quarta-feira, 15 de agosto de 2012

KARMA NESSA HORA


Postando fotos antigas no Facebook, percebemos suspiros diversos e comentários definitivos, quase todos concordantes com a aparente verdade que diz que aqueles, sim, eram os “bons tempos”.   Mas, afinal de contas, o que é que deu errado?  Por que os tempos anteriores eram bons ou, pelo menos, melhores do que os de hoje?
Penso que é porque éramos jovens e, como se sabe, dizem, a juventude é a melhor época da vida, podemos tudo, estamos no auge, essas coisas.   No entanto, eu pergunto: quem disse que a juventude era tão maravilhosa assim ou tão superior assim?  Tínhamos, é certo, mais disposição ou mais inquietude, mas qualquer um pode se lembrar de colegas nossos que viviam absolutamente deprimidos, ou em conflito, ou viciados ou desorientados.
Aliás, o que mais havia era desorientação: vivíamos numa sociedade onde tudo era completamente explicado, havia o certo e o errado e, naturalmente, quase tudo o que desejávamos ardentemente era errado.  As decisões estavam todas num livro, normalmente sagrado, e a lógica não era muito diferente das certezas absolutas de Luiz XIV.
O fato é que o tempo passou e muita coisa aconteceu: transformações, viagens, paixões, decepções, trabalho, muito trabalho, noitadas, baladas, ressaca, cansaço.  Imenso, incomensurável cansaço!
É como se o destino (karma?) tivesse reservado isso para nós.  Dor?  É o destino.  Decepção e desespero?  Ah, é o seu karma.
GENTE, NÃO É!
Vamos nos despir de todo o saudosismo das coisas maravilhosas e também do entorpecimento das dores que experienciamos, para verificar, que tudo o que vivemos até agora é um desdobramento de nossas ações.  O karma, ao contrário do que se pensa, não se baseia numa sequência lógica de causa e efeito.  Fomos ensinados que, a toda ação, corresponde uma reação.  Mas, quando o assunto é a aventura humana, a coisa não é bem assim.  Ações nossas geram outras ações, muitas vezes injustas (para nós) e até mesmo ilógicas.
Ou seja, aquilo que acreditávamos no passado, que os honestos e trabalhadores serão recompensados pela sua tenacidade e os perversos serão punidos pode até ser verdade em um outro plano, porque, nesse universo de interações e “espertezas” políticas, o que mais se vê são velhinhos safados morrendo na mais absoluta tranquilidade, e trabalhadores morrendo na fila de espera do SUS.
E aí?  Isso significa o nada?  Não, tudo isso que capturamos em nossa rede de percepções e não entendemos bem, é para não entender mesmo.  Já é tempo, e isso serve para todo mundo, de parar de viajar na maionese das nossas angústias e autoindulgências.
Há que se viver a vida.  Agora!  Hoje, como no tempo em que éramos jovens, não tem como não se arriscar a viver delírios e delícias, mas também dores e sofrimentos.  O segredo, se existe um, é prestar mais atenção aos nossos atos, aos nossos pensamentos e, principalmente, às nossas palavras. 
Assim, devagar, cuidadosamente, e pacientemente, vamos perceber que tudo é agora e que nada fica.  Como diz meu parceiro e amigo Serjão: e vamo que vamo!

(Crônica: Jorge Marin)
Foto: Hippie Hanako disponível em http://browse.deviantart.com/photography/?order=9&q=karma&offset=48#/demm6d    

Um comentário:

  1. Concordo com seu raciocínio Jorge!
    Acredito que o sentido da vida é aquele que conseguimos dar a ela. Não exite um plano superior, previamente traçado. O que vivemos é um misto de acaso, sorte e esforço.
    E se não existir vida após a morte ou um motivo cósmico e transcendente? Quer dizer que não vale a pena viver? Cada um que perceba ou crie a beleza de ser o que é e do que o cerca.
    É possível sim ser feliz no paraíso com reumatismo! Se fomos felizes quando jovens e a máquina está meio gasta e enferrujada, sendo necessário umas gambiarras para ela continuar funcionando, o negócio é ser grato pela oportunidade de poder continuar nossa viagem, tocar em frente (mesmo que mais devagar e com algumas paradas), aproveitar o caminho e esperar que as próximas curvas da estrada revelem lindos lugares.

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