sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

CAUSOS INACREDITÁVEIS



CRÔNICAS GALINÁCEAS - DE DONALD A MARGARIDA
EPISÓDIO 2 - O RAP(A)TO!
(Roteiro original - Serjão Missiaggia / Adaptação - Jorge Marin)

Na semana passada, como bem recordam, eu estava frente a um dilema: de onde teria vindo aquele ovão azul. Não era de nenhuma galinha. Do galo, nem pensar! Então! De quem seria?!
Bem... Resumindo a história, a partir daquele dia, nosso querido patinho “Donald”, passou a se chamar “Margarida”.
Mas... Nem tudo seriam flores no país dos empenados. E com Donald... Digo... com a Margarida, não poderia ser diferente.
Vivendo num habitat que nada se parecia com meio-ambiente peculiar de um pato, Margarida começava criar sérios problemas.
Com pouca água, o galinheiro começava a ficar num estado lastimável. Até mesmo perigoso pra saúde de todos.
O cheiro era terrível e começava a penetrar dentro de casa.
Moscas e mais moscas tomavam conta do lugar e mal se poderia aproximar do galinheiro.
A pouca água existente se misturava com terra e restos de comida. Tudo começou se transformar num lamaçal, de odor nada agradável.
Ficou de um jeito que teríamos mesmo que optar: Ou Margarida... Ou nós!
Mas... A coisa não seria tão simples assim, e meu grande erro ainda estaria por vir.
Após um rápido julgamento, em que achava simples e correta minha decisão, e na ânsia de me livrar do bichinho, subestimei grosseiramente o que ele representava para os meninos.
Até então cego para os sentimentos, comecei a simular aquilo que seria: “A farsa, de uma falsa fuga de Margarida.”
Primeiramente, combinei com o pessoal de uma loja bem ali na esquina, que por sinal era de animais, que, no outro dia bem cedinho, entregaria para eles um belo pato.
A única coisa que pedi em troca seria que eles o mantivessem escondido na loja. Pelo menos por uns três dias.
Minha intenção era ganhar algum tempo, de forma que eu pudesse analisar, com mais segurança, como ficariam os meninos.
E assim foi feito...
Pesarosamente, ainda de madrugada, entrei no galinheiro e, agarrando-o pelo pescoço, enfiei num saco. Dando uma última olhada, entreguei “a encomenda” mais que depressa, ao pessoal da loja.
Quando os meninos acordaram, já estava eu, ao lado do galinheiro, com aquela história, da falsa fuga de Donald, perdão, de Margarida, na ponta da língua.
Procurei focar que a atitude de Margarida teria a justificativa de haver fugido para encontrar sua verdadeira família.
Esperava assim comover os meninos. A principio, achei mesmo, que havia conseguido.
Passaram-se dois dias e tudo levava a crer que meu plano havia dado certo.
Mas... A coisa não seria bem assim, e tudo começaria se complicar quando, no terceiro dia, bem cedinho, eu estava tratando das galinhas. Matheus, também acordando cedo, aproximou-se do galinheiro e, em prantos, pedia pela volta do pato.
Foi aí que comecei a entender que seu choro poderia ser o desabafo de uma saudade que, há dias, estava sendo reprimida.
A coisa começava a ficar fora de controle e eu, prestes a entrar em pânico, tentava, a qualquer custo, imaginar onde poderia estar Donald.
Naquela altura do campeonato, era bem provável já estar ele, ou ela, na barriga de alguém.
Corri freneticamente até a loja, na esperança de ainda encontrá-lo.
Mas... Qual foi a minha decepção?!
Na noite anterior, haviam dado o Donald para um tal de Zezé Raposão. Sujeito este que morava, na ocasião, perto do aeroporto. E lá se foi meu pato! – Pensei!
A fama desse cara era de tremendo bebedor de cerveja, principalmente após as peladas de domingo. E o que é o pior... Com pato ou cabrito de tira-gosto!
Enquanto isto, minha aflição só ia aumentando. Observava que Matheus não se conformava com a perda.
Eram quase onze da noite, quando fui parar, lá em cima, no bairro Popular, mais precisamente, ao lado do campo de aviação. (A pé).
Tentar encontrar o esconderijo do tal Raposão, já havia se tornado, para min, uma obsessão.
Pergunta daqui, pergunta dali, até que, de tanto procurar, cheguei enfim a uma provável casa. Parecia-me bem suspeita.
Após, inutilmente, bater palmas e a chamar pelo pressuposto algoz, comecei a descer por um corredor escuro. Como se não bastasse, além de um monte de cachorros, latindo sem parar, ameaçando me meter os dentes na canela, fui descendo e tropeçando num monte de buracos.
A cada metro que descia, mais medo eu sentia.
Seguia impulsionado pela esperança de que pudesse, de uma hora para a outra, visualizar um lindo laguinho, onde Donald pudesse estar, alegremente, nadando.
E eis que, de repente, chega uma figura sinistra. Não podendo visualizar, pois estava bem escuro, peguntei, baixinho:
- Raposão, é você?
Não percam, na próxima semana, mais um capítulo desta história complicada, que, como qualquer ave, começou com um ovo, mas evoluiu para uma intriga que envolve pessoas que já cumpriram penas pesadas. Aguardem!

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

SABEDORIAS DA ÍNDIA



Crônica: Jorge Marin

O texto do Serjão da última quarta-feira, trouxe à tona a força da mensagem defendida por John Lennon na sua cruzada pacifista nos terríveis anos da Guerra Fria. O “All we need is love”, mais do que um hino do filme Yellow Submarine, trouxe, para as mídias ocidentais, os ensinamentos do guru indiano Maharishi Mahseh Yogi, visitado pelos Beatles nos Himalaias, em 1968.
O curioso é que a filosofia oriental era apresentada como um grande barato, como uma curtição, ou como uma simples curiosidade. O fato é que estamos falando de uma sabedoria altamente desenvolvida que, cerca de sete séculos antes de Cristo, foi obrigada a elaborar um conjunto de conceitos e imagens demandadas pela sociedade existente, para atender às necessidades de experiência religiosa.
Sempre que pensamos em experiência religiosa, fica parecendo que estamos buscando alguma solução fantástica para minimizar o impacto da realidade da morte e da impermanência. Mas a verdade é que precisamos de símbolos, haja vista a volúpia com a qual nos entregamos às informações no mundo atual.
Pois bem, conceitos e palavras são símbolos, assim como as visões, os rituais e as imagens. Da mesma forma, os usos e costumes da vida cotidiana. Todos estes símbolos conduzem nossas mentes à verdade, mas, logicamente, não são a verdade em si. Portanto, aceitar estes símbolos como leis e adotá-los, é uma coisa estúpida, que vem sendo praticada mais e mais.
Assim, ao invés de adotar os mais variados modismos, temos que seguir o difícil caminho de nossas próprias experiências, vivenciar nossas próprias reações, sofrer (uma coisa que parece proibida nos dias atuais), assimilar este sofrimento e ter coragem de fazer coisas novas, coisas diferentes, caso contrário o resultado vai ser sempre o mesmo.
A verdade não vem “de fora”, mas é um processo gerado em nosso interior, da mesma forma que uma mãe gera seu filho, que surge de um estado de não-manifestação e, por que não dizer, de inexistência, para a luz. Há uma máxima hindu que diz que “não podemos pedir Deus emprestado.” O divino é gestado em nosso interior, com dor e dificuldade, mas esta verdade única é algo que pode ser chamado de real.
Voltando às mitologias da Índia, este milagre é demonstrado na figura do deus Visnu, criador e sustentador do mundo. Quando os pais necessitam de uma nova encarnação, as forças suplicantes são tão intensas que o deus aprova. No entanto, no momento em que a futura criança se manifesta no ventre materno, forças demoníacas, contrárias àquele criador, colocam-se contra ele. Fazem tudo que podem para dificultar sua tarefa. Mas, a violência dessas forças não é tão definitiva, pois este tipo de resistência está sempre presente quando uma manifestação divina, qualquer uma, toma corpo no cenário humano.
Descobrimos então que o pensamento indiano não é tão fantástico, como muitos acham, mas uma verdadeira filosofia que busca trazer, para nossa consciência, aqueles conteúdos que as forças da vida recusaram e ocultaram. É quase o mesmo processo da nossa velha Psicanálise. O objetivo não é explorar e descrever o mundo visível, mas aquilo que se encontra inconsciente.
A principal descoberta desta filosofia é o Eu, não da forma como o conhecemos no Ocidente, mas sim como entidade permanente, consciente e base da estrutura corporal. E tudo o que normalmente pensamos, conhecemos e expressamos de nós mesmos, pertence à esfera da impermanência, à esfera do tempo e do espaço, ao mundo das formas vazias.
Finalizando, mas o que é que a Índia tem a ver conosco? Nada a ver, se pensarmos em termos de teorias metafísicas, psicológicas, éticas e físicas. Mas, TUDO A VER, se nos lembrarmos que a grande preocupação hindu é, menos do que a informação (da qual já estamos com indigestão), a Transformação, ou seja, uma mudança radical na natureza humana, que possa levar a uma nova visão do mundo, tanto o externo (tão judiado) como o interno (tão negligenciado). O resultado pode ser chamado de renascimento. Ou conversão, quem sabe?

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

CAUSOS INACREDITÁVEIS



CRÔNICAS GALINÁCEAS - DE DONALD A MARGARIDA
EPISÓDIO 1 - O OVO AZUL

(Roteiro original- Serjão Missiaggia / Adaptação - Jorge Marin)

Este é um episódio do qual jamais poderia me esquecer!!!
Foi graças a um agradável encontro que tive, dias atrás, com alguns familiares, é que pude me lembrar deste acontecimento.
Enquanto ali na pracinha, num descontraído bate-papo, recordávamos de alguns fatos divertidos do nosso dia-a-dia, alguém teve a feliz idéia de lembrar deste caso.
Possivelmente, o simples fato de ter, diante de um filho, experimentado meu primeiro sentimento de culpa, fosse o motivo para minha ainda, idônea lembrança não ter se manifestado.

Vamos então aos fatos:
Sabe aquele galinheiro... que tinha uma galinha caduca, que ficava no varal secando, mas que hoje, já na menopausa, não bota um ovo sequer? E que somente sobe ao poleiro, graças a uma escadinha que coloquei para ajudá-la?
Que tem também um galo, mais caduco ainda, que cantava a noite toda, e que hoje, quando salta do poleiro, erra o chão e fica pendurado, de cabeça para baixo, com aquela enorme espora, agarrada na tela de arame?
Pois muito bem... Foi neste incrível lugar, que começou mais uma de minhas histórias.
E lá vamos nós...
Há, mais ou menos, quatro anos, Matheus ganhou, da tia Edna, dois lindos patinhos. E que gracinha! Inocentes criaturinhas, amarelinhas como ouro.
Infelizmente, devido a um triste acidente, um desses patinhos, dias depois, veio a falecer, deixando órfão e desprotegido, seu pequeno irmãozinho.
Foi aí, exatamente aí, que começou a história, do inesquecível “Donald”... Nosso eterno e solitário patinho de estimação.
Coitadinho! Criado em um galinheiro, distante de sua espécie, tendo como família: um galo e duas galinhas! Pobre Donald!
Sobrevivendo num mundo que não era seu, foi, aos poucos, nos cativando e se tornando mais um membro da família.
A penugem amarela, dando aos poucos lugar a lindas penas, foi fazendo surgir, no terreiro, um lindo pato branco.
Sempre com liberdade, saía e entrava do galinheiro quando bem quisesse. Subia, a todo instante, a escada da cozinha, sempre a procura de pedaços de pão.
Foi assim que muitas surpresas estariam por vir. Não imaginávamos, jamais, que ele poderia aprender tanta coisa.
Adorava tomar banho de bacia, beliscar nossos calcanhares, ou mesmo ficar no colo de quem fosse.
Receber chamego no pescoço era o de que mais gostava. Chegava até a fechar aqueles olhinhos azuis, enquanto era acariciado.
Tomava conta do terreiro como verdadeiro cão de guarda e, no caso de qualquer ameaça que viesse colocar em perigo o galinheiro, ele logo se manifestava.
Hilariante mesmo foi quando, numa das manhãs em que eu ia jogar alguns milhos para o desjejum da galera, deparei-me com um objeto estranho, bem no cantinho do galinheiro.
Sem óculos e um tanto confuso, comecei a analisar aquele negócio.
Seria um ovo?... Não poderia! De forma alguma!
Como?! Daquele tamanho?Jamais...
Aquilo, possivelmente, seria bem desproporcional à circunferência das minhas galinhas!
Mas, enfim, após constatar que aquilo realmente se tratava de um baita ovão, comecei então a verificar se não havia alguma galinha desfalecida. Assim, após observar que estava tudo bem com nossas penosas, já um tanto intrigado, comecei a pesquisar de quem poderia ser afinal aquele pressuposto ovão azul?!
Pesquisando na Internet, percebi que há vários relatos de galinhas que botam ovos azuis, principalmente as carijós, mas jamais daquele tamanho!!!
O que poderia ter gerado aquela aberração? Seria de algum E.T.? Pensei em sair correndo e gritando, mas, nesta hora, temos que pisar em ovos (não literalmente) para não alarmar a vizinhança.
Não percam, na próxima semana, a resposta deste misterioso enigma, que nos deixou chocados!

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

AMAR... POR QUE NÃO AMAR?



Crônica - Serjão Missiaggia, 10/05/2005.

Ah... Se todo habitante deste minúsculo planeta tivesse a real consciência de quão rápida é esta nossa passagem, aqui nesta terra de Deus!
Quantos pensamentos e atitudes, com certeza, seriam modificados, excluídos ou, até mesmo, acrescentados em nossa vida.
O tempo é incrivelmente veloz, implacável e infinitamente mais rápido do que nosso próprio ato de pensar. A eternidade material sempre fascinou, e nela, nosso inconsciente, inocentemente, muitas vezes, se deixa acreditar.
Para que tanto tempo perdido na busca incessante de um poder que jamais será eterno? Ao nos enganarmos, ficamos cegos e nos separamos, até mesmo de nossa própria identidade.
Interesses, invejas, vícios, ostentações, ciúmes, ganâncias, maldades, vinganças. são apenas alguns, de tantos outros nefastos exemplos, que ficam a aniquilar e consumir nosso precioso tempo. Como folhas ao vento, vão embora, levando para sempre, pedaços, de nossos tão raros momentos, únicos e insubstituíveis.
Tão pequenina é esta nossa passagem por este mundo. Por que, então, deixar escapar a preciosa chance de: Amar... Amar... Amar...?
Quantos são aqueles que, sufocados diante de uma competição, muitas vezes desenfreada, imoral, perversa, se privam de seus preciosos segundos? Sem que percebam, vão se afastando até mesmo do convívio do seu próprio eu.
A vida globalizada fica a nos induzir, todo o momento, a correr freneticamente, afastando-nos, silenciosamente, do mundo que nos cerca.
Pequeno, tão pequeno é o tempo. Porque não: Amar... Amar... Amar...?
Poderemos... E por que não?... Viver cem, ou mais anos, ou até mesmo num breve suspiro, em segundos, cairmos logo ali. Pela ordem natural das coisas, 75 anos já estaria de bom tamanho. Quem sabe?...Pouco mais ou pouco menos!
Porque então, não: Amar... Amar... Amar...?
O nosso dia em breve chegará e, diante do criador, nos surpreenderemos, ao vermos o tamanho do tempo disponível em vida, que reservamos para cultivar e espalhar o amor... Possivelmente, bem pouco!!!
É fácil, gratuito, não cansa, além de ser também... Extremamente prazeroso.
Então, porque não: Amar... Amar... Amar...?
Valorize seu abençoado tempo. Foi-lhe presenteado por Deus.
Retribua, brinque, sorria, acredite, sonhe, compartilhe, ajude.
Seja sempre sincero. Sinta em tudo e principalmente, em todos, a presença do Pai criador. Ele se encontra, até mesmo, no sagrado ar que respiramos.
Aproveite a vida e viva feliz. Dê Glória a Deus e jamais se esqueça de: Amar... Amar... Amar...

VERDADEIRAMENTE: Amar!

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

CAUSOS INACREDITÁVEIS



CRÔNICAS GALINÁCEAS - MEU AMIGO GAMBÁ

(Roteiro original - Serjão Missiaggia / Adaptação - Jorge Marin)

Numa das noites mais frias de 1988, ruídos estranhos, na área de serviço de minha casa, me fizeram levantar da cama assustado.
Todos dormiam, enquanto eu, pensando em mil possibilidades, muito a contragosto, levantei-me e, enrolado num cobertor, fui verificar.
Caminhei silenciosamente até a janela, para então começar abri-la lentamente.
Desconfiado e receoso, enquanto ficava a olhar entre as gretas, a expectativa aumentava mais e mais.
De repente... Qual a minha inesperada surpresa? Um gambá! Isto mesmo, um gambá!!!
De uma prateleira da área de serviço, ele ficava a me encarar enquanto, num troca- troca de olhares, nenhum de nós se mexia. O negócio era esperar, quem primeiro recuava.
Nesta altura do campeonato, Dorinha, não menos assustada, já estava em pé, atrás de mim e, com uma vassoura, pedia que eu fosse lá fora pegá-lo.
- É ruim! - disse eu - Este bicho está em extinção! Acredito ser até mesmo uma”gambôa” esperando filhotinho! O que devemos fazer de imediato é: fechar tudo, deixar o bicho quieto lá fora, enquanto pensamos em alguma coisa. Eu mesmo não acreditei nesta minha preocupação ecológica, mas o engraçado é que a Dorinha acreditou. Que bom!
E as pernas tremiam... De frio.
Surge outra personagem, Matheus, que, já acordado, torce:
- Vai pai!... Vai pai!... Agarra ele para ser meu bichinho de estimação!!!
Pedia insistentemente que eu pegasse o bicho pelo rabo e, carinhosamente, o trouxesse para dentro.
Mais uma: Paulinha, vendo a casa toda acesa, também levanta da cama assustada.
- Pai! Esse bicho pega? Passa por debaixo da porta? É parente do rato?
Haja paciência nestas horas, é o que costumam pedir dos pais, geralmente os psicólogos sem filhos.
Para variar, a única coisa que me restou naquele momento, foi acionar, mais uma vez, dona ANA, uma senhora muito esperta que fazia companhia todas as noites para minha mãe.
Era nossa guardiã e profunda conhecedora de causas peçonhentas.
De imediato, atendendo ao nosso SOS, foi logo chegando, dando vassourada para tudo que é lado.
Enquanto acertava tudo em sua frente, menos o coitado, ficávamos assistindo o show pela janela.
Olé!!! Olé! - gritávamos, vibrantes, toda vez que o bicho passava debaixo da perna dela.
Após um desses dribles, nosso intruso, subindo velozmente o galinheiro, passou pelo muro e, no escuro, simplesmente desapareceu.
No outro dia, bem cedinho, mobilizei toda a família e, em mutirão, começamos a fazer uma reforma completa no galinheiro.
Após comprarmos uma infinidade de pregos, telas e madeiras, começamos a trabalhar sem interrupção.
Nossa intenção era que tudo ficasse devidamente protegido, e assim, o gambazão não jantasse as galinhas e o garnisé do Matheus.
O negócio era fechar tudo. Qualquer buraco que tapávamos era motivo de comemoração.
Foram quase dois dias de intenso trabalho, e um final de semana dando martelada a torto e a direito.
Cadeados na portinha do galinheiro e várias armadilhas ao seu redor foram colocados pelas crianças.
Tudo era válido, parecia que estávamos esperando um ataque de elefantes (comentavam alguns vizinhos, admirados).
Já haviam se passados três dias e... o gambazão não mais aparecera.
Na noitinha em que eu estava dando os últimos retoques no galinheiro, mais uma vez, o inacreditável aconteceu.
Meio que sem querer, quando olhei bem em cima do poleiro, num caixotinho que ficava próximo ao telhado, lá estavam os três... Isto é... Os quatro: as galinhas, o garnisé e... o gambá. Dividiam pacificamente o aconchego de um lar, como verdadeiros irmãos.
Naquele momento, me senti com cara de tacho.
Um verdadeiro otário, principalmente quando a Paulinha virou-se para mim e disse:
- Pai!... O senhor, ao invés de proteger o galinheiro, prendeu o gambá lá dentro!!!
Eu, ainda com o martelo na mão, e não acreditando no que estava acontecendo, comecei mesmo foi a dar boas risadas.
Enfim...
O gambazão, tornou-se intimo de todos. Entrava e saía do galinheiro quando bem quisesse.
Tomou conta do pedaço, mas sempre vigiado pelo olhar desconfiado, do pobre garnisé.
Numa bela tarde, quando ninguém mais esperava, eis que, de repente, partiu telhado a fora, meu amigo gambazão, deixando saudades, para nunca mais voltar.
Lembrando-me de um velho ditado que meus pais diziam – “um gambá cheira o outro” – nunca deixei transparecer esta tristeza pela partida do colega, mesmo sabendo que esta amizade não poderia mesmo cheirar bem.
NA PRÓXIMA SEXTA: a crônica final, com muita ação, suspense e, principalmente, muita confusão. Pela primeira vez será mostrada a ambiguidade sexual entre os anatídeos aquáticos, ou seja, a bichice entre os patos. De Donald a Margarida vai mostrar a cruel realidade das patologias. Não percam!

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

O PENSAMENTO



Crônica: Jorge Marin

Pensando sobre o que postar, acabo me deparando com este construtor de dúvidas e sofrimentos: ele mesmo, o pensamento. Tentamos ficar em silêncio e, no entanto, lá está ele, dentro da nossa cabeça, falando em voz baixa, sussurrando preocupações ou lembrando-nos de coisas que, com certeza, gostaríamos de esquecer.
Pensamos que somos indestrutíveis (os adolescentes), ou que somos belos, ou feios, pensamos que somos mesmo aqueles cargos que ocupamos transitoriamente. Ou pensamos que algum dia, no futuro, seremos felizes. Pensamos até em ir pro Céu, vejam só!
No entanto, há um tempo em que não pensamos, ou, pelo menos, não se trata mais desse pensamento verbal a que acabamos nos acostumamos de tão insistente que ele é. Quando somos crianças, bem pequenos, não há pensamentos, não há julgamentos: vivemos o momento presente por inteiro. Se temos fome, choramos. Se temos sono, dormimos. Tudo muito simples, tudo muito reativo. Alguns anos mais tarde, embora já tendo absorvido algumas palavras, a coisa não muda muito: pensamos, se tanto, em nosso videogame, ou naquele desenho animado da TV.
Isto é o que costuma ser chamado de alma de criança, ou seja, antes do pensamento tomar forma e, ao que parece, tomar posse de nossas ações, há um instante em que refletimos apenas aquela essência inicial, ou aquela alma mesmo, se preferirem. Sartre dizia: “eu era uma criança, esse monstro que os adultos fabricam com as suas mágoas.” Mas, podemos, com certeza, refrasear o mestre francês e dizer “esse monstro que os pensamentos fabricaram.”
Em algum momento de nossas existências, abdicamos desta força que nos deu vida, e criamos um mundo virtual, repito: virtual, onde pensamos que somos o importante político, o religioso mais sábio, a mulher mais bela e até o homem mais miserável. E acreditamos nisto!
Mas isto não é real, é apenas a projeção de pensamentos numa tela interna que reconhecemos como sendo o próprio “Eu”. Mas, na verdade, Renato Russo sabia muito bem o que estava cantando quando afirmava que, enquanto queria provar pra todo mundo que não precisava provar nada pra ninguém, “quantas chances desperdicei.”
Ao conduzir o blog, que é uma construção coletiva, visto que os comentários nos remetem a situações novas, percebemos como a representação, ou a re-apresentação de cenas antigas, talvez de um tempo mais próximo da chamada “inocência”, mexem com o imaginário das pessoas e fazem eclodir, às vezes de maneira comovente, aquela força inicial, aquela centelha divina, que nos levava a pular cercas para roubar jabuticaba, ou ir numa Kombi tocar guitarra em Argirita, ou cantar, a plenos pulmões, o hino do Trombeteiros, ou do Democráticos.
Inocência às vezes é traduzida como “estado da alma anterior ao pecado atual” (Dicionário Michaelis), mas, qual seria o pecado atual, ou o chamado pecado original? Segundo a Bíblia, o pecado original foi saborear o fruto da árvore do conhecimento. Mas este conhecimento foi simplesmente quando o homem construiu uma imagem de si mesmo: viu-se nu, e sentiu vergonha. Isto é, afastou-se do jardim de Deus e pensou, e julgou, e sentiu culpa, e medo.
Não quero iniciar aqui algum tipo de debate filosófico, ou, pelo amor de Deus, religioso! O que eu gostaria é que cada leitor do blog parasse, por uns minutos, de pensar, e sentisse... Sentisse as emoções que sentiu quando os fatos que contamos aqui ocorreram. E, sempre que isto acontecer, comentem.
Afinal, voltando ao Renato Russo: “já não me preocupo se eu não sei por quê, às vezes, o que eu vejo quase ninguém vê, e eu sei que você sabe, quase sem querer, que eu quero o mesmo que você”.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

CAUSOS INACREDITÁVEIS



CRÔNICAS GALINÁCEAS - NOTÍCIAS DE UM VELHO AMIGO (OU UM GALO A BEIRA DO MEU NINHO)

Roteiro original - Serjão Missiaggia / Adaptação - Jorge Marin
Músicas citadas - Erasmo e Roberto Carlos (o Rei)

“Tudo, tudo
se confunde em minha frente,
minha sombra me acompanha
e vê que eu estou morrendo lentamente...”

Roberto Carlos não anda passando bem. De um dia para noite o coitado arriou de vez.
Em principio achamos se tratar de uma simples virose, mas a coisa era bem mais séria que imaginávamos.
Pra vocês terem uma idéia foram-lhe receitadas, por um profissional, cinco injeções de antibiótico, uma ao dia. E intramuscular. Nunca imaginei aplicar injeção numa criaturinha dessas. Pior que de nada adiantou: cada uma que o aplicávamos o coitadinho entrava em nova convulsão.
O bichinho chegou a “falecer” pelo menos umas cinco vezes.
Em duas oportunidades, cavei uma pequena cova ao lado do galinheiro, mas, devido à demora do óbito, sempre voltei a fechá-lo.
Numa dessas convulsões, eu não estava em casa e ele só não foi enterrado vivo, pela Dorinha, porque eu havia tapado o buraca no dia anterior. Ficamos num abre e fecha buraco que tava dando o que falar. Tinha vez que achava estar o coitadinho de sacanagem com a gente.

“Querem acabar comigo
nem eu mesmo sei porque
enquanto eu tiver você aqui
ninguém poderá me destruir...”

Mas, voltando às injeções, comecei, após este fracassado tratamento, oferecer-lhe em jejum, ínfimas porções de geléia real. Pelas primeiras avaliações empíricas, diagnostiquei que estaria somente prolongando seu sofrimento: já não come, não bebe, não canta, não sobe para o poleiro e muito menos na galinzona. Já estou, há várias semanas, duas vezes ao dia, dando-lhe água e papinha de ração no bico. Geralmente faço a papinha usando todas as ervas de minha horta: hortelã, boldo, manjerona, capim cidreira, alfavaca e outros. Sabe de uma coisa: tem vez que chego a pensar se não seriam minhas poções mágicas que estariam matando o coitado. Ah!!! Ontem começamos com Ginko Biloba e, se não der resultado, apelaremos para acupuntura.

“Sei tudo que o amor
é capaz de me dar
eu sei já sofri
mas não deixo de amar
se chorei ou se sorri
o importante é que emoções eu vivi...”

Depois de assistir, dias atrás na televisão, uma reportagem sobre minhocas, não pensei duas vezes. Queira ele, ou não, pelo menos umas duas ou três, irei diariamente enfiar-lhe goela abaixo. É pura proteína, vitaminas e minerais.
Pelo menos, este triste episódio, está servindo para que possamos confirmar o quanto querido é Roberto Carlos. Vários vizinhos, num belo ato de solidariedade, nos procuram dizendo estarem sentindo muita falta de seu cantar. Principalmente de madrugada.

“Não preciso nem dizer
tudo isso que eu lhe digo
mas é muito bom saber
que eu tenho um grande amigo...”

Enfim, verdade seja dita: desde a morte de uma de suas primas carijós, ele vem andando meio cabisbaixo. Também, não podemos esquecer que o bichinho tem mais de onze anos. Coisa raríssima. Principalmente, para a espécie desses dóceis empenados.
Num ato de consolo, já nos preparando para o pior. Encomendamos outra placa para pendurar no galinheiro em substituição àquela que diz “Lar doce Lar”, com os dizeres:
“AQUI CANTOU ROBERTO CARLOS”

“Não adianta nem tentar
me esquecer
durante muito tempo em sua vida
eu vou viver.”

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

VIAGEM



Poesia: Jorge Marin (da série Guardanapos do Bar Xodó)

ontem caía uma chuva de letras miúdas
e pisei num crânio abandonado
um cachorrinho me seguiu até minha casa
e eu devorei uma estrela com pão e azeite
não havia relógios
e eu cantei uma opereta
e quebrei um prato
e olhei no espelho
o café estava frio
a água no entanto
estava com cor de abeto prateado

eu liguei a chave
e logo um bando de cavalos dourados
com crinas azuis
pulularam sobre a mesa
dançando ao breve som
de uma breve melodia
depois uma mulher grande
com cabelos cor-de-rússia-no-verão
mostrou suas coxas lisas
e mandou que eu fumasse
tive de matá-la
juntamente com os corcéis
as crianças vermelhinhas
e as flores fofas e frágeis

sentei sobre uma nuvem
e fiquei vendo a escuridão
de olhos fechados
desatei o nó da gravata
e rezei ao som dos grilos
enquanto um veleiro esmeralda
passava não sei onde
mas não o vi
e a água estava fria

a lua parecia muito branca
e eu puxei o cobertor
meus olhos se turvaram
com uma névoa úmida
alguém bateu uma porta
em algum lugar
e o som entrou dentro da minha cabeça
eu ri sem saber
e quis sonhar então

BRIGADU, GENTE!

BRIGADU, GENTE!
VOLTEM SEMPRE, ESTAMOS ESPERANDO... NO MURINHO DO ADIL