Naquela noite no Rubro-Bar, fiquei completamente fascinado pela sonzeira do Furacão 2000. Nunca havia curtido um som com uma qualidade parecida. Éramos bem inocentes, a informação não viajava on-line e o tempo passava um pouco mais devagar.
Tudo
era definitivo: o olhar, a paixão, a dança desperdiçada e tínhamos certeza de
que, naquela noite, iríamos resolver a nossa vida. Alguém contou, e nós acreditávamos, e as
novelas provavam, que poderíamos encontrar ali uma pessoa que iria passar o
resto da vida conosco e que seria muito bom, muito feliz e muito leve. Uma colega da época me perguntava: “mas você
está disposto a ficar com uma pessoa assim ‘para sempre’?” E eu ficava revoltado com a pergunta porque,
para mim, era claro que era para sempre.
A
verdade é que, ali debaixo daquela luz negra que mal dava para dançar, alguns
casais se formaram e estão aí até hoje. Mas,
de qualquer maneira, o mundo, assim como a TV, era em preto e branco: tínhamos
os bons e os maus, os certos e os errados, os direitos e os que não
prestavam. “Viado”, então, era uma
palavra que nem se dizia, era como câncer, sendo que esta última ainda é
evitada pela maioria.
Às vezes,
vendo a velocidade como as coisas se processam hoje em dia, o caráter de caça
que existe nas baladas, e as imensas paradas das chamadas minorias, fico me
perguntando quando é que começou esse degradê que transformou a vida numa
múltipla escolha? Quando e como foi que
nos conectamos?
Falo em
conexão não num sentido pejorativo, mas no sentido de interatividade. Porque, de volta ao Rubro-Bar, tínhamos um
roteiro a seguir, a vida era como um jogo de pinball onde a bolinha só podia
passar naqueles exatos lugares e tudo o que podíamos fazer era não deixá-la
cair. Hoje, nós é que somos lançados no
espaço e, por incrível que pareça, tudo o que pensamos é em agir de acordo com
a manada.
Ouvindo
aquela música dos Beatles nas caixas gigantescas do Furacão 2000, em 1970 e
poucos, concordo, era muito mais fácil se feliz.
Mas,
não sei por quê, optar pela mesma vida simples nos dias de hoje, sem os clichês
daquela época, e fora dos padrões de comportamento moderno, me parece proporcionar
uma felicidade ainda maior, embora seja bem mais difícil.
Ou
não. Escuto, agora, no show de 30 anos
do Kid Abelha, a Paula Toller definindo, exatamente, o que quero dizer: “desde
que estamos aqui, eu não quero saber, quanto tempo se passou...”
Mas o
que me assusta mesmo é saber que a Paulinha está com 50 anos. Cara, praticamente o mesmo que eu! Embora, vamos combinar, as coxonas dela estão bem
mais bonitas que as minhas.
(Crônica:
Jorge Marin)
Foto: Cena do filme A Vida em Preto e Branco, disponível em: http://photos.lucywho.com/pleasantville-photo-gallery-c16334675.html
Foto: Cena do filme A Vida em Preto e Branco, disponível em: http://photos.lucywho.com/pleasantville-photo-gallery-c16334675.html
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