sexta-feira, 31 de agosto de 2012

DE SETE A SÓ-TENTA


Interessante como o tempo passa assim tão sorrateiro e rápido.  Ainda como se não bastasse, o danadinho, de quebra, insiste em querer nos arrastar com ele.  Digo arrastar, no bom sentido, porque, na realidade, querendo ou não, nos sentimos impotentes diante dessa realidade.  Uma situação um “tanto arbitrária” com a qual muita gente se sente incomodada.  Até que não seria nada mal se, pelo menos vez ou outra, esta cumplicidade soltasse as mãos e não andasse assim tão unida.  Mas, se para alguns, esta duplicidade se tornou um tanto incômoda, para outros, dependendo do ângulo de visão, tornou-se até benéfica e cômica.  E esta segunda opção, se não é das mais confortáveis, pelo menos entendo ser a mais sábia.
Mas deixemos o tempo um pouco de lado e vamos tentar focar um pouco mais no ARRASTÃO, ou seja, o antes, o durante e o depois dele.
 E quem não tem medo de Arrastão?  Arrastão é tudo aquilo que passa como vento para levar algo de precioso, que, no nosso caso, seria a juventude.  Nada contra a velhice, muito pelo contrário, acho até que, pelo simples fato de ter chegado tão longe, já seria a glória.  Vejo-a como o mais ambicioso lugar do pódio, onde a experiência adquirida ao longo da jornada se traduz na verdadeira vitória.

PARTE 01
Vamos dar uma chegadinha lá no comecinho do ARRASTÃO e explorar algumas das primeiras situações.  O ano é 1972.  Numa época em que chegar de madrugada em casa e empurrar a porta, que estaria escorada com uma cadeira, era muitíssimo natural.
 O telefone toca num final de semana qualquer.  Do outro lado da linha, meu amigo e FUTURO ARRASTADO de número 01 diz:
- E aí Serjão, a gente vai pra roça hoje?  Se não houver carona, vamos a pé mesmo!  Só temos que sair mais cedo e, se cair uma chuva, será melhor ainda. E continua:
- Aprendi a fazer um bronzeador que é tiro e queda.  É só misturar iodo com óleo pra bebê e ficar quarando no sol o dia todo.  E foi realmente um TIRO & uma QUEDA... de Pele.  Deus que me livre!  Fiquei escaldado e vermelho, transpirando calor e ardendo como brasa por três dias seguidos.  Por pouco não fui parar no hospital.
Ainda continuando falou:
- Já comprei a garrafa de pinga pra gente encher com passas, canelas e tomar antes do baile.  Vamos enterrá-la para que possa curtir um pouco e desenterrar aquela que deixamos semana passada do lado da Igreja do Rosário!  Lá mesmo a gente molha a garganta.  Vamos usar aquela nossa velha tática, ou seja, quando percebermos que o muro do hospital começou a fazer ondulações é porque chegou a hora da gente dar um tempo e descer correndo!
- Combinado! - disse a ele encerrando a conversa.
(O Arrastão continua na semana que vem...)

Crônica: Serjão Missiaggia
Foto: Jazzy Lemon, disponível em http://jazzylemonade.deviantart.com/art/No-One-s-Getting-Younger-99956868

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

ANULA-LÁ: O CORDEL DO VOTO NULO



Sabem o que me deixa fulo
Com vontade de brigar
Ou pelo menos gritar
E falar um nome chulo?
É essa mania que há
De todo mundo postar
Um ataque ao voto nulo.

Todos sabem que votar
É vital numa eleição:
Direito do cidadão
Que quer se manifestar
E expressar sua opção.
Eu lhes pergunto então:
Por que não posso anular?

Se direito é a faculdade
De possuir e usar um bem
E, dessa forma, também
Dele dispor à vontade,
Por que o voto está além
E olham com tal desdém
Quem expressa a liberdade?

Uma dança de famosos
É o que virou a eleição
Um show de televisão
Uma coisa vergonhosa
Depois vem corrupção
Glamour vira mensalão
E chama o Joaquim Barbosa!

Se vocês ouvem a proposta
De um candidato, amigos,
É sempre um discurso antigo
Só promessa sem resposta
E aí que mora o perigo
Concordem ou não comigo:
É tudo a mesma... coisa.

(Cordel: Jorge Marin)
Foto: Ministro Joaquim Barbosa, disponível em http://www.idadecerta.com.br/blog/?p=39881

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

CASOS CASAS & detalhes



































Num dos distantes dias da minha infância, meu pai chegou em casa meio esbaforido e me disse, bem eufórico, que iria me levar na casa do HOMEM DOS BRINQUEDOS.  Eu nunca havia escutado nada a respeito dessa pessoa, mas acompanhei meu pai assim meio descrente.  Como é que poderia existir um Homem dos Brinquedos?  Brinquedo, todo mundo sabe, é coisa de criança, e adulto nunca brinca com a gente!
Ledo engano.  Meu pai me levou numa casa na Rua Nova (essa aí de cima) e, lá dentro, fiquei conhecendo o sr. Rubem Sachetto, que possuía a maior coleção de brinquedos da cidade.   E não eram brinquedos iguais aos nossos, do tipo Índios Toddy ou Bonequinhos Esso.  Não senhor!  Os brinquedos do sô Rubem eram movidos a pilha e todos, mas todos mesmo, se moviam: era um barbeiro que fazia a barba do cliente, ou um homem gordo que bebia um copo e ficava vermelho e muitos outros.
Desde então, nunca tive medo de deixar de ser criança e a culpa disso, em grande parte, foi o que vi aí nessa casa da Rua Nova.  Cara a cara com um Homem dos Brinquedos, não há quem não tenha certeza de que Papai Noel existe.

(Texto: Jorge Marin / Fotos: Serjão Missiaggia)

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

NOSSO INTERIOR VI - FINAL


Na semana passada, passeando pelas ruas, hoje não tão tranquilas, do nosso interior, tínhamos um dilema: como responder ao cumprimento de um motorista escondido pelo insulfilm ou de um motoqueiro de capacete?  Coisas que só acontecem no nosso interior...
Mas, por falar nisso, alguém, por acaso, já presenciou, em uma grande cidade, o motorista de um circular perguntar a um passageiro no ponto, onde ele gostaria de descer?  Eu já!  Justamente, foi aqui “mês”!  Somente no interior temos taxibus.

Vou falar agora sobre uma coisa muito importante e que diz respeito a todos que querem perder, ou estão perdendo peso!  São as famosas corridinhas atrás da BALANÇA AMIGA de uma farmácia.  Pra quem não conhece, vou logo explicando: corridinha atrás da balança amiga NÃO é esporte olímpico (ainda) e consiste na incessante perseguição, efetuada por todos aqueles que estão fazendo regime, em busca daquela que seria a melhor balança para se pesar e que melhor reflita seus desejos de perder (ou ganhar) peso.  Segundo alguns especialistas, a matemática funciona da seguinte maneira: ordem crescente sentido sudeste pra nordeste, ou seja, as balanças vão aumentando alguns gramas no sentido da pracinha do chafariz, passando pelas ruas centrais até terminar pelas imediações do Centro Cultural.  Não que eu seja curioso, mas ao aferir cada uma delas, cheguei mesmo à conclusão de que esta suposta neura tem um certo sentido. Mas como seria provar isso numa grande metrópole?
Aderi, recentemente, àquelas dezenas de pessoas que gostam de jogar fubá e canjiquinha aos canários da terra.  Já cheguei a contar mais de vinte deles numa única esquina.  Já imaginou fazer isso na Avenida Paulista?  Se não nos recolherem pra internação, provavelmente seremos abordados, revistados e interrogados.  Haverá forte suspeita de estarmos analisando o local para futuras incursões.
Sinto saudade do tempo em que o padeiro, com aquele imenso cesto, deixava, ainda de madrugada em nossa porta, aquele pãozinho quentinho.  Infelizmente, esta coisa tão interiorana teve mesmo que acabar, pois os pãezinhos começaram a desaparecer.  E até o balaio do padeiro!
Mas se já não podemos mais também escutar o apito da Maria Fumaça e da Fábrica de Tecidos, ainda temos o privilégio de sermos embalados pelo repicar dos sinos das igrejas nas manhãs de domingo.
Enfim, assim como vocês deverão ter um monte de situações interessantes pra contar, reconheço aquilo que sempre representará para todos nós as grandes cidades.  Quem sabe um pouquinho lá, um pouquinho aqui?
Então, principalmente, para todos aqueles que não têm medo de “sobreassalto” o negócio é manter um pé na Pedra e outro no Asfalto.

(Crônica e foto: Serjão Missiaggia, maio 2012)

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

NAQUELA NOITE NO RUBRO-BAR



Naquela noite no Rubro-Bar, fiquei completamente fascinado pela sonzeira do Furacão 2000.  Nunca havia curtido um som com uma qualidade parecida.  Éramos bem inocentes, a informação não viajava on-line e o tempo passava um pouco mais devagar. 
Tudo era definitivo: o olhar, a paixão, a dança desperdiçada e tínhamos certeza de que, naquela noite, iríamos resolver a nossa vida.  Alguém contou, e nós acreditávamos, e as novelas provavam, que poderíamos encontrar ali uma pessoa que iria passar o resto da vida conosco e que seria muito bom, muito feliz e muito leve.  Uma colega da época me perguntava: “mas você está disposto a ficar com uma pessoa assim ‘para sempre’?”  E eu ficava revoltado com a pergunta porque, para mim, era claro que era para sempre.
A verdade é que, ali debaixo daquela luz negra que mal dava para dançar, alguns casais se formaram e estão aí até hoje.  Mas, de qualquer maneira, o mundo, assim como a TV, era em preto e branco: tínhamos os bons e os maus, os certos e os errados, os direitos e os que não prestavam.  “Viado”, então, era uma palavra que nem se dizia, era como câncer, sendo que esta última ainda é evitada pela maioria. 
Às vezes, vendo a velocidade como as coisas se processam hoje em dia, o caráter de caça que existe nas baladas, e as imensas paradas das chamadas minorias, fico me perguntando quando é que começou esse degradê que transformou a vida numa múltipla escolha?  Quando e como foi que nos conectamos?
Falo em conexão não num sentido pejorativo, mas no sentido de interatividade.  Porque, de volta ao Rubro-Bar, tínhamos um roteiro a seguir, a vida era como um jogo de pinball onde a bolinha só podia passar naqueles exatos lugares e tudo o que podíamos fazer era não deixá-la cair.  Hoje, nós é que somos lançados no espaço e, por incrível que pareça, tudo o que pensamos é em agir de acordo com a manada.
Ouvindo aquela música dos Beatles nas caixas gigantescas do Furacão 2000, em 1970 e poucos, concordo, era muito mais fácil se feliz.
Mas, não sei por quê, optar pela mesma vida simples nos dias de hoje, sem os clichês daquela época, e fora dos padrões de comportamento moderno, me parece proporcionar uma felicidade ainda maior, embora seja bem mais difícil.
Ou não.  Escuto, agora, no show de 30 anos do Kid Abelha, a Paula Toller definindo, exatamente, o que quero dizer: “desde que estamos aqui, eu não quero saber, quanto tempo se passou...”
Mas o que me assusta mesmo é saber que a Paulinha está com 50 anos.  Cara, praticamente o mesmo que eu!  Embora, vamos combinar, as coxonas dela estão bem mais bonitas que as minhas.

(Crônica: Jorge Marin)
Foto: Cena do filme A Vida em Preto e Branco, disponível em: http://photos.lucywho.com/pleasantville-photo-gallery-c16334675.html   

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

CASOS, CASAS & detalhes

























Na semana passada, falamos do Rubro-Bar do Mangueira onde, segundo os leitores, muitos romances começaram e tiveram fim e onde a juventude foi mais feliz.  Mas, o que dizer do Botachopp e do querido Botafogo?   Aqui, a viagem foi completa pois a coisa começava na pracinha, onde a galera se reunia com violões, sonhos e risadas.  Quem foi do Ginásio do Sôbi, lembra bem das aulas de Educação Física no campo, e das peladas.  Quem foi jovem, ou é, não esquece os bailes na cobertura.  E quem gosta de uma boa cozinha, deve se lembrar de chefs memoráveis e pratos deliciosos.  E tem alguém que não conheça o João?



(Texto: Jorge Marin / Fotos: Serjão Missiaggia)

domingo, 19 de agosto de 2012

DE PORTAS ABERTAS... É SÓ CHAMAR!


Tendo em vista alguns pedidos de reprodução de matérias aqui do Blog, esclarecemos que esta é uma obra com licença Creative Commons e que as formas e condições de uso estão descritas no rodapé do blog.  Temos a maior alegria em ver nossos textos "voarem" e pousarem em outros quintais, desde que citada a fonte e inserido um link para a matéria original.

Foto: Federica Stregatta em http://browse.deviantart.com/photography/?q=KEEP+THE+DOOR+OPEN#/d1cfy5x

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

NOSSO INTERIOR V


Continuamos nossa viagem pelo interior, pelo nosso querido interior...

Pagar depois quando não se tem dinheiro SOMENTE acontece aonde?  Justamente, é aqui na terrinha!  Se bem verdade que, muitas vezes, não acontece o DEPOIS.  Mas isso é outra historia.  Eu mesmo, na oficina, já dancei “bunitim” várias vezes, ou seja: o velho golpe sentimental da última folha de cheque ou de que estaria passando por acaso em frente à oficina e resolveu dar uma paradinha pra perguntar se estaria pronto. E por aí vai.  Então, dito pelo não dito, mesmo sendo aqui na terrinha, sugiro receber à vista.

E, por falar em oficina, fico sempre intrigado com a quantidade de vendedores ambulantes que aparecem pra tentar me vender algo.  Fico mais intrigado ainda com o dia ou o momento em que aparecem. Tem um vendedor de capas para sofá de automóveis que todo ano me visita, na expectativa de que eu compre um carro para, finalmente, comprar a capa dele.  Mas a resposta é sempre a mesma, ou seja, capa sem carro não dá!  O cara sai rindo prometendo voltar no próximo ano.  Ainda costuma arriscar: “quem sabe, comprando a capa, não atrai o carro?”

Meses atrás, passei um dia inteiro fazendo contas, pois havia estourado meu orçamento e já estava prestes a acontecer o mesmo com meu cheque especial.  E eis que aparece um sujeito querendo me vender... COFRES.  E, pelo mostruário, só havia cofrão com mais de um metro de altura.  Acho, sinceramente, que esse cara tá de sacanagem comigo.  Enfim...

Já repararam que o único lugar do planeta em que você recebe um cumprimento de motoqueiro que está coberto com o capacete na cabeça e de um motorista que está com aquela película escura no vidro do automóvel, é aqui no interior?  Na cidade grande, eles geralmente te assaltam ou, no mínimo, atropelam.  Mas aqui, com raras exceções, ficamos mesmo é com cara de tacho, sem saber quem está a nos cumprimentar.  Pelo menos, por enquanto, não pretendo ficar decorando placas de veículos. E tem mais: aquele que primeiro descobrir e fabricar um capacete transparente ficará rico.  Aqui no interior.

Mas fiquem por aqui pois, na semana que vem, vou ensinar uma simpatia para perder peso nas balanças das farmácias.  Inté!

(Crônica: Serjão Missiaggia)
Foto: Tiril Terrorist, disponível em http://browse.deviantart.com/?qh=&section=&q=safes#/d29ok2d

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

KARMA NESSA HORA


Postando fotos antigas no Facebook, percebemos suspiros diversos e comentários definitivos, quase todos concordantes com a aparente verdade que diz que aqueles, sim, eram os “bons tempos”.   Mas, afinal de contas, o que é que deu errado?  Por que os tempos anteriores eram bons ou, pelo menos, melhores do que os de hoje?
Penso que é porque éramos jovens e, como se sabe, dizem, a juventude é a melhor época da vida, podemos tudo, estamos no auge, essas coisas.   No entanto, eu pergunto: quem disse que a juventude era tão maravilhosa assim ou tão superior assim?  Tínhamos, é certo, mais disposição ou mais inquietude, mas qualquer um pode se lembrar de colegas nossos que viviam absolutamente deprimidos, ou em conflito, ou viciados ou desorientados.
Aliás, o que mais havia era desorientação: vivíamos numa sociedade onde tudo era completamente explicado, havia o certo e o errado e, naturalmente, quase tudo o que desejávamos ardentemente era errado.  As decisões estavam todas num livro, normalmente sagrado, e a lógica não era muito diferente das certezas absolutas de Luiz XIV.
O fato é que o tempo passou e muita coisa aconteceu: transformações, viagens, paixões, decepções, trabalho, muito trabalho, noitadas, baladas, ressaca, cansaço.  Imenso, incomensurável cansaço!
É como se o destino (karma?) tivesse reservado isso para nós.  Dor?  É o destino.  Decepção e desespero?  Ah, é o seu karma.
GENTE, NÃO É!
Vamos nos despir de todo o saudosismo das coisas maravilhosas e também do entorpecimento das dores que experienciamos, para verificar, que tudo o que vivemos até agora é um desdobramento de nossas ações.  O karma, ao contrário do que se pensa, não se baseia numa sequência lógica de causa e efeito.  Fomos ensinados que, a toda ação, corresponde uma reação.  Mas, quando o assunto é a aventura humana, a coisa não é bem assim.  Ações nossas geram outras ações, muitas vezes injustas (para nós) e até mesmo ilógicas.
Ou seja, aquilo que acreditávamos no passado, que os honestos e trabalhadores serão recompensados pela sua tenacidade e os perversos serão punidos pode até ser verdade em um outro plano, porque, nesse universo de interações e “espertezas” políticas, o que mais se vê são velhinhos safados morrendo na mais absoluta tranquilidade, e trabalhadores morrendo na fila de espera do SUS.
E aí?  Isso significa o nada?  Não, tudo isso que capturamos em nossa rede de percepções e não entendemos bem, é para não entender mesmo.  Já é tempo, e isso serve para todo mundo, de parar de viajar na maionese das nossas angústias e autoindulgências.
Há que se viver a vida.  Agora!  Hoje, como no tempo em que éramos jovens, não tem como não se arriscar a viver delírios e delícias, mas também dores e sofrimentos.  O segredo, se existe um, é prestar mais atenção aos nossos atos, aos nossos pensamentos e, principalmente, às nossas palavras. 
Assim, devagar, cuidadosamente, e pacientemente, vamos perceber que tudo é agora e que nada fica.  Como diz meu parceiro e amigo Serjão: e vamo que vamo!

(Crônica: Jorge Marin)
Foto: Hippie Hanako disponível em http://browse.deviantart.com/photography/?order=9&q=karma&offset=48#/demm6d    

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

CASOS CASAS & detalhes


Dia desses, estávamos preparando essas fotos aí de cima, quando vimos no Facebook de um ex-colega, o artista sanjoanense Raimundo Porto, a "nossa" chamada ou, pelo menos, a chamada que iríamos fazer nesta postagem: QUEM LEMBRA DO RUBRO-BAR DO MANGUEIRA?  O Serjão me perguntou: você comentou alguma coisa com ele?  Aí me lembrei de um outro colega de Congonhas, também diretor de teatro, que dizia que, quando há um trabalho artístico que envolva sentimentos, pode ocorrer uma psicoparceria.  E, vamos combinar, quem é que não tem uma boa recordação, ou uma ponta de saudade, ou até um arrepio quando se lembra do Rubro-Bar.  As histórias vividas naquele varandão dariam, com certeza, uma minissérie.  Sem querer ser saudosista, mas o Rubro-Bar era tudo de bom...

Fotos: Serjão Missiaggia / Texto: Jorge Marin

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

NOSSO INTERIOR IV



Continuamos falando sobre esse tesouro que é a vida vivida a partir do NOSSO INTERIOR!
Vocês acreditam que até na praça já foram me chamar certa vez por causa de meu botijão de gás que havia estourado a válvula?   Não havia ninguém em casa e o pessoal da Assembleia, que na época eram meus vizinhos nos fundos de minha casa, ao sentirem aquele forte cheiro vindo do meu lado, de imediato pularam a janela da Igreja e, após entrar em meu terreiro, colocaram o botijão ao ar livre.  E ainda tiveram a gentileza de irem me avisar!  Na verdade, estava havendo tanto escapamento de gás no momento do culto que, se algum irmão resolvesse acender um fósforo, a Igreja teria literalmente IDO PRO CÉU...  
Chego ao açougue e peço, feliz da vida, um quilo de lombo.  Meu solícito atendente, enquanto vai fatiando a carne em bifes, vira pra mim num semblante de total desânimo e diz:
- Se você soubesse o que tem na carne de porco, nem passaria perto!  Duzentos e cinquenta gramas tá de bom tamanho, respondi imediatamente. Quando ia me retirando, ainda gritou:
- Frango e boi então, nem se fala! Fiz sinal de positivo e fui comprar algumas cenouras.
Em São João, somos uma imensa família onde todos têm nome e quase todos se conhecem.  Já repararam quando alguém quer explicar quem é o fulano, e você não consegue identificar quem é?  A coisa funciona mais ou menos assim: é o vizinho do sicrano, que é irmão da nora daquela mulher que era casada com o irmão do sicrano de tal.  Também são muitos aqueles que são tratados por números, sendo que o vinte e quatro é sempre a figurinha da vez. São as eternas recordações do Tiro de Guerra, que continuam a circular pela calçada, diante dos números de seus atiradores.  E como seria explicar ou fazer isso, se você fosse apenas mais um, no meio do gigantesco formigueiro das grandes metrópoles?
Agora, vou assistir à novela.  Semana que vem tem mais...

(Crônica e foto: Serjão Missiaggia)  

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

ELEIÇÕES 2012: A CIGARRA E A FORMIGA

Arte digital por Kate Abask5

Estava a Formiga, tranquilinha, refestelada no sofá, curtindo as Olímpiadas de Londres.  Assistir àquilo tudo, ainda mais depois da eliminação do time da xará no futebol feminino, ficou meio tedioso, pois as provas não tinham muita emoção: levantamento de folha, 100 centímetros rasos em poça dágua, e arremesso de pólen.  Dava uma tremenda vontade de cochilar e foi o que ela fez para curtir o final das férias... ATÉ QUE... TOC TOC TOC.  Alguém bateu na porta.  Quem seria o chato para me interromper, pensava Formiga e, de pantufas e roupão, foi até a porta.
Quase teve um ataque cardíaco!  Sabem quem estava lá do lado de fora, como se não fosse inverno?  Ela mesma: a Cigarra, com um casacão tipo Matrix e um charuto na boca.  A Formiga, como todos sabem, não dá muita trela para a Cigarra e a recebeu de pé mesmo, na porta.  Mas a Cigarra estava só de passagem, para entregar um santinho de uma candidata do PT (Partido das Tecelãs).  Papo vai, papo vem, e a Cigarra falou que passou uns perrengues quando o inverno começou, mas, seguindo sua vocação para a oratória e para a música (vagabundagem, pensou a Formiga), resolveu fazer uns jingles para tocar nos carros de som de candidatos às eleições e acabou por fazer a campanha toda.
A Formiga não podia acreditar naquilo: a vida inteira, ela deu um duro danado, trabalhando de sol a sol, carregando pesados fardos, enquanto a Cigarra ficava só na boa vida, cantando, tomando chope ou só no Facebook colocando fotinhas de flores, essas coisas.  Agora ela, Formiga, já com quase oito semanas de vida, bem coroa, tinha que aguentar aquela inútil ali, na sua porta, bem vestida, cheia da grana e, pior, fazendo propaganda política para o partido das formigas, o Partido das Tecelãs.
- Como é que uma cigarra consegue fazer campanha para uma formiga? – perguntou a Formiga, indignada.
- Relaxa, Form (ela detestava que a Cigarra a chamasse assim).  Até o presidente do seu partido, o Presidente Pupa, fez um pacto político com o líder dos gafanhotos! 
A Formiga ficou vermelha de raiva, mas teve que escutar aquela conversa fiada caladinha, sobre tudo ser no interesse do eusocial, sobre a importância dos pactos, sobre as cotas para tanajuras, sobre a lei de proteção às formigas assexuadas da Amazônia.  Enfim, política...
A Cigarra foi embora cantando uma daquelas musiquinhas irritantes, mas em cima dos seus sapatos importados:
- Quem diria – suspirou a Formiga – de La Fontaine a Louboutin!  Que progresso...
Naquela noite, a Formiga não dormiu.  Sempre aprendeu que, para ser boa cidadã, deveria trabalhar, e trabalhar, e trabalhar.  Quando o inverno chegasse, ela ficaria tranquila, enquanto aqueles insetos preguiçosos, como a Cigarra, iriam morrer de frio.  Mas, percebia agora, a coisa não era bem assim: havia altos impostos, a Cigarra não precisava mais de empréstimos, e ela própria, a Formiga, estava usando quase todo o limite do seu cheque especial.
Lá pelas três da manhã, resolveu tomar um Lexotan e apagou.  No dia seguinte, bem cedinho, acordou, olhou no espelho, tomou um banho, passou no banco e viu quanto tinha de saldo.  Foi até uma loja em frente, chamou o atendente e, baixinho, perguntou:
- Aqui, quanto custa uma viola?

(Fábula: Jorge Marin)

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

CASOS CASAS & detalhes











Fotos: Serjão Missiaggia

















Serjão, Nely, Dalminho e Sílvio Heleno    

Essa casa (maravilhosa), que fica do lado da Igreja Matriz, já foi o cenário (confiram acima) desse histórico encontro musical.  Há poucos dias, passando pelo local, o Serjão reviveu o momento.  Depois, me contou, à maneira de Chicó, do Auto da Compadecida: "Não sei, só sei que foi assim!".

OBSERVAÇÃO: Quem quiser ver mais detalhes das fotos, basta dar duplo clique sobre elas.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

NOSSO INTERIOR III


Na semana passada, vocês devem estar se lembrando, eu estava na padaria.  Engraçado é que, além do VIRTUAL, eu fui mesmo na padaria outro dia, no mundo REAL, e o pessoal estava fazendo uma pequena fila, no computador, para ler a crônica cujo cenário ela lá.  Todos rindo muito, exceto o nosso amigo violeiro que não estava entendendo bem o que acontecia, e pior, ainda estava tirando o seu público.
Mas, enquanto fico aguardando o pão sair quentinho do forno, aproveito pra dar uma chegadinha no chaveiro que fica bem em frente à padaria. Bons papos rolam ali, mas o que mais me intriga é o seu MISTERIOSO ESMERIL. Confesso que sinto cheiro de algo meio sobrenatural no ar. Tentarei explicar o inexplicável. Alguém já viu algum esmeril continuar rodando, DEPOIS DE DESLIGADO, por sete minutos e quinze segundos? O do meu amigo fica e eu sou testemunha. (No verão chegou ao absurdo recorde de quase OITO MINUTOS!) Não tem explicação. É muito tempo, gente!  O meu esmeril não consegue ultrapassar um minuto. Seria algum daqueles rolamentos antigos que não fabricam mais? Enquanto vamos estudando este fenômeno, já estamos programando uma competição de esmeril para breve. Faremos uma chamada na net pra expor regulamento e data para inscrição. Então que fiquem atentos todos aqueles que têm esmeril em casa.  Quem sabe conseguimos incluir a categoria nas Olimpíadas do Rio?
Chego em casa (REAL) e vou direto ver o que está acontecendo no Blog (virtual ou real?  Não sei!).  E leio esse comentário da minha irmã Mika (REAL):

 -Vou-me embora pra São João...
  Lá sou amiga do Serjão.
  A vida lá é tranquila, o povo alegre e hospitaleiro.
  Visito amigos sem avisar, sem antes telefonar.
  Ando sozinha à noite sem medo de não voltar.
  Vejo gente nas janelas, vejo amigos nas calçadas.
  Vou-me embora pra São João...
  Lá passei minha infância,
  Cresci, sonhei, amei e me casei.
  Tive amigos, muitos amigos e por meus pais fui muito amada.
  Guardo no peito lembranças, das amigas de infância .
  E que saudade eu tenho dos meus queridos de sangue:
  tenho tio, tenho tia, primos e primas a valer...
  tenho um irmão querido , tenho uma irmã muito amada...
  tenho cunhado, cunhada que estão no peito guardados...
  sobrinhos e sobrinhas lindas que me deixam na saudade
  Ai que vontade me dá de poder sempre ir pra lá.

Morro de saudade, e fico emocionado (MUITO REAL).  Semana que vem, o passeio continua...

(Crônica e foto: Serjão Missiaggia)

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

BATMAN E O MENSALÃO

Foto por Montrè Jamal Saunders


Em certo momento do filme “Batman: o Cavaleiro das Trevas ressurge”, a Mulher Gato (interpretada atleticamente por Anne Hathaway) confessa a Bruce Wayne (Christian Bale) o seu grande propósito, a sua meta, que permitiria, inclusive, que ela pudesse encerrar sua carreira de (pequenos) crimes: um software que tem o poder de apagar, em todos os registros existentes, todas as informações, digamos, desabonadoras, sobre Selina Kyle, nome civil da gata.  Nome do software?  Ficha Limpa!
Na plateia, alguém gritou: BRASIIIIL!   E eu fiquei pensando se, na verdade, o diretor Christopher Nolan não teria, a exemplo de Stallone, feito um estágio por aqui, para atualizar-se quanto às maldades.  Na verdade, a suposição parece verdadeira.  Neste último episódio da atual saga, Gotham City é uma cidade onde o terrorismo urbano corre solto, a impunidade impera e onde as aparências enganam.  Teoricamente os bandidos estão todos na cadeia, e não há mais motivo para a volta de Batman, tanto é que o morcegão pouco aparece no filme.  Na verdade, o pacto social é mantido graças a uma mentira (de que um antigo político Harvey Dent teria sido um herói), o agora comissário Gordon (Gary Oldman) ajuda a manter a farsa para garantir o seu posto, o prefeito (Nestor Carbonell), mesmo na iminência da explosão de uma bomba, armada pelo arquivilão sem-graça Bane (Tom Hardy), declara que está tudo bem na cidade!  Tudo isso não nos parece familiar?
O filme, também roteirizado por Nolan e seu irmão Jonathan, funciona como um jogo de futebol com 80 minutos em cada tempo.  No primeiro tempo, participamos de algumas cenas de uma operação malsucedida da CIA em algum país do mundo e podemos conhecer o Bane, com certeza o mais desinteressante dos inimigos do Batman.  Ainda no primeiro tempo, ficamos sabendo que Bruce Wayne está sofrendo de depressão e recluso em sua Mansão Wayne com o sempre fiel mordomo Alfred (Michael Caine).
No segundo tempo, no entanto, o bicho pega!  É um dos finais de filme mais eletrizantes e mais tensos, talvez mais até do que o meu campeão que é Aliens2.  Só para resumir: Bruce Wayne foi jogado numa prisão asiática em forma de poço onde ninguém (exceto Bane) conseguiu escapar, enquanto Bane aprisionou toda, ou quase toda, a polícia de Gotham: ficaram de fora, o comissário Gordon e o soldado Blake (Joseph Gordon-Levitt), que vai protagonizar a cena final do filme.  Para completar, Bane consegue pressionar Miranda (Marion Cotillard), uma ficante do Bruce e o cientista Lucius (Morgan Freeman) e obter o arsenal bélico das empresas Wayne, com direito a armar uma bomba nuclear, além de libertar todos os criminosos perigosos que o Batman havia prendido.
Com o visual dark de Wally Pfister, que trabalhou com o diretor em “A origem”, Batman Ressurge é um filme-limite, que mistura caos urbano, ameaça nuclear e até uma Batemoto que roda de lado.  A trilogia chega ao fim e, a exemplo, de
Bruce Wayne, ao fundo do poço.  Mas é um grande filme, talvez não tão fantástico quando O Cavaleiro das Trevas de 2008, nem com um vilão tão inesquecível como o Coringa, mas, certamente, tira o fôlego, e depois de 164 minutos de humor zero, até que tem um final surpreendente, quase romântico.

(Crítica: Jorge Marin)

BRIGADU, GENTE!

BRIGADU, GENTE!
VOLTEM SEMPRE, ESTAMOS ESPERANDO... NO MURINHO DO ADIL