, para minha surpresa, no dia seguinte, veio a
entrar em óbito.
Melhor que
tenha sido assim!
Crônica:
Serjão Missiaggia
Foto:
Ellen van Deelen, disponível em http://g1.globo.com/Noticias/Musica/0,,MUL1248773-7085,00-FOTOGRAFA+ENSINA+RATOS+A+POSAREM+COM+INSTRUMENTOS+MUSICAIS.html
Meu amigo Serjão...
ResponderExcluirO carrasco gentil por pouco não adotou sua vítima e viveram felizes para (quase) sempre.