sexta-feira, 17 de abril de 2015

O SEXO (COMPLICADO) NOS ANOS DE CHUMBO


Achei muito oportuna a publicação da foto da “zona do baixo meretrício” aqui no Blog no início da semana. Ou, simplesmente “zona” para os íntimos.

Carinhosamente apelidada de Maracangalha, ou apenas Maraca, a casa da luz vermelha de São João Nepomuceno, assim como suas congêneres espalhadas pelo Brasil afora, também cumpriu a sua importante função social de fornecer aquilo que, nos dias atuais, poderíamos chamar de assessoria para assuntos sexuais, ou Personal Sex Trainer.

Explico: naquela época, o sexo não era livremente praticado. Aliás, não era nem comentado: a Neli Gonçalves escreveu, no Face do Blog, que muitas vezes teve que retirar o clássico “Maracangalha” de Dorival Caymmi, do repertório dos shows, apenas porque, em São João, aquela palavra significava “zona”.

Pode parecer incrível que tudo isso tenha ocorrido apenas há uns quarenta e poucos anos atrás, mas a repressão sexual já começava na primeira comunhão. Quando, ainda moleques, íamos ao confessionário, logo vinha o Padre Oswaldo e perguntava na lata:
- Quantas ... você tocou esta semana? – e olhem que ele falava o nome da coisa mesmo.

Morro de curiosidade para saber se ele fazia o mesmo com as meninas. Acho que não, pois, naquele tempo, as meninas eram umas panguás. As mulheres, em geral, eram umas panguás, umas retardadas. E, antes que alguma feminista me acerte um soco, vou logo explicando: mulher não podia transar (pelo menos, não devia), pois tinha que casar virgem. E, se alguma delas, dentro daquelas minissaias inesquecíveis, resolvesse deixar o namorado “navegar” pelo corpo, mesmo que na superfície, era o bastante para a menina ser rotulada de “safada”, ou, em voz bem sussurrada, “galinha”.

Lembro-me que, certa vez, me apaixonei por uma dessas “galinhas”, aliás estava mais para “gatinha” porque era uma moça linda, inteligentíssima e super gente boa. Mas, logo disseram: “você não pode namorar, pois essa menina já transou”. Eu disse: “não me importo, eu também quero transar, e acho que vai ser bom, porque ela pode até me ensinar algumas técnicas”.

No entanto, percebi logo que a coisa era bem mais complicada: pela cultura vigente, eu deveria ir aprender a transar lá na Maracangalha, com a Cearense, que tinha paciência com os moços. E, com a tal moça, eu poderia até namorar, mas correria o sério risco de casar com uma não-virgem, um dos seres mais abomináveis da época. Aí, chegou a minha vez de ser panguá e retardado; vocês acreditam que marquei um cinema e dei “bolo” na moça?

Ah, e hoje, quarenta anos depois, descobri no Google que “baixo” meretrício, é a comercialização da arte da meretriz a preços módicos. Vivendo e aprendendo.

Crônica: Jorge Marin
Foto     : disponível em http://www.overmundo.com.br/banco/vila-mimosa

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