Achei
muito oportuna a publicação da foto da “zona do baixo meretrício” aqui no Blog
no início da semana. Ou, simplesmente “zona” para os íntimos.
Carinhosamente
apelidada de Maracangalha, ou apenas Maraca, a casa da luz vermelha de São João
Nepomuceno, assim como suas congêneres espalhadas pelo Brasil afora, também
cumpriu a sua importante função social de fornecer aquilo que, nos dias atuais,
poderíamos chamar de assessoria para assuntos sexuais, ou Personal Sex Trainer.
Explico:
naquela época, o sexo não era livremente praticado. Aliás, não era nem
comentado: a Neli Gonçalves escreveu, no Face do Blog, que muitas vezes teve
que retirar o clássico “Maracangalha” de Dorival Caymmi, do repertório dos
shows, apenas porque, em São João, aquela palavra significava “zona”.
Pode
parecer incrível que tudo isso tenha ocorrido apenas há uns quarenta e poucos
anos atrás, mas a repressão sexual já começava na primeira comunhão. Quando,
ainda moleques, íamos ao confessionário, logo vinha o Padre Oswaldo e
perguntava na lata:
- Quantas
... você tocou esta semana? – e olhem que ele falava o nome da coisa mesmo.
Morro de
curiosidade para saber se ele fazia o mesmo com as meninas. Acho que não, pois,
naquele tempo, as meninas eram umas panguás. As mulheres, em geral, eram umas
panguás, umas retardadas. E, antes que alguma feminista me acerte um soco, vou
logo explicando: mulher não podia transar (pelo menos, não devia), pois tinha
que casar virgem. E, se alguma delas, dentro daquelas minissaias inesquecíveis,
resolvesse deixar o namorado “navegar” pelo corpo, mesmo que na superfície, era
o bastante para a menina ser rotulada de “safada”, ou, em voz bem sussurrada, “galinha”.
Lembro-me
que, certa vez, me apaixonei por uma dessas “galinhas”, aliás estava mais para “gatinha”
porque era uma moça linda, inteligentíssima e super gente boa. Mas, logo
disseram: “você não pode namorar, pois essa menina já transou”. Eu disse: “não
me importo, eu também quero transar, e acho que vai ser bom, porque ela pode
até me ensinar algumas técnicas”.
No entanto,
percebi logo que a coisa era bem mais complicada: pela cultura vigente, eu
deveria ir aprender a transar lá na Maracangalha, com a Cearense, que tinha
paciência com os moços. E, com a tal moça, eu poderia até namorar, mas correria
o sério risco de casar com uma não-virgem, um dos seres mais abomináveis da
época. Aí, chegou a minha vez de ser panguá e retardado; vocês acreditam que
marquei um cinema e dei “bolo” na moça?
Ah, e
hoje, quarenta anos depois, descobri no Google que “baixo” meretrício, é a
comercialização da arte da meretriz a preços módicos. Vivendo e aprendendo.
Crônica:
Jorge Marin
Foto : disponível em http://www.overmundo.com.br/banco/vila-mimosa
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