quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

VIAGEM



Poesia: Jorge Marin (da série Guardanapos do Bar Xodó)

ontem caía uma chuva de letras miúdas
e pisei num crânio abandonado
um cachorrinho me seguiu até minha casa
e eu devorei uma estrela com pão e azeite
não havia relógios
e eu cantei uma opereta
e quebrei um prato
e olhei no espelho
o café estava frio
a água no entanto
estava com cor de abeto prateado

eu liguei a chave
e logo um bando de cavalos dourados
com crinas azuis
pulularam sobre a mesa
dançando ao breve som
de uma breve melodia
depois uma mulher grande
com cabelos cor-de-rússia-no-verão
mostrou suas coxas lisas
e mandou que eu fumasse
tive de matá-la
juntamente com os corcéis
as crianças vermelhinhas
e as flores fofas e frágeis

sentei sobre uma nuvem
e fiquei vendo a escuridão
de olhos fechados
desatei o nó da gravata
e rezei ao som dos grilos
enquanto um veleiro esmeralda
passava não sei onde
mas não o vi
e a água estava fria

a lua parecia muito branca
e eu puxei o cobertor
meus olhos se turvaram
com uma névoa úmida
alguém bateu uma porta
em algum lugar
e o som entrou dentro da minha cabeça
eu ri sem saber
e quis sonhar então

2 comentários:

  1. Jorge poeta também?
    Quem tem o que dizer não pode guardar pra si, não é?
    Aguardamos novos poemas.

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  2. Jorge, não dá prá dizer que sua poesia seja uma música , mas como diz Ivete Sangalo ela tem uma LEVADA LOUCA (e gostosa). em seu
    " caderninho " sua professora, quem sabe Dona Iveta, escreveria :"Parabéns, muito bom. Continue assim ".
    Abraço Jorjão, tô ligado.
    Mazola.

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