Se, no
capítulo anterior, as pernas já estavam tremendo e o coração mais que
disparado, imaginem então quando você percebe que algo parecido com a imagem de
uma velha senhora, vestida de um longo vestido branco, se aproxima de sua
cabeceira e desaparece a seguir em direção ao portal?
Naquele
instante, meio que congelado e sem mexer um fio de cabelo sequer, comecei a
rezar para as almas e a torcer pra que o dia clareasse o mais breve possível. E
o pior é que eram apenas duas da madrugada. Foi aí que, com um pouco mais de
lucidez, ainda com os olhos entreabertos, comecei a perceber que aqueles
barulhos estranhos, até então vindos somente dos tacos, também eram
acompanhados por alguns pequenos estalos provenientes da parte superior do
portal.
O
mistério e o pavor iam aumentando a cada segundo e, para meu desespero,
prometendo, quem sabe, terminar somente quando o dia clareasse. Cheguei a
pensar em saltar de repente da cama e sair em disparada para pular a janela,
mas, com certeza, até abri-la, seria alcançado por aquela coisa de branco.
Gritar
por socorro até que não foi uma possibilidade totalmente descartada, mas,
naquela altura do campeonato, nem sei se teria voz pra isso ou mesmo se alguém
iria me escutar.
Um
mistério, que iria noite adentro se não fosse, imaginem vocês, pelo meu intenso
suor que, por sinal, escorria em profusão, da testa até o dedão do pé. Interagindo
em minha pele com uma suave brisa que penetrava no quarto, fez-me, naquele
momento perceber que, estranhamente, esse fenômeno sempre acontecia nos
momentos de aproximação do sobrenatural.
E foi assim
que, em meu quase leito de morte, consegui decifrar o tão misterioso enigma: havia
uma cortina de quase três metros de altura, que ficava no portal entre a sala e
os demais cômodos da casa. Uma forte corrente de ar, que se estendia desde as
venezianas de minha janela até o jardim de inverno, fazia com que ela entrasse
pelo quarto e, já bem próxima à minha cabeceira, permanecia por segundos, até
que cessasse a brisa novamente e ela retornasse ao portal.
Confesso
que a pouca visibilidade, aliada ao cansaço, imaginação fértil e um pouquinho só
de medo, fizeram com que eu tornasse refém de mim mesmo, ou melhor, de uma
cortina.
E que
alivio e relaxamento! Afinal de contas, já haviam se passado quase duas horas
de pura adrenalina e terror. Fui até a geladeira e, após comer um delicioso
pedaço de queijo caseiro fabricado pela dona Venina, voltei rapidinho pra cama.
Só que desta feita pra dormir com os anjos.
Os
barulhos? Nada mais eram do que o peso das cortinas que, agindo sobre as
roldanas em contatos com o suporte de madeira, produzia estranhos estalos e rangidos
quando em movimento. Triste, não?
Crônica:
Serjão Missiaggia
Foto : Nicolett Hovári disponível em http://www.deviantart.com/art/The-fear-under-your-bed-477323611, adaptada em Photoshop
Os medos criando seus enredos...
ResponderExcluirJá vivi e ouvi histórias engraçadas de serem contadas, mas que não tinham graça nenhuma em serem sentidas.
É, compadre Sylvrio, já dizia Shakespeare que "o horror visível tem menos poder sobre a alma do que o horror imaginado".
Excluir